segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

O imparável e o imovível - Crítica - filmes: Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw (2019)

 

A Guerra dos “Tanquinhos”

por Alexandre César

(Originalmente postado em 01 / 08/ 2019)


Spin-off da franquia se revela uma divertida bobagem

O primeiro "spin-off" da popular cinesérie vai fundo...
 
 

Surgidos como coadjuvantes na franquia Velozes & Furiosos, mais especificamente nas partes 5 (Velozes & Furiosos 5: Operação Rio de 2011) e 6 (Velozes & Furiosos 6 de 2013),  já na fase em que a cinesérie havia optado por deixar como foco principal os carros tunados e mulheres de roupas curtas com idêntica intensidade, optando pela aventura alucinada, plena de autoparódia que ampliaram o seu público-alvo) Luke Hoobs (Dwayne Johnson) e Deckard Shaw (Jason Statham) rapidamente caíram no gosto da audiência, muito em parte devido ao carisma e talento dos astros, gerando inclusive um “racha” interno com os remanescentes de elenco original, sentindo-se alijados de seu protagonismo (tanto é que não colaboraram na divulgação internacional do filme...) e agora estrelam o primeiro spin-off da franquia, que correrá paralelo à cinesérie original, que deverá estrear a próxima sequência em 2020 já sem esses personagens. Bilheterias e egos: Coisas de cinema...

 

Brixton Lore (Idris Elba) o vilão "tunado" por implantes cibernéticos. Genérico, mas com potencial futuro...

 

 Enquanto o eterno “The Rock” já entrou na franquia como um dos mocinhos e um bom paizão na melhor tradição “famíla é tudo” da franquia, o inglês casca-grossa (transplantado da franquia Carga Explosiva) surgiu na cena pós-créditos da da parte 6 como o irmão mais velho do vilão Owen Shaw (Luke Evans), tornando-se o antagonista da parte 7 e, “milagres” da sétima arte, na parte 8 os dois irmãos foram reabilitados ao aceitarem salvar o bebê, filho de Dominic Toretto (Vin Diesel) num resgate em pleno ar no jato da bela e cruel Cypher (Charlize Theron) numa inesperada participação especial, digna dos filmes da Marvel. Estavam lançadas as sementes da expansão...

 

Hattie Shaw (Vanessa Kirby) a "mana" de Shaw: Dura na queda como o irmão Deckard

 

Dirigido por David Leitch (Deadpool 2 de 2018, Atômica de 2017) Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (2019) cumpre bem a sua missão de fazer uma boa aventura descerebrada e descartável, que poderá render frutos caso a bilheteria corresponda, até porque, tirando uma escorregadela ou outra o trunfo do filme é se saber ser uma aventura descerebrada e descartável...

Os dois se bicam o tempo todo em boas piadas metalinguísticas.

O vilão da vez é Brixton Lore (Idris Elba) um ex-agente do MI-6 e antigo desafeto de Shaw, que é um verdadeiro “Exterminador” sendo aprimorado ciberneticamente, com enxertos em seu corpo que dão força e agilidade sobre-humanas, servindo inclusive como uma resposta para aqueles que viraram o rosto quando se especulou da sua indicação para substituir Daniel Craig como James Bond, o 007. Embora seja um vilão genérico, Brixton tem potencial para ser melhor explorado num futuro, até porque, em Velozes & Furiosos, tal qual nos gibis da Marvel, a morte não é um impedimento (salvo quando for a morte de um ator, como foi no caso de Paul Walker).


Brixton não dá mole para ninguém e segue firma na caçada...

Na trama Hattie Shaw (Vanessa Kirby de Missão: Impossível - Efeito Fallout  bem à vontade no papel) a irmã mas nova de Deckard e agente do MI-6 faz parte da escolta do transporte de um vírus letal apreendido de um grupo terrorista, sendo o mesmo atacado por Brixton e seus sequazes, sendo ela a única sobrevivente. Para não entregar a carga, ela inocula o vírus em si mesma, precisando fazer a extração em 30 horas para não morrer, quando as cápsulas em sua corrente sanguínea se dissolverão. Brixton espalha via internet fake news desacreditando-a como traidora e assim deixando-a sózinha e sem apoio. Entra aí a CIA via o agente de ligação e Hobbs (Ryan Reynolds “no modo Deadpool”) que recruta os dois “casca-grossas” para resgatar o vírus, salvando a tiracolo Hattie, o mundo e de quebra resgatando os vínculos familiares tanto de Shaw, que realiza o sonho de sua mãe, a perigosa e classuda Magdalene (Helen Mirren roubando a cena sem esforço) de reunir a família, quanto de Hobbs, que resgata a sua herança familiar samoana, da qual estava afastado há 15 anos. Nada mal para alguns dias de trabalho...


