por Alexandre César
Funcionaria melhor como episódio de série
Desde que a Twentieth Century Fox foi comprada pela Walt Disney Company, sendo reformatada na 20th Century Studios retirando a “raposa”(fox) da jogada (afinal a Disney é a “companhia do rato” e raposas são predadores de roedores...) as propriedades da Marvel Entertainment que estavam sob o seu guarda-chuva foram sendo assumidas fazendo com que muitos projetos que estavam em desenvolvimento foram cancelados, adiados e outros, ficaram num limbo em que hora as filmagens eram paralisadas por um eventual cancelamento do filme, hora eram retomadas com alterações drásticas de roteiro e orçamento e hora adiadas para mais adiante em função de fatores internos como as mudanças do quadro corporativo do estúdio, ou de externos como a pandemia do Corona Vírus que caiu com uma bomba nuclear no setor cultural e cinematográfico, com poucas possibilidades de retomada das atividades num curto prazo. Produções nesta situação na sua maioria acabaram migrando para o streaming, ou foram ficando arquivada esperando uma lançamento futuro e nesta situação amargaram fria recepção do público tanto por causa da escassa afluência do público às salas, quanto pelos próprios filmes em si, que acabaram não superando a sua gênese conturbada.
Surgidos como o grupo juvenil do universo mutante, os Novos Mutantes eram um grupo muito popular, rivalizando com os X-Men em muitos momentos marcantes de sua história.
Dirigido por Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) que assina o roteiro, junto com Knate Lee (O Sequestro) e baseado nos personagens criados por Chris Claremont e Bob Mcleod e no arco de histórias desenhadas por Bil Sienkiewicz, Os Novos Mutantes (2020) tenta ser um filme de origem do grupo apostando num filme de terror bem estilo anos 70, auxiliado pela edição de Andrew Buckland (Ford vs. Ferrari), Matthew Rundell (Bent) e Robb Sullivan (Um Bom Ano) que atenuam as várias mudanças narrativas ocorridas ao longo das idas e vindas da produção, refletindo as dificuldades já citadas no primeiro parágrafo deste texto.
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Rahne Sinclair (Maisie Williams) a Lupina tem momentos de romance lésbico com Moonstar... |
Acompanhamos a jovem Danielle Moonstar (Blu Hunt de Outra Vida), que nos quadrinhos atende pelo codinome Miragem, que é a única sobrevivente de um “acidente” que devastou o seu lar numa reserva indígena, tendo matado o seu pai (Adam Beach de A Conquista da Honra) e acordando num centro de pesquisas cercado por uma barreira invisível, tendo como companhia outros jovens que segundo a Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga de Elysium) administradora e terapeuta do centro, são mutantes como ela, devendo aprender a usar os seus poderes para poder voltar ao meio social sem ameaçar as pessoas comuns. são mutantes, tendo como colegas de terapia Rahne Sinclair, a Lupina (Maisie Williams de Game of Thrones) cujos poderes metamórficos lhe permitem virar uma loba, cujo trauma foi ter sido acusada de bruxaria pelo Reverendo Craig (Happy Anderson de Expresso do Amanhã) que a marcou à ferro em brasa, trauma similar ao de Sam Guthrie, o Míssil (Charlie Heaton de Stranger Thinngs) jovem de origem humilde, capaz de mover-se no ar gerando um campo de proteção em torno de si, mas na primeira manifestação de seu poder, numa mina de carvão one trabalhava, inflamou os gases de seu interior, matando o seu pai (Thomas Kee de Afunde o Navio) e vários mineiros; não muito diferente de Roberto da Costa o Mancha Solar (Henry Zaga de The Stand) filho de uma rica família brasileira (não explicada) cuja habilidade de manipular energia solar se manifestou durante um “amasso” com a namorada, fritando-a; e por último temos Illyana Rasputin*1
(Anya Taylor-Joy de Vidro), a Magia, cujos poderes incluem capacidade limitada de teleporte e poder criar uma armadura e uma espada em todo o seu braço direito sempre com atitude agressiva e usando um fantoche de luva para representar o seu amigo imaginário, o Dragão Lockheed*2, tendo sido molestada sexualmente quando criança (Colbi Gannett de Castle Rock) e revivendo o seu molestador como o homem sorridente (Dustin Ceithamer e voz do cantor Marilyn Manson).
