segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Revolução cinematográfica... e espionagem! - In Memorian: John Chambers

 


Pioneiro em seu "metier"

por Alexandre César
(Originalmente postado em 14/ 08/ 2018)


Sem ele Zira, Cornelius, etc... não chegariam às telas

  #PlanetaDosMacacos55Anos

 

John Chambers e Jonathan Harris. Se um Smith atrapalha muita gente...



Você pode não acreditar, mas quem está caracterizado na foto acima como Alfred E. Newman (símbolo da lendária revista de humor e sátira (símbolo da lendária revista de humor e sátira MAD) é nada mais, nada menos do que Fred Astaire. Isto demonstra as habilidades de John Chambers ( ⭐ Chicago, 12 de setembro de 1923 – ✝ Woodland Hills, 25 de agosto de 2001),  vencedor do Oscar honorário por seu trabalho de maquiagem no filme Planeta dos Macacos (1968, de Franklin J. Schaffer). Trabalhou também em Blade Runner – Caçador de Andróides (1982, de Ridley Scott)  e foi responsável pela criação das orelhas do personagem Spock da série Star Trek, entre outras notáveis contribuições.

Nascido em Chicago, ele iniciou o seu aprendizado como desenhista comercial, fazendo designers de jóias e de tapetes antes de servir no exército americano durante a Segunda Guerra Mundial como técnico em prótese dentária. Depois trabalhou fazendo próteses de narizes, orelhas, mamilos e outras partes do corpo para soldados mutilados. Mas, para ele, este trabalho era desgastante emocionalmente.

 

Quando transformou Will Robinson (Billy Mummy) num "mini-Dr. Smith" em "Pedidos no Espaço".


Quando reparou o baixo padrão da maquiagem usada na época para produções de TV, sentiu que ali poderia haver uma carreira para ele. Entrou para a Quando reparou o baixo padrão da maquiagem usada na época para produções de TV, sentiu que ali poderia haver uma carreira para ele. Entrou para a NBC em 1953 e transformou Charlton Heston na fera numa produção estrelada por Shirley Temple do clássico A Bela e a Fera, bem antes de Heston ter de se defrontar com humanos transformados em símios convincentes pelo maquiador.

Graduou-se em cinema em 1960, construindo sua reputação de especialista em maquiagem como efeito especial. Frequentemente fazia trabalhos não-creditados, criando orelhas e dedos para amputação em cenas dramáticas de filmes diversos. Durante a sua carreira de 30 anos, ele também trabalhou em várias séries de televisão como Quinta Dimensão, Os Monstros, Perdidos no Espaço e Missão: Impossível

 

"Os Monstros": Grande momento do trabalho do maquiador na televisão

Criou próteses dentárias para Marlon Brando em muitos filmes, o falso peitoral pelo qual Richard Harris é içado por ganchos em uma impressionante cena de Um Homem Chamado Cavalo (1970, de Elliot Silverstein) e uma série de apliques e disfarces para Kirk Douglas em A Lista de Adrian Messenger (1963, de John Huston). Foi ele que criou o nariz artificial usado por Lee Marvin no seu papel premiado com o no seu papel premiado com o Oscar em em Dívida de Sangue (1965, de Elliot Silverstein) , o rosto desfigurado de Paul Williams em em O Fantasma do Paraíso (1974, de Brian De Palma), a cabeça mutilada submersa que aparece em Tubarão (1975, de Steven Spielberg) e as criaturas meio bicho, meio homem de A Ilha do Dr. Moreau (1977, de Don Taylor).


 

"Dívida de Sangue" (1965). O Lee Marvin mau e o seu nariz


Mas o seu trabalho mais celebrado foi, sem dúvida, na primeira série de filmes de Planeta dos Macacos, que lhe deu um , que lhe deu um Oscar especial por sua contribuição para o cinema numa época em que não havia premiação para a categoria de maquiagem. Atores frequentemente apareciam usando fantasias de macacos em comédias e em filmes “B”, mas no filme em que o astronauta Taylor (Charlton Heston) aterrissa num mundo governado por primatas, Chambers teve de criar chimpanzés, gorilas e orangotangos capazes de falar e convencer a plateia de levar aquilo a sério (veja mais sobre essa primeira fase de filmes da franquia aqui).

 

John Chambers com Roddy McDowall


Para evitar que usassem máscaras, ele colava as próteses de borracha sobre a pele dos atores, pedaço por pedaço, dando-lhes flexibilidade para falar e demonstrar emoções. Ele trabalhava durante a noite experimentando em si mesmo e desenvolvendo novos adesivos, tinta e componentes de borracha que futuramente auxiliariam os futuros maquiadores de cinema e TV, proporcionando efeitos mais realísticos.

 

Cena da pretensa filmagem do "verdadeiro' Pé Grande

Suas inovações na área incluem a técnica de confecção de toucas de careca, que davam a impressão do ator estar completamente sem cabelos. Embora usasse borracha, em geral Chambers utilizava plástico líquido que era pulverizado e se solidificava sobre uma forma de metal, moldada a partir da cabeça do ator a ser caracterizado. Estas toucas são consideradas as mais realísticas criadas até então e se tornaram padrão na indústria de caracterização.

