sábado, 31 de outubro de 2020

Talento de pai para filho - In Memorian: Lon Chaney Jr.

 


Filho de monstro, monstro é...

por Alexandre César 
(Originalmente postado em 05/ 11/ 2018)


  Um dos mais versáteis intérpretes do ciclo do horror

#HorrorDaUniversal

Lon Chaney Jr.: como é mais conhecido e sua face real


O Cinema de Horror da Universal, contabilizou, além de muito dinheiro para o estúdio, uma aura própria, imortalizando astros e técnicos que, através de seu talento, ganharam os corações e as mentes de gerações de fãs que tornaram seus nomes principais, referência em seus nichos. Entre essas referências se destaca o legado indelével de uma dinastia: Lon Chaney pai e filho. O pioneirismo e a versatilidade de ambos mostraram que, ao menos em certos casos, vale mesmo o provérbio “filho de peixe, peixinho é”.

 

Como o braço direito do vilão no cineseriado "Império Submarino" (1936), da Republic Pictures


Seguir os passos dos pais é um caminho comum para muitos. E quando se trata do estrelato em Hollywood, parece ser ainda mais natural esse processo. Mas não foi para Lon Chaney Jr (⭐10 de fevereiro de 1906 – ✝12 de julho de 1973), nascido Creighton Tull Chaney,em Oklahoma. Era filho do ator Lon Chaney com Frances Cleveland Creighton Chaney, cantora que participou com aquele que seria seu marido por shows pelos Estados Unidos. O casamento de seus pais era conturbado e chegou ao seu momento mais trágico com a tentativa de suicídio de sua mãe em 1913. Com a repercussão do caso, a justiça americana determinou que Creighton, então com 8 anos de idade, deveria ficar sob os cuidados de uma organização para órfãos e filhos de pais separados. O menino viveu em várias instituições e colégios internos até voltar a morar com seu pai, quando este se casou pela segunda vez e comprou uma casa, no ano de 1915. Creighton desde cedo quis ser ator, mas seu pai sempre o aconselhou a não seguir esta carreira. Seu pai faleceu no ano de 1931 e então, contrariando o pai, o rapaz decidiu tentar a carreira no cinema.

 

Como Lennie em "Carícia Fatal" (1939), ao lado de Burgess Meredith,o futuro pinguim do clássico seriado "Batman"


Lon Chaney Jr. teve seu primeiro trabalho na área em uma ponta não creditada no filme Girl Crazy (1932, de Willian A. Seiter), porém somente adotou o nome artístico em alusão a seu pai anos depois. Entre os vários pequenos papéis e participações, trabalhando como dublê ou figurante em produções entre 1932 e 1937 em filmes e seriados, destaca-se Império Submarino (1936), , um seriado com 12 capítulos produzidos pela Republic Pictures para passar nas matinês nos cinemas, concorrendo com a popular série cinematográfica do Flash Gordon,  da Universal Pictures. Ele foi veiculado na TV Tupi no início dos anos 70 no Programa do Capitão Aza

 

"Man Made Monster" (1941): primeiro filme na Universal


Ainda que não quisesse ficar sob a sombra do pai, por pressão dos estúdios, decidiu mudar seu nome para Lon Chaney Jr. e, a partir daí, começou a abocanhar papéis maiores. Em 1939, tentou o papel de Quasímodo em O Corcunda de Notre Dame (1939, de Willian Dieterle), reprisando assim o papel que seu pai havia feito em 1925. Seu teste não foi aceito e Charles Laughton foi o escolhido. No mesmo ano estrelaria seu maior filme até então, Carícia Fatal, de Lewis Milestone, baseado na obra Ratos e Homens, escrito por John Steinbeck. Ao viver o personagem Lennie, em atuação elogiada, Chaney Jr. despertou o interesse de Hollywood e os convites começaram a aparecer em maior número. Com isso, o “Jr” do seu nome foi derrubado, assinando de forma igual ao seu pai. Em 1941, obteve um contrato com a Universal Pictures, estrelando o filme Man made Monster, de George Waggner.

 

"O Lobisomem" (1941): Chaney Jr. chega ao estrelato

 

1941, sua carreira daria uma guinada na mesma Universal Pictures. Já famosa por seus filmes de monstros na década de 1930, a produtora convidou o ator para estrelar uma aposta. Em 1935, o lobisomem havia estrelado um filme que não tinha atingido os resultados esperados - O Lobisomem de Londres, de Stuart Walker - e era vontade dos executivos utilizar o personagem novamente, numa versão repaginada.  

 

Antes de voltar a ser peludo, Chaney Jr. pegou o papel  do monstro, que Boris Karloff deixou vago para pegar o do cientista, em "O Fantasma de Frankenstein" (1942)


Com direção de George Waggner e tendo Bela Lugosi (o eterno Conde Drácula) como coadjuvante, O Lobisomem (1941) foi lançado com Lon Chaney Jr. encarnando a fera. O sucesso foi arrebatador. A imagem do ator maquiado como o monstro se tornou popular, e as comparações com seu pai foram inevitáveis. Os personagens de Chaney tinham como maior característica seu nível dramático, geralmente personagens com conflitos psicológicos, o que garantiu uma imagem mais humana em sua interpretação de Larry Talbot - o lobisomem - e outros personagens trágicos nos filmes de Horror da Universal.  

