sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Crítica - Filmes - Annabelle 3: De Volta Para Casa (2019)

 

O meio, mensagem e a boneca...

por Alexandre César
(Originalmente postado em 10/ 08/ 2019)


E finalmente o universo de James Wan ganha uma boa sequência




"-Espero que ninguém pense em abrir o armário só porque colocamos uma placa pedindo para não o abrir..."



Como já comentamos anteriormente, em outra crítica, certas franquias são a perfeita materialização da frase do Filósofo canadense Marshall McLuhan: “o meio é a mensagem”. Portanto o público virá, independente de n fatores questionáveis, não importando se o filme é bom, se os atores estão empenhados ou apenas pagando o aluguel, se o roteiro tem afinal algum sentido ou outra dessas “coisas de crítico”. E caso os produtores sejam sábios, dosarão “o mais do mesmo” que o público-alvo quer com injeções de inteligência e valor autoral para garantir a sua constante reinvenção. Transformers, Resident Evil, X-Men (que agora voltou para a Marvel), Jurassic Park/ World e Missão Impossível se encontram neste patamar, posição que James Wan conquistou com seu Toque de Midas ao transformar a franquia Invocação do Mal em uma das mais bem sucedidas sagas de terror atuais, revitalizando o gênero terror como um nicho lucrativo, mas seus vários derivados não ajudaram a aliviar a impressão de que embora todos tenham tido sucesso financeiro, nenhum realmente conquistou o público do mesmo jeito que os filmes originais de Wan. Filmes como A Freira (2018)  e  A Maldição da Chorona (2019) de desgastaram ainda mais a fórmula. É por isso que  Annabelle 3: De Volta para Casa ao chegar sem expectativas para atender, surpreende ao aliar o “mais do mesmo” com valor narrativo.



Lorraine Warren (Vera Farmiga) e a "boneca do mal"




Dirigido e escrito por Gary Auberman, roteirista de diversos capítulos do universo Invocação do Mal e IT: A Coisa (Capítulos Um e Dois), o novo filme surge como uma versão light de um típico filme da franquia, e se contextualiza na cronologia, após o primeiro longa e de Annabelle (2014), mas antes do segundo Invocação (2016) com menos sangue e mais humor mesclando uma história de terror teen esbanjando uma seleção variada de fantasmas e monstros e, que bebe das fontes de John Hughes (1950-2009) ao situar o sentir-se deslocado no mundo, e o amadurecimento, entre outras questões que permeiam a vida adolescente.

 

Ed Warren  (Patrick  Wilson) o pesquisador e motorista distraído



Como um agradável refresco aos fãs calejados, vemos novamente a dupla de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) que descobrem que o mal de Annabelle é liberado por motivos que, se aparentemente estapafúrdios de início, são suficientemente justificados logo em seguida ao anteriormente estabelecido, subvertendo parte das expectativas por trazer alguma profundidade emocional à ocasião, sendo que a direção usa a simplicidade narrativa para cuidadosamente desenvolver a tensão, que se distancia daquilo que torna os derivados tão cansativos, como o excesso de sustos baratos entrecortados por piadinhas fora de hora, achando que assim ficará “esperto & descolado”...


O "Museu Warren de Objetos Amaldiçoados"


O período cronológico relatado apresenta pouco material para explorar, trazendo uma ocorrência em que Judy (Mckenna Grace), filha do casal Warren, é atormentada por assombrações em casa e precisa combater os espíritos trazidos pela presença da boneca sem a ajuda dos pais (afinal, dentro da lógica de uma história de terror, “é a coisa mais natural do mundo ter dentro de casa um mini-museu cheio de objetos amaldiçoados, bastando apenas ao se ausentarem avisar à sua filha adolescente ou aos seus amigos para não entrarem lá...” Mais lógico impossível! Ou não?!) 
 
 
"A Annabelle está???"
 
