Que Horror...
Que Horror...
por Alexandre César
(Originalmente postado em 06/ 11/ 2017)
Pastiche de terror russo só imita fórmulas
O cartaz do filme nos apontava em uma direção por remeter a outro filme - Os Outros (2001), dirigido por Alejandro Amenábar e estrelado por Nicole Kidman - que menciona a tradição das fotografias de pessoas mortas como se estivessem vivas. Essa impressão persistiu pelos primeiros sete minutos de A Noiva ( (Nevesta, 2017), de Svyatoslav Podgayevskiy, que, com sua bela abertura narrada em estilo gótico, vemos um fotógrafo (Igor Khripunov) no final do século XIX se preparando para fotografar a sua noiva, recém-falecida, devidamente maquiada e trajada a caráter, com os olhos pintados nas pálpebras para parecerem abertos e vivos. Na época havia uma tradição em alguns países onde se acreditava que fotografar os mortos de forma que parecessem estar vivos praticando atividades lhes preservaria a alma, que ficaria gravada no negativo.

O início e a apresentação remetem à um tom lovecraftiano, como se as fotos dos modelos mortos levassem a algo... que não se define.
Mas logo vem a decepção. Temos aqui um potencial desperdiçado em mais um filmeco. Esta decepção é ampliada pela péssima dublagem em inglês do filme. Que dublassem em português ou exibissem com o idioma original (russo) com legendas! Mas sigamos...

O casal Nastya (Victoria Agalakova) e Ivan (Vyacheslav Chepurchenko) são expressivos como uma horta
Depois daquele início promissor o filme pula para a Moscou atual, onde a jovem Nastya (Victoria Agalakova, expressiva como uma palmeira) está para se casar com o jovem fotógrafo Ivan (Vyacheslav Chepurchenko, não muito atrás em expressividade...), por quem está apaixonada, apesar de se conhecerem há pouco tempo. Ele a leva para apresentar seus parentes, adeptos de estranhas tradições. A figura central da família é a irmã de Ivan, Lisa (Aleksandra Rebenok), uma enfermeira com dois filhos pequenos. Os três se vestem como se fossem do século XIX e vivem na casa que residira o fotógrafo do início do filme (sic!). Entre os parentes temos uma “Doutora” (Maria Klyukvina, um “genérico” de Judi Dench) e outros tipos esquisitos, como uma “entidade” que ora tem um visual similar à Samara de O Chamado (de 2002, dirigido por Gore Verbinski), ora parece um dos alienígenas estilizados da série de TV inglesa Doutor Who, mas que não tem estabelecida a sua motivação. Ela está lá para aterrorizar porque foi tirada da paz do além-vida e quer vingar-se por isso ou está aterrorizando porque foi tirada do Inferno e desde o início era má mesmo? Vemos soluções visuais inspiradas em A Bruxa de Blair (de 1999, dirigido por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez), Invocação do Mal (de 2013, dirigido por James Wan) e Annabelle (de 2014, dirigido por John R. Leonetti), entre outros filmes do gênero, mas com um roteiro raso que não estabelece as motivações dos personagens.

Nastya e sua estranha cunhada Lisa (Aleksandra Rebenok) no melhor fashin style do séc. XIX
Aliás, se uma coisa é bem estabelecida no roteiro é que todos os personagens são “intelectualmente contestáveis”, para ser polido. Vemos um indivíduo que não quer expor alguém a uma comunidade potencialmente hostil e em nenhum momento ele fala: “É melhor você não vir aqui comigo! ”. Temos uma enfermeira e uma médica da comunidade hostil em questão, tratando de uma vítima potencial para um sacrifício em uma cerimônia da qual elas também fariam parte, perguntam a ela: “Você é virgem?”, ao que esta acena a cabeça constrangida. Mas, depois dela desfalecer, nenhuma das duas tenta se certificar da virgindade da vítima, para garantir que tudo corra certo no sacrifício. A impressão que fica é que, depois que o comunismo acabou, devem ter instituído uma política de educação zero (um "escola sem partido"...) na Rússia e emburreceram toda uma geração. Tudo bem que em filmes de terror (em todo mundo) os personagens não costumam fazer o que o bom senso manda, mas aqui a suspensão de descrença foi rompida à golpes de baioneta! Apesar dos bons valores de produção, como é o caso da direção de arte e da fotografia, a conta não fecha e o final do longa-metragem parece recortado e colado de um filme da franquia Amityville, com um gancho infame e descarado para continuação. O que poderia ser pior?

Os aldeões se preparam para oferecer Nastya em sacrifício. Curiosamente a tal "comunidade remota" fica à poucos quilômetros de Moscou, como ir do Rio à Petrópolis...
Bom, soube que compraram os direitos do filme para fazer uma “versão americana” que será roteirizada pela equipe de Invocação do Mal.

