![]() |
Na infância, junto com sua irmã Barbara Mary. Desde cedo ele já tinha a "cara e olhar de Stanley Kubrick..." |
Perfeccionismo, originalidade e persistência à toda prova, aliados à um refinado senso estético, uma técnica meticulosa e profunda, além de infinita paciência, colocaram Stanley Kubrick (⭐ Manhattan, Nova York, 26 de julho de 1928 – ✝ St. Albans, Hertfordshire, 7 de março de 1999) no panteão dos mais influentes diretores da história do cinema, tendo sido também roteirista, produtor e fotógrafo. Foi autor de grandes clássicos do cinema, como Spartacus (1960), Lolita (1962), Dr. Fantástico (1964), 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), Barry Lyndon (1975), O Iluminado (1980), Nascido Para Matar (1987) De Olhos Bem Fechados (1999), entre outros.
![]() |
"Medo e Desejo" (1953) é raramente visto, sendo o primeiro filme de ficção de Kubrick, passado durante uma guerra indefinida |
O novaiorquino Stanley era o filho mais velho do casal de judeus, Jacob Leonard e Sadie Gertrude Kubrick. O pai de Kubrick tinha ascendência de judeus da Polônia, da Áustria e da Romênia. Já sua mãe era filha de imigrantes austríacos. Eles se casaram em 1927, quando Jacob se formou em medicina. Apesar de vir de uma família judia, Kubrick nunca professou a religião e se definia como ateu.
Estreou como cineasta realizando curta-metragens aos 22 anos. Seu primeiro trabalho na área, financiado por ele mesmo, foi Day of The Fight (1951), baseado num artigo da Look cobrindo um dia na vida do boxeador irlandês-americano Walter Cartier no auge de sua carreira, quando ele lutou contra Bobby James. Seguiu-se no mesmo ano The Flying Padre, que acompanha a rotina do Reverendo Fred Stadtmuller que pilota seu próprio avião, o Espírito de São José, para cuidar de 11 paróquias espalhadas por 6 mil km² do Novo México. Em 1953 ele digiriu The Seafarers, documentário institucional sobre os benefícios dos membros da organização Seafarers International Union.
![]() |
Jamie Smith em "A Morte Passou por Perto" (1956): Seu primeiro filme oficial |
![]() |
"O Grande Golpe" (1956): divisor de águas na filmografia de Kubrick |
Mas é a partir de O Grande Golpe (1956) que sua carreira começa a funcionar. A trama, estrelada por Sterling Hayden, versa sobre um plano de assalto e ganhou a atenção de alguns produtores. Alguns achavam sua sua montagem confusa, mas atualmente ele é considerado um dos melhores filme noir já feitos, sendo um das grandes influências de Quentin Tarantino, e tendo sido fonte de inspiração do prólogo de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) de Christopher Nolan.
![]() |
"Glória Feita de Sangue" (1957): Douglas e Kubrick tiveram uma boa química neste filme, que se tornou um clássico |
Apesar disso, teve dificuldades com a adaptação da novela Paths of Glory. O filme homônimo foi estrelado pelo astro Kirk Douglas. O ator o ajudou a levantar o projeto após ele ter sido rejeitado pelos estúdios. Kubrick fez um dos filmes antibélicos mais poderosos já vistos, focado não em heróis, mas sim em covardes. Apesar das excelentes críticas, Glória Feita de Sangue (1957) foi proibido em alguns países, incluindo a França, por mostrar a hipocrisia do alto-comando do exército que coloca a vida dos soldados e das pessoas comuns em segundo plano face aos seus interesses mesquinhos e politicagens. Nele vemos um julgamento fraudulento de soldados acusados de deserção para ocultar falhas graves do seu comandante, o que entra em choque com as convicções humanistas do oficial encarregado da defesa dos acusados (Douglas).
![]() |
"Spartacus" (1960): Kirk Douglas e Wood Strode num épico além das sandálias e espadas, que marcou gerações |
Kirk Douglas, que havia perdido o papel título de Ben-Hur (1959, de William Wyler) para Charlton Heston, havia prometido a si mesmo fazer um épico inesquecível. Como gostou de trabalhar com Kubrick, o chamou para dirigir o épico Spartacus (1960), baseado no livro de Howard Fast, com roteiro do caçado pelo Macartismo Dalton Trumbo. Kubrick foi chamado para o trabalho após a tensa demissão do veterano diretor Anthony Mann, que já havia filmado boa parte da produção. Com apenas 29 anos, ele acabou enfrentando vários problemas logísticos, fora a rivalidade de Laurence Olivier e Charles Laughton.
