terça-feira, 1 de agosto de 2023

Mais de meio século de macacadas!!! - Recordando: O Planeta dos Macacos - 1ᵃ parte

 


"O único humano bom..."

por Alexandre César
(Originalmente postado em 02/ 08/ 2018)


Uma das maiores franquias do Sci-Fi e da cultura pop

 

 #PlanetaDosMacacos55Anos

 

O livro, que nem o autor achava que teria tanto impacto


Lançado em 2 de agosto de 1968, há mais de meio século, o filme O Planeta dos Macacos, de Franklin J. Schaffner, foi o pontapé inicial de uma das mais longevas franquias da ficção científica e do cinema, dando origem a uma série de mais quatro filmes além de quadrinhos, brinquedos, duas séries de TV (uma live-action e uma animada). Seu impacto foi tal que indiretamente ajudou, anos depois, que um cineasta pouco conhecido tivesse a chance de lançar a sua saga ambientada numa “galáxia muito, muito distante” e criar o seu próprio império corporativo (mas isso é uma outra história).

 

George Taylor (Charlton Heston): Herói cínico, individualista e desiludido


Baseado no livro de Pierre Boulle (também conhecido por outro romance: A Ponte do Rio Kwai, filmado por David Lean em 1956), La Planète des Singes, de 1963, teve seus direitos adquiridos pelo produtor cinematográfico Arthur P. Jacobs, que viu o potencial da história, coisa que nem Boule acreditava.

 

A espaçonave Icarus: segundo o designer William J. Creber, "um mix de Flash Gordon com NASA" (aqui, "ANSA")

 

Inicialmente tendo a mão um roteiro de Rod Serling (da série Além da Imaginação), para um filme de ficção científica bem sério, Jacobs batalhou para conseguir financiamento sem muito sucesso, até encontrar um nome de peso que aceitasse participar da empreitada: Charlton Heston. Ele tomou para si a tarefa de convencer os executivos da 20th Century Fox da viabilidade do roteiro, arcando do próprio bolso os custos do desenvolvimento dos processos de maquiagem (algo em torno de 100.000 dólares!!!) até provar ser possível criar macacos aceitáveis para a audiência. O processo, criado por John Chambers, inicialmente levava cerca de 6 a 8 horas para transformar um ser humano em macaco, fora as 2 horas de remoção da maquiagem. Esse longo tempo diário para preparação e remoção de maquiagem, além de um figurino pesado e muito quente, levou o veterano Edward G. Robinson (que faria o papel do Dr. Zaius) a abandonar o projeto. Ao final, os atores Kim Hunter (Dr. Zira) e Roddy McDowall (Cornelius), juntamente com Maurice Evans (Dr. Zaius) e a bela Linda Harrison (Nova), ficaram com os papéis que os eternizaram.

 


Os astronautas Dodge (Jeff Burton), Taylor e Landon (Robert Gunner) não imaginam o que os aguarda

 

O segundo desafio foi a criação do mundo do macacos, que no livro possuem uma civilização super avançada, vivendo em megalópoles e usando veículos aéreos. Ser fiel a obra original obrigaria as equipes a filmar de madrugada e pela manhã em grandes cidades, isolando grandes áreas para afastar curiosos, entre outras dificuldades. Chegou a se especular a possibilidade de filmar em alguma cidade de outro país que tivesse locações com arquitetura bem futurista, como... Brasília!

O designer de produção William J. Creber, o diretor de arte Jack Martim Smith e o próprio Jacobs decidiram optar por uma civilização mais antiquada, mais barata de fazer. Criaram a Cidade dos Macacos (chamada de Century City): com edificações que são um misto de caverna e construção medieval com um toque de expressionismo alemão em seus ângulos não muito simétricos. As casas foram construídas em fibra de vidro, madeira, gesso, arame e materiais básicos de construção cenográfica no terreno da Fox em Burbank, chamado de Fox Ranch. Até porque, para reforçar o impacto da cena final, se deveria fugir de qualquer sugestão de que aquele planeta era na verdade a Terra (SPOILER!!!) e aquela ambientação facilitava isso por seu aspecto alienígena.

 

A Cidade dos Macacos: Versão mais barata e impactante

 

Outro ponto importante foi a mudança no direcionamento do roteiro com a entrada de Michael Wilson, que acentuou os elementos de crítica e sátira social, tocando em temas como: perseguição e repressão política, fanatismo religioso, preconceito, corrida armamentista etc. O que faz com que achemos graça, revolta ou nojo do comportamento dos macacos é justamente o fato de vermos em seus atos e características um reflexo de nós humanos, enquanto sociedade. 

