sábado, 18 de abril de 2020

De chorar... - Crítica - Filmes: A Maldição da Chorona (2019)

 

"Mais do Mesmo" só...


por Ronald Lima 
 (Originalmente postado em 18 / 04 / 2019)


O universo compartilhado de James Wan pedia mais cuidado

O cartaz promete... só.


“La Llorona. A mulher chorona. Uma aparição horripilante, existindo entre o Céu e o Inferno, presa em um terrível destino selado por seus próprios atos, pois quando viva, ela afogou seus filhos com uma terrível raiva e jogou-se no rio atrás deles enquanto chorava de dor. Agora as lágrimas dela se tornaram eternas e letais, e aqueles que a ouvem chamando na noite, estão condenados à morte. A menção de seu nome alcançou o terror por gerações... La Llorona se arrasta nas sombras e desesperada ataca as crianças, para substituir as dela. Com o passar dos séculos, seu desejo tornou-se mais voraz ... e seus métodos mais aterrorizantes. Cuidado com o seu lamento arrepiante... pois ela vai atraí-lo para a escuridão. Porque não há paz para sua angústia. Não há piedade para sua a alma e não há como escapar da maldição de La Llorona...”
 
A "família-alvo": O menino Chris (Roman Christou), a menina Sam (Jaynee-Lynne Kinchen) e a mãe Anna (Linda Cardellini).

 
O folclore e a superstição são elementos mais do que conhecidos dentro do cinema de horror. Filmes como  Adoradores do Diabo de John Schlesinger (1987) e A Maldição dos Mortos-Vivos de Wes Craven (1986), ou a obra-prima sul-coreana  O Lamento de Hong-jin Na (2016), são alguns dentre tantos que abordaram esse nicho, sendo agora, a vez do México apresentar para o grande público um de seus mitos sobrenaturais, ainda que este A Maldição da Chorona (The Curse of Lan Llorona, EUA, 2019), seja uma produção americana. Embora tenha um título idêntico ao filme de 1963 de Rafael Baledón La Maldición de la Llorona as obras têm argumentos, estilos e valores distintos (bota distintos nisso)... 
 
 
Patrícia (Patrícia Velasquez): "- Vocês vão comer o pão que Imothep amassou!!!"
 
 
Em seu filme de estreia, o diretor Michael Chaves prova ser um aplicado discípulo de James Wan, incluindo sequências eficazes que fazem bom uso da escuridão e espaços internos, havendo até uma breve referência ao clássico Evil Dead (1983) de Sam Raimi, onde a câmera passeia simulando o ponto de vista de um espírito prestes a invadir um local pela porta da frente. Mas, esta nova produção derivada do universo da franquia Invocação do Mal ( 2013) de James Wan, sofre com um decepcionante roteiro anêmico, repleto de sustos 100% PREVISÍVEIS, fruto da indecisão dos roteiristas Mikki Daughtry e Tobias Iaconis, sobre qual seria realmente seu público-alvo, se aquele que só consome o “mais do mesmo” ou, aquele que busca um algo mais em termos de história e narrativa, pois o roteiro só convence realmente aos iniciantes no gênero, abordando o horror como se somente iniciantes fossem assistir ao filme o que estupidamente não é o caso já que faz parte de um conceito de criaturas do “Universo” Invocação do Mal e assim a turma que curte irá se decepcionar, o texto procura não correr riscos e abusando da zona de conforto, a Warner deve realmente acreditar de que o terror estilo “jump scare” é uma mina de ouro (e assim o mantém) criou um público alvo que é fiel e engajado (o que garante ótimos índices de bilheteria) mas não gera pressão para apresentar algo de qualidade. 
 
 
Logo a "Chorona" (Marisol Ramirez) dá as caras, e os "sustos"...
 
 
O filme nos apresenta a Anna (a bela Linda Cardellini, a Selma de Scoby-Doo) viúva de um policial (muito católico) assassinado no cumprimento do dever e mãe de duas crianças, Chris (Roman Christou) e Sam (Jaynee-Lynne Kinchen). Anna é uma investigadora do serviço tutelar da cidade, e seu trabalho a leva até a casa de Patricia (Patricia Velasquez, da cinesérie A Múmia com Brendan Fraser), cujos filhos não aparecem na escola já há alguns dias. Após vasculhar a casa, Anna os encontra trancados num armário com um selo protetor pintado na porta, e como já deu para perceber, Patricia está tentando proteger seus filhos da Chorona (Marisol Ramirez) do título, uma presença sobrenatural vestida de branco que há três séculos rouba crianças na esperança de substituir suas próprias, as quais ela afogou num ataque de ciúmes. Pouco tempo depois de sua visita à casa de Patricia, Anna descobre que seus próprios filhos agora estão correndo perigo. A pergunta que não quer falar, é quem raios partam conjurou tal entidade ao longo dos anos, e porquê ela, que afogou os filhos, vestida de noiva? Parente da Médea da mitologia grega? Um plot para uma sequência?...
 
 
Massagem capilar...

