sexta-feira, 10 de maio de 2019

Fábula inteligente e sagaz - Crítica - Séries: Desventuras em Série 1ª temporada

 


Crianças brilhantes, adultos... idiotas


por Alexandre César 
 (Originalmente postado em 27/ 03/ 2018)


Série surpreende com ótima adaptação dos livros
 
 
 

Os Baudelaire: Klaus (Louis Hynes) Sunny (Presley Smith) e Violet 
(Malina Weissman). Enfrentando os desafios de uma vida muito, muito triste


Crianças são seres inteligentes e de alta percepção do ambiente à sua volta. Se estimulados e orientados adequadamente serão capazes de grandes feitos ainda jovens ou mais tarde na maturidade. O problema é que na maioria das vezes esse enorme potencial é desperdiçado, levando-as gradativamente a se tornarem adolescentes tolos e depois, adultos idiotas. 
 

Conde Olaf (Neil Patrick Harris): Entre a canastrice farsesca e os seus
 planos "infalíveis" para roubar a fortuna dos órfãos Baudelaire


Esta é a idéia que (pelo menos para mim) fica patente assistindo a Desventuras em Série, seja na sua adaptação cinematográfica de 2004 dirigida por Brad Silberling com Jim Carrey ou, objeto desta crítica, na primeira temporada da série da Netflix, tendo Neil Patrick Harris como o vilanesco Conde Olaf, que não mede esforços para pôr as mãos na herança dos órfãos Baudelaire, seus sobrinhos Violet (Malina Weissman) capaz de inventar qualquer dispositivo de que necessite, Klaus (Louis Weissman) gênio erudito capaz de absorver qualquer conhecimento dos livros e, Sunny (Presley Smith) bebê que tem dentes super afiados, e se comunica na clássico “linguagem dos bebês”, que apenas os seus irmãos entendem. Tendo aparentemente perdido seus pais num incêndio que destruiu a sua mansão devem ficar com o parente mais próximo até Violet, a mais velha, completar 18 anos quando poderão usufruir da herança. O correto e tolo Sr. Poe (K. Todd Freeman), o testamenteiro oficial,que se encarrega de encontrar um lar para as crianças, inicialmente deixando-as com um parente distante, o tio Olaf (Harris, ótimo) um megalômano e péssimo e ator, misto de Dick Vigarista com Dr. Smith, que chefia uma trupe de malfeitores-atores tão ridículos e toscos quanto ele, que explora as crianças de forma cruel. Desmascarado, ele foge, mas jura não descansar até tomar a herança dos Baudelaire, da qual se julga merecedor.
 

Lemon Snicket (Patrick Warburton) narra os infortúnios dos herdeiros


A primeira temporada de 8 capítulos adapta os 4 primeiros livros (Um Mau Começo, A Sala dos Répteis, O Lago das Sanguessugas e Serraria Baixo-Astral) da série de 13 livros de mesmo nome escritos por Daniel Handler (pseudônimo de Lemony Snicket) aqui personificado por Patrick Warburton (que já foi o super herói The Tick) que vai narrando as tragédias dos Baudelaire com sua postura séria e pessimista sempre lembrando, para nossa diversão, o quão triste é a história, recomendando que troquemos de canal se estamos a procura de histórias felizes. A escolha de um livro para cada dois episódios se mostrou acertada, dando a exata medida de ajuste da história sem cortar ou encher barriga em termos narrativos.  


Sr. Poe (K. Todd Freeman), o testamenteiro oficial, e a meiga Juíza Strauss
 (Joan Cusack) tentam ajudar os órfãos mas a sua tolice facilita as vilanias de Olaf


Ao longo da série caberá às crianças desmascarar Olaf em cada vez que ele se disfarçar (de forma ridícula e cartunesca) para ludibriar os adultos idiotas (que não o reconhecem) e tentar atormentar os órfãos Baudelaire com estratagemas mirabolantes que nos sujeitam a maus-tratos que vão de cárcere privado, lavagem cerebral a exploração do trabalho infantil, em situações dignas dos desenhos da Hanna-Barbera ou da Warner, além de desvendar os segredos de uma misteriosa sociedade secreta, que tem como símbolo um olho, da qual seus pais, Olaf e o próprio Lemony Snicket faziam parte.


Olaf e Lemon Snicket: Membros da mesma sociedade secreta



Tendo à frente Barry Sonnenfeld (diretor das cineséries A Família Adams e Homens de Preto) e o designer de produção Bo Welch, costumaz colaborador de Tim Burton, a série é um deleite visual, criando um mundo surreal indefinido no tempo e no espaço tornando palpável uma ambientação de ilustração de livro infantil.
 

Os capangas de Olaf são um caso à parte...


Com a boa recepção por parte do público e crítica, uma segunda temporada já está em andamento. Bom, pois como ainda existem 9 livros a serem adaptados, tão cedo deixaremos de ouvir falar nas mazelas dos pobres irmãos Baudelaire. Relaxemos e esperemos mais perdas, desgraças, momentos melancólicos, encantadores e divertidos neste universo onde os adultos nunca prestam atenção ao que as crianças falam, lembrando-os (com um pouco de sorte) de que quando eram pequenos, eles mesmos já estiveram nesta posição. 

Quem sabe eles não revejam algumas atitudes?

"-É uma história muito triste..."



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