A boa relação com Douglas viria por água a baixo quando suas diferenças criativas se confrontaram. Kubrick perdeu a batalha e se viu obrigado a filmar sem poder colocar algumas de suas ideias em prática. ainda assim, o filme revolucionou o gênero por ser não um épico religioso-cristão, mas sim, um épico humanista, com soluções na montagem inspiradas nas idéias do lendário diretor russo Serguei Eisenstein. Mesmo com o sucesso do filme, ele decidiu que dali por diante só iria aceitar projetos em que pudesse ter total liberdade criativa. E foi com esse pensamento que Kubrick se muda para a Inglaterra em 1962.
![]() |
Sue Lyon em "Lolita" (1962): furor erótico numa produção sutil e elegante que sugere muitíssimo mais do que mostra |
No mesmo ano ele começa as filmagens de No mesmo ano ele começa as filmagens de Lolita (1962), clássico da literatura escrita pelo russo Vladimir Nabokov. A curiosidade sobre a adaptação da obra de Nabokov deu grande visibilidade ao filme, que, mesmo imerso em polêmicas (a relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente era a principal delas), se torna outro grande sucesso de crítica, com grandes interpretações de James Mason, Shelley Winters, Peter Sellers e a novata Sue Lyon. Kubrick mais tarde comentou que, se ele tivesse percebido como eram severas as limitações da censura da época, ele provavelmente nunca teria feito o filme.
![]() |
"Doutor Fantástico" (1964): a Sala de Guerra, criação de Ken Adam que é referência até hoje |
Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Doutor Fantástico (1964). Tendo como tema a ameaça nuclear, o filme é uma comédia de humor negro com atuações e roteiro primorosos.
![]() |
Cel. Mandrake (Peter Sellers) e o Gen. Ripper (Sterling Hayden): o temor e o bom senso de um e a loucura paranóica do outro... |
Para atuar, Kubrick chamou o comediante inglês Peter Sellers (que ficaria posteriormente imortalizado como o Inspetor Closeau da cinesérie A Pantera Cor-de-Rosa), que se desdobra em três papéis: Merkin Muffley, Presidente dos Estados Unidos (definido como um “Roosevelt fracassado”); o Coronel Lionel Mandrake, amigo do louco General Ripper (Sterling Hayden) que manda uma frota de bombardeiros B-52 Stratofortress atacarem a União Soviética; e o Doutor Fantástico (Strangelove no original) cientista louco e caricato, digno de gibis. Sellers já estava acostumados a proezas deste tipo - já havia interpretado mais de um papel num mesmo filme em O Rato Que Ruge (1959, de Jack Arnold). Dr. Fantástico também contou com as atuações de George C. Scott (que em 1970 se destacaria de vez em Patton, Rebelde ou Herói?, de Franklin J. Schaffner ), Slim Pickens e Keenan Wynn, entre outros.
![]() |
Doutor Fantástico (Sellers): encarnação de cientista louco, vilão bondiano e "n" figuras que o cinema e a cultura pop criaram |
Entre os vários momentos clássicos do filme, o final é um destaque, com um major cowboy T. J. “King” Kong (Pickens) montado sobre uma bomba atômica no ar prestes a cair sobre o seu alvo, resultando num cogumelo atômico. Esse trabalho rendeu a Kubrick sua primeira indicação ao Oscar de melhor diretor.
![]() |
Os "parças" Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick, responsáveis pela ficção científica das ficções científicas |
![]() |
"2001: Uma Odisséia no Espaço" (1968) permanece como marco na história do cinema e na evolução da tecnologia dos efeitos especiais |
Cinco anos de produção foram necessários para o desenvolvimento de seu filme seguinte - 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), para muitos a melhor ficção científica já filmada. O cultuado escritor de SciFi Arthur C. Clarke colaborou o roteiro (parcialmente baseado em dois contos seus: “O Sentinela” e “Encontro no Amanhecer”) enquanto ao mesmo tempo escrevia um romance homônio ao filme, com sua versão pessoal da história. O livro se tornou um clássico do gênero.
