O monstro sagrado (?)
Uma força da Natureza, tal qual os vulcões, os terremotos e os tsunamis que sua magnetizante pujança interpretativa nos remetia. E talvez, justamente por sua intensidade, acabava aprisionando-o em sua persona, não conseguindo, apesar de seu talento, ter uma vida mais feliz. Assim era Brando...
![]() |
Ele como Stanley Kowalski e Vivian Leigh como Blanche Dubois em "Um Bonde Chamado Desejo" (1951) |
Marlon Brando, Jr. (⭐ Omaha, 3 de abril de 1924 – ✝ Los Angeles, 1 de julho de 2004) foi um ator de cinema e teatro e diretor norte-americano. É considerado um dos maiores e mais influentes atores de todos os tempos. Brando foi um dos três únicos atores profissionais - juntamente com Charlie Chaplin e Marilyn Monroe - a fazer parte da lista compilada pela revista Time, em 1999, das 100 pessoas mais importantes do século XX . Brando foi, também, um ativista, apoiando diversas causas. Mais notavelmente o movimento dos direitos civis dos negros nos EUA e diversos outros em defesa dos índios norte-americanos.
![]() |
Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan. O seu primeiro Oscar |
Nos anos 50 ele interpretou diversos grandes papéis, como Stanley Kowalski em Um Bonde Chamado Desejo (1951), de Elia Kazan; Emiliano Zapata em Viva Zapata! (1952), também de Kazan; Marco Antônio, na adaptação cinematográfica do clássico de Shakespeare Julius Caesar (1953), dirigido por Joseph L.Mankiewicz; e Terry Malloy, em Sindicato de Ladrões (1954),outro de Elia Kazan. Este último lhe renderia seu primeiro Oscar. No início dos anos 60 ele dirigiu e estrelou A Face Oculta (1961), longa inicialmente dirigido por Stanley Kubrick, que abandonou o projeto pelas constantes brigas que teve com o difícil astro.
![]() |
Rival no ego: Com Jean Simmons, como o Napoleão Bonaparte, em "Desirée, o Amor de Napoleão" (1954), de Henry Koster |
Mas provavelmente seu papel mais marcante do período foi no filme O Selvagem (1953), de László Benedek , em que interpretou o delinquente Johnny Stabler. Era era o líder de uma gangue de motoqueiros, vestido de jaqueta de couro, calça jeans, e caiseta de algodão, enquanto dirigia sua motocicleta 1950 Triumph Thunderbird 6T. O personagem fez mais do que marcar e definir o visual e as atitudes de cena de diversos artistas, de James Dean e Elvis Presley aos Ramones e Bruce Springsteen. Johnny Stabler estabeleceu uma estética de rebeldia e juventude que, com idas e vindas, marca a sociedade até hoje. Antes do lançamento do filme, por exemplo, a calça jeans era um acessório usado por trabalhadores braçais em sua labuta - mecânicos, estivadores ou mineiros. Ninguém imaginava em usá-la no dia a dia. E hoje ela é um item indispensável no guarda-roupa de todo mundo.
![]() |
Johnny Stabler, de "O Selvagem" (1953) de Lázló Benedek: Pael icônico que lançou a moda do "Look de Motociclista" |
Distraído com sua vida pessoal e desiludido com sua carreira, dos anos 60 em diante Brando começou a ver a atuação apenas como um meio para conseguir dinheiro. Os críticos protestaram quando ele começou a aceitar papéis em filmes que consideravam abaixo de seu talento, ou o criticaram por não estar mais à altura dos melhores papéis. Suas brigas nos sets de filmagem começaram a torná-lo impopular entre os executivos dos estúdios. Por sua fama de Bad Boy já não o viam como rentável. Isto mudou quando (após a insistência do produtor Robert Evans) ganhou o papel de Don Vito Corleone em O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola. O filme lhe rendeu o Oscar de melhor ator por sua performance (prêmio que ele recusou!).
![]() |
Como Mr. Christian em "O Grande Motim" (1962) de Lewis Milestone. Fracasso de bilheteria, cuja produção quase faliu o estúdio graças à seu gênio difícil, que sabotou o cronograma |
A atuação de Brando foi avaliada com entusiasmo pela crítica. "Achei que seria interessante interpretar um gangster, talvez pela primeira vez no cinema, que não fosse como os bandidos que Edward G. Robinson 1* interpretou, mas que é uma espécie de herói, um homem a ser respeitado", Brando lembrou em sua autobiografia. "Além disso, como ele tinha tanto poder e autoridade inquestionáveis, achei que seria um contraste interessante interpretá-lo como um homem gentil, ao contrário de Al Capone, que espancava as pessoas com tacos de beisebol".
![]() |
Para
compor Don Vito Corleone, de "O Poderoso Chefão"(1972), Brando usou uma
prótese, que mudava o aspecto de sua mandíbula lhe dando uma aparência
mais velha e o aspecto ameaçador de um buldog |
Com a volta por cima, seguiu em frente, sempre polemizando. Entre papéis menores, ainda conseguiu brilhar em Duelo de Gigantes (1976), de Arthur Penn, e como Jor-El em Superman: O Filme (1978), de Richard Donner (onde brigou com os produtores e destratou parte do elenco). Atuou também em outro filme de Coppola, Apocalypse Now (1979), como o atormentado e louco Cel. Walter Kurtz, e no delicioso Don Juan DeMarco (1995) de Jeremy Leven. Brando recebeu mais uma indicação ao Oscar pelo seu desempenho como Paul no polêmico O Último Tango em Paris*1 (1972), de Bernardo Bertolucci. Filme cujas revelações mais recentes sobre a famosa cena do estupro, lançaram dúvidas sobre seu caráter e do também consagrado diretor.
![]() |
Como Jor-El em Superman: O Filme (1978) de Richard Donner |
Na vida pessoal, era conhecido por sua vida tumultuada e seu grande número de
parceiros e filhos. Ele foi o pai de pelo menos 11 crianças, três dos
quais foram adotados.
Na opinião do cineasta Martim Scorsese,"Ele é o marco no cinema. Há o 'antes de Brando' e 'depois de Brando'."
Nós é que não discordaremos dele...
![]() |
O louco Cel. Walter Kurtz, de "Apocalyse Now" (1979) |
Notas:
*1: Edward G. Robinson era um ator norte-americano nascido da Romênia de longa carreira no cinema. Foi muito popular nos Anos de Ouro de Hollywood (anos 30 e 40 do século passado), quando interpretava personagens rudes, violentos e malvados. Entre eles, destacam-se os gangsters que viveu em filmes, como Outside The Law (1930), Alma no Lodo (1931), Paixões em Fúria (1948), que definiram por muito tempo o arquétipo associado a eles.
*2: Brando confessou em sua autobiografia: "Até hoje eu não posso dizer sobre o que era O Último Tango em Paris ". E acrescentou que o filme "exigiu que eu fizesse uma queda de braço emocional comigo mesmo. Quando foi concluído, decidi que nunca mais iria me destruir emocionalmente para fazer um filme”.
![]() |
"- Tudo bem! Sou polêmico e perturbado das idéias! Afinal, eu sou Marlon Brando!!!" |
0 comentários:
Postar um comentário