domingo, 2 de agosto de 2020

The Umbrella Academy - 2ª Temporada (Spoilers)

por Alexandre César   

Os irmãos Hargreeves seguem na sua saga.





    Uma vez superado o cancelamento das séries da Marvel (cujos personagens migrarão para o serviço de streaming Disney + ) a Netflix, tendo sido bem sucedida ao buscar outras HQ’s do mercado para criar suas adaptações, nos traz agora a segunda temporada de The Umbrella Academy, criada por Steve Blackman (Legion) inspirada nas HQs do brasileiro Gabriel Bá (Dois Irmãos) e de Gerard Way (o vocalista e ex-líder da banda My Chemical Romance) da Dark Horse Comics, dando prosseguimento às aventuras dos super-heróis disfuncionais e problemáticos, retomando do final da primeira temporada, quando ao tentar salvar o mundo, eles acabaram provocando o seu fim e como último recurso, retornaram no tempo numa tentativa de consertar a linha temporal. Certo?

"Momento Vingadores": Temos um vislumbre nessa linha temporal
do grupo atuando como uma equipe coesa...


Errado! Pois como sempre, algo não previsto entra na equação, dispersando o grupo em Dallas, em intervalos no início dos anos 1960, obrigando-os, sem contato uns com os outros (ou sem saber se eles estão vivos...), a se adaptarem ao Bravo Mundo Velho, da América W.A.S.P.* Onde ser negro, latino, gay ou de ideias progressistas (ou de esquerda) era garantia certa de se viver andando sobre o fio da navalha...

Um Hazel envelhecido (Cameron Britton) dá a "Número Cinco"
uma dica para evitar o Apocalipse Nuclear...


Assim, Luther, o Número Um (Tom Hopper de Black Sails) isolado de seus irmãos, acaba trabalhando como leão-de-chácara e lutador para Jack Ruby (John Kapelos de A Forma da Água), o mafioso que matou Lee Harvey Oswald (após a sua prisão**, acusado do assassinato de John F. Kennedy), enquanto a sua amada Allison, a Número Três (Emmy Raver-Lampman de Jane the Virgin) segregada à viver na comunidade negra, se casou com Raymond Chestnut (Yusuf Gatewood de Good Omens) ativista dos direitos civis, Diego, o solitário Número Dois (David Castañeda de Sicário: Dia do Soldado), acaba internado num manicômio, onde encontra parceria na alucinada Lila Pitts (Ritu Arya de Feel Good); Vanya, a Número Sete (Ellen Page de Juno), desmemoriada, é acolhida por Sissy (Marin Ireland de A Qualquer Custo) esposa submissa ao marido Carl Cooper (Stephen Bogaert de It: Capítulo Dois) cujo filho Harlan (Justin Paul Kelly de Creeped Out) tem problemas similares ao autismo, e Klaus, o Número Quatro (Robert Sheehan de Fortitude), que fala com os mortos, vira um líder de culto, no melhor estilo Charles Manson *** (mas sem o lado homicida) mantendo o seu contato com o finado Ben (Justin H. Min de American Refugee) que cresce em protagonismo, completando o seu arco, embora indique haver possibilidades de retorno.

"Clube da Luta": Luther, o "Número Um" (Tom Hooper) trabalha para o
mafioso Jack Ruby, ganhando uns trocados em lutas clandestinas

"Ah, o amor...": Lila Pitts (Ritu Arya) conhece Diego, o "Número Dois"
(David Castañeda) no hospício e formam uma parceria


E finalmente, Número Cinco (o ótimo Aidan Gallagher de Modern Family) é o que chega por último e constata que o fim do mundo é iminente, só que agora em 1963 e consegue retornar uma semana antes dos catastróficos eventos, inter-relacionados ao assassinato de John Fitzgerald Kennedy, ocorrido em 22 de novembro. Nada como mais um dia de trabalho não?

Choque de realidade: Allison, a "Número Três" (Emmy Raver-Lampman)
se casa com Raymond Chestnut (Yusuf Gatewood) e juntos abraçam
o ativismo pelos direitos civis


Nesta temporada se revela que o “pai” da equipe, o bilionário e aventureiro Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore de Thor) com seu monóculo, barbicha e cavanhaque, fêz parte do Majestic 12**** e ele se encontra em Dallas nas vésperas da fatídica visita presidencial e descobrimos que Claire, a “Mãe” (Jordan Claire Robbins de iZombie), a babá-robô da academia foi feita baseando-se em Grace, uma especialista em primatas que treinou Pogo (captura de performance de Adam Godley de Breaking Bad), o mordomo chimpanzé geneticamente alterado,quando este foi um dos macacos usados nos primórdios do programa espacial, tendo se acidentado num vôo do programa Mercury e sendo salvo da morte pelo soro desenvolvido por Hargreeves, que o salvou da morte e lhe ampliou a inteligência (o mesmo soro que no futuro salvaria a vida de Luther, mas deformaria seu corpo).


Messias: Klaus, o "Número Quatro" (Robert Sheehan)
vira líder de um culto riponga

Fantasma Camarada: O espírito de Ben (Justin H. Min), o "Número Seis",
cresce e aparece na sua relação com Klaus e os demais

E como nada é tão ruim que não possa piorar, a Handler (Kate Walsh, de Private Pratice) retorna com seus modelitos, que não chamam tanta atenção nos anos 60 (ponto para os figurinos de Christopher Hargadon, de Anon), para continuar as suas tramóias no comando da Comissão, agindo nos bastidores da história de forma sutil, gerenciando o continuum tempo-espaço e mandando uma equipe de assassinos conhecida como os Suecos - Axel (Kris Holden-Ried, de Vikings), Otto (Jason Bryden, de Far Cry 5) e o caçula Oscar (Tom Sinclair, de 21 Brothers) - perseguirem os irmãos Hargreeves.

