terça-feira, 5 de outubro de 2021

Discutindo a Relação - Crítica – Filmes: Venom: Tempo de Carnificina (2021)

 


A briga dos babões

por Alexandre César


Andy Serkis faz o que pode para salvar o filme
 



Eddie Brock (Tom Hardy de Dunkirk) continua aprendendo a se relacionar com o seu álter ego surtado, o simbionte alienígena Venom, estabelecendo para regras para evitar que ele saia por aí devorando pessoas, vivendo no seu microcosmo cujos personagens mas significativos são a Senhora Chen (Peggy Lu de The OA) do mercadinho da vizinhança, e o Detetive Mulligan (Stephen Grahan de Greyhound: Na Mira do Inimigo) que continua com a pulga atrás da orelha com relação a ele, quanto aos eventos do filme anterior.
 
 

Eddie Brock (Tom Hardy) reconstrói a sua vida dentro do que lhe é possível


 Paralelo a isso ele continua “arrastando um bonde” por Anne Weying (Michelle Williams de O Rei do Show) sua ex-namorada que o havia trocado pelo estável, previsível e seguro Dr. Dan Lewis (Reid Scott de Por Que as Mulheres Matam) de quem ganhou um anel de noivado. Afinal, ela quer construir uma vida, coisa que não está no roll das competências do instável Eddie Brock, por mais que ela dê sinais para ele, e Venom o encoraje à lutar por ela...
 

Magoou: Cletus Kasady (Woody Harrelson) esperava que ao contar a sua história, Eddie Brock se tornasse seu amigo


Eddie tira a sorte grande (embora questionável) de fazer uma série de entrevistas com Cletus Kasady (Woody Harrelson de Midway - Batalha em Alto Mar) psicopata no corredor da morte, com inúmeras vítimas desaparecidas. A partir dessas matérias Eddie reconstrói sua carreira de jornalista, só que Cletus, que tem um histórico de abuso e violência com os pais, fica decepcionado, pois queria que a relação fosse mais do que profissional e se abriu com ele porque queria ter um amigo, passando a nutrir por Eddie um ódio mortal, mordendo-o e ingerindo o seu sangue (absorvendo parte do simbionte). Ao ser executado, ele sofre uma metamorfose dando origem ao terrível Carnage e, após devastar o presídio, sai em busca de reencontrar Frances Barrison (Naomie Harris de 007: Sem Tempo para Morrer) sua amada dos tempos de asilo de doentes mentais (detalhe que ela tem um poder de projetar sons intensos e ninguém se refere a ela como “mutante”) e assim os dois poderem levar uma vida feliz de casal assassino. 
 
No fundo um drama adolescente protagonizado por indivíduos beeem acima dos trinta anos...
 
 

O Detetive Mulligan (Stephen Grahan) contunua de olho em Eddie Brock, lendo suas matérias no "Clarin Diário"

 
Dirigido por Andy Serkis (da trilogia Planeta dos Macacos), Venom: Tempo de Carnificina (2021) continua as aventuras solo do ex-vilão, agora anti-herói, oriundo da galeria de vilões do Homem-Aranha, cujos direitos de adaptação para o cinema a Sony Pictures havia adquirido no final dos anos 1990 quando a Marvel Comics estava às portas da falência (isto dito hoje em dia parece surreal...) e vendeu boa parte dos direitos de seus personagens para vários estúdios a fim de fazer caixa a preços convidativos. A direção faz o que pode para forçar os limites da classificação PG-13, gerando um filme que ainda é superior ao seu antecessor (não que seja difícil...), com visual em muitos momentos sinistros, mas que nunca mostra sangue, coisa vital para um personagem tão violento, mas que nas telas virou apenas um “crianção” mimado....
 
 

Até o insosso Dr. Dan Lewis (Reid Scott) ganha destaque nesta sequência

 
O roteiro escrito por Kelly Marcel (Cinquenta Tons de Cinza), a partir da história do próprio Tom Hardy , baseado nos personagens criados por Todd McFarlane e David Micheline, aposta num humor fácil e bobo, e desperdiça boas oportunidades na construção do vilão e de sua parceira, que poderiam ser uma paródia do casal de Assassinos Por Natureza (1994) afinal, tinham o Woody Harrelson! (que aqui, pelo menos está usando uma peruca melhor do que a da cena pós-créditos do filme anterior) e como casal, a química dos personagens é rasa. A própria relação de Venom e Carnage se resume a uma série de embates de motivação básica, coisa que nas cenas de luta, a edição de Maryann Brandon (Mentes Sombrias) e Stan Salfas (Planeta dos Macacos: A Guerra) por ser muito picotada dilui o impacto emocional.
 
 

Frances Barrison (Naomie Harris) a amada de Cletus Kassaday, que além de louca homicida tem poderes "mutantes"

 
A produção é boa, com a fotografia de Robert Richardson (Era Uma Vez Em... Hollywood) tendo bons usos de câmera no seu prólogo mostrando a infância de Cletus no asilo e em consonância com o desenho de produção de Oliver Scholl (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) e a direção de arte de Tom Brown (Boodshot), Michael E. Goldman (Homem-Formiga e a Vespa), Troy Sizemore (Lovecraft Country) e equipe que criam junto com a decoração de sets de Alex Brandenburg (Ponto Cego) e Dominic Capon (Malévola: Dona do Mal) uma ambientação que evoca uma versão mais comportada de Tim Burton, cosa que os figurinos de Joanna Eatwell (Carnival Row) seguem na mesma pegada, com destaque no casamento na igreja de Cletus e Frances, onde a música de Marco Beltrami (Ameaça Profunda) tem os momentos mais inpirados.
 
 

Anne Weying (Michelle Williams) continua firme como interesse romântico de Eddie Brock


 O CGI é um pouco melhor do que o do filme anterior, mas apesar de competentes, aqui os efeitos visuais de The Third Floor Inc., DNEG, FX TD, Argon, Image Engine, Framestore, Double Negative, Clear Angle Studios, não atingem o nível de interação de atores e CGI que o projeto pedia, apesar de a direção de Serkis melhorar a atuação dos atores, diluindo o fato deles estarem atuando diante de nada (que só seria inserido depois na pós-produção).
 
 
Carnage: Os efeitos visuais são competentes, mas no conjunto geral há um aspecto de videogame

 
Ao final, Venom: Tempo de Carnificina faturará, tal qual seu anterior, um caminhão de dinheiro, pois à despeito de suas grandes limitações, o personagem caiu no gosto do grande público, faltando apenas para completar a liga, um filme bom de fato.
 
A relação de Eddie Brock e Venom é praticamente uma discussão de relação de casal

 
Obs: Acena pós-crédito insere o personagem no Universo Cinematográfico Marvel na base do fórceps, tendo alcance no período em que ainda valer o acordo entre os dois estúdios, o que deverá ser posteriormente ignorado no futuro, caso esse acordo não seja renovado.



 

0 comentários:

Postar um comentário