quinta-feira, 4 de março de 2021

“A Whole New Woooooooooorld!” - Crítica- Filmes: Alladim (2019)

 



 "Fresh Price of Agrabah"...
 
por Ronald Lima
(Originalmente publicado em 25/ 05/ 2019)


 Por caminhos diferentes Will Smith se equipara a Robin Williams

 

"- Era uma vez na longínqua e exótica cidade de Bagdah, digo Agrabah...."


A primeira dúvida ou questão que vem a mente, assumir uma implicância seria mais honesto. Seria o questionamento em retomar um clássico da animação para uma filmagem em live action. Parece diminuir todo trabalho de artistas e a cada vez mais rara arte da Animação em 2D. Mas Aladdin surpreende em abordar o clássico cartoon e seguir uma rota diferente, uma abordagem que será própria desse filme em particular. A filmagem recebeu as maiores preocupações e críticas principalmente contra a atriz que iria interpretar a princesa Jasmine, a atriz Naomi Scott (Power Rangers), por ser inglesa e não alguém de origem oriental, mas Naomi é Ugandense por parte de mãe que por sua vez a família veio de Gujarati na Índia (tá bom, né não?). E a participação de Will Smith (Ali) em um papel que iria desenterrar sua conhecida veia cômica e com certeza faze-lo repetir-se; é incrível como a rejeição chega logo em 1º lugar aos nossos ouvidos.

 

Sherazade de autoria da pintora franco britânica Sophie Anderson - Séc. XIX

 

Os contos das Mil e Uma Noites chegaram até o Ocidente através dos franceses bem no início do séc. XVIII , o registro mais antigo das narrativas de Sherazade é datado do séc IX onde já está ali o Título da Obra. Segundo uma lenda da antiga Pérsia, Sherazade, com sua beleza e inteligência, fascinou o rei ao narrar histórias fantásticas por mil e uma noites. Ele ao final poupou sua vida e lhe jurou eterno amor. O Rei Shariar louco de ódio por ter sido traído descontava sua frustração executando suas noivas no dia seguinte após as núpcias, uma “viúva negra’ masculina. Sherazade ao contrário do que muitos imaginam não era princesa e sim a filha do vizir. Audaciosamente decidiu terminar com a matança. É atribuído ao francês Antoine Galland não só a tradução para seu idioma em 1704 mas toda a história dos 3 contos mais conhecidos das Mil e Uma Noites, que são sobre as 7 Viagens do Marujo Simbad, Ali Babá e os 40 Ladrões e Aladim e sua Lâmpada Maravilhosa. As narrativas contém lendas e mitos de todo Oriente Médio antes do Islamismo, é bom ressaltar isso. Sempre foi um sonho de Walt Disney um desenho baseado em algum desses contos, somente realizado em 1992 com o já clássico Gênio dublado por Robin Williams.

Objeto de desejo: A Lâmpada Mágica poderia, em mãos erradas, ser uma "arma de destruição em massa"...

 “I'm free to do what I want any old time” (Letra e Música dos Rolling Stones) Não está nos créditos do filme.

Destacar pontos semelhantes a animação de 1992 seria muito a toa, e essas semelhanças existem, mas nesse remake conseguiram um algo a mais e de muito valor até. Ao longo de todo o filme, encontramos todos os personagens procurando por algo maior. Todos desejam dar à suas vidas um toque melhor para que ela tenha significado e o Gênio inclusive, mesmo Jafar deseja ser grandioso, mais até  do que simplesmente ser o Califa no lugar do Califa.

Por aqui... Não! Por ali... Opa! Por aqui de novo!

Guy Ritchie (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes) somente dirigiu filmes de ação intensa e violenta e seria a escolha menos provável para um filme Disney quanto mais a refilmagem de um clássico. Entrou direto nas permanentes implicâncias online dando soma a crítica em ter uma Princesa Oriental mas não uma atriz oriental e ao Gênio sem o tom de azul que erradamente permitiram exibir em um curto trailer bem antes de tudo ficar pronto. Guy Ritchie aceitou o desafio pelos filhos, queria provar que poderia realizar um filme em que todas as crianças pudessem acompanhar e conseguiu. Ritchie consegue tirar água da pedra com as interpretações de Aladdin (Masoud Mena de Jack Ryan) e Jafar (Wanzan Kenzari de O Anjo do Mossad), limitações a parte ambos conseguem dar conta do recado auxiliados por um roteiro mais rico, exibir brilho em uma talentosa Naomi Scott, e quanto a Will Smith, esse é experiente suficiente para se harmonizar a qualquer diretor. Roteiro do próprio Guy Ritchie e Jon August (As Panteras e Titan A.E. da FOX). A nova versão do longa traz as canções originais e duas músicas inéditas, com letras do duo Benj Pasek e Justin Paul, de La La La Land. A de maior impacto será comentada no destaque a personagem Jasmine.

