
Um fim, e um novo começo
por Alexandre César
Riam Johnson e a ousadia de trilhar novos rumos
”-Quando eu vi no cinema a trilogia original me encantei! Aquilo sim é que era bom, não esta w&r3@ atual!!!”
Basicamente
tem sido esta a opinião de fãs mais conservadores e xiitas do fandom de
Star Wars, a respeito do último filme da série Star Wars: Os Últimos
Jedi (2017) dirigido por Riam Johnson, mostrando a capacidade do
universo ficcional de George Lucas de angariar paixões tão intensas
mesmo passados 40 anos desde o lançamento do primeiro filme da série em
1977 (que estrearia aqui em fevereiro de 1978...).
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A Raddus, a nave capitânea da Resistência. |
A trilogia original sedimentou no
coração dos fãs a tal galáxia muito, muito distante, apesar dos ewoks e
de um ou outro ponto discutível. A trilogia prequel, que mostrou a queda
da república e de Anakim Skywalker para o lado negro, cumpriu a sua
função, apesar de Jar Jar Binks e dos gungans, mas, ressentia-se de
serem filmes de um bom diretor de espetáculo, mas um fraco diretor de
atores (George Lucas) tentando dialogar com um público duas gerações
mais novas que a dele.
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Rey (Daisy Riley) e Luke Skywalker (Mark Hammil): A entusiasmada aprendiz e o relutante mestre...
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Já a nova trilogia pós-compra pela
Disney iniciou-se de forma desigual com Star Wars: O Despertar da Força
(de 2015, dirigido por J. J. Abrams) que enquanto era genial no diálogo
com o lado iconográfico da saga, pecava por descaradamente repaginar o
Ep. IV de 1977, parecendo um caça-níqueis e criando insegurança em parte
dos fãs, ainda mais depois de comparado com Rogue One: Uma História
Star Wars (2016) de Gareth Edwards, um derivado que surpreendendo a
todos, se mostrou o filme de fã feito para fãs que todos esperavam. As
fichas estavam lançadas.
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B-B8: O digno sucesso de R2-D2 como o "baixinho viciado em adrenalina"
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Johnson, o jogador da vez, também
roteirista do filme, apostou em abalar as estruturas, lançando
reviravoltas e mesclando a luz e as trevas de cada personagem, apostando
em valores menos monolíticos de bem e mal, nobreza e vilania e, fez um
filme que mais dialoga com o momento global presente, abrindo mão de um
maquiavelismo raso e investindo nos tons de cinza de cada personagem
e... Acertou, tirando um ou dois deslizes!
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Finn (John Boyega) acerta as contas com a Comandante Phasma (Gwendolyne Christie) |
Seguindo a tradição de que o filme do
meio é mais sombrio, com pontas soltas, etc... neste os rebeldes já
começam em retirada, apanhando feio de início ao fim da Primeira Ordem,
que parece ter um estoque de destróieres, encouraçados e outras naves
colossais infinito. A berlinda em que os rebeldes se encontram tem
ótimos momentos mas se pensarmos um pouco soa meio irreal, mas... é Star
Wars, então relaxemos.
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"Star Wars" não é "Star Wars" sem "Stardestroyers" e outros colossos
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Na realidade aqui a Resistência apanha mais
do que em Episódio V - O Império Contra-Ataca, o maior referencial deste filme. Se
continuar nesta progressão, a Aliança Rebelde terminará cabendo toda
dentro de um fusca. Chewbacca, C3P0, Lando Calrissian, Wedge Antilles e
outros personagens clássicos que se cuidem, pois até o Alm. Ackbar
dança! O Alm. Ackbar...
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Poe Dameron (Oscar Isaac) cresce como personagem
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Aqui Rey (Daisy Riley ótima) descobre um
Luke Skywalker (Mark Hammil, afinado com o personagem) que não se
interessa pelos rumos da galáxia, assombrado por seu fracasso no
treinamento de Kylo Rem (Adam Driver, ótimo), que apesar de seus pitis,
caminha aceleradamente para se tornar um vilão com “V” maiúsculo.
