sábado, 23 de outubro de 2021

O multiverso auto-contido - What if...? - 9º episódio - 1ª Temporada

 


Fim de uma antologia 

por Ronald Lima


 Conclusão do episódio duplo aponta novos rumos

"Reunindo a banda": Kilmonger, Gamora, T´challa, Capitã Carter e Thor são reunidos para uma missão suicida

E finalmente What If...?, série da Disney+, chega a conclusão de sua 1ª temporada tendo apresentado histórias variadas do Multiverso Marvel.

Pode ser difícil para um programa de antologia realizar um trabalho completo e coeso porque a cada semana surgem novos personagens e histórias, mas
What If...? trouxe ao episódio final uma real sensação de conclusão e finalidade. Toda a temporada foi construída em direção a esse final. O episódio 
"E se ... O Vigilante Quebrou Seu Juramento?" oferece uma tipica aventura de super-heróis cheia de ação. 

As expectativas que os eventos ocorridos em What If...? possam ser conectar com o Realidade Central do UCM que conhecemos aumentam.


Poster de Simon Delart

No clássico quadrinho de What If...? criado em 1977 a proposta era apresentar uma realidade alternativa a partir de um ponto de divergência de histórias já conhecidas, porém sem a necessidade de que essas histórias continuassem em um possível Universo Paralelo, para cortar as expectativas e ao mesmo tempo criar um roteiro de impacto os finais em geral eram trágicos cujo o intuito era reforçar o que estava estabelecido como a opção correta, afinal porque alguém na época iria querer continuar lendo mais histórias de um Universo onde Wolverine depois de eliminar o Hulk em sua 1ª missão como a Arma X entrar em seguida para a Irmandade do Mal e não nos X-Men para acabar sendo morto por Magneto durante um ataque contra a Jean Grey? É tragédia demais além de não permitir uma continuidade com os personagens envolvidos, basta uma história mesmo e pronto. A MARVEL Comics sempre tratou com muita cautela o conceito de Universos Paralelos. A Organização AVT para controle de variantes temporais foi criada em 1986 por Walt Simonson e Sal Buscema. 

Shuma Gorath se faz presente em dois episódios - um ser primordial que consegue transitar em diversos Universos.

Observamos que durante essa 1ª temporada de What If...? começou  apresentado uma pequena variação de uma história já conhecida para facilitar ao espectador melhor entendimento em conectar o Universo Cinematográfico Marvel ao conceito de Multiverso Marvel surgido após o seriado Loki. A cada episódio ousando um pouco mais e propositadamente deixando finais abertos induzindo a expectativa de que ocorreria uma conclusão em comum onde reunisse cada um deles, o que de fato ocorreu. O confronto contra o tentacular ser interdimensional Shuma Gorath em dois episódios fez surgir uma pergunta: haveria um inimigo em comum que viesse ao confronto de vários universos? Outros vilões se apresentam: Ego - O Planeta Vivo, um Thanos "Zombie" e quem sabe um Dr. Estranho Supremo completamente arrasado e vingativo após por ter feito o que fez no Episódio 4. Mas eis que ao final do episódio 7 surge um adversário que de fato seria o super vilão da vez: Ultron.

No episódio 8 deparamos com um Ultron que consegue conectar-se ao seu corpo de Vibranium antes que esse fosse capturado pelos Vingadores além de obter a Manopla do Infinito com todas as Jóias ali Incrustadas. Um inimigo e tanto!


O Vigia criado em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby

O Vigia surge como personagem em 1963 criado pela dupla Jack Kirby e Stan Lee. Nos quadrinhos os Vigias utilizavam seus vastos conhecimentos para acelerar a evolução de espécies mais atrasadas, para consternamento de todos, seus ensinamentos foram utilizados para fins bélicos em alguns planetas, desejando não se tornarem diretamente responsáveis por mais mortes criaram um juramento de não interferir no curso de vida de nenhuma raça, passando apenas a observar os eventos. Uatu foi nomeado o Vigia da Terra. Em What If...? cartoon Ashley C. Bradley e Matthew Chauncey retornam com o personagem ampliando seus poderes, Uatu não apenas observa a Terra e sim a todo Multiverso a partir de um local ainda não denominado semelhante a um corredor ladeado por infinitos prismas onde cada um dos prismas representa um Universo, aqui ele também está sob juramento de não interferir porém assim como nos gibis o Vigia possui um enorme censo de justiça e forte apego e respeito aos seres que acompanha. Em  uma conversa franca com a Viúva Negra (Lake Bell) e no final da temporada ele expõe tudo que sente.

