Paternidade, a Fronteira Final...
por Alexandre César
(Originalmente postado em 27/ 09/ 2019)
O estar só consigo mesmo e o estar só no universo...

Roy Mc Bride (Brad Pitt): Astronauta que seguiu os passos do pai, mas apesar da carreira exemplar, é um homem amargurado

Roy Mc Bride (Brad Pitt): Astronauta que seguiu os passos do pai, mas apesar da carreira exemplar, é um homem amargurado
Roy McBride (Brad Pitt de Era Uma Vez... em Hollywood! de 2019 e O Curioso Caso de Benjamin Button de 2008 em ótima performance)
é um ótimo profissional, que procura trabalhar sempre focado, separando
os problemas do trabalho dos da vida pessoal, sempre se submetendo a
exames de avaliação psicológica para garantir a sua ficha impecável, o
que é um fator vital em sua área, uma vez que ele é um astronauta, que
trabalha na manutenção de um mega conjunto de antenas de captação de
energética e qualquer deslize pode significar a diferença entre a vida e
a morte para ele ou os membros de sua equipe, pois no espaço o seu
grito não ser´ouvido... contudo, Roy é um homem amargurado, que carrega
uma incapacidade de se abrir e se doar nos relacionamentos, afastando
Eve (Liv Tyler da cinesérie O Senhor dos Anéis e de Armageddon de
1998) a mulher que ama e passando o tempo todo com um olhar
transbordante da sensação de despertencimento ao mundo à sua volta.
Filho do pioneiro H. Clifford McBride (Tommy Lee Jones da cinesérie MIB: Homens de Preto e O Fugitivo de 1993) dado como morto há 20 anos numa missão ao espaço profundo, após um desastre na estratosfera, ele é convocado pelo Comando Espacial ( que substituiu a NASA)
para uma missão nos limites do sistema solar para encontrar seu pai
desaparecido e desvendar um mistério que ameaça a sobrevivência do nosso
planeta. Sua jornada, além de tocar em pontos sensíveis de sua relação
familiar, revelará segredos que desafiam a natureza da existência humana
e nosso lugar no cosmos.

Profissão do futuro: McBride é basicamente um técnico de manutenção de antenas que é astronauta, e na emergência, um para-quedista
Dirigido por James Gray (Z: A Cidade Perdida de 2016 e Era Uma Vez em Nova York de 2013) Ad Astra: Rumo às Estrelas (2019) é uma ficção científica espacial nos moldes de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) de Stanley Kubrick, Sem Rumo no Espaço (1969) de John Sturges, Missão: Marte (2000) de Briam de Palma e Interestelar
(2014) de Christopher Nolan, no qual toda a parte astronáutica de
caracterização dos planetas, naves e trajes se pauta escrupulosamente
num embasamento científico que lhe dá plausibilidade, servindo de
contraste para com a premissa principal que é a questão da paternidade a
nível individual e a um patamar cósmico, enquanto espécie... Roy
McBride, em suas constantes avaliações psicológicas carrega muito
ressentimento e raiva com relação a seu pai, “A Lenda” comparado
pela comunidade astronáutica a Neil Armstrong enquanto explorador, mas
que na realidade o abandonou para dedicar-se obssessivamente a um
projeto de pesquisa da vida extraterrestre, deixando-lhe uma série de
bloqueios emocionais, e agora descobrindo através do veterano Thomas
Pruit (Donald Sutherland de M.A.S.H. de 1970 e Invasores de Corpos de 1978) das coisas pouco louváveis que seu pai fêz em nome do projeto, mas que o Comando Espacial ocultou, recorrendo agora numa missão com escalas na Lua, Marte e no espaço profundo, na órbita de Urano por razões nebulosas...

McBride vive em constante avaliação pela natureza do seu trabalho: Vivendo sem amar,. Só viver por viver...
O roteiro de James Gray & Ethan Gross (do seriado Fringe e Clepto de
2003) embala esta caracterização realista refletindo um contexto
político profético: O início da exploração comercial do espaço,
mostrando bases que parecem shopping centers ( com anúncios em neon do
lado externo...), com cobrança automática no serviço de vôo de cada
ítem (U$ 170 no cartão por um cobertor...) tal expansão é similar às
das potências coloniais no séculos XV e XVIII com direito à piratas e
saqueadores apoiados entre essas potências de forma não-oficial para
atacar os seus rivais, e cada nação já fazendo uso das suas próprias
forças espaciais (Em 2018, o Congresso Americano aprovou a criação da
sua Força Espacial,
então nos próximos 20, 30 anos as potências deverão seguir esse caminho
de militarização do espaço, e futuramente deveremos ver surgir um
contexto similar ao do seriado The Expanse).

Guerra Fria: Na Lua, batalhas ferozes são travadas entre as forças do Comando Espacial e "Piratas", apoiados por "Nações Rivais"...
A fotografia de Hoyte Van Hoytema (Dunkirk de 2017 e Deixa Ela Entrar de
2008) destaca-se em momentos belos e incríveis como na incrível
sequência de perseguição na Lua, onde a beleza árida da paisagem
rapidamente dá lugar a uma brutal perseguição digna de Mad Max (ponto para a montagem de John Axelrad, de Krampus: O Terror do Natal de 2015 e 12 Horas de 2012, e de Lee Haugen, de Papillon de 2017 e Dope: Um Deslize Perigoso
de 2015). Após deixar a Lua num transporte para Marte, observamos a
coexistência do espírito explorador com a fé religiosa mística,
enfatizando o Lema a que o título do filme se referencia* e
contrastando, numa virada violenta (e um tanto mal explicada) ao
abordarem um laboratório de pesquisa, fazendo-nos indagar qual os reais
interesses que regem essa exploração comercial do espaço (pesquisas com
primatas em gravidade zero?!?).