Posteriormente Luke volta atrás e mostra ser, de forma surpreendente, o
maior de todos os Jedi, e isto é incontestável, pois fazer o que ele faz
e ninguém se tocar, mesmo Rey e Kylo Rem que são usuários da Força só
confirma. Ele merece aparecer ao lado de Obi-Wan-Kenobi e Yoda sem
esforço...
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A Resistência paga um preço altíssimo a cada vitória... ou derrota.
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Poe Dameron (Oscar Isaac) que aqui tem
mais espaço e cresce como personagem, aprende que heroísmo impetuoso
costuma ter um peso alto em vidas e recursos. É muito legal ver seus
embates com a General Leia Organa (Carrie Fisher em sua derradeira
aparição) e com a Vice-Almirante Holdo (Laura Dern) demonstrando a
necessidade de um pensamento estratégico em detrimento de agir como um
cowboy, “caindo e atirando” sem um resultado realmente prático. O
personagem menos interessante aqui é Finn (John Boyega) que ganha em
Rose Tico (Kelly Marie Tran) uma parceira de aventuras, o que o leva a
situações bem rocambolescas. Pena que a Comandante Phasma (Gwendoline
Christie) tenha tão pouco tempo de cena. É uma personagem de grande
potencial mal aproveitado tal qual Boba Feet.
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Rey e Kylo Ren (Adam Driver) união espiritual e até mais... |
O trio principal segue cada um o seu
arco narrativo em separado dos demais, para se reunirem no terceiro e
impecável terceiro ato, quando o filme engrena de fato, equilibrando
tanto os fanservices quanto as reviravoltas inesperadas, mas necessárias
para esta nova trilogia finalmente encontrar o seu rumo e marcar
posição de fato. Afinal, Star Wars e sua prima distante Star Trek, são
atualmente "coisa de velho" e para se continuar relevante é necessário
se reinventar para uma nova geração, sem se descaracterizar. O desafio
está lançado.
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O peso da liderança: A Senadora e Comandante Leia Organa (Carrie Fisher)
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Este é o filme que mais mostra um viés
de crítica e reflexão quanto ao período histórico-social contemporâneo,
sendo emblemática a ambientação do planeta cassino de onde uma elite
social ganha fortunas com a guerra, vendendo armas a ambos os lados e se
divertindo com animais de corrida adestrados à força e se valendo de
trabalho infantil para trata-los e recorrendo à polícia sempre que algo
lhe desagrade. O visual desta ambientação e de sua clientela lembram um
episódio de Doctor Who com muiiito mais dinheiro.
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Rose Tico (Kelly Marie Tran) e Finn: Parceiros na aventura e além...
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Apesar de referenciado com O Império
Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, o mestre supremo Sooke (Andy Serkis)
apesar de poderoso não é um Palpatine, e suas origens permanecem
nebulosas. No fundo é mais “uma tia velha carcomida” venenosa, mas não
invencível.
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O Mestre Supremo
Sooke (Andy Serkis): Poderoso, mas... |
Uma coisa que me incomodou, já que o
filme é dedicado à memória de Carrie Fisher, é não terem homenageado o
também falecido Kenny Baker, o eterno R2-D2, morto quase um semestre
antes de Fisher. Até mesmo na galáxia tão, tão distante se dá valor
diferenciado à quem é do primeiro e, do segundo escalão...
 | A Guarda Pretoriana de Sooke rende grandes cenas de combate. |
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Esta nova trilogia já revela a
característica de cenas de encerramento icônicas, pois se a cena final
do anterior, com Rey estendendo o sabre a Luke era apoteótica, a deste
filme mostra de forma fantástica como se constroem as lendas e tocando a
criança de todos nós.
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Gorilas: Os novos andadores AT-AT têm o aspecto de antropóides ao invés de elefantes
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Ao término do filme apesar de suas
limitações saí satisfeito ao constatar que Star Wars voltou a ser em
espírito Guerra nas Estrelas, talvez não a dos meus tempos de juventude,
mas a que será referencial dos netos da minha geração.
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Luke, o último Jedi, mas não o último sensível à Força... |
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