terça-feira, 15 de outubro de 2019

O Show da Poderosa!!! - Crítica: Alita - Anjo de Combate (2019)


"Zoiuda" encantadora

por Alexandre César


Robert Rodriguez traz a melhor adaptação de um mangá/anime



  Cerca de 300 anos após “A Queda” - um confronto global que envolveu a Terra contra a RUM (Repúblicas Unidas de Marte) - Zalen, a única cidade terrestre remanescente quase intacta, continua flutuando acima da superfície - embora o seu pináculo central continue destroçado pelo conflito. A cidade flutuante, ancorada por colossais amarras, mantém uma relação simbiótica com o que restou da Cidade do Aço, localizada logo abaixo: uma metrópole devastada pelo conflito e cuja área central é um lixão onde é despejado constantemente todo e qualquer refugo tecnológico da metrópole aérea. Os habitantes do lixão peneiram para encontrar qualquer item aproveitável para fazer componentes protéticos mecânicos ou qualquer gambiarra que lhes ajude no dia a dia.


Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz) dá o nome de sua falecida filha, Alita, à recém-chegada

 
O sonho de todos que vivem na Cidade do Aço é um dia juntar dinheiro e ir morar naquele paraíso nas nuvens. Para isso trabalham nas fazendas, no comércio, em qualquer setor que alimenta a metrópole aérea, em meio às dificuldade do dia a dia. No lixão, parte de uma ciborgue é descoberta pelo Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz), um cientista que tem uma clínica que ajuda os mutilados ou detentores de má formação, reconstruindo partes protéticas. Embora não tenha memórias de sua origem a ciborgue Alita (Rosa Salazar, de Maze Runner – A Cura Mortal) revela grande habilidade de combate. Enquanto busca informações sobre seu passado, ela arruma um trabalho como caçadora de recompensas (pois o que não falta por lá são ciborgues malfeitores) e, à medida que recobra suas memórias, descobre as coisas simples que nos fazem humanos, como o senso de unidade familiar, a amizade e o amor.

A direção de arte foge do lugar comum cyberunk ao estilo "Blade Runner",criando um mundo real e palpável
Romance fofo: Alita e Hugo (Keean Johnson), o jovem trabalhador que tem um segredo. Mas o amor faz milagres...

    Embora parta de uma premissa para lá de genérica - que já vimos em centenas de filmes, séries, quadrinhos, animações, games etc - Alita – Anjo de Combate (2019) surpreende com um frescor e domínio narrativo inesperado, fruto da conjunção de três nomes: Robert Rodriguez (Sin City, de 2005) na direção e da dupla James Cameron e Jon Landau (Titanic, de 1997 e Avatar, de 2009) na produção. E se revela, até o momento, a melhor adaptação de um mangá/anime (quadrinho/ animação japonesa) feito em Hollywood. Ele é baseado em Battle Angel Alita, de Yukito Kishiro, um mangá recomendado com muita atenção por Guillermo del Toro para o colega James Cameron, que se encantou com o conceito - embora o projeto d transformá-lo em filme tenha sido adiado vezes sucessivas devido ao trabalho de Cameron no filme Avatar e suas sequências.


Neste mundo distópico, a alta tecnologia convive com a estratificação social

Em 2015 Robert Rodriguez embarcou no projeto, trabalhando inicialmente em cima do roteiro de Cameron e Laeta Kalogridis. Rodriguez condensou num resultado feliz as 186 páginas de roteiro de Cameron e combinou com as 600 páginas de anotações no que seria o roteiro de filmagem, satisfazendo Cameron, que lhe ofereceu a direção do filme. Percebe-se não temos aqui “um filme imitando um anime”, mas um filme que tem pique narrativo e jeito de anime. E não só na parte visual, mas na estruturação do roteiro, resultando num filme que é realmente feito para jovens, por alguém que consegue pensar como jovem e não um velho se fingindo de jovem, mas não se arriscando por medo de ousar e “quebrar a cara”. Rodriguez soube dosar o ar juvenil na narrativa (afinal a cinesérie Pequenos Espiões - com filmes lançados em 2001, 2002, 2003 e 2011-, além de As Aventuras de Shark Boy & Lava Girl, de 2005, serviram de laboratório para que ele entendesse o cinema infanto-juvenil) e usou bem seu amplo domínio de utilização da tecnologia disponível (aprendido nos anos iniciais da carreira, como realizador de clássicos B e Trash) para contar uma história da melhor forma possível.
 

