domingo, 3 de outubro de 2021

Sucesso de braçada!!! - Crítica - Filmes: Aquaman (2018)

 

Ele fala com os peixes... e dai?

Por Alexandre César

(Originalmente postado em 11/ 12/ 2018)


 James Wan resgata o Soberano dos Mares da DC Comics      

Arthur Curry (Jason Momoa): " -Cheguei terrâneos! Vão encarar???"

   
Criado por Paul Norris e Mort Weisinger para a revista More Fun Comics nº 73, com data de capa de novembro de 1941 (chegou às bancas dos EUA em 25 de setembro de 1941.), Arthur Curry começou como um personagem secundário no universo da DC Comics e, apesar de ter sido um dos membros fundadores da Liga da Justiça, por um bom tempo, em suas várias fases, alternou momentos de grande relevância e de reles complemento no panteão dos super-heróis da editora. Foi descaradamente ridicularizado na cultura pop em programas humorísticos como The Big Bang Theory e South Park, onde todo o potencial mitológico do seu universo era desconsiderado por ser ele “o cara que fala com os peixes”
 

Rei Nereus (Dolph Lundgren) e Orn (Patrick Wilson, de costas): aliança pelo poder


   Aquaman (2018), dirigido por Jams Wan (Invocação do Mal, de 2013), resgata de maneira épica, grandiosa e esperta a essência do herói, numa aventura repleta de ação com um visual deslumbrante do mundo subaquático. Vemos sua “jornada de herói” (relutante) até a conquista do trono da Atlântida, assumindo a sua posição de Rei dos Mares e resgatando o status do qual o personagem gozava nas décadas de 1950 e 1960 (a chamada Era de Prata dos quadrinhos norte-americanos). 
 

Mera (Amber Heard): não é a Ariel, mas é uma ruiva maravilha

 
   O filme inicia, de forma rápida e bem solucionada, com a história de Tom Curry - Temuera Morrison, de  Star Wars: Episódio 2 – Ataque dos Clones (2002, de George Lucas), em um papel gente boa - , um faroleiro que resgata Atlanna (Nicole Kidman, em desempenho fofo), uma rainha exilada da cidade submarina perdida de Atlântida.


O Reino de Atlântida: visual deslumbrante do mundo submarino, mostrando onde foi gasto cada centavo dos US$ 160 milhões do filme


   Anos após a partida dela, vemos o fruto desta união improvável, Arthur Curry (Jason Momoa de Game of Thrones), já estabelecido como herói após os eventos de Liga da Justiça (2017, de Zack Snyder), e após o resgate de um submarino atacado pelo vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II, da série The Get Down da Netflix). Com este ato o herói ganha um inimigo vingativo. 


Arthur (Jason momoa), Mera (Amber Heard) e Vulko (Willem Dafoe): Finalmente o conselheiro dá as caras

 
   Ainda meio incerto quanto a seu lugar no mundo, ele encontra a princesa Mera (Amber Heard, que já encarara o papel em Liga da Justiça), filha do Rei Nereus (Dolph Lundgren num bom papel, diferente do que se espera de um papel de Dolph Lundgren”) que governa o reino atlante Xebel. Nereus está unindo forças com o meio-irmão de Arthur, Orm - Patrick Wilson de  Watchmen - O Filme (2009, de Zack Snyder), em atuação correta. Orn é o atual Rei de Atlântida e nos quadrinhos ele é conhecido como o vilão Mestre dos Oceanos. O objetivo dos dois é unir os sete reinos e declarar guerra ao mundo da superfície. Arthur precisa assumir uma posição nesta contenda e descobrir quem ele é e se é digno de seu destino: ser rei. 


Orm (Patrick Wilson): meio-irmão do herói e regente louco por uma guerra

 
    O roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick (Invocação do Mal 2 ) e Will Beall (Caça aos Gângsteres), a partir da história de Geoff Johns, James Wan e Will Beall, acerta ao mesclar vários elementos das diversas fases do personagem, modificando alguns deles em função da necessidade narrativa. A direção de Wan não é perfeita, mas é eficiente ao impor um visual deslumbrante e ao fazer em poucas cenas entendermos quem são os personagens e as suas motivações.
 