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O Homem Sorridente (Dustin Ceithamer e Marilyn Mason) a figura dos pesadelos de Illyana Rasputin... |
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Reyes usa o seu poder de gerar campos de força para conter os jovens... |
Os jovens acreditam estarem sendo preparados para integrar os X-Men quando tiverem alta, mas desconhecem que está por trás da administração do centro, que aliás, tirando Reyes (cuja atitude lembra a enfermeira Ratched de Um Estranho no Ninho) está sempre vazio como uma casa mal-assombrada como o Hotel Overlock de O Iluminado e embora Roberto cozinhe e os outros adolescentes mantenham os seus quartos em ordem e levem as roupas de cama para a lavanderia, uma instalação daquele tamanho deveria ter uma equipe de manutenção para manter tudo limpo, organizado e funcionando, mas só vemos Reyes, o que enfatiza o senso de alienação dos jovens, coisa bem explorada pela fotografia de Peter Deming (Twin Peaks: O Retorno) e que a música de Mark Snow (Arquivo X) sublinha de forma sutil.
O inimigo principal da trama é o Urso Místico, entidade surgida das projeções desordenadas dos poderes de Moonstar, ganhando vida própria, e sendo capaz de alimentar-se das energias humanas negativas do medo, ódio, arrogância, assumindo a forma dos “fantasmas” que atormentam o grupo.
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Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy ) a Magia e o Dragão Lockheed, que nos quadrinhos é da mutante Kitty Pryde, a Lince Negra... |
O desenho de produção de Molly Hughes (A Culpa é das Estrelas), a direção de arte de Ravi Bansai (No Limite do Amanhã), Loic Zimmermann (O Chamado da Floresta) Steve Cooper (A Qualquer Custo) e a decoração de sets de Merissa Lombardo (Suspíria: A Dança do Medo) trabalham bem os espaços assépticos e frios do centro que a toda a hora passa uma idéia de um lugar de fachada, mas sem conteúdo, como na cena do relógio do campanário em que Danielle chuta uma saída na torre e vemos do lado de fora que é uma tábua pintada, junto com outras que fazem o mostrador do relógio, mas não há mecanismo naquele espaço. Os figurinos de Leesa Evans (Mentes Sombrias) e Virginia Johnson (O Dia do Atentado) são contidos definindo os personagens com trajes simples e casuais poi ainda estão formando suas personas heróicas, e Reyes com seu impecável jaleco e visual asséptico nivela a todos.
As mudanças decorrentes das paralisações, retomadas das filmagens (as filmagens começaram em 2017, com várias interrupções e retomadas) e, dos cortes orçamentários se refletem nos efeitos visuais de Double Negative (DNEG), Method Studios, Moving Picture Company (MPC), Zero VFX, Captured Dimensions e Lidar Guys (estas duas últimas no escaneamento 3D) que alternam o muito bom com o “apenas OK”, e momentos com visual bem videogame à lá Silent Hill, mas nem sempre essa passagem de um tom para o outro fica satisfatória.
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Illyana Rasputin, Roberto da Costa (Henry Zaga), Rahne Sinclair e Danielle Moonstar passam duras penas no Instituto... |
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O "Urso Místico" o "Bicho-Papão" que persegue Danielle Moonstar... |
Ao final Os Novos Mutantes não chega a ser ruim, mas provavelmente funcionaria melhor como um piloto de série, sendo logo seguido semana a semana por um novo episódio que iria acrescentando camadas à trama e a seus personagens, do que como um filme que junto com seu elenco, se esforça, mas dá a entender que muita coisa ficou de fora.
Que a Marvel Studios tenha melhor sorte...
Notas:
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Piotr Nykolayevitch Rasputin, o Colossus, irmão de Illyana em suas primeiras aparições nos quadrinhos... |
*1: Nos quadrinhos Illyanna Nikolievna Rasputin é a irmã caçula do X-Men Piotr Nikolievich Rasputin o Colossus, tendo aos seis anos sido sequestrada pelo vilão Belasco para a dimensão do limbo, onde devido à diferença da passagem do tempo entre as dimensões, embora ela tenha ficado presa por minutos lá, ela passou sete anos, sendo iniciada nas artes da magia negra e sofrendo vários abusos psíquicos, retornando do limbo como uma garota de treze anos e, desde então trilhou caminhos conturbados lutando com suas trevas internas.
*2: Diferente do filme, onde é uma projeção dos poderes psíquicos de Illyanna Rasputin, Lockheed é o mascote da X-Men Kitty Pride, a Lince Negra, sendo na verdade um alienígena que ela encontrou durante um confronto do grupo com a Ninhada, raça alienígena similar em visual aos aliens do cinema, e desde então virou personagem fixo do grupo,
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- "Acreditem na gente!!! Por favor"... |
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