"Finesse" acima de tudo
por Alexandre César
(Originalmente postado em 08/ 08/ 2018)
Fosse como boa gente, ou vilão, nunca lhe faltava classe
#PlanetaDosMacacos55Anos
Teatralidade. Fosse qual personalidade incorporasse nas telas, ou nos palcos, ele sempre transparecia esse senso estar diante de uma plateia, e portanto, sempre dialogava com ela, cativando-a de maneira a que fosse como um personagem excêntrico, ou um vilão cínico e maquiavélico, sempre acabávamos de alguma forma restando atenção nele e até relevando seus atos, não importando o quanto fossem censuráveis...
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A consagração ao ganhar um Emmy de 1961 pelo telefilme "Macbeth" |
Maurice Herbert Evans (⭐Dorchester, 3 de junho de 1901 — ✝ Rottingdean, 12 de março de 1989) foi um ator especializado em interpretações de personagens de Shakespeare, mas é conhecido do grande público pelo papel do dogmático e perigoso Dr. Zaius no filme O Planeta dos Macacos (1968, de Franklin J. Schaffner) e na sua continuação De Volta ao Planeta dos Macacos (1970, de Ted Post), e por sua participação no seriado A Feiticeira como Maurice, o teatral e exuberante pai bruxo de Samantha Stephens (Elizabeth Montgomery).
Evans trabalhou também no cultuado O Bebê de Rosemary (1968, de Roman Polanski) interpretando Edward 'Hutch' Hutchins, amigo do casal Woodhouse, em torno do qual o filme traça sua trama.
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Programa de uma de suas peças, ainda na Inglaterra |
Maurice (cuja pronúncia correta é Morris e não a forma afrancesada como muitos o fazem) começou muito cedo na dramaturgia com uma peça adaptada pelo seu pai do romance Under de Greenwood Tree, de Thomas Hardy. Seu pai era um juiz de paz entusiasta das artes cênicas e adorava escrever adaptações de livros para os palcos.
Ainda menino, depois que sua família mudou-se para Londres, ele cantava no coro de igreja de St Andrews. Sua primeiro grande atuação aconteceu em 1926 onde ele interpretou, em Cambridge, Orestes, um dos principais personagens de Oresteia, do clássico dramaturgo grego Ésquilo.
Nos palcos, com Judith Anderson numa montagem de Macbeth de 1941
Porém, o seu primeiro grande desempenho foi em 1928 ao lado de Laurence Oliver na peça na peça Journey’s End, de R. C. Sherriff, que foi uma sensação em Londres. Como resultado, apareceram outros papéis principais em peças na década seguinte. Desempenhou vários papéis shakesperianos, como Falstaff, Hamlet e Henry IV. Em 1953, juntamente com o amigo George Schaefer produziu a peça Casa de Chá do Luar de Agosto, com David Wayne. Essa peça, uma sátira sobre uma unidade do exército dos Estados Unidos que tinha o objetivo de levar a democracia a uma ilha do Pacífico, percorreu a Broadway com muito sucesso e conseguiu o prêmio Tony em 1954.
Na versão da Halmark de "Disque 'M' para Matar" (1958)
Enquanto este trabalho ainda estava prosperando, Evans, juntamente com Emmett Rogers, produziu ou peça baseada em um romance: Enquanto este trabalho ainda estava prosperando, Evans, juntamente com Emmett Rogers, produziu ou peça baseada em um romance: No Time for Sergeants, a partir do livro de Mac Hyman. Esta peça foi outro grande sucesso e foi a porta de entrada de Andy Griffith para o estrelato no cinema e na TV nas décadas seguintes. Ela contava também com a presença do ator Roddy McDowall, com quem Maurice contracenaria anos depois em O Planeta dos Macacos, entre outros trabalhos.
Como Próspero em "A Tempestade" (1960). versão da Halmark.
