Artesão meticuloso da narrativa
por Alexandre César
(Originalmente postado em 13/ 08/ 2018)
Dos palcos às telas, ele conhecia bem o seu ofício
#PlanetaDosMacacos55Anos
Franklin J. Schaffner: Trajetória que começa no documentário, passa para a TV, depois para o teatro e finalmente o cinema
Numa época, em que a iniciante indústria da TV ainda utilizava as câmeras numa posição estática, ele já dava vazão ao seu olhar para visuais dinâmicos, passeando de um formato de narrativa à outro, sempre com segurança no ofício de contar uma história.
Franklin James Schaffner (⭐ Tóquio, em 30 de maio de 1920 – ✝ Santa Monica, 2 de julho de 1989) foi um premiado diretor de cinema norte-americano, cujo olhar para narrativas foi desenvolvido nas dúzias de programas ao vivo que dirigiu, conseguindo fazer a câmera acompanhar o movimento da narrativa, sendo uma das mais inovadoras e criativas mentes deste período.
Joanne Woodward em "Vênus à Venda" (1963): estreia no cinema
Nascido a 30 de maio de 1920, em Tóquio, filho de missionários protestantes americanos, nos EUA com cinco anos, instalando-se em Lancaster, onde já participou na escola de atividades teatrais. Em 1943, formou-se em Direito pela Universidade de Columbia, mas não exerceu a profissão, pois em seguida entrou para o exército americano, participando da Segunda Guerra Mundial. Ele serviu com as forças aliadas na Europa e norte da África. Próximo ao fim da guerra ele foi enviado para o Extremo Oriente, a fim de servir no Escritório de Serviços Estratégicos - a OSS, o serviço de inteligência norte-americana durante a 2ª Guerra.
"Vassalos da Ambição"(1964). A disputa política pelo poder com seus desdobramentos e o seu "vale-tudo"
Depois da Guerra se tornou um dos diretores que realizaram os documentários para o cinema da série March of Time. A seguir ingressou na então nascente rede de TV CBS, sendo um de seus primeiros diretores. Dirigiu inúmeras peças de teleteatro e séries, como Tales of Tomorrow (1951). Ele ganhou o Emmy de direção em 1954 por seu trabalho por Twelve Angry Men, episódio do programa Studio One que foi transmito ao vivo. Mais tarde, Reginaldo Rose, o autor do roteiro, o adaptou para o teatro e para o cinema - o clássico Doze Homens e Uma Sentença (1957, de Sidney Lumet).
"O
Senhor da Guerra" (1965). Maurice Evans (esq.) e Charlton Heston (à
frente) sob as ordens de Schaffner antes de serem Zaius e Taylor
Schaffner ganhou mais dois prêmios Emmy por seu trabalho na adaptação para a televisão, em 1955 da peça teatral da Broadway The Caine Mutiny Court Martial, mostrado na antológica série Ford Star Jubilee. A peça já havia sido adaptada para o cinema com o nome de A Nave da Revolta (1954, de Edward Dmytryk). Ele ganhou seu quarto Prêmio Emmy por seu trabalho na série de TV por seu trabalho na série de TV Os Defensores (1961-1965). O sucesso televisivo levou-o à Broadway, onde dirigiu algumas peças.
O conhecido produtor e roteirista Jerry Wald convidou-o a ingressar no Cinema para dirigir Vênus à Venda (1963), estrelado por Joanne Woodward. O filme é uma adaptação da peça . O filme é uma adaptação da peça The Stripper, de William Inge. O filme não foi bem sucedido comercialmente, o mesmo ocorrendo com o seu filme seguinte, Vassalos da Ambição (1964). Baseado numa peça de Gore Vidal, o filme retrata o lado negro dos bastidores das candidaturas presidenciais, com uma excelente interpretação de Henry Fonda e críticas favoráveis.
