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sábado, 30 de outubro de 2021

Referência na sua área - Perfil: Rick Baker

 

 

Lobisomens, monstros, alienígenas e macacos. Muitos macacos!



por Alexandre César
(Originalmente postada em 12/ 09/ 2018)


O mais premiado dos mais premiados do seu ramo
 

Baker quando jovem, no início da sua procura por fazer "o traje de gorila" definitivo


Muitos se surpreenderam ao ver as imagens de Um Lobisomem Americano em Londres (1981, de John Landis) na cerimônia da entrega do Oscar de 1982, quando ganhou o primeiro prêmio de Melhor Maquiagem, instituído pela Academia naquele ano. Antes disso só havia sido concedido um Oscar honorário em 1969 para John Chambers, por seu trabalho no primeiro filme da franquia Planeta dos Macacos.  
 
 

O Monstro de Duas Cabeças (1972). Baker como o gorila-cobaia, e a façanha de colocar lado a lado Ray Miland e Rosey Grier


As pessoas se perguntavam como conseguiam realizar a incrível sequência de transformação de homem em lobisomem - para o infortúnio dos brasileiros, o filme só chegou aos cinemas do país no ano seguinte, em 1983. Mas, desde aquele prêmio, o nome de Rick Baker começou a despertar a atenção dos aficionados por cinema - em especial no quesito Efeitos Especiais. Seu nome pode ter se consagrado ali, mas Baker estava por trás de outras cenas memoráveis da 7ª Arte.  

"Schlock, The Banana Monster" (1973) John Landis dirigiu e vestiu o traje de Baker.


Richard A. Baker, ou Rick Baker ( Binghamton, Nova Iorque - 8 de dezembro de 1950), é um dos expoentes da maquiagem de efeitos e animatrônicos, sendo o recordista de premiações do gênero - figura no Guiness como a pessoa que até hoje ganhou mais Oscars por maquiagem, num total de sete.

 

"King Kong" (1976). Baker em sua performance marcante. Emagreceu mais de 15 quilos devido ao suadouro que a fantasia lhe provocava

Num intervalo de filmagem,  respirando


O seu trabalho não é o de um mero maquiador, mas o de transformar drasticamente pessoas em outras com características bem distintas de sua aparência original ou em seres não-humanos. A transformação pode ser sutil, envelhecendo o ator ou mudando sua etnia ou gênero, ou transformá-lo num monstro ou alienígena. 

 

King Kong (1976) Baker preparando o traje e, se preparando para usá-lo.


Na adolescência, Baker começou a criar partes de um corpo artificial em sua própria cozinha.  Ele também apareceu brevemente na produção "perdida" de fãs Night Turkey - uma hora de vídeo em preto e branco que parodia o seriado dos anos 70 Kolchak e os Vampiros da Noite. A paródia, que venceu o prêmio de Melhor Curta-Metragem na Comic-Con de San Diego, é dirigida por William Malone, que passou a dirigir filmes de terror, como A Casa da Colina (1999) e A Criatura (1985). No elenco também estava Robert Short, que mais tarde ganhou o Oscar de Melhor Maquiagem por Beetlejuice: Os Fantasmas Se Divertem (1988, de Tim Burton).  
 

"O Incrível Homem que Derreteu" (1977). Clássico da melequeira

Rick se aventurava como ator, geralmente em produções nas quais trabalha com a maquiagem. Sua fase nos filmes “B”  tem destaques, como em O Monstro de Duas Cabeças (1972, de Lee Frost), onde o milionário racista Dr. Kirshnner (Ray Milland) compartilha o corpo de um enorme negro (Rosey Grier) numa crítica inusitada ao racismo. O filme de certa forma lembra o recente Corra! (2017, de Jordan Peele). Aqui, Baker interpretou a primeira cobaia do médico: um gorila com duas cabeças vivas. Ele acrescentou uma cabeça extra a sua fantasia caseira - um protótipo que fez aos 18 anos e usava nas noites de Halloween. Macacos estão entre suas grandes paixões.  

 

Alguns dos alienígenas da cantina de Mos Eisley em "Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança" (1977)


O seu primeiro trabalho em grandes produções foi no clássico de terror O Exorcista (1973, de William Friedkim), onde foi o assistente do maquiador principal do filme (Dick Smith, outra lenda da categoria). Depois fez o homem-macaco primitivo de Schlock, The Banana Monster (1973, de John Landis), no qual interpretou o personagem-título, nesta produção de 61 mil dólares.