Sua estréia no cinema foi em White Cargo (1929, de J.B. Williams), seguindo-se o musical Raise the Roof (1930, de Walter Summers). Entre outros trabalhos no cinema ainda não citados, podemos destacar Wedding Reheasal (1932, de Alexandre Korda), Scrooge (1935, de Henry Edwards), Androcles and the Lion (1952, de Chester Erskine e Nicholas Ray), The Story of Gilbert and Sullivan (1953, de Sidney Gilliat) e O Senhor da Guerra (1965, de Franklin J. Schafnner), onde atuou com Charlton Heston. Os dois atores e o diretor voltariam a trabalhar juntos no primeiro filme da franquia O Planeta dos Macacos, em 1968. Também esteve em The Body Stealers (1969, de Gerry Levy) e O Panaca (1979) de Carl Reiner, onde atuou com Steve Martin.
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"O Senhor da Guerra" (1965). Drama histórico que foi seu primeiro encontro com Charlton Heston e Franklin J. Schafnner |
Nos filmes da franquia Planeta dos Macacos, a performance de Maurice como o “Ministro da Ciência e Defensor da Fé” do mundo símio marcou, por ser um antagonista que mesclava a a intriga - e até a vilania - com o senso de temor pelo futuro de toda a sua espécie, num amálgama de darwinismo com autoritarismo. Por saber a verdade sobre às origens de sua sociedade, temia uma mudança do status quo e do protagonismo símio em face à perda do controle da narrativa histórica de “quem veio antes de quem”, remetendo a tantos sistemas de governo em que não há separação de Religião e Estado (Para maiores informações sobre os primeiros filmes de Planeta dos Macacos, veja aqui).
Macaco sábio: Intervalo de filmagem de "Planeta dos Macacos" (1968)
Um grande momento em sua carreira ocorreu em 1955, quando Evans assinou contrato para produzir versões para a TV americana de obras de Shakespeare e outros clássicos, (o programa Hallmark Hall of Fame) como Hamlet (1953), (1953), Macbeth (1954), Ricardo II (1954), Disque M para Matar (1958) e Alice no País das Maravilhas (1954). No programa ele também trabalhou como narrador. Entre os episódios do programa, citamos A Tempestade (1960), dirigido por George Schaefer, onde interpretava Próspero, tendo Lee Remick como Miranda, Roddy McDowall como Ariel e Richard Burton como Caliban. Por essa época também gravou um LP infantil narrando as histórias do Ursinho Poh.
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Como O Enigmista, vilão colorido de "Batman" |
Na televisão, além de representar Maurice, o pai de Samantha em A Feiticeira, participou de outros seriados como Batman (ele foi o vilão Enigmista em dois episódios), Daniel Boone, como um empresário francês, I Spy (Os Destemidos), The Mod Squad, O Agente da U.N.C.L.E., Columbo, Ilha da Fantasia, O Barco do Amor entre vários outros. Seu último papel foi no telefilme Mistério no Caribe (1983) de Robert Michael Lewis, baseado numa obra de Agatha Christie, com Helen Hayes como Miss Marple.
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Papai & Mamãe: com a colega Agnes Moorehead, a Endora, em "a Feiticeira" |
Apesar de ter conseguido cidadania americana, voltou para a Inglaterra no final dos anos 1960. Continuou, porém retornando aos EUA com frequência, em especial para participar de eventos com o objetivo de auxiliar atores aposentados em dificuldades financeiras. Sendo um gay discreto, vivia tranquilamente junto a Brighton, falecendo em Rottingdean, East Sussex (Inglaterra), aos 87 anos, em 12 de março de 1989, ao sofrer uma parada cardíaca decorrente de uma infecção nos brônquios, deixando um legado de boas atuações e de um indivíduo simpático e cordial, sendo muito querido no meio profissional, e entre os fãs.
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O orangotango Maurice dos novos filmes da franquia (interpretado via captura de performance por Karin Konoval) é uma homenagem a Evans |
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