
Diga o meu nome!
por Alexandre César
(originalmente postado em 05/ 04/ 2019)
Embora não use o nome este é o Capitão Marvel-Raiz !!!
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Um menino dentro do corpo de um homem! Um conceito revolucionário!!!
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Originalmente
concebido por C.C.Beck e Bill Parker, e estreado na revista Whiz
Comics,
de fevereiro de 1940 da editora Fawcett
Publications,
o Capitão
Marvel
com a rapidez de um raio se tornou um sucesso, dando sérias dores da
cabeça para a National
Periodical Comics
(a atual DC
Comics),
sua concorrente, cujo maior sucesso era o Super-Homem,
pois enquanto o herói alienígena (que trazia o espírito das
revistas da Ficção Científica para as Hqs, apontando para o
futuro) tinha no seu auge uma tiragem média de 3 milhões de
exemplares, o “Mortal
mais poderoso da Terra”
(que se apoiava no charme do passado, numa releitura da tradição da
magia e do mitológico) chegava aos 5 milhões com uma facilidade
preocupante (em seu auge a revista Captain
Marvel
Adventures
vendeu em 1944 um total de 14 milhões de cópias e um milhão e
trezentas mil cópias em média por edição no período em que foi
publicada duas vezes por semana) o que levou a um longo e tumultuado
processo da DC
contra a Fawcett
, alegando plágio do conceito do Superman,
embora o Capitão tenha trazido inovações que várias editoras
copiaram (inclusive a DC...)
como tramas em capítulos, um uniforme elegante que fugia da fórmula
da “cueca sobre a a malha”, crossovers com heróis da sua
editora, grupos de supervilões e, ter apresentado a primeira versão
feminina de super-herói que não era sidekick (Mary
Marvel)
quase uma década antes da Supergirl!!!
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O Homem de Aço X O Mortal Mais Poderoso da Terra |
Ele ainda de quebra foi o
primeiro super-herói adaptado para o Cinema,
em 1941 (cerca de um ano após a sua estréia nos gibis...) no
seriado em doze episódios As
Aventuras do Capitão Marvel,
com o ator Tom Tyler como o herói, além
de ter sido um das referências pop da comédia Sorveteiro em Apuros
(1950) de Lloyd Bacon, com Jack Carson, Lola Albright, Jean Wallace e
George Reeves (que posteriormente seria o Homem de Aço no seriado As
Aventuras do Super-Homem de 1952 a 1958).
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A "Familia Marvel" da Fawcett Publications. |
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Após
uma longa batalha nos tribunais e a queda das vendas do pós-segunda
guerra (que eclipsou a maioria dos super-heróis) o personagem (que tinha
fãs célebres como Elvis Presley) foi em 1953 cedido pela Fawcett Comics
(em crise financeira) para a National Periodical Comics findando o
processo, colocando em seguida, o herói no limbo, para assim garantir o
reinado do kryptoniano; mas pagariam por isso...
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O Capitão Marvel (Mar-veel) da Marvel |
Tempos depois um sujeitinho
chamado Stan Lee, que trabalhava em uma “editorazinha” chamada Marvel
Comics surgida nos anos de 1960 resolveu registrar a marca “Capitão
Marvel”, antes que a agora DC a renovasse, mesmo não tendo um personagem
ainda para usar o nome (o Capitão Marvel da Marvel só surgiria em
1967...) o que obrigou a DC a rebatizar a revista para Shazam! e depois
para The Power of Shazam, só usando o nome do personagem Capitão Marvel
no miolo da revista... Ironia divida? Castigo? Quem sabe? Mas essa
história ainda teria desdobramentos pois ainda nos anos 50, surgiu na
Inglaterra outro super-herói em homenagem ao Capitão Marvel que
inicialmente se chamava Marvelman, cujas publicações duraram até 1963, e
ao ser resgatado do ostracismo nos anos 80 pelo escritor Alan Moore foi
rebatizado como Miracleman (por causa do Capitão Marvel da Marvel ) e
desde então o vermelhão defensor da bondade, da paz e da justiça e seu
alter-ego (o menino Billy Batson) amargaram altos e baixos como um dos
personagens mais carismáticos e subutilizados da DC, habitando os
corações de quem o conhece, e acalentava a ideia de pronunciar o nome do
mago “SHAZAM!”, e receber um raio que transforma um garoto em um
adulto, dando-lhe seis habilidades, sendo cada uma representada por uma
letra do nome do mago:
S – Sabedoria de SALOMÃO;
H – Força de HÉRCULES;
A – Resistência de ATLAS;
Z – Poder de ZEUS;
A – Coragem de AQUILES;
M – Velocidade de MERCÚRIO.