 

"Um Lobisomem Americano em Londres". A cabeça do licantropo e o animatrônico do amigo zumbi Jack conversando com David Kessler (David Naughton).

Manipulando a cabeça do lobisomem em movimento. Só a cabeça é enquadrada, e assim não vemos o resto


Rick Baker projetou e vestiu a roupa do gorila gigante para a refilmagem de King Kong (1976, de John Guillermin). Seguindo a tradição dos antigos homens-gorilas do cinema, que sempre admirou, Baker não é creditado no filme, ficando os créditos da criatura (e o Oscar de efeitos especiais de 1977) para Carlo Rambaldi, que construiu um macaco gigante mecânico que mal aparece no filme.

 

"Um Lobisomem Americano Em Londres" (1981): No alto, à esquerda, fazendo a maquiagem do zumbi Jack (Griffin Dunne) e à direita com o astro David Naughton e o diretor John Landis. Abaixo, toda a beleza de Jack...


No ano seguinte trabalhou em O Incrível Homem que Derreteu (1977, de William Sachs), um clássico “B” (ou “Z”...) em que Alex Rebar interpreta Steve West, um astronauta contaminado que vai gradativamente se deteriorando, virando um gosmento monstro canibal. Um clássico da melequeira e das reprises na TV Bandeirantes e nas locadoras de VHS. Pouco depois, um nerd chamado George Lucas o chamou para rechear algumas cena de um filme chamado Star Wars. Ele precisava de uns alienígenas esquisitos numa sequência que se passava numa cantina interplanetária. Como diz o próprio Baker:

 

"Videodrome: A Síndrome do Vídeo" (1983). James Woods com sua "pistola-mão" guardada na barriga e o efeito de suas balas

 

Uma Nova Esperança foi um trabalho meio estranho, pois entramos quando o show já estava em andamento e tivemos que correr atrás do prejuízo”, conta. “Toda a cena da Cantina de Mos Eisley foi filmada seis meses depois do fim das filmagens principais. Mas, com o iluminador certo e as orientações necessárias, podemos incluir qualquer coisa em qualquer filme”.

 

Um dos efeitos doentios de "Videodrome" é a tela de TV membranosa, de onde sai a "pistola-mão" de Max Rem


Posteriormente a sua contribuição à saga da galáxia “muito, muito distante”, Rick Baker colaborou com as veias dilatadas da cabeça do garoto telepata de A Fúria (1978, de Brian DePalma) e foi o gorila Sidney na comédia fantástica A Incrível Mulher Que Encolheu (1981, de Joel Schumacher), numa referência cômica ao seu King Kong

 

"Thriller": clip musical de John Landis com Michael Jackson como zumbi e "lobisgato"!!!

 

Seguiu-se uma participação em Grito de Horror (1981, de Joe Dante), ajudando o artista de efeitos especiais Rob Botin (uma outra lenda do meio), e fez o assassino deformado do clássico slasher Pague para Entrar, Reze para Sair (1981, de Tobe Hooper), até chegar aquele que foi o seu primeiro grande sucesso e que redefiniu sua carreira (e a sua própria categoria profissional) com Um Lobisomem Americano em Londres, onde pôde criar a maquiagem, não apenas da criatura, mas dos amigos zumbis. E assim Rick recebeu seu primeiro Oscar.

 

"Graystoke" (1984): Cristopher Lambert como Tarzan cercado pelos macacos de Baker


A "Família-Macaco", cada qual com uma personalidade, fisionomia e tipo físico


Seguiu-se o doentio Videodrome: A Síndrome do Vídeo (1983, de David Cronenberg), onde Baker criou a famosa “pistola embutida” em Max Rem (James Woods). O visual bizarro, em que as percepções distorcidas da realidade do protagonista, e os efeitos de seus atos, geraram alguns dos momentos mais memoráveis e inesquecíveis do gore.

 

Baker, checando as cabeças animatrônicas de "Greystoke". Os olhos eram dos mímicos que vestiam as máscaras mas todo o resto era controlado de fora por manipuladores que acionavam os controles dos servomotores que moviam boca, narinas, testas

Cada um com um perfil próprio, como indivíduos

Pouco depois viria o famoso clipe Thriller de Michael Jackson, outra obra em que trabalhou dirigida por John Landis, no qual criou a maquiagem do “Lobisgato” de Michael e, claro, os zumbis. Um marco incontestável da cultura pop.

