segunda-feira, 4 de março de 2019

A Velha, a Nova, e a Perdida Geração - Crítica - Filmes: Star Wars: Os Últimos Jedi (2017)

 

Um fim, e um novo começo

 
por Alexandre César

(originalmente publicada em 04/ 02/ 2019)


Riam Johnson e a ousadia de trilhar novos rumos

”-Quando eu vi no cinema a trilogia original me encantei! Aquilo sim é que era bom, não esta w&r3@ atual!!!”  

  Basicamente tem sido esta a opinião de fãs mais conservadores e xiitas do fandom de Star Wars, a respeito do último filme da série Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) dirigido por Riam Johnson, mostrando a capacidade do universo ficcional de George Lucas de angariar paixões tão intensas mesmo passados 40 anos desde o lançamento do primeiro filme da série em 1977 (que estrearia aqui em fevereiro de 1978...). 

A Raddus, a nave capitânea da Resistência.
  

A trilogia original sedimentou no coração dos fãs a tal galáxia muito, muito distante, apesar dos ewoks e de um ou outro ponto discutível. A trilogia prequel, que mostrou a queda da república e de Anakim Skywalker para o lado negro, cumpriu a sua função, apesar de Jar Jar Binks e dos gungans, mas, ressentia-se de serem filmes de um bom diretor de espetáculo, mas um fraco diretor de atores (George Lucas) tentando dialogar com um público duas gerações mais novas que a dele.   

 

Rey (Daisy Riley) e Luke Skywalker (Mark Hammil): A entusiasmada aprendiz e o relutante mestre...

 Já a nova trilogia pós-compra pela Disney iniciou-se de forma desigual com Star Wars: O Despertar da Força (de 2015, dirigido por J. J. Abrams) que enquanto era genial no diálogo com o lado iconográfico da saga, pecava por descaradamente repaginar o Ep. IV de 1977, parecendo um caça-níqueis e criando insegurança em parte dos fãs, ainda mais depois de comparado com Rogue One: Uma História Star Wars (2016) de Gareth Edwards, um derivado que surpreendendo a todos, se mostrou o filme de fã feito para fãs que todos esperavam. As fichas estavam lançadas.

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 Johnson, o jogador da vez, também roteirista do filme, apostou em abalar as estruturas, lançando reviravoltas e mesclando a luz e as trevas de cada personagem, apostando em valores menos monolíticos de bem e mal, nobreza e vilania e, fez um filme que mais dialoga com o momento global presente, abrindo mão de um maquiavelismo raso e investindo nos tons de cinza de cada personagem e... Acertou, tirando um ou dois deslizes! 

 

 

Finn (John Boyega) acerta as contas com a Comandante Phasma (Gwendolyne Christie)


  Seguindo a tradição de que o filme do meio é mais sombrio, com pontas soltas, etc... neste os rebeldes já começam em retirada, apanhando feio de início ao fim da Primeira Ordem, que parece ter um estoque de destróieres, encouraçados e outras naves colossais infinito. A berlinda em que os rebeldes se encontram tem ótimos momentos mas se pensarmos um pouco soa meio irreal, mas... é Star Wars, então relaxemos.

 
"Star Wars" não é "Star Wars" sem "Stardestroyers"  e outros colossos

  Na realidade aqui a Resistência apanha mais do que em Episódio V - O Império Contra-Ataca, o maior referencial deste filme. Se continuar nesta progressão, a Aliança Rebelde terminará cabendo toda dentro de um fusca. Chewbacca, C3P0, Lando Calrissian, Wedge Antilles e outros personagens clássicos que se cuidem, pois até o Alm. Ackbar dança! O Alm. Ackbar...

