quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Ele é "O Cara!!!" - Crítica – Filmes: Magnatas do Crime (2019)

 

Rei da Selva

por Alexandre César

(Originalmente postado em 22/ 05/ 2020)


Guy Richtie mescla reflexão, ironia e metalinguagem
 

Guy Ritchie fala sobre a estabilidade e a necessidade de mudança, 
mesmo no mundo do crime...

 

Michael Pearson (Matthew McConaughey de Clube de Compras Dallas) é um talentoso americano, graduado em Oxford, usando suas únicas habilidades (audácia e pecha para a violência), cria um império da marijuana empire usando seus contatos com a aristocracia inglesa. Entretanto, nosso “Rei da Selva”, pegou gosto por uma vida estável e tranqula, junto com a sua bela esposa Rosalind (Michelle Dockery de Downton Abbey) e quer curtir a meia-iade sem se preocupar em olhar à sua volta. Mas, quando ele tenta vender o seu império para um amigo bilionário americano, uma corrente de eventos se inicia, envolvendo chantagem, decepção, desentendimentos e assassinatos entre gangs de rua, oligarcas russos, gangsters das Tríades chinesas e jornalistas enxeridos.

A "rainha" Rosalind (Michelle Dockery) e o "Rei" Michael Pearson (Matthew McConaughey): Cidadãos e filantropos de respeito na alta sociedade londrina

 
Escrito e dirigido por Guy Ritchie (Aladdin, a cinesérie Sherlock Holmes) Magnatas do Crime (2019) reflete com ácida ironia sobre a virada da meia-idade e devido à ela, a necessidade de aceitar a mudança, e o aprender a se necessário, adiar os planos quando a realidade não permite a sua execução imediata (ou não?).
 
 
Ray (Charlie Hunnam) o "braço direito" de Michael, acostumado a fazer todo o tipo de trabalho necessário

O roteiro de Guy Ritchie, em parceria com Ivan Atkinson & Marn Davies destila cinismo e ironia ao descrever o universo de Michael, Rosalind e o seu consignere Ray (Charlie Hunnam de Círculo de Fogo), o braço-direito e “pau-para-toda-obra”de Michael, que resolve qualquer parada, lidando com a galeria de tipos que povoam este universo de caras durões, mas capazes de questionamentos existenciais e conceituais, numa similaridade com, do outro lado do oceano, Quentim Tarantino.

Semeando problemas: Michael compra a antipatia do chefão da mídia Big Dave (Eddie Marsan) ao recusar um aperto de mão numa reunião

O trabalho obriga Ray em certa altura a orientar a jovem Laura Pressfield (Eliot Sumner) em encontrar um sentio para a vida

Somos apresentados a tipos como Mathew (Jeremy Strong de O Juiz) o milionário yanque judeu (e gay discreto) que se interessa em assumir o negócio; Coach (Colin Farrel de Dumbo) treinador de uma academia de lutas e que tem uma relação paternal com os jovens que treinam no seu espaço; o l´der da Tríade chinesa Lorde George (Tom Wu de Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw) e o seu discípulo rebelde Dry Eye (Henry Golding de Podres de Ricos) que quer “tomar conta do pedaço” ; o inimigo figadal de Michael e barão da imprensa Big Dave (Eddie Marsan de Deadpool 2) e Fletcher (Hugh Grant de Um Grande Garoto) o repórter enxerido e canalha que é mandado por Dave para levantar os podres de Michael mas acha melhor propor uma chantagem.Tipos ao mesmo tempo estereotipados mas com uma palpabilidade que só uma boa direção de atores e um bom elenco é capaz de criar.
 
 
Amigos, amigos... Matthew (Jeremy Strong) é o bilionário americano interessado em comprar o negócio de Michael

 
Uma grande sacada é a forma como o roteiro, em conjunção com a fotografia de Alan Stewart (Aladdin) e a montagem de James Herbert (Aladdin), Paul Machliss (Scott Pilgrim Contra O Mundo) flerta com a metalinguagem nos momentos em que Fletcher conta À Ray a história de Michael como se fosse um roteiro cinematográfico, e inclusive em certa altura inclusive citando A Conversação (1974) de Francis Ford Coppola e descrevendo as qualidades da película em 35 mms e a vantagem do analógico sobre o digital.

Coach (Colin Farrel) é o dono de uma academia de lutas que "paga um dobrado" para manter seus rapazes na linha

Fletcher discorre altos papos meta-linguísticos que dão o charme à trama
 
 
O desenho de produção de Gemma Jackson (Game of Thrones) e a direção de arte de Oliver Carrol (Han Solo: Uma História Star Wars) e Fiona Gavin (Outlander) delimita bem as classes e tribos sociais em seus espaços ora luxuosos e até um pouco saturados em alguns casos para diferenciar um rico elegante e refinado de um novo-rico cafona passando pelos ambientes austeros e funcionais da fazenda de Cannabis de Michael ou da academia de Coach, coisa que a decoração de sets de Sarah White (Bohemian Rhapsody) valoriza com detalhes sutis como o “peso de papel” que auda e muito à Rosalind num momento crucial da trama; complementados pelos figurinos de Michael Wilkinson (Liga da Justiça) que marca bem a distinção de origens e formação nos trajes elegantes e sóbrios de Rosalind, os ternos bem cortados de Michael e principalmente de Ray, nos moletons de Coach e seus rapazes, ou no casaco de trabalho de Fletcher.
 
 
O repórter Fletcher (Hugh Grant) levanta todo o passado de Michael, bem como suas atividades, visando uma chantagem rentável

"M3#d@ acontece!" Os Toddlers, rapazes da academia se metem numa "roubada" e Coach se compromete com Michael e Ray a compensá-los pelos erros de seus "meninos"

 
A música de Christopher Benstead (Gravidade, Dep. Musical) ilustra esse universo citadino heterodoxo mesclando vários ritmos em sua trilha incidental, que inclui nos créditos finais a versão sem cortes do video clipe "Box in the Bush" dos Toddlers e incluem Oh Shit” por The Pharcyde definindo a pluralidade de ritmos, que levaria Ray a se perguntar, como em certa altura ele o faz à um grupo de drogados: -” No meu tempo, se fumava um baseado, tomávamos um vinho e transávamos ouvindo Barry White! O que houve com vocês?”
 

Conflito de gerações: Dry Eye (Henry Golding) discorda de Lord George (Tom Wu) quanto ao rumo que as Tríades chinesas Londrinas devem tomar no negócio das drogas

Rosalind, é o "porto seguro" de Michael, por quem ele tem uma paixão louca

 
 Ao final Os Magnatas do Crime continua a tradição de Guy Ritchie de mostrar esse submundo do crime inglês com a mesma desenvoltura, e pique narrativo de sempre, que se não inova, diverte com suas reviravoltas e narrativa picotada, sem se levar a sério mas ainda sim tendo um bom fôlego para contar uma história e deixando claro como diz Mickey Pearson: -”Só há uma lei na selva: Quando o leão está faminto, ele come!”
 

A direção de arte e os figurinos marcam bem a diferença de mundos dos personagens, de perfil mais popular dos protagonistas, bem diferentes de Matthew, que é a elite em pessoa

- "Não basta ser o Rei da Selva,. Tem que agir como um!!!"
 
Que aprendamos a andar na selva tendo isso em mente...
 
- " O cara caiu na linha e o tren pegou... foi mal parceiro!" 
- " Pois é! Desculpa tá:!?"

 

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