quinta-feira, 16 de abril de 2020

E surge o "Grande Queijo Vermelho"! - Crítica - Filmes: Shazam! (2019)

 

Diga o meu nome!

por Alexandre César

(originalmente postado em 05/ 04/ 2019)


Embora não use o nome este é o Capitão Marvel-Raiz !!!

Um menino dentro do corpo de um homem! Um conceito revolucionário!!!

 
Originalmente concebido por C.C.Beck e Bill Parker, e estreado na revista Whiz Comics, de fevereiro de 1940 da editora Fawcett Publications, o Capitão Marvel com a rapidez de um raio se tornou um sucesso, dando sérias dores da cabeça para a National Periodical Comics (a atual DC Comics), sua concorrente, cujo maior sucesso era o Super-Homem, pois enquanto o herói alienígena (que trazia o espírito das revistas da Ficção Científica para as Hqs, apontando para o futuro) tinha no seu auge uma tiragem média de 3 milhões de exemplares, o “Mortal mais poderoso da Terra” (que se apoiava no charme do passado, numa releitura da tradição da magia e do mitológico) chegava aos 5 milhões com uma facilidade preocupante (em seu auge a revista Captain Marvel Adventures vendeu em 1944 um total de 14 milhões de cópias e um milhão e trezentas mil cópias em média por edição no período em que foi publicada duas vezes por semana) o que levou a um longo e tumultuado processo da DC contra a Fawcett , alegando plágio do conceito do Superman, embora o Capitão tenha trazido inovações que várias editoras copiaram (inclusive a DC...) como tramas em capítulos, um uniforme elegante que fugia da fórmula da “cueca sobre a a malha”, crossovers com heróis da sua editora, grupos de supervilões e, ter apresentado a primeira versão feminina de super-herói que não era sidekick (Mary Marvel) quase uma década antes da Supergirl!!!

 
O Homem de Aço X O Mortal Mais Poderoso da Terra
 
 
Ele ainda de quebra foi o primeiro super-herói adaptado para o Cinema, em 1941 (cerca de um ano após a sua estréia nos gibis...) no seriado em doze episódios As Aventuras do Capitão Marvel, com o ator Tom Tyler como o herói, além de ter sido um das referências pop da comédia Sorveteiro em Apuros (1950) de Lloyd Bacon, com Jack Carson, Lola Albright, Jean Wallace e George Reeves (que posteriormente seria o Homem de Aço no seriado As Aventuras do Super-Homem de 1952 a 1958).


A "Familia Marvel" da Fawcett Publications.




Após uma longa batalha nos tribunais e a queda das vendas do pós-segunda guerra (que eclipsou a maioria dos super-heróis) o personagem (que tinha fãs célebres como Elvis Presley) foi em 1953 cedido pela Fawcett Comics (em crise financeira) para a National Periodical Comics findando o processo, colocando em seguida, o herói no limbo, para assim garantir o reinado do kryptoniano; mas pagariam por isso...
 
 
O Capitão Marvel (Mar-veel) da Marvel
 
 
 
Tempos depois um sujeitinho chamado Stan Lee, que trabalhava em uma “editorazinha” chamada Marvel Comics surgida nos anos de 1960 resolveu registrar a marca “Capitão Marvel”, antes que a agora DC a renovasse, mesmo não tendo um personagem ainda para usar o nome (o Capitão Marvel da Marvel só surgiria em 1967...) o que obrigou a DC a rebatizar a revista para Shazam! e depois para The Power of Shazam, só usando o nome do personagem Capitão Marvel no miolo da revista... Ironia divida? Castigo? Quem sabe? Mas essa história ainda teria desdobramentos pois ainda nos anos 50, surgiu na Inglaterra outro super-herói em homenagem ao Capitão Marvel que inicialmente se chamava Marvelman, cujas publicações duraram até 1963, e ao ser resgatado do ostracismo nos anos 80 pelo escritor Alan Moore foi rebatizado como Miracleman (por causa do Capitão Marvel da Marvel ) e desde então o vermelhão defensor da bondade, da paz e da justiça e seu alter-ego (o menino Billy Batson) amargaram altos e baixos como um dos personagens mais carismáticos e subutilizados da DC, habitando os corações de quem o conhece, e acalentava a ideia de pronunciar o nome do mago “SHAZAM!”, e receber um raio que transforma um garoto em um adulto, dando-lhe seis habilidades, sendo cada uma representada por uma letra do nome do mago:


S – Sabedoria de SALOMÃO;
H – Força de HÉRCULES;
A – Resistência de ATLAS;
Z – Poder de ZEUS;
A – Coragem de AQUILES;
M – Velocidade de MERCÚRIO.


 
O traumatizado Billy Batson ( Asher Angel) e o otimista Fredie Freeman (Jack Dylan Grazer)


Dirigido por David F. Sandberg (Annabelle 2 - A Criação do Mal de 2017) Shazam! (2019) resgata numa aventura divertida e lúdica o espírito do personagem, embora em nenhum momento use o nome de Capitão Marvel (por causa das questões enunciadas acima...) sabendo usar sua ingenuidade e esperança (elementos cada vez mais em falta atualmente...) num dos grandes filmes do Universo Cinematográfico DC, continuando o movimento de dar um tratamento mais solar aos personagens deste universo, até então carregado de tons sombrios. Até porque, era o que o personagem pedia!


Shazam (Zachary Levy) menino no corpo de homem,como a maioria de nós...


 
A trama é ambientada na Filadélfia, diferente do original (que vivia na cidade de Fawcett City, onde Billy trabalharia na rádio Whiz, como repórter Junior) e logo no seu início presenciamos a origem do antagonista Doutor Thaddeus Sivana (o ótimo Mark Strong, cool e estiloso como um vilão bondiano) que ainda criança na década de 1970 foi um dos candidatos rejeitados do Mago Shazam (Djimon Hounsou com visual mezzo mago Merlin mezzo aborígene papua) que o levou à uma busca obssessiva da Pedra da Eternidade e de seu poder. Pulando depois para o jovem Billy Batson (Asher Angel da série de TV Andi Mack) que abandonado, foge de um lar adotivo a outro numa igualmente obsessiva busca pela mãe, de quem se perdeu aos 4 anos, indo parar no lar adotivo de Victor Vasquez (Cooper Andrews da série de TV The Walking Dead) e Rosa Vasquez (Marta Milans, da série de TV Killer Women) ambos de origem orfã, que têm uma amorosa família multiracial de filhos: A amorosa Darla Dudley (Faithe Herman da série de TV This is Us); a centrada Mary Bromfield (Grace Fulton de Annabelle 2 - A Criação do Mal); o hacker-mirim Eugene Choi (Ian Chen da série de TV Fresh Off the Boat); o maciço e calado Pedro Peña (Jovan Armand da série de TV Hawaii Five-O); e o deficiente alto-astral Freddy Freeman (o ótimo Jack Dylan Grazer de It – A Coisa de 2017 que rouba a cena) entusiasta de super-heróis, que vem a se tornar seu melhor amigo.


A "Pedra da Eternidade". Feliz recriação dos gibis, com várias influências

 
Como em muitos filmes vemos o herói e vilão serem versões espelhadas (aqui, pela motivação) pois Billy procura o amor de uma mãe que lhe teria sido “roubado”, tornando-se rebelde e até malandro, enquanto Sivana, por ter sido rejeitado por seu pai e irmão desde o início, se voltou para a busca por poder. Um mesmo ponto inicial, dois rumos distintos.


Billy Batson e o mago Shazam (Djimoun Hounsou).
 