Hank Pym cria Ultron 1. Que rapidamente evolui para Ultron 5



Ultron surge em 1968 criado por Roy Thomas e John Buscema. Nos quadrinhos o responsável por sua construção foi Dr. Henry Hank Pym que implementou seu padrão cerebral em sua criação. Ultron rapidamente desenvolveu consciência própria e construiu para si um corpo de Adamantium designado-se a si mesmo como Ultron 5 depois de 4 tentativas de evolução a partir de sua desengonçada forma original, essa numeração se tornará uma característica curiosa do personagem, a cada suposta destruição definitiva ele retorna com alguma melhoria e numeração acima à anterior. Ultron passou considerar a si mesmo como a forma de vida perfeita, ao contrário de toda vida orgânica, principalmente a vida humana. Roy Thomas certamente se inspirou no Romance - Frankenstein, O Prometeu Moderno - da escritora Mary Shelley para desenvolver na personalidade de Ultron esse profundo ódio contra seu criador e contra a Humanidade. Por inúmeras vezes Ultron enfrentou os Vingadores e outros tantos Super Heróis da MARVEL, inclusive chegou a se conectar a armadura do Homem de Ferro. Seu ponto alto foi na saga "A Era de Ultron" de Brian Michael Bendis, onde conquista de fato todo o Planeta para recria-lo conforme sua imagem e vontade. O Filme Vingadores: A Era de Ultron de 2015 tem seus méritos mas passa longe do que ocorreu nos quadrinhos, muito longe!


            Stephen Strange e o Vigia instruem os integrantes sobre quem é Ultron

O Vigia (Jeffrey Wrigth) convoca personagens de cada um dos episódios a exceção do episódio 3 para formar um grupo interdimensional. Essa equipe é composta por: Capitã Carter (Hayley Atwell), T´Challa o Senhor das Estrelas (Chadwick Boseman)Killmonger (Michael B. Jordan), o Thor festeiro "príncipe encantado" (Chris Hemsworth) Gamora (voz de Cinthia McWilliams), cujo episódio-solo não foi mostrado*1, todos  liderados pelo Doutor Estranho Superior (Benedict Cumbernatch), perceba que esse grupo possui um perfil bem RPG, vejamos: temos um clérigo, o mago, um ladrão, inclui na lista um bárbaro, uma paladina, uma elfa (ou ranger) e o "anão" ferreiro. 

A Paladina, o Guerreiro, o Ladrão, o Mago, o Anão Ferreiro e a Elfa liderados pelo Clérigo.

A explanação se dá na recriação do Pub que era frequentado por Steve Rogers e Peggy Carter, tendo sido recriado pelo Doutor Estranho à partir das lembranças dela, pois precisava de um ambiente acolhedor para que todos se sentissem à vontade e ali traçar as diretrizes para enfrentar o robô genocida.

A pedra da alma é a chave para vencer esta batalha. É o que nossos heróis tentarão se apoderar para alimentar o triturador de pedra infinita de Gamora.

Gamora irá usar o "Esmaga-Infinito" criada para acabar com as "Jóias do Infinito"


                                             ALERTA DE SPOILERS
O Vigia envia os recém nomeados Guardiões do Multiverso para o Universo estéril do episódio 8, afinal Ultron (Paul Betanny) faz uma busca por muitas formas de vidas inteligentes portanto um lugar sem vida é um bom local para se preparar e realizar o confronto, e o Vigia teria ali duas cartas na mão muito úteis. Se você achou que esse grupo não seria páreo para derrotar o Ultron Infinito sua dúvida irá aumentar ainda mais quando o Poderoso e sem noção Thor quase estraga tudo logo de cara! Mas vale a pena ouvi-lo gritar "Viva Las Vegas"*2 e partir pra cima! Daí em diante o episódio é uma batalha total de vários heróis lutando contra um vilão imbatível, um roteiro com pegada bem gibi. A animação tem inúmeros efeitos visuais vibrantes e o uso de câmera super lenta nas tomadas de ação mais cruciais, como sempre afirmei aqui as lutas em What If...? são o ponto forte dessa técnica de animação Cell Shade e palmas para a diretor de animação Millo Barnett, destaque para a trilha sonora de grande impacto de Laura Karpman .

