quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Os Doze Condenados encaram Os Canhões de Navarone no planeta Iwo Jima - Rogue One: Uma História Star Wars (2016)


 

A primeira guerra nas estrelas...

 Por Alexandre César

(publicado originalmente em 21/ 12/ 2016


  A saga se reinventa com fôlego e boas idéias

 

Rogue One: velhos cenários, novos caminhos


Agora é guerra mesmo! Suja, feia e mal-cheirosa! A ideologia fica meio de lado quando se tem que vencer um jogo cruel contra um oponente que não tem escrúpulos em “flexionar os músculos” para atingir seus objetivos, doa a quem doer... dentro deste contexto, como manter a esperança de vencer sem sujar as mãos... e a alma?


Preparando o ataque. De pé, Jyn Erso (Felicity Jones),Cassian Andor (Diego Luna) e Baze Malbus (Wen Jiang). Sentados, Bodhi Rook (Riz Ahmed) e Chirrut Îmwe (DonnieYen ) 


Rogue One - Uma História de Star Wars, dirigido por Gareth Edwards, dirigido por Gareth Edwards (Godzilla, de 2014) mostra como fazer um derivado de uma franquia de sucesso direcionado a um público maduro, que cresceu (e envelheceu) acompanhando a série, dando um toque pessoal àquele universo ficcional, mas preservando a essência de algo muito querido.

 

Cassian Andor, Jyn Erso e K-2SO (voz de Alan Tudyk) o droide faz-tudo


Depois do resultado desigual de Depois do resultado desigual de Star Wars VII - O Despertar da Força (2015) e das notícias dos problemas das filmagens decorrentes dos conflitos do diretor com o estúdio, se especulava que a aquisição da popular marca pela Disney resultaria em projetos caça-níqueis infantilizados e oportunistas. A boa notícia é que, pelo menos neste caso, a Força está conosco, os fãs.

 

Da animação para o live action: O guerrilheiro Saw Gerrera (Forest Whitaker)

 

Ambientado entre os episódios III (A Vingança dos Sith, de 2005) e IV ( de 2005) e IV (Uma Nova Esperança, de 1977), acompanhamos a história de Jyn Erso (Felicity Jones), que, ainda menina, perde o pai cientista, Galen (Mads Mikkelsen), para o império, que o quer para tocar o projeto da sua maior arma de destruição em massa: a Estrela da Morte. Anos mais tarde, já uma jovem encrenqueira e destemida, ela é recrutada pela Aliança Rebelde para contactar Saw Gerrera (Forest Whitaker), líder anti-imperialista tido como radical demais até pelos próprios Rebeldes, para buscar informações sobre seu pai e o projeto secreto em que ele está envolvido. Simples não?
 
 
O diretor Orson Krenic (Ben Mendelsholn) entre os "Dark Tropers". Vilão que não é isso tudo...

Aí é que as coisas se revelam bem diferentes dos outros filmes da franquia, principalmente a trilogia clássica (episódios IV, V e VI). Vemos, sem sombra de dúvida, que o império é cruel, opressor e destrutivo, lembrando em muitos momentos as forças de ocupação americanas no Iraque e Afeganistão, as forças israelenses na Palestina ou até mesmo as Unidades de Polícia Pacificadora nos morros do Rio de Janeiro. Vemos soldados imperiais (stormtroopers) dando duras nos transeuntes com força desproporcional. Mas vemos também que as forças rebeldes não são uníssonas, que usam os mesmos métodos dos jihadistas ou da Al-quaeda. O piloto rebelde Cassian Andor (Diego Luna) coloca os interesses da Aliança acima de tudo, realizando atos que jamais veríamos Luke Skywalker fazendo, pois, entre os peões deste jogo, não se pode ter pruridos face o tudo ou o nada.


Os Doze Condenados (1967): Clássico de guerra


Sentimos que filmes de guerra como Os Doze Condenados, Sete Homens e Um Destino, Os Canhões de Navarone, O Resgate do Soldado Ryan e Cartas de Ivo Jima pontuam a construção de cada cena, dando densidade e textura ao filme, enriquecendo o conceito do “futuro gasto de segunda mão” imaginado por Lucas nos primórdios da saga.

 

Fé a toda prova: Chirrut Îmwe (DonnieYen, que já foi na telas o "Mestre Yip") é um cego sensível à Força melhor do que qualquer Jedi...

 

Assim, contra tudo e todos, a jovem Jyn vai juntando para a missão a sua equipe com personagens bem mais interessantes do que ela, como Chirrut Îmwe (Donnie Yen) sensitivo à Força cego de habilidades e fé inabaláveis, e Baze Malbus (Wen Jiang), guerrilheiro casca-grossa. Ambos remanescentes dos tempos em que a Força e os Jedi eram uma realidade na galáxia. Além deles temos Bodhi Rook (Riz Ahmed), piloto desertor do Império em busca de redenção, e K-2SO (Alan Tudyk), droide imperial reprogramado que é o alívio cômico do filme. Felizmente não tentam torná-lo o “R2D2 da vez”. É um robô bem diferente do que estamos acostumados a ver nos filmes da saga. 
 
 
A batalha final no planeta Scariff lembra muito os combates nas ilhas do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial


Muitas cenas foram descartadas durante a filmagem e a edição do filme - o que serviu para desviar a atenção de muita coisa e gerando agradáveis surpresas, mas diluindo a força da protagonista, que, apesar do visual lembrando Katnis Everdeen, não tem o carisma da heroína de Jogos Vorazes. Ela é a líder do grupo intitulado Rogue One porque o roteiro assim o quer – não por merecimento. Outro personagem que deve ter perdido força neste processo de edição é Orson Krennic (Ben Mendelsohn), oficial do império responsável pelo desenvolvimento do projeto da Estrela da Morte. Nos trailers ele parece ser um grande vilão e na realidade é apenas um burocrata cruel. 

 

 Na realidade Jyn Erso não tem realmente a força para liderar um ataque desses...


E não podemos esquecer as homenagens aos longas anteriores e a outras produções do universo expandido nas participações especiais – entre eles o personagem mais icônico da franquia: Darth Vader, o homem da máscara e da respiração irregular. Sua participação é pequena, mas, quando ele resolve agir, finalmente o vemos como o rolo compressor que sempre esperamos e nunca foi mostrado nos filmes. Suas ações na sequência final fazem a ponte entre este filme e o Episódio IV.

 

E como não pode faltar a um bom filme de Star Wars, temos incríveis batalhas espaciais

 

 Rogue One: Uma História Star Wars pode não ser perfeito, mas consegue atingir o seu objetivo de mostrar muito bem uma visão pessoal do diretor que amplia um universo ficcional conhecido e admirado, respeitando-o e subvertendo-o ao mesmo tempo, embalado pela trilha sonora de Michael Giachino, que, nas horas certas, emula os temas de John Williams sem deixar de enriquecer musicalmente a franquia.

 

Orson Krenic diante de Darth Vader: quem é o vilão de verdade?


Edwards conseguiu, com um bom roteiro e uma direção inspirada - além de driblar as armadilhas corporativas -, materializar as fantasias de boa parte dos fãs de Star Wars fazendo-os sonhar novamente com uma galáxia muito distante, que agora ficou mais próxima de nós que não somos jedis.

 


 

 

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