 

O Planeta dos Macacos (1968, de Franklin J. Schaffner)

 

Taylor para Lucius (Lou Wagner), o sobrinho de Zira: "Não confie em ninguém com mais de trinta anos!"


Eis o resumo da história: George Taylor (Heston), um astronauta americano, viaja por séculos com outros tripulantes em estado de hibernação á bordo da Icarus, nave exploratória que tinha o objetivo de alcançar o sistema estelar de Alpha Centauri. Quando a nave cai num planeta, no ano de 3978, acordando os tripulantes, eles se vêem em um mundo onde os símios são a espécie dominante e os humanos são incapazes de falar, sendo caçados como animais. Taylor faz amizade com dois chimpanzés cientistas Zira (Kim Hunter) e Cornélius (Roddy McDowall) e é perseguido pelo temível Dr. Zaius (Maurice Evans), Ministro da Ciência e Defensor da Fé. Durante o filme, Zira lhe dá de presente uma mulher - Nova (Linda Harrison, estonteante). Após algum tempo, Taylor foge, é capturado, julgado e posteriormente foge novamente ao lado de Nova. Desta vez eles rumam para uma zona proibida, onde nem os macacos podiam entrar. Ao final, Taylor descobre o terrível segredo que ronda o planeta.

A sua cena final é considerada uma das mais impactantes da história do cinema, tendo sido citada e parodiada por vários programas (como aqui no Brasil, num episódio da série Armação Ilimitada, da Rede Globo). 

 

Um dos finais mais icônicos da história do cinema


O filme faturou nas bilheterias americanas US$ 32.589.624,00, tendo um orçamento de produção de apenas US$ 5,8 milhões. Foi indicado aos Oscars de Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora Original (Jerry Goldsmith, inspiradíssimo). Chambers ganhou um prêmio especial da Academia pelo seu revolucionário trabalho de maquiagem. Um sucesso estrondoso de público e crítica.

Com o sucesso, as continuações foram inevitáveis. A Com o sucesso, as continuações foram inevitáveis. A 20th Century Fox, sempre que tinha um ano fiscal ruim, resolvia fazer um filme da franquia para equilibrar o caixa - uma aposta em um resultado certo e barato. Assim, vieram mais filmes. Com uma exceção todos eles não chegavam aos pés do original, mas mas ainda sim solidificaram a mitologia deste universo narrativo, lhe acrescentando elementos hoje icônicos. São eles:

 

De Volta ao Planeta dos Macacos (1970, de Ted Post)


"De Volta Ao Planeta dos Macacos" (1970) : Início da série


 

Neste o diretor Ted Post faz o que pode para tentar aumentar a escala em relação ao original, que tinha um orçamento maior. Como Charlton Heston não estava muito disposto a fazer uma continuação (só trabalhou duas semanas de filmagem e impôs a morte de Taylor e a destruição total no final), a solução foi mostrá-lo apenas no início e no quarto final do filme, deixando o protagonismo do filme para uma versão genérica sua: Brent (James Franciscus), um outro astronauta que seguiu a mesma rota da Icarus, avançando no tempo e no espaço até 3955 D.C. (um furo de roteiro, pois no filme original, eles foram para o ano de 3978), espatifando sua nave no mundo que conhecemos no primeiro filme. 

 

Brent (James Franciscus): um "Taylor"genérico, ajudado por Cornelius (David Watson) e Zira (Kim Hunter)


 

Ele encontra Nova (Linda Harrison), a companheira de Taylor, vagando com a plaqueta de identificação dele. Ela o leva a Cidade dos Macacos, onde o General Ursus (James Gregory) um gorila belicista (“O único humano bom é o humano morto!!!”) que incita o conselho dos macacos a uma cruzada para exterminar os humanos da Zona Proibida. O personagem de Franciscus, talvez por não saber que está na Terra, não se choca muito com a ideia de macacos dominantes e humanos animalizados, diluindo o impacto do choque cultural. 

