Criança, não aceite balões!!!
por Alexandre César
(Originalmente postado em 05/ 09/ 2019)
A saga se encerra de forma mais do que satisfatória

A capa da fita dupla de vídeo da primeira adaptação, com Tim Curry como o palhaço do mal
Coulrofobia:
Termo psicanalítico para designar o medo de palhaços. Quem sofre essa
fobia quer distância real física de pessoas trajadas como palhaços, e
até mesmo de imagens (através de fotos, filmes), havendo relatos de
pessoas que se sentem mal apenas ao falar na palavra "palhaço" ,
isso se dá porque a mente está associada ao sofrimento. Neste caso, à
alguma experiência traumática relacionada a alguém trajado de forma
não-convencional, que acaba associado ao conceito do personagem. Ao
falar, pensar, ver ou ouvir algo que remeta imediatamente o problema que
se acredita ter no contato com palhaços a pessoa sofre a dor e angústia
do contato real. Ou seja, a mente "engana" a pessoa, e o que era para
ser imaginário se torna real dentro do pensamento. Um prato feito para
os psicólogos e terapeutas...
Stephen King fêz nome e fortuna trabalhando os medos mais uterinos da
mente contemporânea, embora a maioria das adaptações de suas obras
tenham apenas arranhado a superfície de seus romances, caindo na maioria
das vezes no caminho fácil dos filmes-de-susto e do gore fácil
ao invés de se aprofundarem de fato nas motivações psicológicas e na
grande alegoria que as histórias de terror oferecem sobre o que é viver
em sociedade...

A aranha em stop-motion da série é um clássico da infâmia...
It: Uma Obra Prima do Medo (1990) dirigida por Tommy Lee Wallace (A Hora do Espanto 2 de 1988) com Richard Thomas (o eterno John Boy Walton) mini série em duas partes, foi a primeira adaptação do romance It (1986) de King, trazendo Tim Curry numa memorável performance como o diabólico Pennywise, o “Bozo do Mal” (atualmente
uma certa figura pública tomou para si este título...). O resultado
final foi morno, em que pesem os erros e acertos da produção que falava
de forma alegórica dos medos e dos ritos de passagem da infância para a
juventude e desta para a vida adulta, e da necessidade de enfrentar os
medos, e de assumir as responsabilidades decorrentes de tomar as rédeas
do próprio destino.

"Agora a brincadeira ficou séria!!!"
Eis que décadas depois chega It: A Coisa (2017)
num momento em que o terror retoma seu lugar como garantia de boas
bilheterias, numa boa relação custo/receita, graças em boa parte ao
universo compartilhado dos filmes do diretor James Wan (o “Wanverse” de Invocação do Mal e de Annabelle) que inclusive o levou a revitalizar outros gêneros e personagens (Aquaman). Se a maré está para o mal, porque não apostar nas obras de um dos maiores mestres da atualidade?

"Otários": O grupo cresceu e apareceu...
O tiro foi certeiro, trazendo bons sustos, fidelidade à obra, direção e
caracterização de personagens no ponto,e um intérprete que criou a nova
face de Pennywise: Bill Skarsgard, que saiu dos papéis secundários para
ficar no centro da ribalta, tal como Boris Karloff com o monstro de
Frankenstein, Christopher Lee com o Conde Drácula ou, Robert Englund com
Freddy Kruger...
O filme acabou sendo aclamado pela crítica e arrecadou mais de US$ 700
milhões de dólares em todo o mundo. Redefinindo e transcendendo o
gênero, IT – A Coisa tornou-se um fenômeno cultural. Agora era seguir no caminho certo e fechar a trama de maneira digna e rentável...

