sexta-feira, 1 de março de 2019

Estrelas belas... e só! - Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017)

Só beleza não põe mesa... 

por Alexandre César
(Originalmente publicado em 10/ 08/ 2017)

Luc Besson tenta repetir o seu maior sucesso

 
No prólogo, vemos a origem de Alpha, a "Cidade dos Mil Planetas"

 Após 20 anos, desde o bem-sucedido O Quinto Elemento (1997), esperava-se que Luc Besson voltasse de forma triunfal ao Space Opera, aproveitando o seu talento em mesclar o cinema comercial hollywoodiano e a estética europeia com um grande tempero pop. Valérian e a Cidade dos Mil Planetas (2017), baseado nos quadrinhos de Pierre Christian e Jean-Claude-Mézières, reflete esta pretensão do ávido leitor da revista de HQ franco-belga Metal Hurland e do fã de Star Wars, Star Trek e ficção científica em geral.

 

Após o prólogo somos apresentados à um idílico povo alienígena



Tudo apontava para um novo clássico. Material para isso não faltava – os álbuns em quadrinhos de Valérian e Laureline são publicados há 50 anos. Mas, infelizmente, ainda não foi desta vez que o agente espaço-temporal dominará as telas de cinema, pois, se o filme não é o desastre tão alardeado pela crítica norte-americana, está muito longe de refletir a qualidade da obra original. 
 

A sequência de apresentação dos protagonistas é de ritmo alucinante

 

Após um prólogo genial mostrando a origem de Alpha (a tal Cidade dos Mil Planetas do título) com direito a uma participação referencial de Rutger Hauer, somos apresentados ao casal de protagonistas Valérian (Dane Dehaan) e Laureline (Cara Delevingne), parceiros no serviço terrestre do espaco-tempo que vivem uma tensão sexual não consumada. Instigante não? Seria se o roteiro construísse bem a relação dos dois dando um background que explicasse essa química que os intérpretes se esforçam em demonstrar mas deixam a desejar. Ele parece jovem demais para ter a bagagem de vida do personagem e ela, apesar de não estar tão rabugenta como as fotos promocionais do filme faziam acreditar, sempre apresenta as caras e bocas de sua vida de modelo. Os outros personagens - o Comandante Arun Fillit (Clive Owen), o Ministro (Herbie Hancock), o Sargento Neza (Kris Wu) e o cafetão Jolly (Ethan Hawke) – também não têm muita profundidade. Bubble (Rihanna) é um lindo efeito especial e só. De certa forma é uma nova versão da Diva Pravalaguna de O Quinto Elemento

 

Valérian (Dane Dehaan) e Laureline (Cara Delevingne): casal sem química

 

O primeiro terço do filme, quando somos apresentados aquele universo em um futuro distante, flui bem. Do meio em diante, porém, o ritmo fica gradativamente mais lento e, em alguns momentos, cansativo. Um maior esforço em enxugar o roteiro, tirando uns 10 ou 15 minutos do corte final, fariam maravilhas ao filme. A música de Alexandre Desplate é boa, mas não se destaca do conjunto.

 

O design de produção e os efeitos visuais são impecáveis



Agora, visualmente, o filme é impecável. O design de produção de Hugues Tissander, o figurino de Oliver Beriot, a fotografia de Thierry Arbogast e os esforços de toda a equipe de direção de arte, maquiagem e efeitos visuais e práticos criaram um universo riquíssimo para os olhos, muito maior do que o da carpintaria dramática do filme. O que é uma pena, pois muitas possibilidades narrativas acabam não sendo aproveitadas.

 

John Carter: prejudicado por filmes inspirados na obra original

 
Aqui caímos no terreno das comparações com outras obras do gênero e naquela questão: “quem veio primeiro, o ovo ou o Alien?!”. As HQs nas quais o filme se baseia inspiraram muitos autores de outras mídias de forma sutil e indelével. É da natureza da cultura popular esse canibalismo referencial, gerando muitas vezes o “efeito John Carter”, que, como no caso do filme de 2012 (John Carter: Entre Dois Mundos, de Andrew Stanton), temos uma obra que ao longo das décadas influenciou inúmeras obras dos quadrinhos, cinema, games, etc., mas que, apesar disso, não é do conhecimento do grande público. 
 

Bubble (Rihanna): Bonito adereço
 

Então alguém resgata essa obra trazendo-a para plateias que só conheceram os produtos que beberam daquela fonte e, por isso, acham que esta obra original é uma “imitação” daqueles que, na verdade, são os seus derivados, mas que já estão estabelecidos na memória da grande maioria. Familiar? Star Wars pode ter pego uma ou outra coisa de inspiração de Valérian e Laureline, da mesma forma que estes quadrinhos franco-belgas pegaram e retrabalharam algo de terceiros. É assim que funciona o liquidificador da cultura popular. Certas necessidades narrativas poderão caminhar para soluções parecidas, mas não necessariamente iguais nem cópia descarada.


Valérian e Laureline: 50 anos de publicações de HQs

 

A péssima aceitação do filme no mercado americano - seja motivada pelas falhas do filme, seja pela resistência à um herói não-ianque – deverá prejudicar a sua performance global e comprometer uma sequência. É uma pena, pois Valérian, Laureline e seu riquíssimo universo ficcional de ficção-científica mereciam um espaço de destaque na sétima arte. Torçamos para não ter de esperar mais trinta, quarenta anos, para isso acontecer.

 

O visual é impecável, mas o roteiro, não o acompanhou


 

" -Até a próxima amigos, e esperemos que não demore décadas..."


0 comentários:

Postar um comentário