 

Gen. Ursus (James Gregory): Gorila linha-dura. Um dos mais inesquecíveis personagens da franquia


Como os cenários da cidade dos macacos já existiam, era só filmá-los de forma que parecessem mais amplos. O desafio foi o aumento da população de macacos da figuração, colocando-os em planos mais afastados das câmeras usando simples máscaras ou uma maquiagem mais simples e barata. Funcionava, desde que você prestasse mais atenção nos macacos em primeiro plano, com a caracterização melhor. Se na TV você pode perceber esse detalhe, imagine na tela maior do cinema...

 

A "Catedral da Bomba": Reaproveitando cenários de "Hello Dolly!"


 

Ajudado por Zira (Kim Hunter) e Cornelius (David Watson, substituindo Roddy McDowall que não estava disponível fazendo o seu debut como diretor na Inglaterra), Brent vai com Nova para a Zona Proibida, e gradativamente percebe que aquele lugar era os escombros de Nova York. O Doutor Zaius (Maurice Evans) resolve acompanhar Ursus em seu ataque a Zona Proibida, enquanto Brent, explorando as ruínas, descobre uma raça de mutantes que se comunica telepaticamente e que adora uma bomba atômica que é capaz de destruir a Terra inteira. 

 

A Zona Proibida: As ruínas de Nova York


Para baratear os custos, alguns dos cenários do filme Para baratear os custos, alguns dos cenários do filme Hello Dolly! (1969, de Gene Kelly), também produzido por Arthur P. Jacobs, foram disfarçados e reciclados para compor a “Catedral da Bomba”. Brent encontra Taylor e, após vencerem um dos mutantes que tentou induzi-los à lutaram até a morte, tentam fugir justo quando os macacos de Zaius e Ursus chegam ao local. Estes, devido a suas mentes brutas, são menos vulneráveis à influência telepática dos mutantes.

Ao final, depois do exército símio exterminar os mutantes e matar Nova e Brent, Taylor é mortalmente ferido e aciona a bomba, que acaba com todo o planeta. 

 

Dr. Zaius (Maurice Evans) e os gorilas: "Vamos quebrar tudo!"


Originalmente o roteiro teria um final mais otimista com a paz sendo feita entre as espécies. Inclusive apareceria na cena final uma criança híbrida de humano com macaco, mas a maquiagem foi considerada assustadora. E Heston não queria correr o risco de voltar a trabalhar em mais uma continuação. Ele fez pé firme para que tudo terminasse no final desse filme de forma radical. e com isso temos esta antológica narrativa final feita por uma narrador impessoal:

"Entre as incontáveis bilhões de galáxias no universo se encontra uma estrela de tamanho médio. E entre os seus satélites, um pequeno, verde e insignificante planeta, que agora está morto.”

 

Teste de maquiagem recusado da criança híbrida humano-macaco


Apesar da direção pouco inspirada e de uma história com pouca inovação (o roteiro praticamente reconta a história do primeiro filme a maior parte do tempo), o filme com um orçamento de apenas US$ 3 milhões, teve nas bilheterias Americanas um faturamento de US$ 18.999.718,00. Ou seja, pouco mais de seis vezes o investimento. Uma bem sucedida continuação pedia mais um filme. Mas... a Terra foi destruída. E agora?


Fuga do Planeta dos Macacos (1971, de Don Taylor)

 

Cornelius (McDowall de volta), Zira (Hunter) e Milo (Sal Mineo). Nunca subestime o desejo de querer dar prosseguimento a uma franquia!


Surpreendentemente, ao apelar para a viagem no tempo e na inversão do choque cultural, este consegue ser o segundo melhor filme da série, com pouca distância da qualidade do original. Roddy McDowall, que volta a interpretar Cornelius, e Kim Hunter, novamente como Zira, carregam o filme nas costas, invertendo as posições herói-vilão brilhantemente. Aqui, o casal de cientistas símios e o Dr. Milo (Sal Mineo), que havia recuperado a Icarus e aprendido como ela funcionava (moleza não?) conseguem retornar no tempo e chegam no século XX, em Los Angeles. 

 

Dr. Lewis Dixon (Bradford Dilman) e a Dra. Stephanie Branton (Natalie Trundy): Únicos aliados dos macacos no "admirável mundo novo" humano


 

Aqui a suspensão da descrença é necessária para o caminhar da história, pois para um membro de uma cultura tecnologicamente primitiva como a símia recuperar e reparar uma nave espacial e conseguir colocá-la para voar é uma senhora forçação de barra. ainda mais com ela sendo catapultada no tempo pela explosão termonuclear do final do filme anterior e retornar ao século XX... Bom, continuemos o filme.