![]() |
Dirigindo Keir Dullea na sequência final de "2001" |
Com 2001 ele é novamente indicado a melhor diretor, mas vê o seu prêmio escapar mais uma vez. Logo após, chateado com o cancelamento do longa-metragem que pretendia fazer sobre Napoleão Bonaparte, ele segue para mais uma adaptação de um romance. Dessa vez o escolhido é Laranja Mecânica (1971), baseado no livro de Anthony Burgess focado na violência, principalmente, da juventude. O autor do romance não gostou do filme, pois o livro é uma crônica de costumes, enquanto o filme é uma ficção política.
![]() |
"Laranja Mecânica" (1971) Kubrick e Malcolm McDowell, que ficou indissociavelmente ligado a personagens "perigosos" |
Para estrelar o filme, Kubrick escolheu Malcolm McDowell. O diretor chegou a atrasar o início das filmagens porque McDowell estava comprometido com as filmagens de outro longa. Segundo Kubrick, não havia outro interprete à altura do personagem.
![]() |
Alex (McDowell) e seus "drugs" na "Leiteria Korova" bebendo leite aditivado e decidindo a vida. O set criado pelo "production design" John Barry, é um caso à parte |
Laranja Mecânica causou grande polêmica na época de seu lançamento e foi acusado de incitar a barbárie. Na história, em um futuro próximo quatro jovens de classe trabalhadora passam as noites cometendo as maiores atrocidades: brigar, roubar, estuprar são apenas algumas delas. A vida de um deles, Alex (McDowell no seu papel definitivo) toma um rumo diferente quando vai para a cadeia. Este é, disparado, o trabalho mais controverso do diretor, que lhe rendeu outra indicação ao Oscar e outra derrota.
![]() |
O "Experimento Ludovico", que condicionava à força indivíduos violentos a rejeitarem a violência, tolhendo o livre-arbítrio |
Proibido pela censura da ditadura militar brasileira na época do seu lançamento, o filme foi liberado em 1978 por ocasião da “abertura” do General João Figueiredo, causando risos na plateia pelas “bolas pretas” inseridas no filme nas regiões genitais dos atores nas cenas de nudez, inclusive em momentos que não aparecia qualquer genitália.
![]() |
"Barry Lyndon" (1975). Ryan O´Neal na melhor reconstituição de época do Séc. XVIII já feita até hoje |
![]() |
"Barry Lyndon": os salões iluminados à luz de velas, usando lentes hipersensíveis. A área de foco era bem estreita, forçando uma rígida marcação dos atores |
![]() |
Poucos filmes conseguiram captar a luz natural, bem como o espírito de uma época, com um senso de verosimilhança, como "Barry Lyndon" |
A fotografia do filme, dirigida por John Alcott - trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick - é outro momento inesquecível. Quando não estava em filmagens externas usando apenas a luz do sol, Kubrick utilizava luz de velas, filmando com uma lente Zeiss pertencente a um lote de dez fabricadas para os satélites fotográficos e as missões Apollo da NASA. Mesmo com todo o cuidado da produção, Barry Lyndon fracassou nos Estados Unidos, sendo considerado por parte da crítica ”estático, frio, vazio e anódino”. Mas fez relativo sucesso na Europa.
![]() |
As cenas de salão em especial, em "Barry
Lyndon" parecem quadros vivos, saídos das telas |
O filme, ao longo das
suas três horas de duração, mantém uma coerência onírica,
concretizando-se como história, espetáculo, reconstrução histórica e
alegoria psicológica da visão de mundo do homem ocidental do século
XVIII. Levou quatro estatuetas douradas: Melhor Direção de Arte (Ken
Adam, Vernon Dixon, Roy Walker), Melhor Fotografia (John Alcott), Melhor
Figurino (Milena Canonero e Ulla-Britt Söderlund) e Melhor Trilha
Sonora (Leonard Rosenman) mas, de novo, o admirável trabalho de Stanley
como diretor não foi reconhecido pela maioria votante. Barry Lyndon faz parte da lista dos 100 melhores filmes da revista “Time”.