A consagração: Instruindo um gorila a como ser brutal com Charlton Heston (amordaçado) em "O Planta dos Macacos" (1968)
Em 1965 veio finalmente o sucesso no cinema com O Senhor da Guerra, estrelado por Charlton Heston e Richard Boone, e o thriller Dois Homens Iguais (1967), com Yul Brynner. Sua carreira estava em ascenção, e logo, atingiria o auge...
"Patton, Rebelde ou Herói?" (1970). Roteiro de Francis Ford Coppola e interpretação icônica de George C. Scott
Foi pela pressão de Heston que os executivos da 20th Century Fox o escolheram para dirigir em 1968 o grande sucesso O Planeta dos Macacos (mais sobre o filme e boa parte de tudo dele derivado, veja aqui). O sucesso de público e crítica convenceu os produtores a entregar-lhe a direção de um projeto mais ambicioso: Patton: Rebelde ou Herói? (1970), relato biográfico do famoso e excêntrico general americano que se destacou no curso da Segunda Grande Guerra. O protagonista foi magistralmente interpretado por George C. Scott, que recusou o , que recusou o Oscar que receberia pelo trabalho por não concordar com premiações.
Michael Jayston e Janet Suzman como o casal imperial de "Nicholas e Alexandra" (1971). Oluxo e a decadência do Império Russo às vésperas da Revolução Bolchevique
O sucesso deste filme rendeu sete estatuetas na premiação da academia, incluindo melhor filme e melhor diretor para Schaffner. Com isso ele continuou a ser escalado para produções ambiciosas, como Nicholas e Alexandra (1971), sobre o final da dinastia Romanov e do império na Rússia, Pappillon (1973), que adapta a história apresentada como real do ex-fuzileiro francês Henri Charrière e suas tentativas de fuga da prisão da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. O filme com as atuações de Steve McQueen e Dustin Hoffman. Outras produções grandiosas a seu cargo foram o drama A Ilha do Adeus (1976), baseado num livro de Ernest Hemingway, e o duelo interpretativo entre Laurence Olivier e Gregory Peck em em Os Meninos do Brasil (1978), adaptando o romance de Ira Levin.
Dustin Hoffman e Steve McQueen em "Papillon"(1973). Relato seco e vigoroso
Após este filme a sua carreira entraria em decadência. Faria ainda A Esfinge (1980), baseado no livro de Robin Cook, com Lesley-Anne Down e Frank Langella; Uma Voz Para Milhões (1982), drama romântico com Luciano Pavarotti; A Grande Cruzada (1987), aventura histórica com Bruce Purchase, e Regresso do Vietnã (1989) drama com Kris Kristoferson e Jobeth Williams. Este último ele não chegou a ver lançado, pois morreu de câncer no esôfago antes da sua finalização.
George C.Scott e Claire Bloom no belo, melancólico e poético "A Ilha do Adeus" (1976)
Um de seus habituais colaboradores foi o grande compositor Jerry Goldsmith, responsável pela trilha sonora para muitos de seus filmes, inclusive para O Planeta dos Macacos, Papillon e e Os Meninos do Brasil.
Laurence Olivier (acima) e Gregory Peck (abaixo) num duelo interpretativo e físico em "Os Meninos do Brasil" (1978)
Schaffner foi indicado oito vezes para o Oscar de Melhor Diretor, mas ganhou apenas uma vez, em 1970 por Patton: Rebelde ou Herói?. Foi também diretor de mais de 150 trabalhos entre filmes para a televisão, programas de entrevistas e teleteatros. Ele presidiu a Associação de Diretores de Cinema dos Estados Unidos em 1987 e foi membro do Conselho Nacional de Artes. Morreu em 2 de julho de 1989 e foi sepultado no Cemitério Parque Westwood Village Memorial em Westwood, Los Angeles, Califórnia.
John Gieugud e Lesley-Anne Down em "A Esfinge" (1981): o início da decadência
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