 

"Graystoke" (1984): Como as máscaras  eram animatrônicas, cabia ao mímico que vestia o traje de macaco, executar a coreografia dos movimentos, usando extensões nos braços, alongando-os para ficar na correta proporção símia

No ano seguinte ele trabalhou em Greystoke: A Lenda de Tarzan (1984, de Hugh Hudson) - um olhar "realista" para o mítico rei das selvas criado por Edgar Rice Burroughs, dando prosseguimento ao objetivo que o perseguia desde a juventude de criar o traje de macaco definitivo. Ganhou uma indicação ao Oscar.

 

Um Hóspede do Barulho" (1987): Segundo Oscar de Baker, com Kevin Peter Hall (de "Predador") como "Harry", o simpático "Pé-Grande"

Em 1987 veio Um Hóspede do Barulho, de William Dear, dando prosseguimento ao seu relacionamento com os homens-macacos e similares ao criar um “pé-grande” antológico, vestido por Kevin Peter Hall (O Predador). O trabalho lhe valeu seu segundo Oscar.

 

Baker, com Ron Perlman como Vincent, do seriado "A Bela e a Fera" (1987-90)


Neste mesmo ano começou a colaborar com as séries da TV A Bela e a Fera (1987-1990), transformando Ron Perlman (Hellboy e do seriado Filhos da Anarquia) no simpático Vincent, e O Lobisomem (1987-1988), de sucesso moderado, que passava nas madrugadas da Rede Globo.  

 

"Um Príncipe em Nova York" (1988):as várias faces de Eddie Murphy

Em 1988 seria a vez de Em 1988 seria a vez de Um Príncipe em Nova York (mais um de John Landis), onde transformou Eddie Murphy e Arsenio Hall em vários tipos de gêneros e etnias distintos, e Nas Montanhas dos Gorilas (de Michael Apted), o docudrama sobre Dian Fossey, uma zoóloga que se dedicou a estudar e proteger estes animais. Baker neste filme, recontextualizou o conceito do "homem em uma roupa de macaco". Antes disso, trajes de gorilas foram, em grande parte, usados para representar o mito dos gorilas, mostrando-os como monstros ou piadas, onde sempre era clara que víamos um homem fantasiado. Agora, as fantasias realistas retratam os animais de forma simpática, protetora e extremamente realista.  

 

"Nas Montanhas dos Gorilas" (1988), com Sigourney Weaver. Gorilas realistas

 

Em 1990 fez Gremlins 2: A Nova Geração (de Joe Dante), retomando o trabalho concebido por Chris Walas na sequência das aventuras de Gizmo & Cia. Em 1991 caracterizou Lothar (Tiny Ron Taylor), o capanga gigante de Neville Sinclair (Timothy Dalton), para o filme para o filme Rocketeer, de Joe Johnston. Uma aventura cult no melhor estilo dos seriados dos anos 30-40.

 

Jack Nicholson em "Lobo" (1994). -"Pode me chamer de Logan"...

Após uma pausa, Baker retorna em 1994 em Lobo, de Mike Nichols, onde Will Randall (Jack Nicholson), um executivo decadente na crise da meia-idade, é mordido por um lobo e readquire gradativamente a agressividade necessária para vencer o seu jovem concorrente, Stewart Swinton (James Spader). E também recobra seu charme animal, conquistando a bela Laura Alden (Michelle Pfeiffer) nesta fábula sobre poder, envelhecimento e sedução.

 

"Ed Wood" (1994) Oscar para Martin Landau e para Baker por um Bela Lugosi velho, decadente e viciado em morfina


Ainda em 94 veio a obra-prima Ed Wood, de Tim Burton. Ao homenagear o “pior cineasta de todos os tempos” (numa das melhores performances de Johnny Depp), Burton homenageia o cinema em si, resgatando ao mesmo tempo duas carreiras: Bela Lugosi e o seu intérprete no filme, Martin Landau, com sua atuação mesmerizante no papel do decadente astro de horror viciado em morfina. A caracterização de Lugosi é soberba e garantiu o terceiro Oscar para Baker por esse trabalho sutil e elegante (honrando o mestre Dick Smith) que, com certeza, ajudou Landau a entrar no personagem, rendendo-lhe o Oscar de melhor ator coadjuvante. Um filme inesquecível que emociona até hoje todo aquele que já amou o cinema de alguma forma.  