São dadas pistas sobre as origens de Pennywise.Deixa para um Prequel??? Só os deuses sabem...
Dirigido novamente por Andy Muschietti (Mama) It: Capítulo Dois (It Chapter Two 2019) tem roteiro de Gary Dauberman (IT: A Coisa, a cinesérie Annabelle)
baseado no romance homônimo de 1986 de Stephen King, dá prosseguimento
ao desenvolvimento do filme anterior e ainda aprofunda psicologicamente
seus personagens, aproveitando o potencial de seu bom elenco.
Ambientado em 2016, vinte e sete anos após os eventos de 1989 descritos no primeiro filme. Vinte e sete anos depois do Clube dos Otários derrotar
Pennywise (Bill Skarsgard, surtado e vicioso), ele volta a aterrorizar a
cidade de Derry mais uma vez, arrastando as crianças para as sombras
novamente, então Mike (Isaiah Mustafa de Caçadores de Sombras), o único do grupo a permanecer em sua cidade natal,que permanece como um “fiel do segredo” chama os outros de volta para casa. Agora adultos, os Otários há
muito tempo seguiram caminhos separados, mas ainda carregando em seu
íntimo os traumas do confronto passado, que se refletem em suas vidas
adultas: Bill (James McAvoy da cinesérie X-Men, Fragmentado, Vidro), agora escritor, embora bem-sucedido tem problemas de finalizar suas obras; Beverly (Jessica Chastain de A Hora Mais Escura, Mama, A Grande Jogada), vê-se presa num casamento tóxico e abusivo; Richie (Bill Hader da série Barry da HBO, Irmãos Desastre),
embora um bem-sucedido comediante, vive problemas de auto-ceitação;
Mike, por permanecer em Derry, sente-se empacado no tempo e no espaço;
Ben (Jay Ryan da série Mary Kills People),
virou um arquiteto revolucionário, deixando de ser o gorducho do grupo
mas ressente-se de não ter conquistado o amor da sua vida; Eddie (James
Ransone (da série The Wire), tornou-se analista de riscos, ao canalizar suas fobias, e Stanley (Andy Bean de Swamp Thing, a cinesérie Divergente: Convergente)
não suporta a ideia de voltar. Traumatizados pelas experiências de seu
passado, eles devem dominar seus medos mais profundos para destruir
Pennywise de uma vez por todas colocando-se diretamente no caminho do
palhaço, que se tornou mais mortal do que nunca.

A união faz a força: Todos terão de lutar para vencer o mal, ou morrer tentando...
Alternando entre a época atual com seus protagonistas adultos e suas
versões mirins, um ótimo elenco juvenil, o filme acaba ecoando outro
clássico baseado numa obra de King: Conta Comigo (1986)
de Rob Reiner, que também lidava com os ritos de passagem da infância
para a vida adulta.Temos aqui reprisando seus papéis como os membros
originais do Clube dos Otários estão Bill (Jaeden Martell), Beverly
(Sophia Lillis), Richie (Finn Wolfhard de Stranger Things),
Mike (Chosen Jacobs), Ben (Jeremy Ray Taylor), Eddie (Jack Dylan
Grazer) e Stanley (Wyatt Oleff). Dizer que os jovens intérpretes são
ótimos é chover no molhado, para quem já acompanhara o filme anterior,
ficando aqui o bom trabalho de caracterização e de direção de atores, se
encarregando de através de linguagem corporal, tiques, olhares, além de
semelhança de biotipos, não demoramos a aceitar cada intérprete como o
seu personagem num momento distinto de vida, auxiliados pelo figurinista
Luis Sequeira (A Forma da Água, Mama) que tal qual a máxima de que o ”hábito faz o monge”, aqui deixa bem definido quem é quem de forma inequívoca. A competente narrativa é embalada por ótimos valores de produção, com