 
O passado e a queda da Atlântida: referências ao relatos do médium Edgar Cayce

 
    As cenas da origem de Arthur remontam à Adventure Comics nº 260 (maio de 1959, história com o título "Como Aquaman conseguiu seus poderes!"). Isto também ocorre como as sequências de sua juventude, tendo Vulko (Willem Dafoe, sereno e sábio), conselheiro do trono de Atlântida, como seu mentor, ajudando-o a descobrir os seus poderes. Era para Vulko ter sido apresentado antes ao publico em Liga da Justiça, mas todas as suas cenas ficaram no chão da sala de edição. 
 
 
Mudando a fase do game: Mensagem do Rei Atlan.

 
  Não temos dúvida sobre as ambições de Orm (que, nos quadrinhos, é meio-irmão de Arthur por parte de pai, não de mãe) e entendemos porque Arraia Negra (embora seja em essência um vilão-soldado) é o que é graças à sua relação com o pai (Michael Beach, ótimo). Mas é a atitude de Arthur que, com um lampejo de arrogância, transforma Arraia Negra em um de seus maiores inimigos. E esta relação é bem estabelecida graças à química dos atores (destacando-se a entrega de Yahya Abdul-Mateen II em suas cenas iniciais). Em meio ao visual elaborado, colorido e mitológico do filme, temos de brinde, entre os vários easter eggs, na sequência de batalha climática, uma cena rápida homenageando as animações de TV  Superman/ Aquaman Hour of Adventure, de 1967, e Superamigos da década de 1970. De fã para fã... 
 

Os sete reinos marinhos transpiram mitologia

 
   Como nem tudo é perfeito, a edição de Kirk M. Morri (Velozes & Furiosos 7, e os filmes da franquia Sobrenatural) enfatiza o lado gamer do diretor, com várias sequências de luta remetendo a games de tiro em primeira pessoa, ou a perseguição nos telhados de uma vila na Sicília - que talvez se beneficiasse se fosse encurtada em um minuto ou dois. A sequência do holograma do antigo Rei Atlan explicando os poderes do seu tridente é uma perfeita introdução de fase de game. Outros tempos, outras mídias se incorporando ao “fazer cinema”... Um dia isto ainda ficará fluido. 


Tubarões são legais, com lasers então...

 
  A fotografia de Don Burgess ( Forrest Gump - O Contador de Histórias) e o design de produção de Bill Brzeski (Velozes & Furiosos 7) criam um mundo riquíssimo de detalhes que, aliados aos ótimos efeitos visuais, captam a fluidez dos movimentos no meio líquido numa palheta de cores vasta, realçando o aspecto mitológico deste mundo embalado pela música de Rupert Gregson-Williams (Mulher-Maravilha). As cenas que mostram o passado de Atlântida remetem de forma sutil as visões de Edgar Cayce, popular médium norte-americano da primeira metade do século XX, que fez um relato detalhado de como teria sido o antigo continente de Atlântica e seu mítico reino. 


Arthur e Orm: O bastardo e o filho legítimo na disputa do trono


   Outro caso à parte são os figurinos de Kym Barrett (trilogia MatrixO Espetacular Homem-Aranha) que trabalha muito bem materiais e cores, muitas vezes mixados com os efeitos digitais, criando ótimos resultados - ora funcionais, ora carnavalescos (no bom sentido) - conseguindo uma ótima recriação do uniforme tradicional do herói, que sempre foi tachado de cafona. 
 
 
Os sete Reinos: é interessante a diversidade dos povos submarinos, remetendo à criaturas mitológicas com avançada tecnologia

  
 Jason Momoa, uma força da natureza, defende bem o seu papel, apesar de, em alguns momentos, parecer ele mesmo. Ele encontra em Amber Heard uma contraparte segura, que compensa as suas hesitações, tendo inicialmente um relacionamento quase igual ao do Homem-Formiga com a Vespa na Marvel (eu disse quase!).
 

Mera (Amber Heard): fluidez do movimento de cabelos e de diversos materiais no meio líquido


   Ao final saímos satisfeitos ao ver que um herói, há muito injustiçado, finalmente tem o seu lugar de direito reconhecido entre deuses da moderna mitologia pop. Enquanto isso, mesmo não tendo sido ao longo da história tão sacaneado quanto o pobre Arthur, por onde anda (ou nada...) mesmo o tal do “príncipe submarino”??? Marvel, a palavra é com vocês.
 

"- Cafona, eu?"

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