"- Argh! Que bafo esse teu!?!"
O cartaz do filme nos apontava em uma direção por remeter a outro filme - Os Outros (2001), dirigido por Alejandro Amenábar e estrelado por Nicole Kidman - que menciona a tradição das fotografias de pessoas mortas como se estivessem vivas. Essa impressão persistiu pelos primeiros sete minutos de A Noiva ( (Nevesta, 2017), de Svyatoslav Podgayevskiy, que, com sua bela abertura narrada em estilo gótico, vemos um fotógrafo (Igor Khripunov) no final do século XIX se preparando para fotografar a sua noiva, recém-falecida, devidamente maquiada e trajada a caráter, com os olhos pintados nas pálpebras para parecerem abertos e vivos. Na época havia uma tradição em alguns países onde se acreditava que fotografar os mortos de forma que parecessem estar vivos praticando atividades lhes preservaria a alma, que ficaria gravada no negativo.
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O início e a apresentação remetem à um tom lovecraftiano, como se as fotos dos modelos mortos levassem a algo... que não se define. |
Mas logo vem a decepção. Temos aqui um potencial desperdiçado em mais um filmeco. Esta decepção é ampliada pela péssima dublagem em inglês do filme. Que dublassem em português ou exibissem com o idioma original (russo) com legendas! Mas sigamos...
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O casal Nastya (Victoria Agalakova) e Ivan (Vyacheslav Chepurchenko) são expressivos como uma horta |
Depois daquele início promissor o filme pula para a Moscou atual, onde a jovem Nastya (Victoria Agalakova, expressiva como uma palmeira) está para se casar com o jovem fotógrafo Ivan (Vyacheslav Chepurchenko, não muito atrás em expressividade...), por quem está apaixonada, apesar de se conhecerem há pouco tempo. Ele a leva para apresentar seus parentes, adeptos de estranhas tradições. A figura central da família é a irmã de Ivan, Lisa (Aleksandra Rebenok), uma enfermeira com dois filhos pequenos. Os três se vestem como se fossem do século XIX e vivem na casa que residira o fotógrafo do início do filme (sic!). Entre os parentes temos uma “Doutora” (Maria Klyukvina, um “genérico” de Judi Dench) e outros tipos esquisitos, como uma “entidade” que ora tem um visual similar à Samara de O Chamado (de 2002, dirigido por Gore Verbinski), ora parece um dos alienígenas estilizados da série de TV inglesa Doutor Who, mas que não tem estabelecida a sua motivação. Ela está lá para aterrorizar porque foi tirada da paz do além-vida e quer vingar-se por isso ou está aterrorizando porque foi tirada do Inferno e desde o início era má mesmo? Vemos soluções visuais inspiradas em A Bruxa de Blair (de 1999, dirigido por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez), Invocação do Mal (de 2013, dirigido por James Wan) e Annabelle (de 2014, dirigido por John R. Leonetti), entre outros filmes do gênero, mas com um roteiro raso que não estabelece as motivações dos personagens.
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Nastya e sua estranha cunhada Lisa (Aleksandra Rebenok) no melhor fashin style do séc. XIX |
Aliás, se uma coisa é bem estabelecida no roteiro é que todos os personagens são “intelectualmente contestáveis”, para ser polido. Vemos um indivíduo que não quer expor alguém a uma comunidade potencialmente hostil e em nenhum momento ele fala: “É melhor você não vir aqui comigo! ”. Temos uma enfermeira e uma médica da comunidade hostil em questão, tratando de uma vítima potencial para um sacrifício em uma cerimônia da qual elas também fariam parte, perguntam a ela: “Você é virgem?”, ao que esta acena a cabeça constrangida. Mas, depois dela desfalecer, nenhuma das duas tenta se certificar da virgindade da vítima, para garantir que tudo corra certo no sacrifício. A impressão que fica é que, depois que o comunismo acabou, devem ter instituído uma política de educação zero (um "escola sem partido"...) na Rússia e emburreceram toda uma geração. Tudo bem que em filmes de terror (em todo mundo) os personagens não costumam fazer o que o bom senso manda, mas aqui a suspensão de descrença foi rompida à golpes de baioneta! Apesar dos bons valores de produção, como é o caso da direção de arte e da fotografia, a conta não fecha e o final do longa-metragem parece recortado e colado de um filme da franquia Amityville, com um gancho infame e descarado para continuação. O que poderia ser pior?
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Os aldeões se preparam para oferecer Nastya em sacrifício. Curiosamente a tal "comunidade remota" fica à poucos quilômetros de Moscou, como ir do Rio à Petrópolis... |
Bom, soube que compraram os direitos do filme para fazer uma “versão americana” que será roteirizada pela equipe de Invocação do Mal.
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"- Argh! Que bafo esse teu!?!" |
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