 

É hora do Show!

Se você se incomoda com cenas musicais e irá ver um filme de alguma franquia da Disney está se incomodando a toa pois é claro que eles estão presentes de 10 em 10 minutos, mas todas em tempo muito mais curto do que se espera, tudo para atender a expectativa de uma audiência com menos paciência nesse quase 1/4 de séc. que vivemos, Quem estava com saudades de ouvir Will Smith atuar em canto e dança vai lavar a alma. O filme troca o narrador do cartoon (Também na voz de Robin Williams) por um Will Smith num segundo papel, um marinheiro mercador com sua família. Sua 1ª participação musical citando inclusive Sherazade na letra e a seus Contos das Mil e Uma Noites. A Disney já usou esse recurso antes em ter dois personagens vividos pelo mesmo ator e esse a iniciar a narrativa. E esteja atento a esse fato.


"- Sabe com quem está falando?"


E vamos as principais diferenças a começar pelo Gênio vivido pelo ator Will Smith. Ao contrário do desenho animado de 1992. O Gênio está presente ao lado de Aladdin quase o tempo todo como um criado dedicado e não escondido com um truque ou algo do tipo, e há vários truques, afinal ele é um Gênio. A razão dessa presença é pelo fato de Will Smith ser o astro do filme, o ator de fato mais conhecido e reconhecido dessa produção e não ficaria só em participações aqui e ali como um Gênio maluquinho. Contudo o bom roteiro justifica essa permanente presença, o Gênio deseja ansiosamente viver, chega a revelar que adora festas e até se apaixona, pela principal dama de companhia de Jasmine Dalia (a ótima Nasim Pedrad de Saturday Nigth Live) que também aspira vôos mais altos, sendo um tanto mais realista em relação aos demais é verdade, cabendo-lhe no roteiro ser mais um ponto de vista feminino ao lado de Jasmine, no cartoon Jasmine é a única presença feminina. Ela e Smith contracenam uma cena de cortejo e início de namoro muito boa. Will Smith volta a interpretar um personagem cômico. Ele faz todas as caras e bocas conhecidas? Sim, faz. Mas faz bem reconheçam, ele parece ter nascido para ser o Gênio, fazendo (quase) esquecer que Robin Williams, outro gigante da comédia, também o foi. E Smith não parece querer esconder isso, tudo lhe parece muito natural. Há inclusive um momento em quem está ali no palácio do Sultão é o próprio Fresh Prince of Bel Air (aqui, a série Um Maluco no Pedaço, veiculada no SBT) e não o Gênio da Lampada exatamente, poderiam ter chamado o Alfonso Ribeiro (o Carlton) e o DJ Jazzy Jeff (o Jazz) para fazerem parte do séquito de Aladdin como Príncipe Ali. Seria perfeito. Dizer que carrega o filme nas costas não é toda a verdade por que Naomi Scott divide bem essa tarefa.

"- Não é assim tão fácil não garoto."

 Aladdin desejar algo a mais parece muito redundante por que é claro que um garoto que vive nas ruas lutando para sobreviver deseja algo melhor. O que há diferente nesse Aladdin em relação ao desenho de 1992? Ele erra... Mesmo querendo acertar. É de fato um diamante bruto a ser lapidado como é comentado no filme e vários ali o ajudarão nesse crescimento, como explica o Gênio em determinado momento, “eu o mudei por fora mas por dentro você é o mesmo Aladdin”, e aqui outro ponto a mais em relação ao original. O tapete voador também o ajuda inclusive, sim, tem o tapete voador, como disse acima há semelhanças ao original. O Tapete Mágico se torna outro fiel amigo de Aladdin assim como no desenho é tal qual um ser vivo, e o filme nos faz imaginar se não o foi.. A cena ápice é o vôo mágico com Jasmine. Ele e Jasmine se encontram por acaso e por isso ao se apresentar como um príncipe pretendente é logo reconhecido por ela, então ele mente sobre sua origem. Seu fiel amigo Abu está ali a seu lado malandro como ele só. Abu consegue em alguns momentos salvar o dia e em outros estragar tudo tal qual Aladdin. Impressionante transmitir tanta personalidade sem dizer uma palavra. 

Opa! Acho que fiz...