 
A garota conta apenas com sua babá Mary Ellen (Madison Iseman) enfrentam os espíritos influenciados pela boneca, outros pequenos arcos são resgatados e incorporados, como o do crush Bob (Michael Cimino), alívio cômico da vez e a amiga Daniela (Katie Sarife), responsável por iniciar todo o caos ao tentar invocar a alma de seu pai na sala de artefato dos demonologistas, soltando as tantas ameaças que escapam do porão dos Warren, o que dá ao filme uma certa semelhança a filmes como Goosebumps ou Scooby-Doo 2: Monstros à Solta só que para um público mais crescido. Curiosamente Mary Ellen e Daniela parecem tanto fisicamente quanto em personalidade com genéricos de Beth e Verônica de Riverdalle, série teen do momento...
 
 
Judy Warren (Mckenna Grace, de crucifixo) e a loura baby-sitter Mary Ellen (Madison Iseman) e a morena intrometida Daniela (Katie Sarife).
 
 
O conhecimento de Dauberman do gênero fica evidente não no controle do silêncio, especialmente para construir a atmosfera do medo sem necessariamente apoiar-se no susto, compensando a previsibilidade da fórmula da série e deixa o espectador em estado de alerta.
 
 
"Tô de olho em você!!!"
 
 
Pode inicialmente parecer algo irrelevante, mas isso cria um clima beeem mais pesado do que qualquer um de seus antecessores. O gosto pelo terror puro é mantido por quase toda a experiência, como também nos momentos de susto: a idéia de Annabelle ser um “conduíte para espíritos malignos”manifesta-se através das assombrações “brincando”com elementos do cenários, como uma luminária infantil projetando sombras contorcidas nas paredes, ou na cena em que Daniela assiste a seus próprios movimentos numa antiga televisão, que exibe um possível futuro imediato sangrento para a garota.
 
 
O Barqueiro, e seu visual legal
 
 
Como o roteiro também introduz de forma sóbria diversas entidades e, para evitar que elas se anulem umas às outras, elas quase nunca contracenam entre si para não deixar de ser inconsistentes quanto à idealização e sua realização em tela. No quesito estético, as melhores delas são facilmente o Barqueiro, um ceifador com moedas sobre os olhos, e a própria Annabelle, cujo demônio interior se manifesta de maneira fascinante, em uma tensa cena com um abajur com filtros coloridos que, quando alternados, gradualmente revelam sua verdadeira forma. Isto mostra que Annabelle 3 poderia se desenrolar da mesma forma com quaisquer outras criaturas incluídas na mistura pelo roteirista, reforçando a ideia de que qualquer cois possa surgir, e o divertimento...
 
 
Quando tudo fica difícil, uma oração ajuda...
 
 
Ao final fica claro que Annabelle 3 é tranquilamente o melhor derivado de Invocação do Mal, servindo como boa coletânea de sustos e assombrações por colocar algo importantíssimo para qualquer filme de monstro: regras. O Barqueiro, por exemplo, some quando iluminado por uma lanterna, como a Diana de Quando as Luzes se Apagam, mas depois já não é afetado por outra fonte de luz, mas mesmo com ritmo e muita criatividade nos ataques sombrios, o filme não se livra do peso de ser uma adição tardia à franquia, apesar de percebermos facilmente a mesma estrutura formulaica que fez A Freira e A Chorona serem continuações preguiçosas e burocráticas, o que nos leva a ter dúvidas quanto de fôlego ainda há na franquia. 
 
 
"O que as sombras revelam..."
 
 
Felizmente Dauberman provou ser tão competente enquanto diretor quanto roteirista, dando ao público - que aguentou quatro expansões mornas - um presente pela paciência na forma de uma boneca com sede de almas. Quem sabe a saída não seria uma série de antologia, focada nos artefatos estocados na sala de relíquias dos Warren? Seria um prato cheio, e a nossa tõ conhecida Annabelle poderia servir como algum tipo de mestre de cerimônias como em Tales from the Crypt...
 
 
Poderia ser o início de uma série. "Contos da Annabelle"...


 

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