segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Amor não tem idade - Crítica - Filmes: Um Perfil Para Dois (2017)

 

Cyrano da melhor idade

por Alexandre César

(Originalmente postado em 11 / 11/ 2017)


Filme conecta idéia do clássico com o mundo digital
 
 
Uma divertida reflexão sobre o amor e o sexo

Ah, O Amor...! Ao observar o mundo a nossa volta percebemos que, por mais que a maneira como nos comunicamos mude, sempre carregamos conosco aquelas emoções e anseios básicos de afeto, dar e receber carinho, estar junto. Não importa se nos conectamos através de uma carta escrita e enviada pelo correio ou - mais atual - por um e-mail, post ou um zap.
 
 
Pierre (Pierre Richard) e Alex (Yaniss Lespert): o viúvo e o jovem escritor

Este é o caso de Pierre (Pierre Richard), de 79 anos. Um emburrado viúvo aposentado que não sai de casa desde o ano retrasado, desde a morte da esposa com quem viveu por 50 anos. Através da ajuda de Alex (Yaniss Lespert), um jovem escritor desempregado que foi contratado por sua filha Sylvie (Stéphane Bissot) para ensiná-lo a usar o computador e a internet, ele cria um perfil num site de relacionamentos e acaba conhecendo a jovem Flora (Fanny Valette), por quem se encanta. Após longas conversas online, que cativam a jovem por sua poesia e forma de expor seus sentimentos, o viúvo decide marcar um encontro. Coisa natural não fosse um pequeno detalhe: ele postou no perfil a foto de Alex e não a sua.

Tal qual Cyrano de Bergerac, Alex, age como se fosse Pierre (que o orienta à distância) para conquistar a adorável Flora (Fanny Valette)

Dirigido e roteirizado por Stéphane Robelin, (E se Vivêssemos Todos Juntos?, de 2011), Um Perfil para Dois atualiza para a era digital a trama central de Cyrano de Bergerac (1897), peça teatral clássica, que foi adaptada para diversos filmes, dos quais vamos citar três. A versão de 1950, dirigida por Michael Gordon, deu o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator a José Ferrer. Uma versão francesa (como esta resenhada) de 1990, dirigida por Jean-Paul-Rappeneau, tem Gerard Depardieu como protagonista. E temos Roxanne (1987), versão comédia dirigida por Fred Schepisi, estreada por Steve Martin e pela eterna sereia /replicante Darryl Hannah.
 

O romance engata,apesar de todos os deslizes de Alex

A questão aqui que gera a inibição do protagonista não é um nariz colossal, mas algo aparentemente mais intransponível: a diferença de idade. Um elemento crucial neste nosso mundo determinado pela imagem, que idolatra o binário “Jovem e Belo” de tal forma que leva muitas pessoas (principalmente as mulheres, ví­timas da obsessão pelo peso e pela idade) a tentar atingir neuroticamente a um ideal inalcançável. Robelin, que em sua filmografia reflete uma especial compreensão das questões da terceira idade, acompanha as consequências dessa farsa com muito bom humor, mostrando o renascer de Pierre e o amadurecimento de Alex para enfrentar as cobranças da vida. Pierre assume um papel de tutor de Alex e este usa da sua experiência com o idoso como base para escrever um roteiro para uma série policial estilo C.S.I.
 
Flora é ao mesmo tempo a seduzida e a sedutora

Existem várias situações no melhor estilo de “comédia de erros”, que, amparados pelo roteiro inteligente, tem especial carinho pelas necessidades e inseguranças da chamada “melhor idade”. Juntas com o ótimo elenco, embalam e levam esta fábula romântica a um final diferente e alegre, inesperado como a própria vida. Afinal amar e viver o amor adoça a vida, seja em qualquer etapa dela.

 

Pierre e Flora estabelecem uma relação de profundo carinho, o que incomoda Sylvie (Stéphane Bissot) a filha dele e Stéphanie Crayencourt) a ex- de Alex


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