Alita: Uma adolescente com o coração na mão (mesmo!)

 
A direção de arte, a fotografia de Bil Pope (da trilogia Matrix) e os efeitos visuais acertaram em cheio ao criar um mundo pós-conflito global, mas não pós-apocalíptico, evitando tal como ocorre em Jogador Nº1 (e foram até melhor...),o estereótipo da “megalópole futurista sombria sempre chovendo” tipo Blade Runner. Ele opta por um mundo palpável onde a tecnologia, mesmo que de segunda mão, está incorporada ao cotidiano. Onde a cidade é perigosa, mas as pessoas trabalham, criam seus filhos e sonham tentando viver da melhor forma possível. Como vemos esse mundo com os olhos lúdicos (e que olhos... ponto para a Weta Digital!!!) e inocentes de Alita, não caberia uma visão de ambiente sinistra. 

Chiren (Jennifer Connely), a fria ex-mulher do Dr. Dyson. Personagem que pedia um maior desenvolvimento de seu arco

 
O perigo existe - mostrando volta e meia a sua cara feia, como é a face do do cyborgue criminoso Grewishka (Jack Earle Haley, de Watchmen e do seriado Alvo Humano), baseado em Grewcica, personagem do  OVA (Original Video Animation) Battle Angel, que age em acordo com Vector (o oscarizado Mahershala Ali), um líder do submundo. Vector arma as partidas de Motorball, esporte com gladiadores, híbrido do clássico Rollerball (1975, de Norma Jewison) e das corridas norte-americanas de Nascar. Completam este rico universo ficcional: Zapan (Ed Skrein), um arrogante ciborgue caçador de recompensas; Hugo (Keean Johnson), o interesse amoroso de Alita - bad boy mas de bom coração - que a ensina a jogar Motorball; Gelda (Michelle Rodriguez), uma ciborgue que treinou Alita e aparece em flashbacks; e Chiren (a bela diva Jennifer Connelly), a ambiciosa ex-mulher de Dyson que divide tramoias e o leito com Vector. Todos estes são lacaios de Nova, misterioso vilão ligado ao passado de Alita que observa a tudo e a todos de sua base segura em Zalen.
 
Grewishka (Jack Earle Haley) a face feia do perigo...

Zapan (Ed Skrein): o seboso ciborgue caçador de recompensas

 
Salazar, auxiliada pela tecnologia de captura de performance convence - apesar de já estar entrando nos trinta - como uma adolescente (superpoderosa e cibernética, mas ainda uma adolescente) cheia de sonhos e anseios, capaz de dar o seu coração (literalmente) pelos que ama. Ela carrega bem o filme - com sua dose de dramalhão (como todo anime), humor e ação -, revelando boa química com o elenco, em especial com Johnson, seu par, e com Christoph Waltz, que caminha a passos largos para ser o novo Max Von Sydow (ator consagrado que não se importa de participar de produções comerciais enquanto não pinta “aquele filme” que aumentará a sua já estabelecida consagração...). Waltz e Salazar estabelecem uma boa dinâmica de pai amoroso e filha rebelde e Connelly convence como mulher fria e ambiciosa, mas não imune à boas ações apesar de seu arco não se concluído de forma satisfatória (talvez, na continuação, possamos conhecê-la melhor....). 
 

O jovem casal sonha e faz planos...
Vector (Mahershala Ali) líder do submundo e Chiren (ao fundo) obedecem ao misterioso "Nova", o real vilão.
 
A arena de "Motorball": o lado vídeo game do filme é abraçado plenamente com bons resultados

 
No computo final, Alita –Anjo de Combate se revela uma grande e bela surpresa, com tudo para agradar ao público com seu visual rico, que sabe dosar o cyberpunk e o vídeo game. Narrado com competência e não subestima a inteligência de seu público procurando usar aquele pensamento de que  “basta botar explosões e edição acelerada e está feito!”
 
Os "Parças" James Cameron & Robert Rodriguez: Feliz união de forças criativas

 
Cameron e Rodriguez, a dupla improvável, mostraram que não importa quão batida seja a história, mas sim, como contá-la de forma inteligente e sem excessos. E que venha Alita II ou 2!
 
- Vai encarar???
 

0 comentários:

Postar um comentário