 O Vizir Jafar começa bem devagar em suas maldades e deixa a dúvida de que será só isso o que ele fará no filme, não que um hocus pocus não surja em um momento ou outro e confirme a cada cena em que ele esteja presente de que ele é mau pra dedeú. Nessa nova adaptação sabemos sobre sua história pregressa e que sua vida foi semelhante a de Aladdin mas ao contrário desse, as dificuldades forjaram um coração ressentido e cruel e um fortíssimo desejo de poder e vingança. Seu personagem cresce no filme pois vê uma melhor oportunidade para alcançar suas ambições quando também reconhece Aladdin quando esse chega com sua comitiva ao Palácio de Agrabah. Jafar é de fato o contraponto de Aladdin. Seu desaforado e abusado papagaio Iago está sempre a espreita e a serviço de seu cruel amo e ao contrário do cartoon. não despertando um mínimo de simpatia, cuidado para que isso não seja interpretado erradamente a espécie, o personagem é que é desagradável, cínico e maldoso. Em um dos contos das Mil e uma Noites, o marinheiro Simbad se defronta com o perigosíssimo Pássaro Roca, Iago terá seu momento Pássaro Roca. O tigre Rajah de Jasmine é tal qual o cartoon, sendo que no cartoon ele está melhor, e sendo só merece destaque por sua impressionante presença ao lado dos atores em um ótimo CGI e é só isso mesmo.

"- Compre Batom! Compre Batom! E entregue-o a Mim!!!"

 A Princesa Jasmine é o toque maior e melhor em todas mudanças e adaptações ao roteiro original e foi providencial ter sido entregue a atriz Naomi Scott pois ela ao contrário de todas as implicâncias antes do filme estrear, conduz muito bem o papel. É uma linda presença e se canta do modo que cantou a música tema “A Whole New World” e a nova “Speechless” possui excelente voz... Se bem que hoje em dia... Enfim, muito bonito, emocionante e forte. Essa princesa está limitada a todas as proibições possíveis, não só por ser mulher (esse preconceito está presente em várias sociedades dos mais variados matizes políticos e religiosos). As limitações vem de seu pai super protetor que teme perdê-la como perdeu sua esposa, o Sultão (Navi Negahban de Homeland) procura protege-la ao máximo e de modo exagerado. Jasmine ambiciona muito mais. Fugindo de todas as regras ela deseja se tornar a governante do Reino sem necessariamente ceder a um casamento pois, mesmo ao lado de um consorte, ela não governaria e não pretende enganar seu pai,  sendo esse intento de não casar, o que soa inconcebível ao entendimento dele. Vemos na tela que ao seu modo ela vem se preparando com afinco para tal cargo mas sendo impedida com todos os mimos pelo Sultão ou propositadamente sem o menor tato pelo cruel Jafar, que se dirige a ela de modo tão bruto e arrogante que deixaria envergonhado o mais empedernido misógino. Como dito acima Naomi tem uma impressionante cena musical em uma composição que não está no desenho de 1992, e que revela sua dor e vontade de vencer todas dificuldades impostas ao longo da narrativa, até por Aladdin. É um momento do filme com boa carga dramática. Sua personagem é o centro da ação do filme. Tudo gira em seu entorno, seja para cortejá-la, e dominar, seja para impedi-la. Jasmine, coitada, passa por duas ineptas e hilárias tentativas de cortejo, diria sofre duas tentativas de cortejo, uma com ótima participação de Bill Magnussem (um psicopata em Tell me a Story e príncipe em Rapunzel). Outro momento que difere esse Alladin ao de 1992, Magnunseem volta a interpretar um príncipe europeu completamente sem noção e aparvalhado, muito bom. A segunda tentativa é a de um Aladdin pra lá de vacilão em confusas tentativas para impressioná-la. Mico total e constrangimento alheio do Gênio e também da platéia, conseguem facilmente transmitir como Aladdin pisou na bola. Uma forma divertida de mostrar idéias erradas que precisam ser superadas.

 

"- E agora? Quem poderá me defender? Eu mesma ora pois!"

 Um personagem secundário também será destaque, o chefe da guarda Hakin (Numan Acar de Em Pedaços). Que decisão seria mais nobre a ser tomada ao se deparar com o desafio entre seguir a lei e as regras ou aceitar justamente o mau uso dessa lei e da regra com a certeza de que será rasgada depois? Hakim está em uma posição bem difícil ao ser questionado por uma decidida Jasmine sobre esse dilema que a princípio não lhe parece tão claro.

"Jasmin minha filha, Você tem que casar logo senão você daqui a pouco, fará 21 anos e estará velha e não conseguirei um camelo sequer!!!"

 

Aprecie, é um filme para toda a família como se espera de um filme Disney mas que lhe fará também todos esses questionamentos e lhe colocara diante de preconceitos, medos e superações, algo muito necessário hoje em dia para que a sociedade não regrida, tudo regado a musicais “Broadway” muito ao gosto dos Estúdios do Mickey mas com muito Rap e Hip Hop, afinal Will Smith está no filme e é um Gênio com poderes cósmicos.


"- São 3 desejos!! Vá enrolar outro moleque....!"



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