Viva las Vegas!

O episódio 9 renderia um bom filme na tela contra um Ultron tal qual não se via nos quadrinhos a muito tempo. Seu ponto fraco para mim é o mesmo que o personagem dos quadrinhos, ele é arrogante e egocêntrico e não tem Joia do Infinito que resolva isso. Contra um Ultron Infinito é bom contar com um Dr. Estranho Supremo. Hugo Strange como todo bom Mago de RPG invoca feitiços de proteção além de conter violentos golpes cósmicos, de fato é impressionante o nível de poder que alcançou. Se tornou um tanto resignado mas tudo bem, uma característica forte nos personagens da MARVEL é a de possuir algo que os torne mais possíveis.

E não adianta rolar um D 20 contra o Mago Supremo.

A ação faz uso inclusive as hordas de zumbis do quinto episódio e apesar da participação da Wanda-Zumbi, esta não se mostra uma adversária à altura de Ultron que rapidamente os elimina sem esforço.

acho que Ultron com o mesmo rosto de seu marido lhe permitiu um vacilo fatal... Sei lá poderiam ter lhe permitido um pouco mais, sua participação ficou apenas para colocar o episódio zumbi na lista.


A poderosa e assustadora Wanda-zumbi infelizmente tem uma pequena participação

Contando com a adesão de Natasha Romanoff a luta se intensifica, afinal todos têm um mesmo inimigo comum e Ultron se mostra um osso duro de roer causando destruição com muita facilidade e só não dando cabo dos integrantes do grupo graças aos encantos de proteção. 

Escudo ao Quadrado: Capitã Carter e Natasha Romanoff cada uma com o seu

Juntas, Natasha, com o escudo do Guardião Vermelho e a Capitã Carter com o seu de vibranium, enfrentam Ultron em combate corpo-a-corpo de maneira espetacular, não lhe dando tempo de reação adequada se bem que uma Inteligência Artificial poderia realizar milhares de cálculos, e considerações em frações de segundos além de estar ainda de posse de algumas jóias. Seu desprezo pelos adversários e auto-confiança devem estar atrapalhando e algumas frases ditas por ele demonstram isso, ocorre o mesmo nos comics. Enfim, nada como ver duas ótimas personagens e os poderosos  escudos em ação. 
Infelizmente não tivemos na sequência dos episódios da série aquele que nos apresentaria a Gamora de um Universo Alternativo, sem esse background o Triturador de Jóias fica parecendo um recurso apelativo. Seu confronto cara a cara com o poderoso androide ao usar esse Triturador ao menos mostrou um pouco do seu espírito guerreiro, Ultron tremeu. Quando o episódio da Gamora for ao ar você o encaixa como o episódio 7 ou 8 e os demais avançam uma casa.

Girl Power: Carter  & Romanoff se mostram uma dupla articulada seja em qualquer universo

Ao longo do combate, Ultron vai rechaçando as investidas do grupo, mas gradualmente a reação dos heróis vai mudando a maré até Natasha Romanoff  lhe cravar uma flecha que o hackeia com a 2ª carta na manga que o Vigia guardou, é a consciência de Arnim Zola (voz de Toby Jones), que age omo um vírus em Ultron. Killmonger finalmente entra na briga mas não ao lado dos Guardiões do Multiverso e tampouco ao lado de Ultron, obviamente Killmonger escolhe a si mesmo como solução para a disputa.

Virada: Erik Kilmonger revela as suas reais intenções

Arnin Zola obtêm o controle de Ultron e disputa o controle das Jóias do Infinito com Kilmonger e Hugo Strange aproveita o inesperado conflito para confina-los em uma micro-dimensão em um permanente conflito sem vencedores, um típico final de revista em quadrinhos. Muito bom.

