segunda-feira, 4 de março de 2019

Os dilemas da juventude - Crítica - Filmes: Homem-Aranha - De Volta ao Lar (2017)

 

O amigão adoidado da vizinhança

por Alexandre César

(Originalmente postado em 09 / 07/ 2017)


O super-herói retorna à sua idade original

Um novo Homem-Aranha para uma nova geração

Se nos dias de hoje Stan Lee e Steve Ditko criassem Peter Parker e seu alter ego escalador de paredes, muitas coisas seriam distintas em relação à sua concepção original e relações humanas e sociais dos anos 60. Posto isso, podemos entender o porquê da rejeição de parte da nerdaiada mais velha (na casa dos 45/60 anos) com relação a Homem-Aranha De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming), de Jon Watts, que insere o nosso herói no atual Universo Cinematográfico Marvel, fruto de uma longa negociação dela com a Sony (detentora dos direitos das adaptações cinematográficas do personagem) e disto tira vantagem, sem perder tempo tentando recontar a sua origem, ainda fresca na mente do público pelas duas séries anteriores (a ótima trilogia de Sam Raimi e, os outros dois fimes...) e economizando personagens clássicos, como J.Jonah Jameson, Gwen Stacy e Norman Osborn, que, se nos lembrarmos bem como foi nos quadrinhos, só deveriam aparecer constantemente numa fase mais adiante do personagem.
 
Ned Leeds (Jacob Batalon) e Peter Paker (Tom Holland): a materialização do público nerd

Ambientado após os eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016), aqui temos um Peter Parker (Tom Holland, perfeito) que fala e age como adolescente que é: ainda imaturo e precisando de uma figura paterna. Daí sua adoração por Tony Stark (Robert Downey Jr., na medida certa), que não o acha ainda preparado para entrar no panteão dos heróis (os Vingadores), delegando a supervisão do garoto a Happy Hogan (Jon Favreau, ótimo) que, rabugento como só ele, lembra os diretores, inspetores escolares, pais e padrastos dos longas-metragens de John Hughes dos anos 80 - forte influência no tom de aventura juvenil e escolar do filme. 
 
Abutre (Michael Keaton): um dos melhores vilões dos filmes da Marvel

Além disso, temos Michael Keaton como grande trunfo: o eterno Batman, de Tim Burton, que, com o seu Abutre, se torna um dos melhores vilões do Universo Cinematográfico Marvel com sua origem plausível (tal qual o animal, ele cata os restos, ou “carniça”, da tecnologia dos Chitauri, que destruíram parte de Manhattan no filme Os Vingadores (2012). Aqui, o homem que se torna o Abutre é um cara classe operária que não deixa barato na hora de descer o braço. Por força das circunstâncias, ele - associado a outros vilões conhecidos do Aranha - acaba enveredando pelo caminho do crime, e nos leva a pensar se, em situação semelhante, não trilharíamos o mesmo caminho.

Parker está caído por Liz Allen (Laura Harrier) mas Micelle (Zendaya) o "balança"
 
Uma coisa que salta aos olhos é as atitudes teenagers do herói, com seu medo de se relacionar com garotas e suas derrapadas por conta da imaturidade, apesar de sua grande inteligência e coragem, nada devendo à Marty McFly (de De Volta para o Futuro), fora outro fator que transborda no filme: a inclusão. No filme temos uma profusão de personagens com uma diversidade étnica que talvez irrite aos fãs mais canônicos, transformando os caucasianos Ned Leeds, o amigo nerd (Jacob Batalon, ótimo), e Liz Allen (Laura Harrier), o objeto de paixão do herói, que nos quadrinhos são caucasianos e aqui, ele é havaiano e ela afrodescendente, da mesma forma que Micelle (Zendaya, ex-atriz mirim da Disney) é a adolescente descolada, e a tia MILF, digo May, interpretada por Marisa Tomei, não nega suas origens italianas.
 
Tia May (Marisa Tomei) é um caso à parte

Easter-eggs estão habilmente espalhados pelo filme, que começa com um ótimo arranjo musical de Michael Giacchino do tema da série animada dos anos 60, além de várias inserções de hits musicais, inserindo o herói na vibe contemporânea.

Figura paterna: Tony Stark (Robert Downey Jr.) supervisiona o "pupilo"
 
No computo geral o saldo é extremamente positivo. Se faltou aquela voz do Tio Ben sussurrando “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades”, dando uma maior dramaticidade às motivações do herói, sobra o frescor da concepção original do personagem, como alguém que vê o mundo de uma forma positiva - inocente até -, apesar de tudo. Ah! Temos as cenas de pós- créditos! A primeira delas prepara o cenário para uma possível continuação e a final é um triunfo de metalinguagem.
 
"-Vamos guri! Se nos atrasarmos perderemos os melhores lugares no cinema!!!"

 

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