sexta-feira, 10 de maio de 2019

Ele atira primeiro!!! - Han Solo - Uma História Star Wars (2018)

Ótimo piloto mas ruim no trato com a nave

 
por Alexandre César 
(originalmente publicado em 30/ 05/ 2018)

A simpática e desigual gênese do mais querido contrabandista da galáxia muito, muito distante

 
 

Han (Alden Henreich) e Chewie (Joonas Suotamo): "brothers" à toda prova

 
 
Personagens bidimensionais com pouco aprofundamento, apenas o suficiente para a história fluir... OK! E DAÍ?
 

Optando por um desenvolvimento diferente de Rogue One: Uma História Star Wars (2016, de Gareth Edwards), o novo filme da série "Uma História Star Wars", Han Solo (2018, de Ron Howard) segue um caminho diferente do que o termo prequel costuma simbolizar para muitos dos fiéis fãs e devotos de Star Wars (cinéfila também em sua maioria). Ele prova que é possível revisitar o passado daquela conhecida galáxia muito, muito distante de forma criativa e atraente - com narrativas dinâmicas e empolgantes e boa dose de fan service -, mas sem se preocupar demasiadamente com os cânones, que acabam engessando muitas boas idéias. 

 

L3 (Phoebe-Waller-Bridge) & Lando Calrissian (Donald Gloover): Parceria insólita

  

Abraçando um tom mais próximo do farwest, vemos um ambiente onde nunca se deve confiar em ninguém, pois são todos um bando de “ferrados” (para ser educado...), enganando um ao outro na luta pela sobrevivência para garantir mais um dia de vida. Aqui, Han Solo (Alden Ehrenreich surpreendente, recriando pela simplicidade e sutileza um ícone moderno) pode não transpirar inicialmente a malandragem de Harrison Ford (que também era mais um feliz casamento da persona do ator com o perfil do personagem do que um trabalho intenso de criação interpretativa), mas se sai bem ao mostrar a criação do ladrão-contrabandista de bom coração.

 

A bela e limpa Millennium Falcon: quando o dono era mais cuidadoso...

 
 
Inicialmente vemos a sua juventude de ladrãozinho fugindo de bandidos barra-pesada nas vielas de Corellia, planeta famoso por suas docas espaciais e sua naves ligeiras, mas que ainda não havia aparecido no cinema. Depois passamos pelo seu ingresso no Império Galático em busca de seu sonho de ser piloto - é brilhante a rápida cena em que ele registra o seu nome, numa citação a O Poderoso Chefão – Parte II (1974, de Francis Ford Coppola). E chegamos até a famosa partida de sabbac (um tipo de jogo de cartas) em que se disputa a Millennium Falcon, e o vemos realizar a famosa Corrida de Kessel em 12 parsecs (e, neste processo, transformando a bela nave naquela adorável sucata cheia de gambiarras que aprendemos a amar). O nosso herói cumpre o seu processo de aprendizado. Errando, mas dando a volta por cima e superando quem lhe deu uma lição.

 

Chewie, Beckett (Woody Harrelson) e Han: "Aposto que você não mantém essa nave 

assim, limpinha, moleque!"

 

Trabalhando numa situação em menor escala, mais regional, e deixando o Império e suas maquinações meio de lado (só aparecendo para situar o contexto maior), percebemos neste filme um universo mais amplo do que apenas o velho drama familiar dos Skywalkers e a guerra entre Jedis e Siths pelo controle da galáxia. Ele é um sopro de ar fresco numa narrativa que perigava saturar e mostra o valor do universo expandido, sem a obrigação de de apresentar algo épico, grandioso. O roteiro de Lawrence e Jonathan Kasdan vai construindo Han Solo e algumas de suas características de forma simples, que funciona muito bem. A trajetória do personagem apresentada aqui se insere no cânone sem ser algo transgressor ou herético (se bem que os radicais de plantão encontrarão toneladas de justificativas para destilar seu veneno...).

 

Dryden Vos (Paul Bettany): "Não sou realmente mau, sou apenas um vilão"

 
 
elenco, é um dos grandes acertos do filme, apresentando Qi’ra (Emilia Clarke de Game of Thrones), o primeiro grande amor de herói; Beckett (Woody Harrelson), o mentor e figura paterna; Chewbacca (Joonas Suotamo), o icônico parceiro com bons exemplos de diálogo situacional (ainda que em wookie); o vilão Dryden Vos (Paul Bettany), que tem pouco tempo de tela, mas o suficiente para dizer a que veio; Val (Thandie Newton), a parceira de Beckett; Rio (Jon Favreau), o alienígena de quatro braços; L3 (Phoebe Waller-Bridge), a droide ativista. E temos o jovem Lando Calrissian (Donald Glover), que funciona de maneira eficiente reinterpretando a performance de Billy Dee Williams, dando nova luz ao “Lionel Ritchie do Espaço”. Afinal, afinal, ele é um Glover!

 

Qi´ra (Emilia Clarke): Amor "bandidinho"...

 

A música de John Powell reinterpreta em momentos chave os acordes da partitura de John Williams, evocando a saga clássica, mas mantendo uma personalidade própria. A fotografia de Bradford Young remete às imagens do Star Wars Episódio IV - Uma Nova Esperança (1977, de George Lucas), além de, em alguns momentos chuvosos, lembrar Blade Runner (1982, de Ridley Scott) e até a série Game of Thrones. A edição de Chris Dickens e Pietro Scalia dão o tempo certo às cenas deste western espacial onde o herói atira primeiro (Greedo que se acautele!) pois ele descobre que não há honra entre ladrões.

 

A "Corrida de Kessel": e lá se vai mais um pedaço da nave...

 
 
Ao final somos brindados com um ótimo easter-egg, inserindo a história no contexto do universo expandido e abrindo possibilidades narrativas interessantes. O filme realiza bem o que se propõe a ser: um bom filme de ação (com um charme retrô, meio oitentista) antes de ser um bom filme de Star Wars

 

Corellia: Um dos principais estaleiros espaciais da galáxia "muito, muito distante"


 


 

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