quarta-feira, 5 de abril de 2023

A sabedoria intuitiva - In Memorian: Spencer Tracy


O eterno irônico bonachão

por Alexandre César
(Originalmente publicado em 05/04/2018

O arquétipo do "paizão" ou do "avozão"
 
 

 
Início de carreira: "Quick Millions" (1931) de Rowland Brown

 
 
Imaginemos um cara que não era nem cinco anos mais velho que o próprio cinema, meio no qual construiu boa parte da carreira, tornando-se referência e que não se encaixava no tipo “galã hollywoodiano”. Chamava atenção das plateias principalmente pela força de seus personagens, algo difícil até mesmo de explicar, pois uma virtude acima dos métodos.  Um cara que à medida que foi amadurecendo (e envelhecendo) foi fundindo a sua persona com a daquilo que esperaríamos de qualquer patriarca amado e digno de confiança por sua índole e valores firmes. Esse cara era Spencer Tracy ( Milwaukee, 5 de abril de 1900 – Los Angeles, 10 de junho de 1967).


"Marujo intrépido" (1937), de Victor Fleming. Seu primeiro Oscar numa aventura baseada no livro de Rudyard Kipling


Nascido Spencer Bonaventure Tracy foi um dos maiores atores do cinema norte-americano de todos os tempos. Filho de pais católicos, Spencer estudou em colégio jesuíta, conhecendo o também futuro ator Pat O'Brien. Antes de ingressar no mundo das artes, farto da escola regular, ele se alistou na Marinha. Aliás, sobre a escola, certa vez disse: “Eu nunca teria ido para a escola se tivesse havido qualquer outra forma de aprender a ler as legendas nos filmes”. Em 1917, ele e Pat O’Brien abandonaram os estudos e se alistaram na Marinha para participarem da Primeira Guerra Mundial, mas ao invés de lutarem na Primeira Guerra Mundial, os dois permaneceram em serviço no estado da Viríginia. Findo o conflito, ele foi transferido de volta ao Wisconsin, onde tratou de terminar os estudos.
 
 

"Com os Braços Abertos" (1938), de Norman Taurog. O Padre Flanagam lhe rendeu seu segundo Oscar. Ao seu lado, o jovem Mickey Rooney


Após estrear nos palcos em 1921, com a peça The Truth, do Ripon College, decidiu seguir a carreira de ator. “-Ajudou a desenvolver minha memória para as falas, o que tem sido uma dádiva divina desde que comecei no ofício; ganhei alguma presença de palco; e ajudou a espantar minha inibição. Também consegui gradualmente a habilidade de falar de improviso”, disse mais tarde. Numa das turnês, fez teste e foi aceito na American Academy of Dramatic Arts, em Nova York. Seu primeiro papel na Broadway foi o de um robô estranho, na peça "Karel Capek’s R.UR." Durante os anos 1920, excursionou por diversos palcos dos Estados Unidos. 

 

"A Mulher do Dia" (1942), de George Stevens. Tracy & Hepburn. O início do romance de uma vida inteira

 
 
 Em 1923 casou-se com Louise Treadwell, com quem teve dois filhos, um filho nascido em 1924 e uma filha nascida em 1932. Com o advento dos filmes falados, o ator foi contratado e trabalho em curtas-metragens para a Vitaphone e em seguida foi contratado pela Fox. Em 1930 teve seu primeiro grande sucesso na Broadway. O diretor John Ford assistiu a peça e o chamou para estrelar aquele que seria seu próximo filme Rio Acima. Ainda sob esse contrato com a Fox, Tracy atuou em filmes como Glória e Poder (1933) e O Conta Prosa (1934).

 

Conspiração do Silêncio (1955) de John Sturges. Premiado em Cannes como o misterioso "homem de um braço só"...

 

Em 1935, o ator foi contratado pela MGM, onde fez filmes como Ladra Encantadora (1935) e Casado com Minha Noiva (1936). Tracy seguiu atuando até o fim da vida e seu currículo conta com trabalhos como Fruto Proibido (1940) e em 1941 durante as filmagens de A Mulher do Dia, conheceu a atriz Katherine Hepburn, com ela teve um longo e complexo relacionamento, não assumido publicamente, até a morte do ator. Embora não tivesse nenhum envolvimento mais com sua esposa, ele nunca se divorciou, porque era um católico praticante. 

 


"O Último Hurra" (1958), de John Ford. Politico populista enfrentando um novo tipo de adversário: o midiático

 

Da sua vasta filmografia se destacam Marujo Intrépido (1938, de Victor Fleming) e Com os Braços Abertos (1939, de Norman Taurog), que lhe deram o (1939, de Norman Taurog), que lhe deram o Oscar de melhor ator. Papai Não Quer (1953, de George Cukor), que lhe deu um Globo de Ouro. Com Conspiração do Silêncio (1955, de John Sturges) ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes.



"O Velho e o Mar" (1958) de John Sturges. Como Santiago, o personagem do romance de Ernerst Heminguay

 

Fora as que lhe renderam prêmios, Tracy possui outras performances inesquecíveis, como em O Médico e o Monstro (1941, de Victor Fleming), (1941, de Victor Fleming), O Velho e o Mar (1958, de John Sturges), O Último Hurra (1958, de John Ford), O Vento Será Tua Herança (1960, de Stanley Kramer) e Deu a Louca no Mundo (1963, de Stanley Kramer).

 


"O Vento Será Tua Herança" (1960), de Stanley Kramer. Tracy duela com Frederich Marsh no caso real do "Julgamento do Macaco", no sul dos EUA (década de 1920), quando um professor foi preso por ensinar a Teoria da Evolução a seus alunos


No final dos anos 1940, Tracy foi diagnosticado com diabetes, agravada pelo seu alcoolismo, e em 1963 sofreu um ataque cardíaco, que acabou por afastá-lo do cinema.


"Julgamento em Nuremberg" (1961), de Stanley Kramer. Tracy aqui faz um juiz que preside um tribunal de crimes de guerra

 

Retornou aos filmes em 1967, já com a saúde debilitada, para filmar Adivinhe Quem vem para Jantar, novamente dirigido por Kramer e voltando a fazer par com Katherine Hepburn. Três semanas após a conclusão das filmagens, ela encontrou o ator morto na cozinha de sua casa devido a um ataque cardíaco. Seu último filme lhe rendeu um Bafta póstumo de melhor ator.

 

No final cartunesco do hilário "Deu a Louca no Mundo" (1963), de Stanley Kramer. Aqui os dois deixaram  drama de lado numa comédia alucinada

 

Tracy é descrito como um dos maiores atores da história do cinema dos Estados Unidos. Participou em mais de setenta filmes em três décadas. Juntamente com Laurence Olivier possui o recorde de indicações a Oscar de melhor ator.

 


"Adivinhe Quem Vem para Jantar" (1967), de Stanley Kramer. Última atuação, com Hepburn e Sidney Poitier, interpretando o namorado da sua filha (Katharine Houghton). Discutindo a questão do racismo explícito e implícito na sociedade

 

Sua figura seviu de inspiração para a criação do personagem Carl Fredericksen da animação da Pixar UP - Altas Aventuras (2009) cujo perfil turrão condizia com o do ator que dentre sua frases costumava dizer: “-Por que os atores pensam que são tão importantes? Eles não são. Atuar não é um trabalho importante no esquema das coisas. O de encanador é.”

 

A arte imita a vida: O velho turrão Carl Fredericksen de "UP - Altas Aventuras" teve o seu visual inspirado no do velho Spencer, como o "arquétipo dos nossos avós"

 

 

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