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Os Guardiões: A Rússia ganha sua própria versão dos Vingadores |
A Rússia atual de Vladimir Putin parece caminhar a passos largos para retomar o papel de potência mundial que outrora a antiga União Soviética ocupava. O seu regime socialista ficou para trás, a roupagem é outra, mas permanece a nostalgia daquelas imagens icônicas da superpotência nuclear que fazia frente aos Estados Unidos, país que sempre teve como seus garotos-propaganda os caras com cuecas por cima das calças. Era isso que faltava para a Mãe Rússia fazer frente neste novo mundo globalizado? Então mãos à obra!
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A Major Elena Larina (Valeriya Shkirando ao centro) com sua equipe da missão, que parece saída de uma série "Star Trek" |
Os Guardiões, (Zashchitniki, no original - 2017) de Sarik Andreasyan (O Último Golpe), tenta ser uma resposta a altura desse desafio de apresentar super-heróis russos e naufraga de forma vergonhosa de tão ruim. Mas, da sua ruindade, transparece uma crença infantil de que seus realizadores parecem acreditar que estão apresentando algo bom de fato. Esta crença muito provavelmente o tornará campeão absoluto no posto de "melhor filme ruim" de 2017. Desde os filmes do lendário Ed Wood não se via algo trash ser feito com tanta convicção de que não é trash.
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Kseniya (Alina Lanin) a "Mulher-Invisível" do grupo, que se esconde trabalhando num show |
A trama – simples, mas com uma quantidade enorme de furos – mostra que, durante a Guerra Fria, uma organização soviética chamada "Patriota" recrutou um grupo de indivíduos, modificando o seu DNA, tornando-os superpoderosos, com o objetivo de formar uma força de defesa contra ameaças sobrenaturais. Seus membros, representando diferentes povos da antiga União Soviética, são: Ler (Sebastien Sisak de Drift), com capacidade de manipulação telecinética das rochas; Arsus (Anton Pampushnyy de Realnaya skazka), que pode se transformar num urso; Khan (Sanzhar Madi de Amanat), estiloso "ninja" com supervelocidade; e Kseniya (Alina Lanina de Kukhnya), que tem o dom da invisibilidade, controla a sua temperatura corporal e... fazer um bom goulash (?). Com o colapso do antigo regime, eles passaram a viver isolados e escondendo suas identidades, pois eles não envelhecem.
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Arsus (Anton Pampushnyy) em sua forma "Homem-Urso" com sua metralhadora giratória Mais russo impossível... |
Após muitos anos, eles são recrutados pela Major Elena Larina (Valeriya Shkirando de Batalion), espécie de "Nick Fury" de saias e coach motivacional (com visual à Sharon Stone, de Instinto Selvagem). Ela está reativando o Projeto Patriota, pois August Kuratov (Stanislav Shirin de Vse o muzhchinakh), o antigo cientista responsável pelo projeto, ressurgiu anos após também ter sido exposto aos próprios experimentos, transformando-se num ser careca e musculoso (boa roupa de borracha, dando-lhe um visual que remete ao Homem-Absorvente, clássico super-vilão da Marvel). Ele tem a capacidade de controlar todo e qualquer veículo remotamente e, graças a suas invenções, pode criar o seu próprio exército de clones (!!!) para marchar e tomar Moscou e depois o Mundo! Bwahahahaha!!!
(Não, a risada não está no filme...)
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O vilão August Kuratov (Stanislav Shirin): parece mas não é |
Apesar de alguma semelhança visual com a Guarda Invernal ou até com a Tropa Alfa, ambas equipes de super-heróis da Marvel Comics, o grupo não tem nenhuma origem em quadrinhos e afins. Ele consegue a façanha de ter diálogos compostos em mais de 90% de frases de efeito e atores com interpretações dignas de modelos. Some-se a isso a péssima dublagem em inglês da cópia que tivemos acesso, com vozes não bem sincronizadas e pouco adequadas aos atores (o que mostra como a dublagem brasileira é uma das melhores do mundo!)
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Guarda Invernal: a equipe de super-heróis russos da Marvel Comics |
O filme tem uma duração curta (90 minutos), mas a edição de Georgiy Isaakyan (Zhenshchiny protiv muzhchin) deixa o ritmo desigual, tornando-o cansativo em alguns momentos. Mas os efeitos visuais são bons, apesar do urso super-herói parecer personagem de video game. A música de Georgiy Zheryakov (Rusichi) tenta ser heróica e conduzir a emoção da platéia, ora sendo intimista, ora sendo grandiosa.
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Ler (Sebastien Sisak), Arsus e Khan (Sanzhar Madi) tal qual o filme, têm visual, e só... |
Os valores de produção como a fotografia de Maksim Osadchiy-Korytovskiy (Stalingrado: A Batalha Final), o figurino de Gulnara Shakhmilova (Geroy), o desenho de produção de David Dadunashvili (Earthquake) e a direção de arte de Alina Morozova (Akademiya) no geral, são bons. O grande calcanhar de Aquiles do filme é o roteiro, de Andrei Gavrilov (Mafia: Igra na vyzhivanie) a partir da história de Andreasyan, que costura todos os clichês possíveis de forma preguiçosa, dando um aprofundamento dos personagens que faz Michael Bay parecer Orson Welles. Faltou apenas uma melhor relação entre a direção e o roteiro para termos ali algo mais do que uma paródia involuntária.
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Kuratov (e sua roupa de músculos de borracha) tem um "plano infalível" para dominar a Rússia e depois o mundo... |
Está programada uma continuação, Guardiões 2, em co-produção com a Turbo Films, a distribuidora chinesa do filme. Até cena pós-crédito com gancho para esta sequência o filme tem.
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... mas Khan, Ler, Arsus & Kseniya unem seus "haduckens", aumentando os seus "kosmos", para assim, derrotarem o vilão... |
Quem sabe, acertam na próxima vez? Impossível? Talvez não... Parece que a saga super-heroica russa está apenas começando. Que venha então com mais vodca e caviar para dar um tempero que a proposta está precisando desesperadamente.
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"- Presidente Putin, estamos prontos!!!" |
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