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O traumatizado Billy Batson ( Asher Angel) e o otimista Fredie Freeman (Jack Dylan Grazer)
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Dirigido
por David F. Sandberg (Annabelle 2 - A Criação do Mal de 2017) Shazam!
(2019) resgata numa aventura divertida e lúdica o espírito do
personagem, embora em nenhum momento use o nome de Capitão Marvel (por
causa das questões enunciadas acima...) sabendo usar sua ingenuidade e
esperança (elementos cada vez mais em falta atualmente...) num dos
grandes filmes do Universo Cinematográfico DC, continuando o movimento
de dar um tratamento mais solar aos personagens deste universo, até
então carregado de tons sombrios. Até porque, era o que o personagem
pedia!
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Shazam (Zachary Levy) menino no corpo de homem,como a maioria de nós...
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A
trama é ambientada na Filadélfia, diferente do original (que vivia na
cidade de Fawcett City, onde Billy trabalharia na rádio Whiz, como
repórter Junior) e logo no seu início presenciamos a origem do
antagonista Doutor Thaddeus Sivana (o ótimo Mark Strong, cool e estiloso
como um vilão bondiano) que ainda criança na década de 1970 foi um dos
candidatos rejeitados do Mago Shazam (Djimon Hounsou com visual mezzo
mago Merlin mezzo aborígene papua) que o levou à uma busca obssessiva da
Pedra da Eternidade e de seu poder. Pulando depois para o jovem Billy
Batson (Asher Angel da série de TV Andi Mack) que abandonado, foge de um
lar adotivo a outro numa igualmente obsessiva busca pela mãe, de quem se
perdeu aos 4 anos, indo parar no lar adotivo de Victor Vasquez (Cooper
Andrews da série de TV The Walking Dead) e Rosa Vasquez (Marta Milans,
da série de TV Killer Women) ambos de origem orfã, que têm uma amorosa
família multiracial de filhos: A amorosa Darla Dudley (Faithe Herman da
série de TV This is Us); a centrada Mary Bromfield (Grace Fulton de
Annabelle 2 - A Criação do Mal); o hacker-mirim Eugene Choi (Ian Chen da
série de TV Fresh Off the Boat); o maciço e calado Pedro Peña (Jovan
Armand da série de TV Hawaii Five-O); e o deficiente alto-astral Freddy
Freeman (o ótimo Jack Dylan Grazer de It – A Coisa de 2017 que rouba a
cena) entusiasta de super-heróis, que vem a se tornar seu melhor amigo.
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A "Pedra da Eternidade". Feliz recriação dos gibis, com várias influências
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Como
em muitos filmes vemos o herói e vilão serem versões espelhadas (aqui,
pela motivação) pois Billy procura o amor de uma mãe que lhe teria sido
“roubado”, tornando-se rebelde e até malandro, enquanto Sivana, por ter
sido rejeitado por seu pai e irmão desde o início, se voltou para a
busca por poder. Um mesmo ponto inicial, dois rumos distintos.