![]() |
"O Iluminado" (1980). Jack Torrance (Jack Nicholson) e as consequências do isolamento num ambiente obssessor... |
Kubrick voltaria a ter um sucesso mundial com o clássico O Iluminado (1980), adaptação da obra de Stephen King. Ele narra a história de Jack Torrance (Jack Nicholson, no papel que definiu sua vitoriosa carreira no cinema), um escritor e alcoólatra em recuperação que vai trabalhar como zelador no Hotel Overlook. durante o período do ano em que este fica vazio devido ao inverno. Jack é casado com Wendy (Shelley Duvall), e o filho do casal, Danny (Dan Lloyd) - um menino que tem a habilidade de ver o passado e o futuro, além dos fantasmas que habitam o hotel. Logo que chegam ao local, a família acaba presa por uma grande tempestade de neve e as presenças sobrenaturais no prédio começam a influenciar negativamente Jack.
![]() |
O Hotel Overlook: O labirinto, os hipnóticos padrões geométricos da tapeçaria e os "hóspedes" do hotel que só Jack vê |
Por causa do fracasso financeiro de Barry Lyndon, o diretor percebeu que precisava fazer um filme comercialmente viável. Posteriormente King disse que Kubrick - que havia sido cotado para dirigir O Exorcista (1974, de William Friedkin) - tinha sua equipe pessoal para trazer-lhe pilhas de livros de terror, que ele leu até encontrar um cuja história prendesse a sua atenção.
![]() |
Wendy (Shelley Duvall): Esposa e mãe em apuros |
King odiou o filme, a interpretação de Nicholson e a falta de fidelidade à sua história. Ele havia escrito um conto de terror e Kubrick deixou de lado os monstros e focou num tratado sobre a loucura, dando a narrativa um caráter mais realista e crível, além de conseguir com sua criativa condução um longa-metragem de suspense inigualável.
![]() |
"O Iluminado" é homenageado numa sequência de "Jogador N° 1" passada dentro do Hotel Overlook, revisitando icônicos personagens |
Destacando-se o uso inovador do Steady Cam (um equipamento onde é acoplada a câmera para evitar a trepidação), com o qual ele fez uma das cenas mais antológicas do filme, quando Danny anda no triciclo e a câmera desce ao nível do garoto e segue a sua caminhada pelos enormes corredores do hotel até parar em frente ao temido quarto 237.
Hoje em dia ele é considerado por muitos como o melhor e mais horripilante filme de suspense de todos os tempos, mas na época esse filme deu para Kubrick uma indicação ao Framboesa de Ouro de pior direção (nada como um dia após outro...). Uma prova da permanência do filme no imaginário pop é a sequência virtual do Hotel Overlook em Jogador N° 1 (2018, de Steven Spielberg), onde os protagonistas interagem numa recriação do cenário do filme.
![]() |
Como primeira fase da padronização dos recrutas, temos o corte dos cabelos, despersonalizando-os e facilitando a doutrinação |
Quase no final dos anos 1980, Kubrick ressurgiria dando ênfase a guerra. Dessa vez a do Vietnã. Saída do livro de Gustav Hasford, Nascido Para Matar (1987), é quase que uma versão "kubrickiana" de " de Apocalypse Now (1979, de Francis Ford Coppola).
O filme denota uma das marcas mais características desse diretor: o tema da desumanização. Aqui, ela é vista nos fuzileiros navais americanos, que enlouquecem no rígido treinamento físico que recebem e também no campo de batalha.
O filme é praticamente dividido em duas partes: a preparação para a guerra e o ambiente de combate. Nele, chama muita atenção o duríssimo treinamento exigido dos fuzileiros navais, sob constante humilhação verbal vinda de seus superiores. O personagem que melhor sintetiza este doutrinamento é o nada gentil sargento Hartmann ( R. Lee Ermey, que foi um fuzileiro na vida real, inspirando-se em seus tempos como militar para sua atuação). Outro fator de importância é o uso do humor negro, particularmente com os frequentes deslizes do soldado Lawrence “Gomer Pyle” (Vincent D´Onfrio, arrasador, muito antes de suas destacadas participações nos seriados Law & Order: Criminal Intent e Demolidor), a verborragia do sargento Hartmann e com os comentários politicamente incorretos do soldado Animal Mother (Adam Baldwin) quando em ação no Vietnã.