 

Cornelius e Zira: De celebridades a inimigos públicos pela opinião da mídia e do status quo


 

Milo morre acidentalmente. Zira e Cornelius são estudados por dois cientistas, o Dr. Lewis Dixon (Bradford Dillman) e Dra. Stephanie Branton (Natalie Trundy). Quando os símios revelam sua habilidade para falar, primeiramente são tratados como curiosidade. Com o tempo acabam alcançando status de celebridades, mas depois são taxados como uma grande ameaça. Ao descobrir a possibilidade de que, no futuro, a Terra seja dominada por macacos e que Zira estava grávida, o Dr. Otto Hasslein (Eric Braeden) convence o governo de que aquele casal de chimpanzés devem ser sacrificados.

A forma como se mostra o circo da mídia acolhe o casal para, em seguida, condená-los é uma perfeita crítica à hipocrisia social e a gradativa opressão ao diferente, com prisão, interrogatório e condenação. O filme mostra que a mudança da democracia para o fascismo pode ser apenas uma questão de conveniência do quadro político dominante. 

 

Dr. Otto Hasslein (Eric Braeden). Perigo real e imediato


 

Ajudados por Lewis e Branton, o casal foge, sendo acolhidos pelo bondoso Armando (Ricardo Montalbám) dono de um circo que ama os animais. Este lhes orienta sobre o caminho a seguir. Escondendo-se num cemitério de navios, eles acabam sendo encurralados por Hasslein, que atira em Zira e no bebê. Cornelius mata o algoz, sendo depois fuzilado pela polícia. Zira, agonizante, joga o seu bebê no mar e se abraça a Cornelius, morrendo em seguida. 

 

Armando (Ricardo Montalbán): O gentil dono de circo que ajuda a "Maria" e o "José" símios na sua fuga com seu "messias"


Armando desmonta o circo levando um bebê chimpanzé nascido dias antes. Este, na verdade, é o bebê de Zira que ela trocou antes que fugisse com seu marido. O paralelo que se faz da fuga de Zira e Cornélius com o bêbê símio e a fuga de Maria, José e Jesus é nítida, ainda mais enfatizada pela atitude de Armando, que aceita com naturalidade a possibilidade de o homem ser sobrepujado pelo macaco como vontade divina, dando ao recém-nascido um colar com uma medalha de São Francisco. E a atitude fria e cruel de Hasslein só nos faz torcer pelos simpáticos chimpanzés. Não fosse o talento dos atores o filme não se sustentaria e não teria sido o sucesso que foi nas bilheterias americanas: US$ 12.348.905,00, contra um orçamento de US$ 2,5 milhões (mais de cinco vezes capital o investido), ampliando o fôlego para a franquia.

 

A Conquista do Planeta dos Macacos (1972, de J. Lee Thompson)

 

O Complexo Urbanístico de Century City, recém- inaugurado serviu de locação futurista


Foi o filme mais barato da série e o terceiro de Roddy McDowall (aqui interpretando César, o filho de Zira e Cornelius) e de Natalie Trundy, esposa do produtor Arthur P. Jacobs. Ela foi uma mutante em De Volta ao Planeta dos Macacos e a Dra. Branton em Fuga do Planeta dos Macacos. Aqui ela interpreta Lisa, uma chimpanzé.

A história se passa dezoito anos após a morte de Zira e Cornelius, quando após uma praga ter exterminado os cães e os gatos da face da Terra, os macacos se tornam animais de estimação. Criado no circo de Armando, que o protege como um pai, César vê os humanos tratando cruelmente os macacos como escravos, revoltando-o. 

 

América de 1991: Um estado fascista com humanos, com modelitos dignos da SS, escravizando e torturando os símios


Aqui um dado interessante é a menção de que os humanos estavam aperfeiçoando geneticamente os macacos para um uso mais eficiente, numa curiosa relação com os atuais filmes criados após a retomada da franquia. 

 

"Viagem ao Fundo do Mar" (1964-68): figurinos dos macacos eram feitos na mesma alfaiataria da equipe do Almirante Nelson


 

Para baratear os custos e dar um ar futurista ao filme, foi usado como locação um complexo urbanístico em Century City, recém-inaugurado e de aspecto clean e high tech. Da mesma forma que é vista em De Volta Ao Planeta dos Macacos, usaram um mesmo esquema de maquiagem boa para os macacos de primeiro plano e mais simples para os que aparecem em segundo, além de simples máscaras para os figurantes de fundo. Ao se prestar atenção, vemos que todos os macacos usavam como traje os macacões azuis e vermelhos dos tripulantes do submarino Seaview do seriado de Irwin Allen Viagem ao Fundo do Mar.