 

Novamente como Talbot, o lobisomem, em "Frankenstein encontra o Lobisomem" (1943), só que agora é Lugosi quem faz o monstro de Frankenstein.

O sucesso foi tanto que o ator foi convidado para reprisar o personagem em quatro sequências, todas divididas com outros monstros da Universal: Frankenstein encontra o Lobisomem (1943, de Roy William Neill), A Casa de Frankenstein (1944), A Casa de Drácula (1945, ambos de Erle C. Kenton) e Abbot e Costello encontram Frankenstein (1948, de Charles Barton). Sobre estes encontros entre monstros, que sedimentaram no imaginário popular a expressão “monstros da Universal”, veja aqui. A Múmia foi um personagem que encarnou em três filmes

 

 Por três vezes Chaney Jr. encarnou a Múmia


Antes de retornar pela primeira vez ao papel de Lobisomem, encontrando o monstro de Frankenstein, Lon Chaney Jr. ganhou a chance de encarnar a criatura que o cientista deu vida em O Fantasma de Frankenstein (1942, de Erle C. Kenton), quando Boris Karloff decidiu não voltar a interpretá-lo. No mesmo ano, Chaney viveria o personagem título na produção A Tumba da Múmia (1942 , de Harold Young) - aliás outro monstro da Universal que Karloff havia interpretado primeiro. Em 1943, seria a vez de encarnar o maior vampiro dos cinemas no filme O Filho de Drácula (1943, de Robert Siodmak). Com essa incrível sucessão de papéis, ele se transformaria no único ator a interpretar todos os quatro grandes personagens de terror da Universal.

 

"O Filho de Drácula" (1943). Chaney Jr. pega o papel de Bela Lugosi


Chaney Jr. era uma pessoa de temperamento forte, garantindo uma fama de temperamental e brigão. Com isso obteve inúmeras desavenças durante sua vida. A mais memorável de todas foi com Jack P. Pierce, maquiador da Universal. De acordo com historiadores, os dois homens de temperamento forte sempre trocavam ofensas e foram diversas vezes impedidos por membros da equipe de brigarem fisicamente.

 

Reunião de monstros: Chaney, John Carradine e Bela Lugosi "jantam" Tor Jonhson, habitual colaborador de Ed Wood.


O sucesso veio aliado a um vício que o prejudicou intensamente: o alcoolismo. Não era raro Chaney Jr. aparecer bêbado no set. Maquiado, dava um show de horrores ao apresentar um monstro de Frankenstein cambaleando ou o lobisomem de pileque. Tentou cometer suicídio duas vezes. A mais relevante das tentativas foi no ano de 1948, durante as filmagens de Abbot e Costello encontram Frankenstein.  

 

Lon Cheney Jr. e o maquiador Jack Pierce: desavenças


Assim como Bela Lugosi e Boris Karloff, Chaney teve dificuldades com o declínio da Universal no final da década de 40. Ele conseguiu conquistar papéis fora do gênero terror, principalmente na década de 50, mas sem nunca mais retomar a fama dos anos 40. Faroestes e personagens vilanescos o salvaram por um bom tempo. Fez muita tevê. No cinema, conseguiu papéis pequenos em produções assinadas por Stanley Kramer: Matar ou Morrer (1952), Não Serás um Estranho (1955) e Acorrentados (1958). Em 1963, estrelou O Castelo Assombrado (1963), de Roger Corman, ao lado de Vincent Price, outro grande nome do cinema de horror. Participou de filmes esquecíveis, como Um Biruta na Casa do Espanto (1967, de Jean Yarbrough).

 

Com Jack Starret em "O Último dos Moicanos" (1967): filme para a TV

 

No fim dos anos 60 já se encontrava com a saúde precária, com câncer de garganta, beribéri e doenças do coração, consequência de seu acentuado alcoolismo. Quis o destino que seu último papel fosse em uma produção de terror, e doenças do coração, consequência de seu acentuado alcoolismo. Quis o destino que seu último papel fosse em uma produção de terror, Drácula Vs. Frankenstein (1971, de Al Adamson), no qual não interpretava nenhum dos dois personagens. Seu papel era o de Groton, o servo corcunda de Frankenstein

 

Com Mike Dolenz e Peter Tork num episódio de "The Monkes".


Em 12 de julho de 1973, Lon Chaney Jr. morreu, vítima de câncer de fígado, deixando órfãos os fãs dos Monstros da Universal que tão talentosamente interpretou por um grande período de sua vida.

Em Outubro de 1997, ambos os Chaneys, pai e filho, apareceram em selos comemorativos do Serviço Postal Americano como O Fantasma da Ópera e O Lobisomem, acompanhados por Bela Lugosi como Drácula e Boris Karloff como o Monstro de Frankenstein e a e a Múmia. Chaney e seu filho são mencionados na canção de Warren Zevon Werewolves of London.

O legado dos Chaney sempre será lembrado por aqueles que souberem que o cinema de gênero não é só um cinema de gueto, mas um cinema de reflexão, alegoria daquilo que é quebrado dentro de nós, dando um luz a um brilho que temos e é desconhecido por todos, muitas vezes por nós mesmos.


Seu último filme "Drácula Vs. Frankenstein" (1971): final melancólico


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