Malemolência, simpatia e até classe
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1960 em seus primórdios, no boxe. Notem que sua postura corporal já parece a de um típico personagem que ele faria no cinema |
Aquele
francês simples, malandro, de sorriso maroto e sempre bronzeado. Que, mesmo fazendo bandidos, ganhava a nossa simpatia. Dono de uma
expressividade que funcionava maravilhosamente bem tanto na canastrice
quanto no drama e, principalmente, na comédia. Para toda uma geração ele
foi sinônimo de astro descolado, e talentoso. Capaz de não se levar à sério
mas ao mesmo tempo poder com um simples olhar lhe emocionar às
lágrimas. Este era Jean-Paul Belmondo ( ⭐ 09 de abril de 1933, Neuilly-sur-Seine, França) - ✝ 6 de setembro de 2021, Quai d´Orsay, Paris, França ).
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Com Jean Seberg em "Acossado" (1960), de Jean-Luc Goddard. O filme que o catapultou ao estrelato, tornando-o um astro de primeira grandeza |
Filho do escultor parisiense Paul Belmondo (1898-1982) e da dançarina Madeleine Belmondo, além de pai do ex-piloto de Fórmula 1 Paul Belmondo. Na juventude, não foi muito bem nos estudos, mas desenvolveu uma grande paixão pelo boxe e pelo futebol.
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Com Claudia Cardinale em "Cartouche" (1962), de Philippe de Broca: Aventura rocambolesca |
Ao descobrir a atuação, foram necessárias três tentativas até que o Conservatório de Paris concordasse, em 1952, em aceitá-lo como estudante. Mesmo assim, não foi uma passagem tranquila e Belmondo desistiu, irritado, em 1956, após a má recepção de um júri do conservatório sobre uma de suas apresentações.
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"O Homem do Rio" (1964), de Philippe de Broca: Filme que apresentou Brasília ao mundo... |
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... onde Belmondo exibiu seus dotes atléticos, dispensando dublês |
Um de seus professores na época afirmou: “O sr. Belmondo nunca terá sucesso com sua cara de desordeiro”.
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"O Diabo das Onze Horas" (1965), de Jean-Luc Godard |
A resposta de Belmondo foi um gesto obsceno. Ele estrelou mais de 80 filmes, muitos deles sucessos de bilheteria, durante o meio século seguinte.
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Sucesso: Na década de 1960, entre Ursula Andrews e Catherine Deneuve |
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Com Catherine Deneuve em "A Sereia do Mississipi" (1965), de François Truffaut |
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Com o amigo Alain Delon em "Borsalino" (1970), de Jacques Deray: Sucesso de público e crítica |
Um dos atores mais amado pelas mulheres de sua geração, o francês, de origem italiana, estrelou 80 filmes ao longo dos mais de 50 anos de carreira. Venceu o Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2011e o Leão de Ouro no Festival de Veneza, no ano de 2016.
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"O Magnífico" (1973), de Philippe de Broca, com Jaqueline Bisset: um dos seus maiores sucessos, numa comédia metalinguística... |
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... onde ele é um escritor de livros de bolso tipo "ZZ7" e se imagina como o herói "Bob Saint-Claude”, um super-espião digno de James Bond |
O sucesso foi tanto, que, Belmondo e de Broca repetiram a dose em O Magnífico (Le Magnifique, 1973), seu maior sucesso. Uma ótima comédia romântica mesclada com metalinguagem. Ele atua, ao lado de Jacqueline Bisset, como um autor de livros de espionagem que imagina ser “Bob Saint-Claude”, o próprio personagem que criou. Na mesma leva, ainda fez O Animal (L'Animal, 1977), de Claude Zidi, desta vez com a bela Raquel Welch. Nele, mais uma vez, realiza performances incríveis, quase sem o uso de dublês, como em muitos de seus filmes.
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Em "Stavisky" (1974). de Alain Resnais: consagração de público e crítica |
Fisicamente, o ator serviu de inspiração para o malicioso e teimoso tenente do exército norte-americano Mike Steve Donovan, verdadeiro nome de Blueberry, o herói do Velho-Oeste criado para os quadrinhos franco-belgas pelo roteirista Jean-Michael Charlier e pelo desenhista Jean Giraud, o Moebius.
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A vida imita a arte: Blueberry (esq.e dir.), de Charlier e Moebius, teve Belmondo como modelo, envelhecendo ao longo das histórias |
Os anos 1970 foram o
auge de sua carreira, com uma série de filmes de sucesso mundial e com
elencos internacionais. Mas, mesmo assim, não o levaram aos Estados
Unidos, como tantos de sua geração. Mesmo fazendo filmes falados (ou
dublados) em inglês, Belmondo sempre foi francês/europeu. Nunca quis ser
um “Johnny qualquer” sob o falso brilho de Hollywood.
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Como Jean Valjean na versão ambientada na França ocupada de "Os Miseráveis" (1995), de Claude Lelouch |
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Nos palcos em" Kean", mostrando ser capaz de encarar, e bem, o teatro |
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Com o amigo Alain Delon, curtindo as lembranças de um passado bem administrado |
“Quando um ator faz sucesso, as pessoas lhe dão as costas e dizem que ele escolheu o caminho mais fácil, que não quer se esforçar ou se arriscar. Mas, se fosse tão fácil lotar os cinemas, então o mundo do cinema teria uma saúde muito melhor do que a que tem. Não acho que eu teria ficado nos holofotes por tanto tempo se estivesse fazendo qualquer bobagem. As pessoas não são estúpidas”.
Jean-Paul Belmondo
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-"E cai o pano 'mes amis'... Eu tive uma boa vida. O que mais eu poderia pedir???" |
Como sempre, bastante informação reunida em um texto leve e ágil. Dá pra acompanhar direitinho o caminho trilhado pelo feio mais belo - e cativante - do cinema francês.
ResponderExcluirObrigado! Sinto muito a falta do cinema francês, italiano, etc... na grade de programação da nossa TV aberta.
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