 

Armando (Ricardo Montalbán): auto sacrifício para proteger o seu amigo César (Roddy McDowall)


 

Após se perder de Armando, que se suicida num interrogatório para não entregá-lo, César se mistura a outros símios. Ao ser leiloado para o cruel governador Breck (Don Murray), ele finge ser mascote dócil e vai organizando os macacos para a revolta. A medida que os preparativos avançam, fecha-se o cerco em torno de César, que é descoberto, capturado e torturado. Ele só escapa da morte pela intervenção de MacDonald (Hari Rhodes), o piedoso secretário do governador. Ele lidera a rebelião dos macacos contra os humanos, vencendo-os após um sangrento confronto. Com a cidade em chamas, César faz um discurso digno de Spartacus (1960, de Stanley Kubrick) e assume sua posição como primeiro líder do nascente Planeta dos Macacos.

 

César e o exército de macacos escravos de estimação: Começa a revolução!!!


 

Destaque as cenas de tortura dos macacos e os soldados do exército dos humanos trajados de preto numa referência visual a Schutzstaffel, a organização paramilitar da Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial, mais conhecida pela sua abreviatura: SS. Nas sequências de batalha foram usados enquadramentos com câmara na mão, similares aos usados pelos telejornais na cobertura dos conflitos de rua  da época, entre manifestantes e forças governamentais, como a polícia ou o exército. 

 

MacDonald (Hari Rhodes): Um dos poucos poupados da ira símia por sua piedade para com os oprimidos


Mesmo tendo sido o filme de menor orçamento da franquia (US$ 1,7 milhão, o que influiu na qualidade de alguns efeitos visuais da cena final), ele faturou nas bilheterias americanas US$ 9.043.472,00 - mais de cinco vezes o capital investido. O que fez com que a 20th Century Fox voltasse a garimpar mais uma vez nesta mina de ouro. 

 

A Batalha do Planeta dos Macacos (1973, de J. Lee Thompson)

O cartaz prometia, mas no final...


O quinto filme foi a conclusão da série cinematográfica da franquia, que já mostrava sinais evidentes de esgotamento. A Fox insistira num filme menos sombrio, mais família. O roteirista Paul Dehn e o diretor J. Lee Thompson dessa vez não conseguiram resistir à pressão do estúdio, resultando no filme mais fraco da série.

Com a participação especial (no início e no fim do filme) de John Huston como o legislador que narra os fatos anteriores. Através dele, sabemos que uma guerra nuclear que devastou as principais cidades do mundo e que César (Roddy McDowall), após derrotar os humanos opressores doze anos atrás, constituiu uma sociedade rural pacífica com macacos e alguns humanos sobreviventes. Incrivelmente, neste curto período, os macacos aprenderam a falar com uma desenvoltura formidável (vai ver a tal manipulação genética mencionada no filme anterior foi maior do que se pensava...).

 

MacDonald (Alvin Stoker) e César (Roddy McDowall): Tentando criar uma civilização mais inclusiva e harmônica


César precisava agora manter a paz entre homens e macacos, coisa que o general Aldo (Claude Atkins de Pânico e Morte na Cidade), um gorila, não concorda. César quer que os macacos aprendam a ler escrever, elaborar leis e criar uma civilização de fato, enquanto Aldo quer apenas aprender a montar à cavalo, à atirar e guerrear. Essa diferença de visões de mundo levará a um inevitável confronto e uma guerra civil entre os macacos.

 

Aldo (Claude Akins): Honrando a tradição dos gorilas de serem brutos, cruéis e belicistas


Indeciso quanto a que rumo tomar, apesar de acreditar na coexistência e cooperação entre as espécies, César organiza uma expedição com MacDonald (Austin Stoker) e o sábio orangotango Virgil (O músico Paul Williams) a uma cidade em ruínas à procura de gravações de seus pais falando sobre o porvir. Com isso ele almeja obter maiores dados sobre o que está por vir e descobrir se afinal é possível ou não mudar o futuro.