As joias são minhas! Não! Elas me pertencem! Que pertencem a você o quê! 

Em What If... ? há muita ação que poderia caber em qualquer um dos filmes dos Vingadores e nas demais produções do MCU. A animação é muito cativante, as cores e os detalhes de cada episódio são incríveis. Até mesmo os planos de fundo das cenas de luta demonstram zelo no acabamento.


Stephen Strange aproveita a disputa entre os antagonistas... "Mandrake faz um gesto hipnótico"


O Vigia no capítulo anterior entrou em disputa física contra Ultron, algo bem inusitado para o personagem, nos gibis lembro de algo semelhante contra Galactus, para um sujeito que decidiu apenas observar os acontecimentos ele se mostrou bem preparado, contudo foi sua capacidade de raciocínio que conseguir derrotar Ultron incluindo a escolha de traidor no grupo, o que se esperar de Killmonger não é? Afinal foi o que ele fez durante todo seu episódio 6. 
 
Não contavam com a minha astúcia

O que tornou todas essas histórias funcionarem, além das sequências de ação, são os heróis, no caso as diferentes versões de heróis conhecidos que se mostraram muito menos disfuncionais de como eles se comportam nas produções do MCU
O tempo mais curto da produção os tornaram mais práticos e um fator dentro desse raciocínio está justamente no ato de criar sobre personagens já existentes acrescentando ou removendo virtudes ou defeitos. Durante a série cada um deles teve seu próprio momento para brilhar e a história toda pareceu uma conclusão lógica para a temporada, principalmente depois dos eventos no Episódio 8.
Curiosamente as maiores críticas recaem justamente nas mudanças que foram feitas nos personagens críticas como essa parece não dar conta que a principal premissa do título é justamente a perspectiva da mudança, a única na verdade.

O  Vigia recoloca os Guardiões do Multiverso cada qual em seu lugar de origem...

Concluindo, o Vigia  despacha os heróis cada qual para o seu universo, Sendo Natasha Romanoff a única discordante pois o seu mundo está morto, o Vigia a transporta para o universo do terceiro episódio, onde a Viúva Negra havia sido morta, preenchendo a vaga nos Vingadores locais, em pleno combate contra Loki (lembremos que ele está se vingando da morte de Thor nesse Universo). Nick Fury imediatante percebe que não é a mesma pessoa que conheceu mas devido as circunstâncias prontamente a aceita e a Vingadora tem seu novo lar assegurado. Wanda Romanoff em todos os Universos é a Vingadora que de verdade mais se dedica de corpo e alma a equipe e mereceu aqui um final recompensador a altura. 

...com exceção de Natasha Ramanoff, que vai para onde há vaga para uma Viúva-Negra

 Ao final, a primeira temporada de What If...? se não é perfeita, é suficientemente divertida para divertir o público com um espetáculo visualmente belo e dinâmico, apontando para grandes desdobramentos, que só dependerão agora, da ousadia de seus autores.
 
Esperemos agora o que o futuro trará... Uma coisa é certa, teremos mais Capitã Carter.

Notas:

*1: O episódio que mostra Gamora como sobrevivente de Sakaar, e junto a Tony Stark venceram Thanos, forjando a Manopla do Infinito numa armadura, esse episódio não ficou pronto no prazo, sendo reescalado para a temporada seguinte.

*2: A canção Viva Las Vegas foi gravada em 1964 por Elvis Presley e serviu de tema para um filme de mesmo nome muito elogiado por sua trilha sonora somada a participação da atriz/ cantora e bailarina Ann- Margret que interpreta uma personagem que finalmente trás um contra-ponto ao estilo galanteador "conversa fácil" dos personagens de Elvis Presley. A canção está em disputa judicial para que se torne símbolo da Cidade de Las Vegas. Por ser uma canção que exalta um estilo de vida de ganhos e perdas fáceis muitas bandas passaram a usar trechos da canção em tom crítico a partir do surgimento do movimento Punk.

"- Amigos, acho que isso é o início de uma longa parceria..."

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