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Billy Batson e o mago Shazam (Djimoun Hounsou). |
Após
fugir novamente, o jovem de 14 anos acaba sendo convocado pelo mago,
que vê nele a sua última alernativa, (já que Sivana libertou os Sete
Pecados Capitais e começa a “barbarizar”...) e ao receber o poder do
mago, se transforma no super-herói adulto Shazam (Zachary Levi da série
de TV Chuck numa performance única). Um menino em sua essência – dentro
de um corpo sarado, como o de um deus – auxiliado por Freddy, que se
esbalda nesta versão adulta dele mesmo fazendo o que qualquer
adolescente faria com superpoderes: Divertir-se com eles! Descobrir qual
é o gosto da cerveja, se ele é capaz de voar, se tem visão de raio-X ou
se consegue soltar raios pelas mãos ou poder falar com os peixes...
Shazam e seu sidekick de muletas vai testando suas habilidades com a
despreocupação típica de uma criança. O roteiro de Henry Gayden (com
história de Gayden e Darren Lemke) baseado na versão escrita em 2012 por
Geoff Johns (que é um dos produtores executivos, juntamente com Dwayne
Johnson), abraça plenamente, sem nenhuma vergonha aquilo que a adaptação
de um quadrinho sobre um adolescente que vira super-herói poderia ser.
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Thaddeus Sivana (Mark Strong): Vilão cool e intimidador. |
Freddy
Freeman, em algumas vezes chega a apagar Billy Batson, o adolescente
marcado negativamente pela vida, carrancudo e ressentido que aos poucos
aprende o quão bom é ser amado e ter a quem amar passando por uma
intensa jornada transformadora, tendo Freddy como o guia moral e técnico
dele, estando inteiramente engajado em fazer com que o novo herói da
área descubra seus poderes e, principalmente, entenda os valores
envolvidos na frase “eu sou um super-herói”, abrindo caminho para
Zachary Levi, que como Shazam abraça completamente o seu personagem não
deixando de ser uma versão super-heróica do protagonista de Quero Ser
Grande (1988) de Penny Marshall, tendo uma rápida e hilária citação num
dos embates com Sivana...
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Não faltam citações ao universo DC... |
A fotografia de Maxime Alexandre caminha entre o realismo impessoal dos
ambientes urbanos e em um maior grafismo nos cenários da Pedra da
Eternidade, que lhe dá maiores possibilidades visuais, sendo a concepção
da designer de produção Jennifer Spence uma boa surpesa para quem
conhece o Universo da antiga Terra-S, com elementos dos Novos 52 coisa
que se reflete nos figurinos de Leah Butler, que é muito feliz na
surpresa final do combate “Bem X Mal” bem editado por Michel Aller.
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Shazam e Sivana: Espelhados em suas motivações iniciais. |
Shazam!
é um filme que não se apega à necessidade de mostrar os grandes
Deuses-DC em lutas épicas, construido-se sob uma gangorra de dramas
familiares e comportamento adolescente que é de imensa importância para o
arco do vilão, em torno do qual que a maravilhosa bobagem heróica do
filme irá se desenvolver, discutindo a importância dos valores básicos
que formam um herói e da força que uma família unida pode ter. Os
clichês “bonitinhos” de moralidade familiar têm diferentes nuances aqui,
até porque a negativa posição de Billy em relação à instituição não
permitiria um enfoque a lá Frank Capra, mas chega perto às vezes...
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Sivana não está para brincadeira, fazendo o herói se assumir como tal
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No
meio de tanta seriedade, quase-realismo e jornadas épicas no atual
universo dos super-heróis nos cinemas, Shazam! É um sopro de leveza por
não se ressentir de ser um filme bobo até, assumidamente para a família
ou para qualquer um mais emotivo que tenha um bom coração batendo no
peito e procure duas horas de diversão escapista, com o mal e o bem
enfrentando-se de forma nítida fazendo a transição do olhar adolescente
para o adulto, na forma de um raio mágico, capaz de transformar um
garoto que não queria ser herói (até porque geralmente, quem
“quer ser um herói” acaba se revelando um psicopata...) em um personagem
que, nos quadrinhos, um certo vilão apelidava de “Grande Queijo
Vermelho” , pois todos temos um super-herói dentro de nós; só é preciso
um pouco de magia para que ele ganhe vida, basta gritar uma palavra –
SHAZAM!
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"SHAZAM!!!" |
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