Lá eles acham fitas com gravações reveladoras e descobrem humanos mutantes sobreviventes do cataclismo, cujo líder é Kolp (Severn Darden), um desequilibrado e rancoroso que persegue o grupo. Os mutantes descobrem a cidade dos macacos e como entrar nela. A partir daí eles elaboram um plano para derrotá-los e assim começar a tomar o controle do planeta.

Após perder uma primeira batalha, o exército de Kolp reúne as suas forças e entra na cidade dos macacos, destruindo o que podem até encarar as forças combinadas dos macacos e de alguns humanos daquela civilização emergente.

 

Kolp (Severn Darden): Mutante tão cabeça-dura quanto um gorila


Após a batalha sangrenta, eliminando os mutantes, ocorre o acerto de contas entre César e Aldo, que violou a lei sagrada “símio não matará símio”. César liberta os humanos para que trabalhem lado a lado e criem uma sociedade igualitária. Sabemos que ele alcança seu intento no final, quando o legislador termina a narrativa para crianças humanas e símias dizendo que naquele momento, 600 anos desde a morte de César, tanto homens quanto macacos são unidos como irmãos.

 

O Legislador (John Huston): Narrador da história de César para a platéia de crianças humanas e símias.


O final positivo, rompendo com a linha temporal do filme original gera um paradoxo, que rendeu muita conversa nerd ao longo dos anos. Mas, de qualquer forma, este filme encerra a franquia original, e de forma fraca, pois a “batalha” do título se resume a umas poucas trocas de tiros. Ainda assim, com um orçamento de US$ 1,8 milhão, o filme rendeu nas bilheterias americanas US$ 8,8 milhões e foi indicado como Melhor Filme de Ficção Científica pela Academy of Science Fiction, Fantasty & Horror Films daquele ano.

Foi o último filme produzido por Arthur P. Jacobs, pois morreu naquele mesmo ano. Sua viúva, Natalie Trundy, vendeu os direitos da franquia à 20th Century Fox que, desde então, se tornou a única dona da franquia. Para não deixar a peteca cair, no ano seguinte lançou um novo projeto. 

 

Planeta dos Macacos - A Série (1974)

 

A abertura tinha cenas impactantes, ao som da trilha inspirada de Lalo Schfrim


O seriado baseado na franquia cinematográfica teve curta duração (14 episódios) e foi exibida nas noites de sexta-feira pela rede de TV. O seriado baseado na franquia cinematográfica teve curta duração (14 episódios) e foi exibida nas noites de sexta-feira pela rede de TV CBS. O dia e o horário de exibição já não era um bom presságio. Conhecido como “sexta-feira da morte”, os seriados transferidos para esse horário costumam ser cancelados (vide a Star Trek clássica em seu 3˚ ano...). Muitos inclusive sequer chegam a completar a temporada programada.

 

Burke (James Naughton), Galem (Roddy McDowall) e Virdon (Ron Harper): Os heróis da vez


Roddy McDowall retornava para seu último papel símio na franquia, interpretando Galem, um jovem chimpanzé que originalmente era assistente do Dr. Zaius (Booth Colman). A série acompanha os astronautas sobreviventes de uma nave naufragada que rumava para Alpha Centauri, até ela encontrar uma dobra temporal que desviou-a de seu destino. Os produtores reaproveitaram a Icarus, bem como a maior parte dos cenários e figurinos do filme original ao longo da série. Os dois astronautas sobreviventes são: o Col. Alan Virdon (Ron Harper) e o Maj. Peter J.Burke (James Naughton), que são capturados pelos gorilas do General Urko (Mark Lenard, o Sarek, pai de Spock na Star Trek original fora outros papéis alienígenas na franquia) que, junto com o Dr. Zaius, destroem a nave e planejam matá-los.

 

Gen. Urko (Mark Lenard) e Dr. Zaius (Booth Colman): Os músculos e o cérebro do Estado


Ao salvá-los de uma emboscada, Galem mata um dos gorilas, passando a ser um pária, além de acusado de heresia por questionar a história oficial. Ele é condenado à morte, sendo caçado junto com os astronautas. Os três fogem juntos, indo de vilarejo em vilarejo, com a guarda gorila em seu encalço, em aventuras de tom mediano e pouco empolgantes que remetem a seriados do farwest, pelos cenários, pelas temáticas e pela caracterização dos personagens.