 
Após fugir novamente, o jovem de 14 anos acaba sendo convocado pelo mago, que vê nele a sua última alernativa, (já que Sivana libertou os Sete Pecados Capitais e começa a “barbarizar”...) e ao receber o poder do mago, se transforma no super-herói adulto Shazam (Zachary Levi da série de TV Chuck numa performance única). Um menino em sua essência – dentro de um corpo sarado, como o de um deus – auxiliado por Freddy, que se esbalda nesta versão adulta dele mesmo fazendo o que qualquer adolescente faria com superpoderes: Divertir-se com eles! Descobrir qual é o gosto da cerveja, se ele é capaz de voar, se tem visão de raio-X ou se consegue soltar raios pelas mãos ou poder falar com os peixes... Shazam e seu sidekick de muletas vai testando suas habilidades com a despreocupação típica de uma criança. O roteiro de Henry Gayden (com história de Gayden e Darren Lemke) baseado na versão escrita em 2012 por Geoff Johns (que é um dos produtores executivos, juntamente com Dwayne Johnson), abraça plenamente, sem nenhuma vergonha aquilo que a adaptação de um quadrinho sobre um adolescente que vira super-herói poderia ser.


Thaddeus Sivana (Mark Strong): Vilão cool e intimidador.
 
 
Freddy Freeman, em algumas vezes chega a apagar Billy Batson, o adolescente marcado negativamente pela vida, carrancudo e ressentido que aos poucos aprende o quão bom é ser amado e ter a quem amar passando por uma intensa jornada transformadora, tendo Freddy como o guia moral e técnico dele, estando inteiramente engajado em fazer com que o novo herói da área descubra seus poderes e, principalmente, entenda os valores envolvidos na frase “eu sou um super-herói”, abrindo caminho para Zachary Levi, que como Shazam abraça completamente o seu personagem não deixando de ser uma versão super-heróica do protagonista de Quero Ser Grande (1988) de Penny Marshall, tendo uma rápida e hilária citação num dos embates com Sivana...


Não faltam citações ao universo DC...

 
A fotografia de Maxime Alexandre caminha entre o realismo impessoal dos ambientes urbanos e em um maior grafismo nos cenários da Pedra da Eternidade, que lhe dá maiores possibilidades visuais, sendo a concepção da designer de produção Jennifer Spence uma boa surpesa para quem conhece o Universo da antiga Terra-S, com elementos dos Novos 52 coisa que se reflete nos figurinos de Leah Butler, que é muito feliz na surpresa final do combate “Bem X Mal” bem editado por Michel Aller.


Shazam e Sivana: Espelhados em suas motivações iniciais.
 
Shazam! é um filme que não se apega à necessidade de mostrar os grandes Deuses-DC em lutas épicas, construido-se sob uma gangorra de dramas familiares e comportamento adolescente que é de imensa importância para o arco do vilão, em torno do qual que a maravilhosa bobagem heróica do filme irá se desenvolver, discutindo a importância dos valores básicos que formam um herói e da força que uma família unida pode ter. Os clichês “bonitinhos” de moralidade familiar têm diferentes nuances aqui, até porque a negativa posição de Billy em relação à instituição não permitiria um enfoque a lá Frank Capra, mas chega perto às vezes...


 
Sivana não está para brincadeira, fazendo o herói se assumir como tal
 
 
No meio de tanta seriedade, quase-realismo e jornadas épicas no atual universo dos super-heróis nos cinemas, Shazam! É um sopro de leveza por não se ressentir de ser um filme bobo até, assumidamente para a família ou para qualquer um mais emotivo que tenha um bom coração batendo no peito e procure duas horas de diversão escapista, com o mal e o bem enfrentando-se de forma nítida fazendo a transição do olhar adolescente para o adulto, na forma de um raio mágico, capaz de transformar um garoto que não queria ser herói (até porque geralmente, quem “quer ser um herói” acaba se revelando um psicopata...) em um personagem que, nos quadrinhos, um certo vilão apelidava de “Grande Queijo Vermelho” , pois todos temos um super-herói dentro de nós; só é preciso um pouco de magia para que ele ganhe vida, basta gritar uma palavra – SHAZAM!




"SHAZAM!!!"



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