 

"O Professor Aloprado" (1996). Só o garoto à sua esquerda (Jamal Mixon) não é Eddie Murphy

Seguiu-se Batman Eternamente (1995, de Joel Schumacher), numa caracterização mediana para o vilão Duas-Caras (Tommy Lee Jones), e O Professor Aloprado (1996, de Tom Shadyac), a refilmagem e recriação do clássico da comédia de Jerry Lewis, onde o Professor Sherman Klump (Eddie Murphy), com problemas de obesidade mórbida e auto confiança, desenvolve uma fórmula química que o transforma no esguio, autoconfiante e conquistador Buddy Love. A caracterização de Murphy como o obeso professor, seus quatro parentes acima do peso e no treinador de aeróbica branco e gay, renderam o quarto Oscar a Baker.  

 

"Fuga de Los Angeles" (1996): Bruce Campbell como o cirurgião-plástico entupido de botox


Em 1996 colaborou com Os Espíritos, de Peter Jackson, fazendo os apliques faciais do juiz, personagem do icônico John Astin (o Gomes original do seriado A Família Adams). No mesmo ano também contribuiu para o divertido e trash Fuga de Los Angeles, em que o diretor John Carpenter retoma as aventuras distópicas de Snake Plisken (Kurt Russell) iniciadas no clássico Sci-Fi de 1981, Fuga de Nova York. Aqui, Baker transforma Bruce Campbell numa aberração: um cirurgião plástico de Beverly Hills cheio de botox e silicone no rosto, acompanhado de suas enfermeiras peitudas e de lábios inchados.

 

"MIB: Homens de Preto" (1997) Vincent D´onofrio como o "homem-barata"


Em 1997 foi vez de Ghosts, mais um vídeoclipe de Michael Jackson, desta vez dirigido dirigido por Stan Winston (mais outra lenda do setor). Logo depois veio MIB: Homens de Preto, de Barry Sonenfeld, o início de uma franquia de sucesso, onde a criatividade de Baker e sua equipe materializaram uma legião de alienígenas nesta adaptação esperta dos quadrinhos da Malibu Comics, que lhe deu o seu quinto Oscar.

 

"O Poderoso Joe" (1998). Charlize theron ao lado do traje animatrônico definitivo


Em 1998 Rick Baker conseguiu satisfazer sua obstinação pessoal e criou a roupa de gorila perfeita. Ele conseguiu seu intento com a incrível fantasia animatrônica para o gorila gigante de O Poderoso Joe (de Ron Underwood), remake do filme The Mighty Joe Young (1949, de Ernest B. Schoedsack) que contava com efeitos em animação de um jovem Ray Harryhausen, que faz uma ponta neste clássico juvenil.

 

"Até Que a Fuga Nos Separe" (1999): Os nonagenários Murphy e Lawrence


Em Até que a Fuga os Separe (1999, de Ted Demme), mais uma vez trabalhou com Eddie Murphy, transformando-o, junto com Martin Lawrence, em dois presos idosos, registrando a passagem do tempo dos 40 aos 90 anos. No mesmo ano colaborou com As Loucas Aventuras de James West (de Barry Sonnenfeld), a infeliz adaptação do popular seriado dos anos 60. Faz bem a sua parte, mas o resto...

 

" O Grinch" (2000), com Jim Carrey como o icônico personagem do Dr. Seuss: Mais um Oscar

 

Em 2000, Baker ganhou o seu sexto Oscar com O Grinch (de Ron Howard). Aqui, sua técnica encontrou o suporte ideal na face maleável de Jim Carrey, criando a melhor tradução de um personagem de desenho animado em um ser de carne e osso. Único!

 

"Planeta dos Macacos" (2001). Símios sem perder a humanidade dos atores. Aqui, ao lado de Baker, o ator David Warner




No mesmo ano veio O Professor Aloprado 2 – A Família Klump (de Peter Segal), com Eddie Murphy retomando os papéis da obesa e engraçada família. Uma continuação fraca em relação ao filme original. 


"Planeta dos Macacos" : Baker aqui chegou a um novo patamar de caracterização


Rick Baker inicia o novo milênio com um projeto ambicioso: Planeta dos Macacos (2001, de Tim Burton). O filme fechou um ciclo pessoal do artista. Desde que viu o filme original da franquia, em 1968, Baker havia decidido tornar-se maquiador devido ao trabalho pioneiro de John Chambers. Também foi naquela ocasião que se iniciou sua obsessão com em fazer a fantasia de macaco perfeita. Trabalhar nessa “reimaginação” daquele filme foi a chance de Baker dar prosseguimento ao trabalho do mestre e leva-lo a novos patamares.

