Crianças brilhantes, adultos... idiotas
por Alexandre César
(Originalmente postado em 27/ 03/ 2018)
Série surpreende com ótima adaptação dos livros
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Os Baudelaire: Klaus (Louis Hynes) Sunny (Presley Smith) e Violet
(Malina Weissman). Enfrentando os desafios de uma vida muito, muito triste
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Crianças são seres inteligentes e de alta percepção do ambiente à sua volta. Se estimulados e orientados adequadamente serão capazes de grandes feitos ainda jovens ou mais tarde na maturidade. O problema é que na maioria das vezes esse enorme potencial é desperdiçado, levando-as gradativamente a se tornarem adolescentes tolos e depois, adultos idiotas.
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Conde Olaf (Neil Patrick Harris): Entre a canastrice farsesca e os seus
planos "infalíveis" para roubar a fortuna dos órfãos Baudelaire
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Esta é a idéia que (pelo menos para mim) fica patente assistindo a Desventuras em Série,
seja na sua adaptação cinematográfica de 2004 dirigida por Brad
Silberling com Jim Carrey ou, objeto desta crítica, na primeira
temporada da série da Netflix,
tendo Neil Patrick Harris como o vilanesco Conde Olaf, que não mede
esforços para pôr as mãos na herança dos órfãos Baudelaire, seus
sobrinhos Violet (Malina Weissman) capaz de inventar qualquer
dispositivo de que necessite, Klaus (Louis Weissman) gênio erudito capaz
de absorver qualquer conhecimento dos livros e, Sunny (Presley Smith)
bebê que tem dentes super afiados, e se comunica na clássico “linguagem
dos bebês”, que apenas os seus irmãos entendem. Tendo aparentemente
perdido seus pais num incêndio que destruiu a sua mansão devem ficar com
o parente mais próximo até Violet, a mais velha, completar 18 anos
quando poderão usufruir da herança. O correto e tolo Sr. Poe (K. Todd
Freeman), o testamenteiro oficial,que se encarrega de encontrar um lar
para as crianças, inicialmente deixando-as com um parente distante, o
tio Olaf (Harris, ótimo) um megalômano e péssimo e ator, misto de Dick
Vigarista com Dr. Smith, que chefia uma trupe de malfeitores-atores tão
ridículos e toscos quanto ele, que explora as crianças de forma cruel.
Desmascarado, ele foge, mas jura não descansar até tomar a herança dos
Baudelaire, da qual se julga merecedor.
A primeira temporada de 8 capítulos adapta os 4 primeiros livros (Um Mau Começo, A Sala dos Répteis, O Lago das Sanguessugas e Serraria Baixo-Astral)
da série de 13 livros de mesmo nome escritos por Daniel Handler
(pseudônimo de Lemony Snicket) aqui personificado por Patrick Warburton
(que já foi o super herói The Tick) que vai narrando as
tragédias dos Baudelaire com sua postura séria e pessimista sempre
lembrando, para nossa diversão, o quão triste é a história, recomendando
que troquemos de canal se estamos a procura de histórias felizes. A
escolha de um livro para cada dois episódios se mostrou acertada, dando a
exata medida de ajuste da história sem cortar ou encher barriga em
termos narrativos.
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Sr. Poe (K. Todd Freeman), o testamenteiro oficial, e a meiga Juíza Strauss (Joan Cusack) tentam ajudar os órfãos mas a sua tolice facilita as vilanias de Olaf |
Ao
longo da série caberá às crianças desmascarar Olaf em cada vez que ele
se disfarçar (de forma ridícula e cartunesca) para ludibriar os adultos
idiotas (que não o reconhecem) e tentar atormentar os órfãos Baudelaire
com estratagemas mirabolantes que nos sujeitam a maus-tratos que vão de
cárcere privado, lavagem cerebral a exploração do trabalho infantil, em
situações dignas dos desenhos da Hanna-Barbera ou da Warner, além de
desvendar os segredos de uma misteriosa sociedade secreta, que tem como
símbolo um olho, da qual seus pais, Olaf e o próprio Lemony Snicket
faziam parte.
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Olaf e Lemon Snicket: Membros da mesma sociedade secreta
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Tendo à frente Barry Sonnenfeld (diretor das cineséries A Família Adams e Homens de Preto)
e o designer de produção Bo Welch, costumaz colaborador de Tim Burton, a
série é um deleite visual, criando um mundo surreal indefinido no tempo
e no espaço tornando palpável uma ambientação de ilustração de livro
infantil.
Com
a boa recepção por parte do público e crítica, uma segunda temporada já
está em andamento. Bom, pois como ainda existem 9 livros a serem
adaptados, tão cedo deixaremos de ouvir falar nas mazelas dos pobres
irmãos Baudelaire. Relaxemos e esperemos mais perdas, desgraças,
momentos melancólicos, encantadores e divertidos neste universo onde os
adultos nunca prestam atenção ao que as crianças falam, lembrando-os
(com um pouco de sorte) de que quando eram pequenos, eles mesmos já
estiveram nesta posição.
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