uma direção de arte que situa bem a cidade e os personagens nos momentos
temporais respectivos (ponto para o designer de produção Austerberry. D.
Paul vencedor do Oscar por A Forma da Água) e que sabe criar o aspecto de terror cósmico lovecraftiano que o ambiente tenebrista do ninho de Pennywise pede, auxiliado pelo diretor de fotografia Checco Varese (Os 33),
que faz bom uso das sombras e da escuridão mas com uma boa mescla de
cores, que aparecem vivas sempre que necessário, sem entrar em conflito
com as sombras. A direção é auxiliada em seu pique narrativo pelo editor
Jason Ballantine (IT: A Coisa, Mad Max: A Estrada da Fúria)
que acelera a narrativa e reduz a sua velocidade quando necessário, que
tem como aliada a trilha sonora composta por Benjamin Wallfisch (Shazam! , Blade Runner 2049, IT: A Coisa).
Os efeitos visuais são competentes, resgatando a descrição de Pennywise
em sua forma inicial, reimaginando-a de forma a se poder inserir o seu
intérprete, aproveitando a sua performance alucinada e graças aos deuses descartando a ideia daquela aranha de stop motion muquirana da mini série de 1990.
Durante a edição final do filme (a duração é de 169 minutos) foram
descartadas algumas sequências que deixariam o filme censura 18 anos,
para, uma vez com a classificação de 16 anos, garantir uma fatia maior
de público-alvo, além de um final de tom edificante, e não agridoce,
como talvez fosse o mais indicado para o filme tornar-se uma obra-prima
como O Nevoeiro (2007)
de Frank Darabont, mas ainda sim, sabiamente optou-se por não seguir o
caminho fácil de deixar um gancho para uma continuação,e assim diluir o
impacto de história concluída. Ou não? Conhecendo Hollywood e
o seu amor e busca incessante por estabelecer franquias rentáveis,
muitas vezes de gosto duvidável, cujo caso mais emblemático foram os
dois prequels de O Exorcista*1, nada nos garante que aproveitando algumas dicas visuais do filme, não possamos daqui a uns cinco ou dez anos vermos um “Pennywise: O Início” ? Até lá criança, não aceite balões de palhaços estranhos!!!
Notas: *: Inicialmente, a Warner Bros encomendou
um filme contando como foi o primeiro confronto do Padre Merrin (Max
Von Sydow no filme original e Stellan Skarsgard, pai de Bill, nos
prequels) com o demônio, na África. O sacerdote, desiludido por suas
experiências traumáticas na França ocupada na Segunda Guerra Mundial
teria a sua fé posta a prova, resgatando-a e colocando o tinhoso para
correr. Paul Schrader ( A Marca da Pantera de 1982) trabalhando em cima do roteiro de William Wisher (O Juiz de 1995) e Caleb Carr (a série O Alienista),
fêz um filme de terror psicológico, intimista e sutil. O estúdio
detestou, e despediu Schrader, e parte da equipe e elenco, mantendo
Skarsgard como Marrin, e contratando a toque de caixa Alexi Hawley (das
séries Castle e The Following) para mudar o roteiro e Renny Harlin (Duro de Matar 2 de
1990) para dirigir, fazendo um filme mais comercial. O problema foi que
uma vez que o ritmo, o tom e o matiz fotográfico das cenas refilmadas
não funcionava na edição com as já previamente filmadas, a decisão foi
no final refilmar tudo, fazendo um outro filme: O Exorcista: O Início (2004) que naufragou nas bilheterias.