"-Garotos... sempre brigando..."

A história de Chris Morgan (os filmes 4, 5, 6 e 7 da série) que assina o roteiro com Drew Pearce (Hotel Artemis), que por sua vez é baseado nos personagens criados por Gary Scott Thompson trabalha os clichês do gênero ora de forma esperta ora de forma convencional, descrevendo a velha história dos “dois caras que não se bicam sendo obrigados a aprender a deixar as suas diferenças de lado ao enfrentarem uma desafio comum”, coisa que caso não se apoiasse numa boa dupla de intérpretes renderia apenas uma versão anabolizada daqueles telefilmes que vemos domingo à noite na Rede Globo. O primeiro ato, quando são apresentados os personagens em seus mundos, mostrando em paralelo as diferenças e similaridades entre a ensolarada Califórnia e a chuvosa Londres é de um primor impecável, graças à edição de Christian Wagner (A Outra Face, Chamas da Vingança, MIB Internacional) e Elisabet Rónaldsdóttir (Contrabando, 2012, Deadpool 2) que decupa brilhantemente o modo de vida tanto de Hobbs quanto de Shaw, valorizada pela bela fotografia Jonathan Sela (Max Payne, John Wick: De Volta ao Jogo) usando uma tabela diferenciada de cores para cada país.


A herança samoana de Hobbs: Como diria Toretto "- Famíla é tudo..."

Integram ainda a galeria de personagens Madame M (Eiza González de Alita: Anjo de Combate e a série  Um Drink no Inferno da Netflix) como a típica chefe gostosona de uma quadrilha de mulheres (típico fetiche do gênero), o Prof. Andreiko (Eddie Marsan de Atômica) o típico cientista que “criou uma arma de destruição em massa mas não sabia o que iria ser feito dela” (outro clichê), Sam (Eliana Sua) a fofa e esperta filhinha de Hobbs, que vê escondida do pai Game of Thrones, e o resto da família: Os irmãos Jonah Hobbs (Cliff Curtis de Megatubarão), Kal Hobbs (John Tui), Timo Hobbs (Josh Mauga) e a mãezona Sefina (Lori Pelenise Tuisano) que mantèm o clâ na linha sob a ameaça de chineladas. Eu, não a desafiaria...O clã Hobbs resgata a tradição familiar da série, e resgata os carros tunados, foco inicial da franquia, e noo climax há uma mensagem subliminar quando cada irmão pilota um carro impulsionado com o bom e velho óxido nitroso, de alta octanagem, engatando um nos outro, formando uma corrente e, impedindo o helicóptero do vilão de fugir. Os elos familiares quando cultivados são invencíveis, uma lição digna do clã Toretto, embora feita de forma meio over.


Momento introspectivo-primal: AAAAAAAHHHHHH!!!!


O filme a partir da metade perde um pouco o fôlego, ficando em alguns momentos arrastado mesmo nas cenas de ação, pela necessidade de dar tanto a Johnson quanto a Stathan (que são alguns dos produtores do filme) o mesmo tempo de cena esquecendo por causa disso a regra de ouro do “menos é mais” . Se reduzissem uns dez minutos na metragem, o filme ficaria mais enxuto e eficiente sem prejudicar o protagonismo de seus astros.


O legado da série: Carros tunados dão as caras no climax.

No mais , os valores de produção como o desenho de produção de David Schnemann (Bastardos Inglórios, Atômica) e os figurinos Sarah Evelyn (A Torre Negra, American Horror Story) são eficientes, embora nada memoráveis, da mesma forma, a música Tyler Bates (Watchmen, John Wick 3: Parabellum ) cumpre a sua parte, com uma seleção de hits clássicos e contemporâneos, criando um produto dançante, mas não memorável.


Dá & leva: Ao final se resolve a coisa no "apanho uma e dou outra"...


Ao final, o público-alvo provavelmente sairá satisfeito com essa nova frente da franquia, que correrá paralela ao núcleo original. Em que pesem prós e contras o consumo de pipoca e refrigerante não deverá ser prejudicado, pois como um colega já disse que “a equipe de Velozes & Furiosos é a versão classe operária da Liga da Justiça agora teremos Toretto & Cia como a Liga da Justiça da América agindo na Terra do Tio Sam e Hobbs & Shaw como a Liga da Justiça Internacional provavelmente salvando o mundo em locações variadas, pois eles inclusive terminam o filme tendo a sua nêmesis, A sua Espectre, tal qual James Bond...


Hobbs: "- Eu sou o Batman e você é o Robin nesta dupla. Entendeu? 
" Shaw: "- Nem F*#%dendo!!! Robin de c*% é r&la!!!"

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