 
 
A imagética em torno do fantasma é a tradicional, explorada nos últimos 30 anos no gênero, sem grandes novidades, desperdiçando a discussão cultural sobre a Chorona, a história do século XVII do folclore mexicano com o péssimo aproveitamento do curandeiro exorcista que parece ser especialista em maldições (Raymond Cruz de Breaking Bad e Better Call Saul), ele é basicamente um alívio cômico, confesso até que me fez rir, e serve apenas para que a protagonista tenha chance de sobreviver, pois não pensa por si só (Cardellini não segura o filme sozinha e as crianças são caricatas...). Bem diferentes do casal Ed e Lorraine Warren. A trilha sonora de Joseph Bishara procura ter papel fundamental para construir a atmosfera de tensão, mas isso se perde após a apresentação prematura da personagem central do filme, quando se deixa de lado a construção de personagens dos diálogos, se apoiando nos típicos sustos baseados na composição sonora. 
 
 
O curandeiro (Raymond Cruz) usa de suas habilidades místicas e de sua posição de alívio cômico...
 
 
A fotografia de Michael Burgess, o design de produção de Melanie Jones e os figurinos de Megan Spatz se esforçam para convencer que a história é realmente ambientada na Los Angeles de 1973, mas o ritmo e a narrativa e o ambiente não faz parecer que o filme se passa realmente nesta época, com exceção da falta de celulares e da presença das antigas tevês de tubo, além dos carros bebedores de gasolina... A história se passa nessa nessa época tão somente para linkar a outros personagens da franquia. Há alguns bons momentos, como quando a Chorona surge atrás da pequenina Sam e começa a lavar seus cabelos, ou antes disso quando ela ataca os filhos da Patricia (ou a cena com a mesma Sam e um guarda-chuva, a que eu mais gostei). Entretanto, o plot transcorre de forma convencional e insossa. A água é usada, tal qual em muitos filmes japoneses do gênero, como um veículo ou ambiente onde a entidade se manifesta e permite ir de um lugar a outro, similar ao recente A Sereia Lago dos Mortos (2018), Chorona também cria algumas lufadas de ar e entidades + espelhos é bem clássico. As performances estão na média (apesar do roteiro) mas nada arrepiante como a figura da freira de Invocação do Mal 2 (2016), por exemplo. A entrada dessa história no universo de The Conjuring é um tanto... forçada, ao introduzir o Padre Perez (Tony Amendola) já conhecido por nós em Annabelle (2014) colocando o filme como mero spin-off... Ah! Verdade o marido de Anna é católico, tá “explicado” por que ela recorre a Igreja mesmo sendo descrente. 
 
 
"-Sou um curandeiro, não o Doutor Estranho!!!"

 
 
A Chorona mais parece uma versão live-action da Noiva-Cadáver, ou seja, o medo da sua presença passa longe dessa história, construindo praticamente todos os sustos à base de jump scares, fazendo o modelo perfeito de terror genérico e estúpido, com diálogos explicativos ao excesso e personagens bidimensionais e sem encanto, que cometem burradas e levam um susto a cada 5 minutos (e quando não há ação, a preparação para o susto é longa demais e aí está a quebra do desejado susto) ficando entediante e óbvia depois de alguns minutos, diluindo o impacto de sua presença ao longo do filme, e enfraquecendo seus momentos finais, chegando ao tosco, perdendo de verdade uma boa solução para um final melhor à personagem em uma cena momentos antes (se fosse “ali” ao menos o final ficaria legal). Não esperem cenas pós créditos... mas há um leve gancho para uma provável sequência, talvez origem e motivação da entidade, a questão será que depois desse terão que montar algo muito superior com ótima divulgação para convencer o público.
 
 
"- Crianças, Vamos brincar de pega-pega pela nonagésima vez???"

 
 
Assim como o recente A Freira (2018), é decepcionante ver que o promissor “Wanverse” (universo compartilhado de filmes de terror criado por James Wan) vai de mal a pior. Parece que a falta de criatividade e inspiração se estabeleceu dentro da franquia, replicando fórmulas já batidas, sem inovar ou dar qualquer elemento significativo que mantenha os filmes relevantes. Sendo assim, A Maldição da Chorona tinha tudo para ser um bom pequeno e promissor filme de horror sobre um interessante mito sobrenatural, mas nem a produção de Wan é capaz de salvar uma produção tão fraca e preguiçosa, especialmente no que diz respeito à direção e narrativa, que cai na maldição de ser genérico e esquecível, desperdiçando qualquer chance de inovar o gênero, e se não vem para colocar o último prego no caixão, vem pelo menos, para evidenciar que a qualidade não é mais um diferencial, sendo neste caso, o retorno da bilheteria o que determinará se alguma mudança será necessária na franquia de terror da Warner.
 
 
As verdinhas sempre dão a última palavra. Um horror... 
 
 
Padre Perez (Tony Amendola)no "Nick Fury" do "Wanverse":
 "- Se a sua filha quiser, tenho uma boneca que ela vai adorar!"

 

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