quarta-feira, 5 de abril de 2023

O cara íntegro... - In Memorian: Gregory Peck

 


Dignidade encarnada

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 05/ 04/ 2018)


Um dos grandes pesos pesados da velha Hollywood

 

O sonhador Eldred Gregory Peck e seu fiel cão

Um ator que era admirado por sua personalidade dócil e firme e que os amigos respeitavam em função de sua lealdade nata.  Um exemplo de seu bom caratismo pode ser testemunhado durante a produção de um filme, ele tinha tanta certeza que jovem protagonista ganharia um Oscar por sua performance que pediu que o nome dela viesse nos créditos antes do seu, ( apesar dele ser mais conhecido). O filme era A Princesa e o Plebeu (1953) e a atriz era Audrey Hepburn, que de fato ganhou, e o generoso astro era Gregory Peck.
 
 
Com a pequena Ana (Eunice Soo-Hoo) em "Aa Chaves do Reino" (1944) de John M. Stahl

 

Gregory Peck, nome artístico do ator norte-americano Eldred Gregory Peck ( La Jolla, 5 de abril de 1916 – ✝ Los Angeles, 12 de junho de 2003). Filho único de Bernice Mary (Ayres) e Gregory Pearl Peck, um químico e farmacêutico em San Diego. Ele tinha ascendência irlandesa (de sua avó paterna), inglesa e alguma alemã. Seus pais se divorciaram quando ele tinha cinco anos, sendo enviado para morar com a avó.  
 
 
Com um jovem Christopher Lee (no canto esquerdo) em "O Falcão dos Mares" (1951)  de Raoul Walsh, baseado  C.S. Forrester

 
 
Esse fato triste, no entanto, acabou revelando um lado positivo, pois foi essa senhora que o apresentou àquela que seria sua maior paixão: o cinema. Uma de suas mais antigas memórias era de acompanhá-la para assistir a filmes como O Fantasma da Ópera (1925) – o que o obrigou a ter que dormir de luz acesa naquela noite, de tão impressionado que havia ficado. Essa relação começaria ali e se estenderia por toda sua vida, consagrando-o como um dos maiores astros que Hollywood já viu.
 
 
Com Susan Hayward em "David e Betsabá" (1951) de Henry King
 
 
Ele nunca sentiu que teve uma infância estável. Suas melhores lembranças são de sua avó levando-o ao cinema todas as semanas e de seu cachorro, que o seguia por toda parte. Ele estudou pré-medicina na UC-Berkeley e, enquanto estava lá, se apaixonou pelo teatro e decidiu mudar o foco de seus estudos. Ele se matriculou no Neighborhood Playhouse em Nova York e estreou na Broadway após a formatura. Sua estréia foi na peça de Emlyn Williams "The Morning Star" (1942). 
 
 

"A Princesa e o Plebeu" (1953) de William Wyler. Par romântico com Audrey Hepburn

 
Em 1943, ele estava em Hollywood, onde estreou no filme  Quando a Nunca Tornar a Cair (1944) da RKO. começou a atuar no teatro, mas logo migrou para o cinema, onde sua voz marcante, elegância e autenticidade lhe deram personagens heroicos, baseados em obras literárias, marcados pela superação de sentimentos e incertezas. 

 

Como o Capitão Ahab em "Moby Dick" (1956), de John Huston. Obssessivo, carismático e visceral

É o caso de As Neves do Kilimanjaro (1952), de Henry King, baseado na obra de Ernest Hemingway; e Moby Dick (1956), de John Huston, baseado na obra de Herman Melville. O mais famoso desses papéis foi o de Atticus Finch do filme O Sol é Para Todos (1962), de Robert Mulligan, baseado no romance de Harper Lee. Finch é um consciencioso advogado sulista disposto a defender, contra todos, os direitos de um negro acusado de estupro. Este interpretação lhe deu o Oscar de melhor ator e Finch foi escolhido como o maior herói das telas pelo American Film Institute em maio de 2003, apenas duas semanas antes da morte de Peck.


"Os Canhões de Navarone" (1960), de J.Lee Thompson. Peck lidera David Niven, Anthony Quinn, Anthony Quayle, Irene Papas, James Darren e outros

Outros destaques em sua filmografia: o jovem padre idealista de As Chaves do Reino (1944), de John M. Stahl; o desmemoriado acusado de um crime em Quando Fala o Coração (1945), de Alfred Hitchock; e o repórter exemplar de A Luz é para Todos (1947), de Elia Kazan, com sua denúncia do antissemitismo. Todo estes também foram trabalhos reconhecidos com indicações ao prêmio de Melhor Ator da Academia. Também merece menção o confronto antagônico com Robert Mitchum em O Círculo Medo (1962) e J. Lee Thompson.