Segredos são revelados novos fatos sobre Sir Reginald Hargreeves
(Colm Feore), o "pai" da equipe


A ambientação na época da contracultura ascendente é um prato feito para a trilha musical de Jeff Russo (Star Trek: Picard) brincar com vários clássicos da época e intercalá-los com hits de outros períodos, numa salada mista divertida, que inclui Queen, Billie Eilish, Lorde, Adele, Frank Sinatra, The Cordetes, e Bakstreet Boys, embalando as soluções visuais do desenho de produção de Mark Steel (Star Trek: Discovery) e Mark Worthington (American Horror History). Em parceria com a direção de arte de Natasha Peschlow (Star Trek: Discovery) e a decoração de sets de Jim Lambie (American Gothic), eles recriam a Dallas sessentista, com seus salões de cabeleireiro com secadores de cabelo monstruosos, lanchonetes e lojas de departamentos, onde só brancos podiam entrar, e a loja/quartel-general do paranoico da conspiração Elliott (Kevin Rankin, de Claws) com seus equipamentos bem datados.

Sentada, Vanya, a "Número Sete" (Ellen Page) desmemoriada, cuida de
Harlan (Justin Paul Kelly), o filho autista de Sissy (Marin Ireland), a
submissa "esposa de comercial de margarina"
Vanya apresenta uma maior segurança em usar os seus poderes


A edição de Wendy Tzeng (The Gifted) e Amanda Panella (The Resident) escolhe os momentos certos para dar um clima mais onírico e lisérgico (em especial nas cenas do culto “qualquer-coisa” de Klaus) ou feérico, como as lutas de Diego com os Suecos ou de Número Cinco consigo mesmo ao som de Dancing with myself de Billy Idol.

"Momento Dark": Os "Suecos" liderados por Axel (Kris Holden Ried) e
seus irmãos Otto (Jason Bryden) e Oscar (Tom Sinclair), cujo visual
remete ao sucesso alemão da Netflix


A fotografia de Neville Kidd (Sherlock) e Craig Wrobleski (Fargo) usa de ângulos que muitas vezes remetem aos enquadramentos dos quadrinhos e utiliza uma palheta de cores variada, bem de acordo com o período histórico, continuando a brincar nas cenas de abertura com a apresentação do logo da série (já uma tradição). Ela é auxiliada pelos efeitos visuais de Folks, Monsters Aliens Robots Zombies, Soho VFX, Spin VFX , que recriam as paisagens históricas da cidade de forma crível, adotando um aspecto quase documental ou espetaculoso quando a cena o exige.

A direção de arte acerta na reconstituição dos ambientes típicos,
como as lanchonetes "só para brancos" do período..

Época: Lembram quando os secadores eram desse tamanho???


No cômputo final, ao ter um clima menos pesado e mais aventureiro do que a sua primeira temporada, The Umbrella Academy amplia o que sabe fazer de melhor, mesclando humor, drama e ação de forma orgânica, sempre jogando os seus personagens numa “sinuca de bico” e nos deixando ver como eles se viram, seja lidando com os seus fantasmas, fruto da relação fria e distante com uma figura paterna pouco interessada em demonstrar sentimentos, seja enfrentando assassinos temporais ou os seus próprios relacionamentos, face aos ventos da história, na sua tentativa de voltar para casa. A cena final mostra que nada é tão difícil que não possa se complicar ainda mais... E que venha a terceira temporada e além!

"Cruela De Vil": Como quem é ruim sempre aparece, "The Handler"
(Kate Walsh) retorna para dar o ar de sua desgraça...



Notas:

Padrão "Comercial de Margarina"...

*W.A.S.P.:  Ou White Anglo- Saxan Protestant
(Protestante Anglo-Saxão Branco) foi o padrão vigente no meio audiovisual norte-americano, com pouca visibilidade para tipos latinos, orientais, indígenas, asiáticos ou negros fora de uma representação estereotipada ou demonizada.







Uma história que sempre suscita
controvérsias...


** Assassinato de Lee Harvey Oswald:
Fato que sempre foi encarado como “queima de arquivo” pelas teorias conspiratórias, que alegam ser Oswald um mero “bode expiatório”. Ele foi eliminado em 24 de novembro de 1963 (dois dias após a morte de Kennedy) para, segundo as teorias, ocultar os reais mandantes do assassinato. Jack Ruby, seu assassino, morreu em 3 de janeiro de 1967 de câncer nos pulmões.






Manson e seus acólitos: "- Tudo o que o mestre
mandar...."
*** Charles Miles Manson: foi o líder de uma seita, a “Família Manson”, que atuava na California e cometeu uma série de assassinatos entre julho e agosto de 1969, destacando-se o da atriz Sharon Tate, na época a esposa grávida do diretor Roman Polanski. Este episódio foi reescrito por Quentin Tarantino no seu filme Era Uma Vez... em Hollywood! (2019).






O longo braço tecnológico do "Complexo Industrial-Militar"...
*** Majestic 12: Este seria o nome código de um comitê que englobaria cientistas de alto nível, líderes militares e altos funcionários do governo norte-americano, criado em 1947 (após a queda de um O.V.N.I. em Roswell, Novo México) e chefiado pelo presidente americano Harry S. Truman. Este comitê gerenciaria toda e qualquer informação sobre a presença alienígena na Terra, sendo, junto com a Área 51, um dos grandes mitos das teorias conspiratórias.



" Perdidos, talvez.. Descolados... Sempre!!!"




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