sábado, 16 de março de 2019

Um homem e uma mulher... - Crítica - Filmes: Depois Daquela Montanha (2017)

 

 


Sessão da Tarde para balzaquianos
 

por Alexandre César

(Originalmente postado em 08 / 11/ 2017)


Química dos protagonistas evita o dramalhão



 

“O coração é apenas um músculo!”, diz Ben Bass (Idris Elba) a Alex Martin (Kate Winslet) no meio de sua defesa da importância do cérebro e de toda a gama da racionalidade em detrimento da emoção. Isso tudo enquanto os dois já se encontravam perdidos no meio do nada após um acidente de avião em Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us, 2017), de Hany Abu-Assad, um misto de dramas romântico e de sobrevivência. Temos aqui dois indivíduos de posturas distintas, quase antagônicas (ele, um neurocirurgião racional um tanto controlador, e ela, uma fotojornalista impetuosa, inquieta e bem passional). Ambos se veem obrigados a se apoiar para sobreviverem. A proximidade forçada em uma situação extrema irá inevitavelmente envolvê-los e o resto é decorrência.
 
 
Contraste: O cirurgião Ben Bass (Idris Elba) e a fotógrafa Alex Martin (Kate Winslet) são como água e óleo
 
O filme começa quando ambos estão presos no aeroporto por conta do mau tempo e dos horários e disponibilidade de aviões para chegarem a tempo a seus compromissos inadiáveis (ele tem uma cirurgia de emergência marcada e ela está de casamento marcado para o dia seguinte). Ao descobrir que vão na mesma direção, ela propõe que ambos fretem um avião bimotor, rachando as despesas para chegarem a tempo em seus destinos. Encontram um piloto bonachão (Beau Bridges), que aceita o trabalho. Ele, piloto veterano, ainda leva à tiracolo o seu cachorro e vai para seu destino, sem registrar plano de vôo, baseado em contato visual. Não demora muito para que nossos protagonistas comecem a pensar que talvez devessem ter esperado mais um dia no aeroporto. Mas, aí não teria filme.
 

Um acidente os força a conviverem e dependerem um do outro

Emoldurado pela espetacular fotografia de Mandy Walker, aproveitando a beleza natural das montanhas cobertas de neve, o filme até nos faz esquecer o quanto normalmente a natureza é mortal na mesma proporcionalidade de sua beleza. Inicialmente esperando resgate, logo eles vêm que devem sair em busca de salvação. E assim eles vão com o cachorro a tiracolo, que, inicialmente relutante, logo se torna o elo de ligação do casal. A fome e o frio vão contribuindo para que eles se dispam de seus fantasmas, revelando as suas fraturas emocionais. Gradativamente a cumplicidade e o contato próximo vão cortando as distâncias e efetivando o encontro emocional de ambos, amparado pela ótima química entre os protagonistas. O roteiro de J. Mills Goodloe e Chris Weitz, baseado no romance de Charles Martin, trabalha na lógica de que “O Universo conspira a favor”. Daí algumas soluções obvias que, desde o início, já predispõem o que acaba por acontecer. E, felizmente, o filme tem o grande mérito de acabar na hora certa. Mais dois minutos e o leite teria derramado.
 
Alex e Ben (e o cachorro) além do frio cortante, enfrentam o ambiente hostil

 
O saldo é bom, mas basicamente lembra uma aventura da “Sessão da Tarde” com maiores recursos, direcionada para um público de meia idade.
 
"- Acho que dá para fazer sorvete aqui sem medo dele derreter!!!"

 

 

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