 

Em um episódio encontraram um centro tecnológico, cheio de computadores utilizados nas séries de Irwin Allen


Um diferencial da série em relação ao filme original é que, nesta, os humanos falam e são basicamente “cidadãos de terceira classe”. São oprimidos pelos macacos, mas tem suas propriedades miseráveis de onde tiram o sustento da terra, tal qual os camponeses mexicanos dos filmes e seriados do Zorro. Também seguindo um caminho diverso dos filmes, os astronautas logo sabem que estão no futuro da Terra e, a princípio, tentam buscar formas de retornar a sua própira época. Outro dado interessante é a presença do Dr. Zaius, que pode ou não ser o mesmo do filme original, pois no filme de 1968, durante o julgamento de Taylor, ele cita que certas declarações da defesa (realizada pelo Dr. Cornelius) não devem ser levadas em conta pois “corroboram os estudos de um chimpanzé degenerado chamado Galem, que pregavam heresias a respeito da origem divina do símio e do homem”. Outra fonte de muita discussão nerd. Mas afinal, é possível que, entre os símios, nomes como Zaius, Urko, Zira, Aldo e Galem pudessem ser tão comuns como o são João, Manuel, Carlos, Alzira e Maria para nós.

 

E de novo reaproveitaram a Icarus...


 

Fosse como fosse a série foi cancelada devido a sua baixa audiência decorrente de histórias fracas, pois a opção de diluir a violência dos roteiros para um tom mais “familiar“, diluiu o seu potencial. Outro problema foi seu alto custo de produção para a época em função da maquiagem e seu processo demorado de colocação e remoção. Inclusive McDowall tinha o direito garantido em seu contrato de, para cada dia de filmagem, tinha cerca de dois para descansar a sua pele, pois ele chegou a ter quistos sebáceos por causa da maquiagem. Foi exibido pela primeira vez no Brasil em 1975 nas noites de segunda-feira pela Rede Globo. Hoje se encontra em exibição na Rede Brasil de Televisão, curiosamente nas mesmas “sextas-feiras da morte”, que ajudaram no seu cancelamento nos EUA.

Na década de 80 a Na década de 80 a Fox remontou a série em cinco telefilmes, tendo um prólogo e um final com a participação de Roddy McDowall caracterizado como um Galem envelhecido que falava com o expectador, relembrando as suas experiências com Virdon e Burke. No final do último telefilme, Galem revelava que eles haviam encontrado um computador e recursos que lhes possibilitaram retornar ao espaço e seu tempo. Ele ficara por não achar sensato retornar a um tempo em que os macacos eram tratados como animais.

Na equipe da roteiristas da série estavam Joe Ruby e Ken Spears, que posteriormente criariam o Falcão Azul & o Bionicão, entre vários outros personagens para a , entre vários outros personagens para a Hanna-Barbera antes de criarem a sua própria empresa de animação (a Ruby-Spears Productions Inc.) onde produziriam alguns clássicos, como ) onde produziriam alguns clássicos, como Thundarr, o Bárbaro ; Bicudo, o Lobisomem e Homem-Borracha.

O cancelamento da série, porém, não esgotou o filão da Fox na década de 70. ainda havia um caminho a seguir: 

 

De Volta ao Planeta dos Macacos - A Série Animada (1975)

 

Jeff, Judy e Bill. Os tripulantes da Venturer. Um novo aproach


 

O último suspiro da franquia nos anos 70 foi produzido pela O último suspiro da franquia nos anos 70 foi produzido pela DePatie-Freleng. O criador foi Doug Wildey, criador também de , criador também de Jonny Quest, da Hanna-Barbera , recontextualizando a trama original de maneira independente dos filmes e da série anterior, mas reaproveitando vários conceitos.

Aqui, a Aqui, a Venturer, em uma missão espacial da NASA, é lançada em 6 de agosto de 1976. A equipe da espaçonave é composta pelos astronautas Bill Hudson, Judy Franklin e Jeff Allen. O objetivo porém, não é chegar a Alpha Centauri, mas comprovar a teoria do Dr. Stanton de que o homem pode se projetar no futuro. 