 

Contra o perigo real e imediato Robert Mitchum em "O Círculo Medo" (1962) e J. Lee Thompson

 

Durante muitos anos Peck foi um grande astro de filmes de ação: obteve êxito em O Falcão dos Mares (1951)  de Raoul Walsh, baseado no livro "Captain Horatio Hornblower" de C.S. Forrester, além de westerns como Duelo ao Sol (1946), de King Vidor, Da Terra Nascem os Homens (1958), de William Wyler, e em Gringo Velho (1990), de Luis Puenzo. Atuou em épicos como David e Betsabá (1951) de Henry King onde interpretou o Rei de Israel no seu momento de maior crise.

 

Como Atticus Finch em "O Sol é Para Todos" (1962) de Robert Mulligan: Consagração


Também atuou em filmes de guerra como Os Canhões de Navarone (1960), de J. Lee Thompson com elenco estelar, ou Espionagem em Goa (1980) de Andrew V. Mclaglen, com Roger Moore e David Niven, no clássico do terror A Profecia (1976) de Richard Donner, que virou uma franquia, espionagem como A Grande Ameaça (1969) de J. Lee Thompson esteve em comédias também, como Com o Dinheiro dos Outros (1991), de Norman Jewison.

 

Com Tely Savallas e  Omar Sharif em "O Ouro de MacKenna" (1969) de J. Lee Thompson, um western-catástrofe

 

Seu único vilão em sua longa carreira foi no filme Os Meninos do Brasil (1978), de Franklin J. Schaffner, interpretando o Dr. Joseph Mengele, o temível médico alemão responsável do Campo de Concentração de Auschiwtz durante a 2ª Guerra Mundial. 

 

no clássico do terror "A Profecia" (1976) de Richard Donner

 

Discreto nos seus relacionamentos amorosos, Gregory conheceu sua primeira esposa, a cabeleireira finlandesa Greta Konen por volta de 1941. Os dois se casaram em  4 de outubro de 1942 em Manhattan e teriam três filhos: Jonathan, Stephen e Carey. Durante seu casamento com Greta, o ator teve um romance com a atriz Ingrid Bergman enquanto filmavam Spellbound. O casal se divorciaria em 1954 e durante as filmagens de A Princesa e o Plebeu ele conheceu a jornalista francesa Veronique Passani e após uma série de desencontros, eles se casariam em 1955, tendo dois filhos. O casal se mudou para uma mansão em Los Angeles, onde viveram até o fim de seus dias. Veronique continuaria morando no local até sua morte em 2012, aos 80 anos.

 

Como Douglas MacArthur em "MacArthur, o General Rebelde" (1977) de Joseph Sargent

 

Gregory ajudou a fundar o American Film Institute, e na década de 40, assinou uma carta em defesa de colegas acusados pelo Comitê de atividades não-americanas. Ele era democrata, e estaria ligado à política a maior parte de sua vida. Rivalidades políticas à parte , cultivou ao longo de sua vida uma grande amizade com Charlton Heston (republicano, e que chegou a ser presidente da National Rifle Asociation). Chegou, inclusive, a ser considerado como um possível candidato contra Ronald Reagan pelo governo da Califórnia. Seu filho Carey tentou seguir carreira política, mas perdeu todas as vezes em que concorreu.

 

Dr. Joseph Mengele em "Os Meninos do Brasil" (1978) de Franklin J.Schaffner. Baseado no romance de Ira Levin

 

Peck representava o último dos homens de boa índole numa época  cínica, em que o bom-mocismo havia se tornado, em Hollywood, algo meio démodé.  

 

Com Roger Moore em "Espionagem em Goa" (1980) de Andrew V. Mclaglen

 

Seu neto, Ethan Peck segue o seu legado, tendo herdado a voz potente do avô, e se saído bem como a nova versão do personagem Sr. Spock na segunda temporada de Star Trek Discovery e agora em Star Trek: Strange New Worlds. E que o sobrenome Peck siga adiante, audaciosamente indo...


Atticus Finch de "O Sol é Para Todos" (1962), de Robert Mulligan, baseado no livro de Harper Lee, foi escolhido como o maior herói das telas pelo American Film Institute em 2003



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