O filme comercial: O prequel do estúdio dirigido por Renny Harlin
Tentando recuperar o investimento, no ano seguinte, a Warner lançou os dois filmes num DVD duplo: O Exorcista: O Início (2004) de Renny Harlin e Domínion: Prequel de O Exorcista (2005)
de Paul Schrader. É um senhor exercício assistir aos dois filmes e
comparar como a partir de uma mesma história inicial se faz um filme de
diretor (Schrader) e um filme de estúdio (Harlin) e se analisar as
mentalidades no conceituar os personagens, as tramas e o seu
desenvolvimento. Fica a dica...

A capa da fita dupla de vídeo da primeira adaptação, com Tim Curry como o palhaço do mal
Coulrofobia: Termo psicanalítico para designar o medo de palhaços. Quem sofre essa fobia quer distância real física de pessoas trajadas como palhaços, e até mesmo de imagens (através de fotos, filmes), havendo relatos de pessoas que se sentem mal apenas ao falar na palavra "palhaço" , isso se dá porque a mente está associada ao sofrimento. Neste caso, à alguma experiência traumática relacionada a alguém trajado de forma não-convencional, que acaba associado ao conceito do personagem. Ao falar, pensar, ver ou ouvir algo que remeta imediatamente o problema que se acredita ter no contato com palhaços a pessoa sofre a dor e angústia do contato real. Ou seja, a mente "engana" a pessoa, e o que era para ser imaginário se torna real dentro do pensamento. Um prato feito para os psicólogos e terapeutas...
Stephen King fêz nome e fortuna trabalhando os medos mais uterinos da
mente contemporânea, embora a maioria das adaptações de suas obras
tenham apenas arranhado a superfície de seus romances, caindo na maioria
das vezes no caminho fácil dos filmes-de-susto e do gore fácil
ao invés de se aprofundarem de fato nas motivações psicológicas e na
grande alegoria que as histórias de terror oferecem sobre o que é viver
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A aranha em stop-motion da série é um clássico da infâmia... |
It: Uma Obra Prima do Medo (1990) dirigida por Tommy Lee Wallace (A Hora do Espanto 2 de 1988) com Richard Thomas (o eterno John Boy Walton) mini série em duas partes, foi a primeira adaptação do romance It (1986) de King, trazendo Tim Curry numa memorável performance como o diabólico Pennywise, o “Bozo do Mal” (atualmente uma certa figura pública tomou para si este título...). O resultado final foi morno, em que pesem os erros e acertos da produção que falava de forma alegórica dos medos e dos ritos de passagem da infância para a juventude e desta para a vida adulta, e da necessidade de enfrentar os medos, e de assumir as responsabilidades decorrentes de tomar as rédeas do próprio destino.
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"Agora a brincadeira ficou séria!!!" |
Eis que décadas depois chega It: A Coisa (2017)
num momento em que o terror retoma seu lugar como garantia de boas
bilheterias, numa boa relação custo/receita, graças em boa parte ao
universo compartilhado dos filmes do diretor James Wan (o “Wanverse” de Invocação do Mal e de Annabelle) que inclusive o levou a revitalizar outros gêneros e personagens (Aquaman). Se a maré está para o mal, porque não apostar nas obras de um dos maiores mestres da atualidade?
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"Otários": O grupo cresceu e apareceu...
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O tiro foi certeiro, trazendo bons sustos, fidelidade à obra, direção e
caracterização de personagens no ponto,e um intérprete que criou a nova
face de Pennywise: Bill Skarsgard, que saiu dos papéis secundários para
ficar no centro da ribalta, tal como Boris Karloff com o monstro de
Frankenstein, Christopher Lee com o Conde Drácula ou, Robert Englund com
Freddy Kruger...
O filme acabou sendo aclamado pela crítica e arrecadou mais de US$ 700
milhões de dólares em todo o mundo. Redefinindo e transcendendo o
gênero, IT – A Coisa tornou-se um fenômeno cultural. Agora era seguir no caminho certo e fechar a trama de maneira digna e rentável...
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São dadas pistas sobre as origens de Pennywise.Deixa para um Prequel??? Só os deuses sabem...
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Dirigido novamente por Andy Muschietti (Mama) It: Capítulo Dois (It Chapter Two 2019) tem roteiro de Gary Dauberman (IT: A Coisa, a cinesérie Annabelle)
baseado no romance homônimo de 1986 de Stephen King, dá prosseguimento
ao desenvolvimento do filme anterior e ainda aprofunda psicologicamente
seus personagens, aproveitando o potencial de seu bom elenco.
Ambientado em 2016, vinte e sete anos após os eventos de 1989 descritos no primeiro filme. Vinte e sete anos depois do Clube dos Otários derrotar
Pennywise (Bill Skarsgard, surtado e vicioso), ele volta a aterrorizar a
cidade de Derry mais uma vez, arrastando as crianças para as sombras
novamente, então Mike (Isaiah Mustafa de Caçadores de Sombras), o único do grupo a permanecer em sua cidade natal,que permanece como um “fiel do segredo” chama os outros de volta para casa.
Agora adultos, os Otários há
muito tempo seguiram caminhos separados, mas ainda carregando em seu
íntimo os traumas do confronto passado, que se refletem em suas vidas
adultas: Bill (James McAvoy da cinesérie X-Men, Fragmentado, Vidro), agora escritor, embora bem-sucedido tem problemas de finalizar suas obras; Beverly (Jessica Chastain de A Hora Mais Escura, Mama, A Grande Jogada), vê-se presa num casamento tóxico e abusivo; Richie (Bill Hader da série Barry da HBO, Irmãos Desastre),
embora um bem-sucedido comediante, vive problemas de auto-ceitação;
Mike, por permanecer em Derry, sente-se empacado no tempo e no espaço;
Ben (Jay Ryan da série Mary Kills People),
virou um arquiteto revolucionário, deixando de ser o gorducho do grupo
mas ressente-se de não ter conquistado o amor da sua vida; Eddie (James
Ransone (da série The Wire), tornou-se analista de riscos, ao canalizar suas fobias, e Stanley (Andy Bean de Swamp Thing, a cinesérie Divergente: Convergente)
não suporta a ideia de voltar. Traumatizados pelas experiências de seu
passado, eles devem dominar seus medos mais profundos para destruir
Pennywise de uma vez por todas colocando-se diretamente no caminho do
palhaço, que se tornou mais mortal do que nunca.
Alternando entre a época atual com seus protagonistas adultos e suas
versões mirins, um ótimo elenco juvenil, o filme acaba ecoando outro
clássico baseado numa obra de King: Conta Comigo (1986)
de Rob Reiner, que também lidava com os ritos de passagem da infância
para a vida adulta.Temos aqui reprisando seus papéis como os membros
originais do Clube dos Otários estão Bill (Jaeden Martell), Beverly
(Sophia Lillis), Richie (Finn Wolfhard de Stranger Things),
Mike (Chosen Jacobs), Ben (Jeremy Ray Taylor), Eddie (Jack Dylan
Grazer) e Stanley (Wyatt Oleff).