![]() |
As filmagens no Vietnan de Londres... |
Na segunda parte do filme, vemos o soldado Joker (Matthew Modine) já no Vietnam, trabalhando para o jornal do exército americano Stars and Stripes. Ele tenta escrever suas matérias, durante a Ofensiva do Tet, retratando a realidade como ela é para seus leitores: uma rotina stressante de combates, a obediência dos soldados a uma hierarquia não muito segura das razões de se estar ali e a alienação de não se sentir bem-vindo por ser, apesar da propaganda, um soldado de um exército de ocupação num país invadido.

![]() |
Ao final, o pelotão canta uma paródia do tema do "Clube do Mickey" num final impactante |
Kubrick disse que ficou frustrado com o fato de que, antes da estreia do filme, dois outros longas sobre o tema já tinham sido lançados em datas próximas com sucesso: Os Gritos do Silêncio (1984) de Roland Joffé e Platoon (1986) de Oliver Stone). Ainda como destaque da produção está o imenso set erguido em Londres para a batalha final, obra do Production Designer Anton Furst, que criaria anos depois a Gothan City de de Batman (1989) de Tim Burton.
![]() |
Tom Cruise e Nicole Kidman em "De Olhos Bem Fechados" (1999): casal na tela e na vida na época |
Um último fator de destaque foi o simbólico uso das duas últimas canções ouvidas no filme, de motivações completamente distintas. O filme termina com os fuzileiros cantando uma animada música parodiando o tema do programa de TV Clube do Mickey Mouse, mas logo em seguida, durante os créditos finais, é possível ouvir a sombria "Paint It Black", dos Rolling Stones.
![]() |
A Manhatan cenográfica de Londres é extremamente convincente |
De Nascido Para Matar até De Olhos Bem Fechados (1999), o último longa-metragem que ele dirigiu, passou-se um longo período sem nada nas telas assinado por Kubrick. Lançado em 1999, o filme protagonizado pelo (até então) casal número um do cinema norte-americano, causou uma grande comoção entre os amantes da sétima arte.
![]() |
As crises do jovem casal burguês englobam fetiches, segredos, perda do desejo, etc... |
Kubrick sempre se interessou pela possibilidade de fazer um filme estudando relações sexuais. Decidiu adaptar o romance Traumnovelle, escrito por Arthur Schnitzler, usando como protagonistas o então casal na vida real Tom Cruise e Nicole Kidman. Eles interpretam um casal endinheirado em crise, onde ele está com ciúmes por revelações do passado dela, e há a diminuição do desejo entre os dois e tentações através de ofertas sexuais surgem para ele. O filme apresenta uma sociedade secreta formada por membros da alta sociedade que promovem orgias privê em mansões, onde ele entra como intruso e, depois de desmascarado, passa a se sentir espionado, criando uma sensação de perigo iminente - seja real, seja psicológico -, num longa-metragem de clima ambíguo que, ora parece um filme de suspense, ora uma crônica de costumes sobre uma elite sem perspectivas maiores em suas vidas.
![]() |
"Festa estranha com gente esquisita": Não é um filme baseado num livro de Dan Brown |
Dois anos foi o período de filmagem - tempo que o perfeccionismo de Kubrick achou necessário para a conclusão do filme, mas que não foi o suficiente para garantir a satisfação da crítica e do público. As filmagens começaram em novembro de 1996. Como Kubrick estava baseado na Inglaterra desde a década de 1970 e possuía medo de avião, a produção foi totalmente filmada no Reino Unido, com uma reconstrução de Nova York sendo criada nos Estúdios Pinewood em Londres. Após terminar as filmagens, o filme entrou em um longo processo de pós-produção e, em 2 de Março de 1999, foi finalmente apresentado seu corte final para os executivos da Warner. Cinco dias depois o cineasta morreu enquanto dormia, devido a um ataque cardíaco, não testemunhando a fria recepção que seu último trabalho obteve.
![]() |
Intervalo das filmagens. O casal de estrelas e Kubrick se deram bem, apesar do perfeccionismo do diretor |
O último projeto cinematográfico em que esteve envolvido, mas que por questões de saúde não dirigiu, foi A.I.: Inteligência Artificial (2001, de Steven Spielberg), um projeto que ele tencionava filmar, mas afirmava que o amigo Spielberg era a melhor opção para dirigi-lo. Ele brincava afirmando que “o seu perfeccionismo faria com que iniciasse as filmagens com o protagonista aos 8 anos e terminaria com ele em idade de tirar a carteira de motorista...” Nada como ser capaz de rir de si mesmo.
0 comentários:
Postar um comentário