terça-feira, 12 de março de 2019

Rapidez acima de tudo! - Os Defensores


 

 

Nova aposta Marvel/Netflix acerta mais do que erra em sua estreia


por Alexandre César
(Originalmente publicado em 09/ 10/ 2017)

 

Luke Cage (Mike Colter), Stick (Scott Glenn), Daniel Rand (Finn Jones), Jessica Jones (Krysten Ritter), e Mathew Murdock (Charlie Cox) unem forças contra um inimigo comum


Vamos falar de Defensores e do Universo Compartilhado da Marvel na Netflix. Nas duas primeiras temporadas de Demolidor, tudo correu de forma satisfatória. Jessica Jones ressentiu-se de, na maior parte do tempo, se focar na sua relação abusiva com Zebediah Killgrave, o Homem-Púrpura. Luke Cage teve uma certa "barriga narrativa" por não poder manter um bom ritmo em função do número de episódios (e porque um dos vilões não era lá grande coisa...). Punho de Ferro teve problemas similares a este último caso, além de ser a série mais fraca delas. Assim, apesar de ser legal no seu conjunto, havia dúvidas de como seria unir esses quatro elementos em Defensores, como a Marvel e a Netflix tinham anunciado. Como iria funcionar essa, digamos, "Versão Classe Operária” dos Vingadores?

 

"Laços de Família": Electra Natchios (Élodie Yung) e Alexandra (Sigourney Weaver),
 

A solução conceitual que eles escolheram, como a maioria das histórias de origem de grupos heroicos, foi dar um adversário comum e um vínculo que os unisse, fazendo assim a argamassa que ligaria os membros do grupo, dando-lhes uma motivação para formar um time. Provavelmente devido as experiências anteriores, decidiram também fazer uma temporada com apenas oito capítulos, o que dinamizaria o ritmo dos acontecimentos e deixaria a narrativa enxuta, sem "barrigas", com ação constante conduzindo a trama até o desfecho.

 

Claire Temple (Rosario Dawson), a Enfermeira Noturna. Elo de ligação das séries

 

Como antagonista, foi escalada a organização ninja Tentáculo, presente desde a primeira temporada de Demolidor e, na versão da Netflix, principal antagonista do Punho de Ferro. Ela está para este núcleo de series desenvolvidas pela Netflix, como a Hidra está para o restante do Universo Cinematográfico Marvel: um oponente poderoso e profundamente enraizado na sociedade, praticamente invisível. Revela-se aqui a sua verdadeira chefe: A elegante Alexandra (Sigourney Weaver). Seu plano, que ameaça a toda New York, é o fator da união relutante de Mathew Murdock (Charlie Cox), Jessica Jones (Krysten Ritter), Luke Cage (Mike Colter) e Daniel Rand (Finn Jones). Quem faz o elo de ligação entre eles - ora apresentando-os, ora atuando como coaching do grupo - é Claire Temple (Rosario Dawson), conhecida nos quadrinhos como a Enfermeira Noturna. Claire costura as diferenças entre eles. Presença constante em todas séries Marvel/Netflix, a personagem tem a mesma função que nos quadrinhos dos Vingadores cabia ao jovem Rick Jones: representar o público alvo, gente comum sem poderes.

 

Os Defensores nas HQs: Punho de Ferro e Jessica Jones uniformizados

 

O relacionamento entre os integrantes do grupo caminha de forma desigual, em função de suas origens, histórias e temperamentos, bem diversos entre si. Além disso, eles são bairristas. Lembremos que o bairrismo é algo forte na Marvel, pois o Demolidor protege Hell´s Kitchen, Luke Cage o Harlem, além de o Homem-Aranha ser do Queens, entre outros. Poderíamos traçar um paralelo entre os membros do grupo com os do Quarteto Fantástico: cada um representando um elemento - água (Mathew), terra (Luke), fogo (Jessica) e ar (Daniel) – o que explicaria muito de suas divergências e afinidades. Pena que, na Netflix, só o Demolidor tenha um uniforme de fato. Deveria haver uma maior caracterização nos trajes dos protagonistas, que trouxesse uma maior identidade visual com suas contrapartes dos quadrinhos. 

 

Madame Gao (Wai Ching Ho)

 

Revemos em Defensores vários rostos conhecidos das outras séries do núcleo, mas os de maior importância à trama, do lado dos heróis, são: Misty Knight (Simone Missick), Collen Wing (Jessica Henwick) e Stick (Scott Glenn). Do lado dos vilões temos a quase onipresente Madame Gao (Wai Ching Ho) - que se revela quase uma versão feminina do senador Palpatine (vulgo Darth Sidious) - e Electra Natchios (a franco-cambojana Élodie Yung, que de "grega" não tem nada!). Aqui, Electra é ressuscitada e convertida no Sol Negro, uma arma de destruição em forma de mulher. Como ela é o grande amor perdido de Mathew, uma grande dose de conflitos recai sobre o grupo disfuncional de heróis, mas, se tudo fosse fácil, quem veria a série?

Rostos conhecidos: Malcolm Ducasse (Eka Darville), Trish Walker (Rachael Taylor), Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) têm pequenas participações

As cenas de ação são bem-feitas, com bom uso de planos-sequência quando mostram os heróis atuando juntos, demonstrando o quanto eles se complementam. Para quebrar a previsibilidade, algumas reviravoltas ocorrem tanto do lado dos heróis quanto dos vilões, dinamizando o caminhar da trama.

Electra (ao fundo) se prepara para combater o grupo, que não nega fogo na luta


Ao término, temos um saldo positivo, apesar de ficar claro que, se na próxima temporada se manter a fórmula de união forçada de heróis bairristas contra um inimigo maior que ameace a "Grande Maçã" (Nova York está para a Marvel como Tóquio está para os filmes nipônicos de monstro), a série estará presa em um lugar –comum, na repetição, o que seria fatal nos dias de hoje, em que tantas produções tentar captar nossa atenção. Esperemos que a solução que encontrarem para evitar isso preserve as boas sacadas, não deixando que Defensores se torne uma versão anabolizada de Friends

Os Quatro Elementos: água, fogo, terra e ar

 

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