 

Poe Dameron (Oscar Isaac) cresce como personagem

Aqui Rey (Daisy Riley ótima) descobre um Luke Skywalker (Mark Hammil, afinado com o personagem) que não se interessa pelos rumos da galáxia, assombrado por seu fracasso no treinamento de Kylo Rem (Adam Driver, ótimo), que apesar de seus pitis, caminha aceleradamente para se tornar um vilão com “V” maiúsculo. Posteriormente Luke volta atrás e mostra ser, de forma surpreendente, o maior de todos os Jedi, e isto é incontestável, pois fazer o que ele faz e ninguém se tocar, mesmo Rey e Kylo Rem que são usuários da Força só confirma. Ele merece aparecer ao lado de Obi-Wan-Kenobi e Yoda sem esforço... 

 

A Resistência paga um preço altíssimo a cada vitória... ou derrota.

 

 Poe Dameron (Oscar Isaac) que aqui tem mais espaço e cresce como personagem, aprende que heroísmo impetuoso costuma ter um peso alto em vidas e recursos. É muito legal ver seus embates com a General Leia Organa (Carrie Fisher em sua derradeira aparição) e com a Vice-Almirante Holdo (Laura Dern) demonstrando a necessidade de um pensamento estratégico em detrimento de agir como um cowboy, “caindo e atirando” sem um resultado realmente prático. O personagem menos interessante aqui é Finn (John Boyega) que ganha em Rose Tico (Kelly Marie Tran) uma parceira de aventuras, o que o leva a situações bem rocambolescas. Pena que a Comandante Phasma (Gwendoline Christie) tenha tão pouco tempo de cena. É uma personagem de grande potencial mal aproveitado tal qual Boba Feet.

 
Rey e Kylo Ren (Adam Driver) união espiritual e até mais...

O trio principal segue cada um o seu arco narrativo em separado dos demais, para se reunirem no terceiro e impecável terceiro ato, quando o filme engrena de fato, equilibrando tanto os fanservices quanto as reviravoltas inesperadas, mas necessárias para esta nova trilogia finalmente encontrar o seu rumo e marcar posição de fato. Afinal, Star Wars e sua prima distante Star Trek, são atualmente "coisa de velho" e para se continuar relevante é necessário se reinventar para uma nova geração, sem se descaracterizar. O desafio está lançado.  

 

O peso da liderança: A Senadora e Comandante Leia Organa (Carrie Fisher)

Este é o filme que mais mostra um viés de crítica e reflexão quanto ao período histórico-social contemporâneo, sendo emblemática a ambientação do planeta cassino de onde uma elite social ganha fortunas com a guerra, vendendo armas a ambos os lados e se divertindo com animais de corrida adestrados à força e se valendo de trabalho infantil para trata-los e recorrendo à polícia sempre que algo lhe desagrade. O visual desta ambientação e de sua clientela lembram um episódio de Doctor Who com muiiito mais dinheiro. 

 

Rose Tico (Kelly Marie Tran) e Finn: Parceiros na aventura e além...

 

Apesar de referenciado com O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, o mestre supremo Sooke (Andy Serkis) apesar de poderoso não é um Palpatine, e suas origens permanecem nebulosas. No fundo é mais “uma tia velha carcomida” venenosa, mas não invencível.  

 

O Mestre Supremo Sooke (Andy Serkis): Poderoso, mas...
 
 

Uma coisa que me incomodou, já que o filme é dedicado à memória de Carrie Fisher, é não terem homenageado o também falecido Kenny Baker, o eterno R2-D2, morto quase um semestre antes de Fisher. Até mesmo na galáxia tão, tão distante se dá valor diferenciado à quem é do primeiro e, do segundo escalão...

A Guarda Pretoriana de Sooke rende grandes cenas de combate.

Esta nova trilogia já revela a característica de cenas de encerramento icônicas, pois se a cena final do anterior, com Rey estendendo o sabre a Luke era apoteótica, a deste filme mostra de forma fantástica como se constroem as lendas e tocando a criança de todos nós.

 

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 Ao término do filme apesar de suas limitações saí satisfeito ao constatar que Star Wars voltou a ser em espírito Guerra nas Estrelas, talvez não a dos meus tempos de juventude, mas a que será referencial dos netos da minha geração.

 
Luke, o último Jedi, mas não o último sensível à Força...

 

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