 

"O Chamado" (2002) Adolescentes mortos pelo vídeo


Neste filme seu trabalho fazia os macacos parecendo símios de fato, mas, de forma brilhante, nos deixava identificar os atores que os interpretavam. Infelizmente não brilhou mais devido aos problemas inerentes ao próprio filme. Misteriosamente, o trabalho soberbo de Baker não foi indicado para o Oscar, gerando surpresas em muitos. Não que uma carreira como a dele fosse sofrer com isso...

 

Ron Perlman em "Hellboy" (2004) ao lado de Selma Blair: O herói de Mike Mignola se materializa

Em 2002 foi a vez dele retomar outra franquia com o mediano MIB – Homens de Preto 2 (de Barry Sonnenfeld), uma aventura divertida que se bancou, apesar de não reprisar o estouro do filme original. No mesmo ano fez O Chamado (de Gore Verbinski), a versão ocidental do clássico do terror japonês, retomando as suas raízes do cinema de gênero.

 

"King Kong" (2005): Baker interpreta o piloto do avião que detona o gorilão


Querendo reprisar o sucesso de Piratas do Caribe, a Disney produziu mais um filme baseado em um dos brinquedos de seus parques temáticos: A Mansão Mal-Assombrada (2003, de Rob Minkoff). Resultou em um filme de “Sessão da Tarde” anabolizado, onde Baker cria com uma mão nas costas os fantasmas, zumbis e todas as coisas de um bom Halloween.

 

O Fera (Kelsey Gramer) em "X-Men: Confronto Final" (2006)


O ano de 2004 lhe trouxe um grande desafio: Hellboy (de Guillermo del Toro), onde fez a supervisão do processo de caracterização de Ron Perlman no papel do super-herói infernal de Mike Mignola, criando um clássico cult instantâneo.
 

"Trovão Tropical" (2008): Baker deixa Tom Cruise careca e barrigudinho e transforma Robert Downey Jr. em afrodescente

Em 2005 esteve na produção de O Chamado 2: O Círculo se Fecha (de Hideo Nakata), retornando a mais uma franquia (estava virando hábito...) em um filme mediano, e em King Kong (de Peter Jackson), lidando mais uma vez com uma de suas especialidades: macacos. Neste filme Baker e o próprio Jackson interpretaram o aviador e o artilheiro do avião líder do esquadrão que enfrenta o gorilão no alto do prédio Empire State. Eles repetem o gesto da dupla que dirigiu o filme original de 1933 - Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack. Na ocasião, Cooper e Schoedsack disseram: “ Se nós o trouxemos à vida, somos nós que temos de mata-lo!”. Ainda em 2005, trabalha em Amaldiçoados (de Wes Craven), um filme de lobisomens com viés adolescente. Lobisomens são coisas de que Baker domina como poucos, mas o filme como um todo não era muito inspirador.

 

"O Lobisomem" (2010) Benício Del Toro (esq.) e Anthony Hopkins (dir.), como filho e pai licantropos. Oscar mais do que merecido para Baker


"O Lobisomem" : Detalhe de  Anthony Hopkins como um lobisomem de terceira idade


O filme X-Men: O Confronto Final (2006, de Brett Ratner) não ofereceu grandes desafios a Baker ao fazer a caracterização do mutante Fera (Kelsey Gramer).  Produzido no mesmo ano, Click (de Frank Coracci) deu a ele mais uma indicação ao Oscar pela transformação de Adam Sandler num obeso mórbido (algo que também não era novidade para o maquiador). 

 

"MIB – Homens de Preto 3" (2012) Criações não aproveitadas no filme original.


Retocando um alienígena de "MIB -Homens de Preto - 3".


Em 2007, Baker volta a caracterizar Ediie Murphey em diversos papéis num mesmo filme com Norbit: Uma Comédia de Peso (de Brian Robbins): um filme fraco, mas que deu a Baker outra indicação ao Oscar. Também tivemos Encantada (de Kevim Lima), uma comédia de sucesso em que a Disney recicla seu universo de príncipes, princesas e bruxas. No ano seguinte esteve na produção de Trovão Tropical (2008, de Ben Stiller), onde tornou o ator australiano Kirk Lazarus (Robert Downey Jr.) no “negão” Sargento Osiris. Antológico. Obteve ainda neste mesmo ano o doutorado em Letras Humanas da Academy of Art University.