 

Tal qual a Icarus, a Venturer acaba num lago numa região desértica


Eles realizam a missão, avançando 105 anos no tempo, mas a astronave perde o controle e eles acabam parando no ano 3979. A astronave faz uma aterrissagem forçada num lago na Zona Proibida e, após um terremoto, o grupo se divide, com Judy desaparecendo após eles e encontrarem humanos primitivos. Entre estes, uma velha conhecida: Nova, a humana que era parceira de Taylor no primeiro filme. Um destacamento de gorilas os ataca, levando Jeff a fugir com Nova, enquanto Bill era capturado. Este se vê levado a uma sociedade comandada por símios inteligentes que consideram os humanos uma ameaça para sua espécie. Esta sociedade é bem mais avançada em relação as anteriormente retratadas nas telas, com tecnologia similar à dos humanos.

 

O Senado Símio. uma civilização bem mais sofisticada do que a do filmes


 

Esta concepção é mais próxima ao livro de Boulle que as outras adaptações, nas quais os macacos viviam numa sociedade mais rudimentar, justamente por questões orçamentárias. Aqui os macacos dirigem carros, e têm avanços tecnológicos como TV, cinema e imprensa.

Tendo 13 episódios de 25 minutos, a série começa com um ritmo narrativo lento, com bons argumentos e recriação de personagens clássicos, como Zira e Cornelius, que ajudam o “Olhos Claros” (Bill) a fugir. A perseguição obsessiva aos protagonistas movida pelo General Urko vai gradativamente levando-o a se antagonizar com o Doutor Zaius, que aqui é até mais moderado do que as suas versões em live action

 

General Urko e Dr. Zaius :  Rumo gradual de colisão


 

Bill reencontra Jeff e Nova e o grupo descobre que Judy está em poder dos subterrâneos, seres mutantes com poderes telepáticos que residem nas ruínas subterrâneas das antigas metrópoles - uma clara alusão aos mutantes presentes no segundo filme da franquia. Os subterrâneos louvam uma velha estátua, a que chamam de “USA” - uma divindade que em suas profecias os levará de volta à superfície. Graças à ajuda de Nova, o grupo encontra o Cel. Ronald Brent, astronauta de outra missão. Nascido em 2079 - 150 anos no futuro em relação ao tempo original de nossos heróis - sua nave caiu naquela era cerca de 20 anos antes.

 

Cornelius e Zira. Casal icônico também presente na animação


A série, apesar de ter uma animação limitada, tinha cenários bem desenhados, com prédios amplos de visual mais dramático e um aproach mais voltado ao público jovem do que o infantil. As vantagens da animação se refletiam na possibilidade de incluir nas histórias cenários com paisagens amplas, aviões, monstros e tudo o que teria um custo proibitivo numa produção live action.

 

Caracterização bem elaborada nos fundos eram característica da série.


A série animada passou nas tardes de terça ou quinta-feira na Rede Globo por volta de 1976, no Show das Cinco, sessão da emissora de desenhos e produções de aventuras veiculadas antes das novelas das 18hs.

Com o sucesso no país, não demorou para que alguém pegasse carona...

 

Derivados Nacionais (1976-1982)

 

Abertura do programa, que teve de ser refeita porque os censores acharam o biquíni da modelo muito pequeno


A Rede Globo pegou a sua casquinha do fenômeno com o programa humorístico O Planeta dos Homens, veiculado pela emissora entre 1976 e 1982. Muito do seu sucesso deveu-se às máscaras símias de látex de Orival Pessini (1944 - 2016), para o chimpanzé Charles e o orangotango Sócrates, interpretados por ele mesmo, e o orangotango Darwin, que ficou a cargo de Francisco Cúrcio (1929 -2010). Neste programa Jô Soares popularizou o bordão “O macaco tá certo!”

 

Os Trapalhões: paródia na maior tosqueira


Ainda em 1976 tivemos o filme O Trapalhão no Planalto dos Macacos, de J.B.Tanko, pertencente a longeva filmografia do comediante Renato Aragão. Além de Dedé Santana, parceiro de Renato em vários filmes, este longa metragem, que parodia a franquia da Fox na maior tosqueira, é o primeiro a contar com a presença de Antonio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, que protagonizava os programa Os Trapalhões ao lado de Renato e Dedé. Mauro Gonçalves, o Zacarias, quatro membro da trupe da TV, só começaria a integrar os longa-metragens em Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978, de Adriano Stuart), dois filmes após este.

E assim se encerrava o primeiro ciclo da saga símia nas telas. A franquia continuaria ativa, originando revistas em quadrinhos, livros, brinquedos, máscaras, fantasias e toda a sorte de objetos colecionáveis até se iniciar um novo ciclo, mas isto veremos na 2 ᵃ parte.


 



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