Criou também uma técnica de produção de jaquetas dentárias, cicatrizes e feridas criadas a partir de materiais plásticos, facilmente aplicáveis no rosto ou outras partes do corpo.

 

Um dos muitos disfarces de Kirk Douglas em "A Lista de Adrian Messenger" (1963)


Especula-se que Chambers esteve envolvido com o famoso filme do “Pé-Grande” caminhando entre as árvores da Califórnia, divulgado há cerca de 40 anos atrás. Pesquisadores da época estavam convencidos de terem conseguido um autêntico registro do equivalente americano do Yeti (o Abominável Homem das Neves) e experts que analisaram o filme até agora falharam em encontrar uma evidência que constate se tratar de um homem num traje.

A filmagem data de 1967, quando Chambers estava desenvolvendo a tecnologia de maquiagem que seria usada em Planeta dos Macacos. Sendo um dos pais da moderna maquiagem, este rumor reflete o respeito que a indústria tinha por ele, que era considerado como o único capaz de conseguir criar uma versão convincente da criatura.

 

"Um Homem Chamado Cavalo" (1970) Richard Harris não tinha "peito para encarar"...


O diretor John Landis inflamou o debate em 1997 ao declarar que quando era um jovem estagiário na 20th Century Fox, ele soube que Chambers havia tomado parte numa elaborada fraude, coisa que o divertido maquiador desmentiu, alegando que, se fosse ele o responsável, faria um trabalho bem melhor.

Talvez esse rumor derivasse de outra faceta de Chambers: sua atuação em espionagem. Nos anos 1960 ele começou a fazer trabalhos para a CIA, desenvolvendo disfarces para agentes. Ele se tornou amigo de um jovem agente chamado Tony Mendez, que queria alguém para desenvolver disfarces para os agentes da instituição e que havia antes contatado a Walt Disney Co. para isso, sem sucesso. Chambers ajudou Mendez em missões no Laos, Polônia e Rússia.

 

"Argo" (2012),com Chambers (John Goodman) e Mendez (Ben Affleck): como fazer uma falsa produção de filme


Chambers foi de novo requisitado em 1979 para ajudar Mendez. Desta vez não por suas habilidades como maquiador, mas por suas conexões em Hollywood. O objetivo era criar elementos que dessem veracidade a uma falsa produtora (Studio Six) que estaria desenvolvendo um filme de ficção científica. Junto com seu amigo Bob Sidell, outro guru da caracterização, Chambers e Mendez conseguiram seu intento, que daria respaldo ao plano de resgate de diplomatas dos EUA sequestrados durante a Revolução Islâmica no Irã.  Argo (2012, de Ben Affleck), o filme vencedor do Oscar, retrata este episódio, sendo Mendez interpretado por Ben Affleck e Chambers personificado por John Goodman.

 

"O Fantasma do Paraíso" (1974). Inesquecível figura


Mendez, de longa experiência no jogo de gato-e-rato das operações secretas, descreveu seu trabalho com Chambers para a Wired Magazine: “John uma vez transformou um agente negro da CIA e um diplomata asiático em homens de negócios caucasianos, usando máscaras que os deixava com um jeito de Victor Mature e Rex Harrison. E eles tinham de arranjar um encontro na capital do Laos, um país sob severa lei marcial”. E, segundo Mendez, o plano deu certo. Em outra ocasião ele havia desenvolvido um manequim inflável que permitiu a um dissidente sair de um carro estacionado (e vigiado) e permitindo sua fuga do local. Enquanto isso, o manequim inflável (que usava roupas semelhantes a do fugitivo) distraía os agentes que esperavam o momento quando aquele que caçavam saísse do carro para emboscá-lo (Bem Missão: Impossível, não?).


Os "humanimais" de "A Ilha do Dr. Moreau" (1977): ótimo trabalho em filme morno


Paralelo a isso, Chambers foi o mentor de muitos futuros maquiadores, influenciando toda uma geração. Michael Westmore (Star Wars, Star Trek: A Nova Geração) fala sobre ele: “John tinha a reputação de ser um indivíduo muito talentoso. Eu estava em meu último ano de aprendizado na Universal e John basicamente sabia fazer de tudo. Seu início foi como técnico dentário no exército, e ele me ensinou a fazer dentes. Quando peguei o trabalho de supervisão de Star Trek: A Nova Geração eu fiz todos os dentes alienígenas. ”

 

"O Homem-Cobra" (1973) de Bernard L. Kowalski. O clássico do SBT, que marcou uma geração de brasileiros, também tem a participação de Chambers


Chambers abriu o seu próprio laboratório especializado. Foi o primeiro profissional de maquiagem a ser homenageado com uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

 

Sua consagração ao receber o Oscar pelas mãos de Walter Mathau, numa época em que os maquiadores não eram premiados

 

Alguns de seus colegas contam que, por muitos anos e sem divulgação, ele fez próteses para indigentes vítimas de câncer. “Estamos aqui para ajudar os outros”, disse em 1969. “Se eu posso fazer alguma coisa para ajudar as pessoas que estão sofrendo, porque não?”

Estava aposentado desde 1991 quando sofreu um derrame que deixou-o com um lado paralisado. Sofria de diabetes. Morreu em 2001 aos 78 anos.

 

Sua Estrela na "Calçada da Fama"


 


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