 

"Malévola" (2014). Nunca uma mulher com chifres foi tão linda


O ano de 2010 trouxe Tron: O Legado (de Joseph Kosinski), recriando o visual do clássico de 1982, com Baker transformando os atores em versões plastificadas de si mesmos. A seguir, no mesmo ano, veio outro ponto alto em sua carreira com O Lobisomem (de Joe Johnston), refilmagem do clássico de horror da Universal de 1941 dirigido por George Waggner e estrelado por Lon Chaney Jr. Aqui, como no original, Larry Talbot (Benicio del Toro) é mordido por um lobisomem, tornando-se uma fera assassina e inumana. Caracterizar a a criatura dá a Baker a oportunidade de demonstrar a evolução de seu trabalho desde a época de Um Lobisomem Americano em Londres. Aqui ele mescla maquiagem com animatrônicos e animação em CGI para criar um monstro dos anos 1930 com tecnologia e violência do século XXI. Ganhou com o filme seu sétimo Oscar, ficando na quarta posição entre os maiores ganhadores da história da Academia, ao lado do sonoplasta Gary Rydstrom. O que não é pouca coisa...

 

Com os zumbis de "A Mansão Mal-Assombrada" (2003)


Em 2012 com MIB – Homens de Preto 3 (de Barry Sonnenfeld), retomou com novo fôlego as aventuras dos agentes J (Will Smith), K (Tommy Lee Jones) e a versão mais jovem deste último (Josh Brolin) numa trama envolvendo viagem no tempo. Isto lhe permitiu brincar com as concepções de personagens não usadas no filme original, resgatando os conceitos de alienígenas com aquários na cabeça, antenas e vários conceitos icônicos dos anos 50/60. 

 

A bela Samara (Daveigh Chase) de "O Chamado" (2003)


Em 2013 recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Mais adiante, em Malévola (2014, de Robert Stromberg), Baker criou o design da caracterização da personagem-título (Angelina Jolie),numa bela recriação do visual do personagem animado original.
 
 
No início dos anos 80, definindo como seria o lobisomem

Com o avanço dos efeitos especiais e computação gráfica, a maioria dos filmes foi optando por utilizar apenas esse tipo de recurso ao invés da maquiagem, relegando o tipo de trabalho realizado por Rick Baker ao passado. Em 2015 ele anunciou sua aposentadoria na estação norte-americana de rádio KPCC, afirmando que o ambiente de trabalho em que está inserido mudou com o tempo. “Esta é a hora certa para parar. Estou com 64 anos e a indústria está louca agora. Eu gosto de fazer as coisas direito e eles querem barato e rápido. Não é como eu quero fazer, então decidi que é basicamente é a hora de sair", desabafou ele.

 

Transformando Eddie Murph num judeu velho em "Um Ptíncipe em Nova York"

Seu último trabalho num filme foi Homeschool Reunion (2015, de Matt Ritchey), e desde então, ele não tem trabalhado para o cinema. Mas sua aposentadoria e distanciamento dos holofotes não significa inatividade, como ele mesmo disse em outra entrevista: “Eu nunca parei. Pode parecer esquisito, mas é preciso lembrar as pessoas que, no nosso ramo (maquiadores e modelistas), manter uma estrutura como a minha requer muito trabalho, dedicação e um desprendimento absurdo em relação a fama. Em resumo, não temos muito tempo para festas e oba-oba. Nosso comprometimento é com a borracha, o látex e a próxima tarefa”. 

 

Sala de escultura e desenvolvimento de modelos de seu estúdio

Enquanto for possível, um indivíduo como ele não parará. Provavelmente fará cursos, dará palestras ou criará modelos de máscaras ou kits de caracterização.

Ou ainda escreverá livros contando a sua história, como a que contou a um repórter sobre a máscara original usada em Um Lobisomem Americano em Londres: “O pior de tudo foi falar para os atores: ‘evite manipular o focinho com força, ele vai quebrar!’ E adivinha qual foi a primeira coisa que o Griffin Dunne faz na hora de filmar o ataque? Ele a agarrou com tanta violência que arrancou a mandíbula fora! Todo mundo riu. Eu não. Bem, não na hora.” 

 

Manipulando a cabeça do lobisomem para a cena em que decapita um inspetor

Não havia dano aparente. E ele prosseguiu a narrativa: “Consegue ver aquela resina nos dentes traseiros? Entupi aquilo com cola e arame. Funcionou e nunca mais mexi nela com medo de quebrar de novo”. Ele dizia isso com os olhos brilhando, falando de algo criado por suas mãos em 1980, refletindo o orgulho de um profissional apaixonado pelo seu ofício. 

 

Rick Baker: Referência, talento e um senhor com um sorriso de menino