A união faz a força: Todos terão de lutar para vencer o mal, ou morrer tentando...

A união faz a força: Todos terão de lutar para vencer o mal, ou morrer tentando...
Dizer que os jovens intérpretes são
ótimos é chover no molhado, para quem já acompanhara o filme anterior,
ficando aqui o bom trabalho de caracterização e de direção de atores, se
encarregando de através de linguagem corporal, tiques, olhares, além de
semelhança de biotipos, não demoramos a aceitar cada intérprete como o
seu personagem num momento distinto de vida, auxiliados pelo figurinista
Luis Sequeira (A Forma da Água, Mama) que tal qual a máxima de que o ”hábito faz o monge”, aqui deixa bem definido quem é quem de forma inequívoca.
A competente narrativa é embalada por ótimos valores de produção, com
uma direção de arte que situa bem a cidade e os personagens nos momentos
temporais respectivos (ponto para o designer de produção Austerberry. D.
Paul vencedor do Oscar por A Forma da Água) e que sabe criar o aspecto de terror cósmico lovecraftiano que o ambiente tenebrista do ninho de Pennywise pede, auxiliado pelo diretor de fotografia Checco Varese (Os 33),
que faz bom uso das sombras e da escuridão mas com uma boa mescla de
cores, que aparecem vivas sempre que necessário, sem entrar em conflito
com as sombras. A direção é auxiliada em seu pique narrativo pelo editor
Jason Ballantine (IT: A Coisa, Mad Max: A Estrada da Fúria)
que acelera a narrativa e reduz a sua velocidade quando necessário, que
tem como aliada a trilha sonora composta por Benjamin Wallfisch (Shazam! , Blade Runner 2049, IT: A Coisa).
Os efeitos visuais são competentes, resgatando a descrição de Pennywise
em sua forma inicial, reimaginando-a de forma a se poder inserir o seu
intérprete, aproveitando a sua performance alucinada e graças aos deuses descartando a ideia daquela aranha de stop motion muquirana da mini série de 1990.
Ou não? Conhecendo Hollywood e
o seu amor e busca incessante por estabelecer franquias rentáveis,
muitas vezes de gosto duvidável, cujo caso mais emblemático foram os
dois prequels de O Exorcista*1, nada nos garante que aproveitando algumas dicas visuais do filme, não possamos daqui a uns cinco ou dez anos vermos um “Pennywise: O Início” ? Até lá criança, não aceite balões de palhaços estranhos!!!
Notas:
*: Inicialmente, a Warner Bros encomendou
um filme contando como foi o primeiro confronto do Padre Merrin (Max
Von Sydow no filme original e Stellan Skarsgard, pai de Bill, nos
prequels) com o demônio, na África. O sacerdote, desiludido por suas
experiências traumáticas na França ocupada na Segunda Guerra Mundial
teria a sua fé posta a prova, resgatando-a e colocando o tinhoso para
correr. Paul Schrader ( A Marca da Pantera de 1982) trabalhando em cima do roteiro de William Wisher (O Juiz de 1995) e Caleb Carr (a série O Alienista),
fêz um filme de terror psicológico, intimista e sutil. O estúdio
detestou, e despediu Schrader, e parte da equipe e elenco, mantendo
Skarsgard como Marrin, e contratando a toque de caixa Alexi Hawley (das
séries Castle e The Following) para mudar o roteiro e Renny Harlin (Duro de Matar 2 de
1990) para dirigir, fazendo um filme mais comercial. O problema foi que
uma vez que o ritmo, o tom e o matiz fotográfico das cenas refilmadas
não funcionava na edição com as já previamente filmadas, a decisão foi
no final refilmar tudo, fazendo um outro filme: O Exorcista: O Início (2004) que naufragou nas bilheterias.
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O filme comercial: O prequel do estúdio dirigido por Renny Harlin
|
Tentando recuperar o investimento, no ano seguinte, a Warner lançou os dois filmes num DVD duplo: O Exorcista: O Início (2004) de Renny Harlin e Domínion: Prequel de O Exorcista (2005)
de Paul Schrader. É um senhor exercício assistir aos dois filmes e
comparar como a partir de uma mesma história inicial se faz um filme de
diretor (Schrader) e um filme de estúdio (Harlin) e se analisar as
mentalidades no conceituar os personagens, as tramas e o seu
desenvolvimento. Fica a dica...
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