Thomas Pruit (Donald Sutherland) Informa McBride sobre detalhes secretos à respeito de seu pai
Continuando até Marte, McBride é auxiliado a seguir em frente por Helen Lantos (Ruth Nega das séries Preacher e Marvel´s Agents of S.H.I.E.L.D.) a administradora da colônia, uma vez que, ao cumprir a sua parte o Comando Espacial quer
descartá-lo, e assim nosso herói ao longo de sua jornada até a órbita
de Urano, vai revelando uma capacidade para reações violentas similar às
creditadas ao seu pai, e neste processo a aceitação disso vai operando a
sua mudança interna, num desenlace curioso.

Da Lua para mais uma escala: Marte.
A direção de Gray adota na narrativa um tom que remete à linha intimista
de Terrence Mallick, e pontua ao longo do filme referências a obras
como Cowboys do Espaço (2000) de Clint Eastwood (com Sutherland e Jones), Contato (1997) de Robert Zemeckis com Jodie Foster, na questão do relacionamento familiar, e A Caminho Do Desconhecido (2016)
de Mark Elijah Rosenberg com Mark Strong ao mostrar o quão solitária e
claustrofóbica pode ser a viagem espacial (imagine ficar meses
confinado num espaço super-reduzido em condições de perigo constante num
ambiente hostil e mortal...) auxiliado pela música de Max Richter (Ilha do Medo de 2010 e do seriado The Lefovers) que enfatiza pelo seu tom “atmosférico” a aridez do vácuo.

Tanto Helen Lantos (Ruth Nega) quanto McBride carregam o peso dos erros dos pais
Os efeitos Visuais da Weta Digital, MPC, Atomic Fiction, Halon, MrX e Vitality VFX dão
um show ao criar as ambientações como a da sequência inicial com um
incrível mergulho em alta atmosfera, enfatizando o lado de operário
qualificado do astronauta neste contexto. O desenho de produção de Kevin
Thompson (Os Agentes do Destino de 2011 e Conduta de Risco de
2007) caracteriza bem esse ambiente de alta tecnologia, com as naves e
estações com os inevitáveis módulos e corredores octogonais, e as
diferenças que os materiais de construção arquitetônica que cada mundo
(Terra, Lua, Marte) impõem em contraste, sendo as instalações lunares e
marcianas bem mais espartanas do que as terrestres. Em contraste, os
figurinos de Albert Wolsky (Birdman de 2014 e do cult de 1999 Galaxy Quest)
enfatiza esse universo que diversamente da sua grande amplidão
despersonaliza os indivíduos em suas fardas, e trajes de proteção, pois o
ser humano é algo muito frágil no vácuo estelar...

Descartado,Mc Bride decide continuar a missão na marra...
Ao final, se o saldo no total é desigual pois o ritmo às vezes se torna
mais arrastado, vemos no conceito central o paralelo da superação da
relação pai-e-filho, e em paralelo a busca pelo "numinoso",
(Deus, o Infinito, a vida fora da Terra, etc...) pois McBride vai
superando a raiva e o temor reverencial, resultando num momento em que
de “herói”, ele assume um papel semelhante ao de um cuidador para
com o seu genitor, permitindo-lhe superá-lo, resgatando o seu legado,
sem querer vencê-lo, ao assumir que a figura temida de sua infância, era
apenas um velho solitário preso com seus fantasmas e obsessões, cuja
ameaça à humanidade se resume à algo banal inerente à condição humana...
o paralelo à isto é o aceitar a possibilidade de que estejamos sós no
universo, não significa necessariamente algo ruim, pois se temos uns aos
outros e nos aceitarmos mutuamente, poderemos cada um dar, o tão
falado "sentido" a sua vida, e a partir daí poderemos início a popular o universo...

Ao final, o temido pai (Tommy Lee Jones) é um velho senil...
O que garante que daqui a milhões de anos, não seremos nós o povo
esquecido que difundiu a vida pela galáxia? Porque não podemos vir a ser
os ”Antigos”, citados em Star Trek ou os “Senhores de Cobol” de Battlestar Gallatica, ou os "Engenheiros" da cinesérie Alien?
Notas: *1: Per ardua ad astra ("Através da adversidade para as Estrelas") é o lema da Força Aérea Real (RAF) e de outras Forças Aéreas do Commonwealth, como a Força Aérea Real Australiana - (RAAF), a Força Aérea Real da Nova Zelândia - (RNZAF), e a ex-Força Aérea Real Canadense - (RCAF).
Este lema foi criada em 1912 e foi usado pelo recém-formado Royal
Flying Corps. Também traduzido como: "Rumo às estrelas embora com
dificuldades." - lema do estado do Kansas. (mais frequentemente ("per aspera ad astra" )
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Profissão do futuro: McBride é basicamente um técnico de manutenção de antenas que é astronauta, e na emergência, um para-quedista
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Dirigido por James Gray (Z: A Cidade Perdida de 2016 e Era Uma Vez em Nova York de 2013) Ad Astra: Rumo às Estrelas (2019) é uma ficção científica espacial nos moldes de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) de Stanley Kubrick, Sem Rumo no Espaço (1969) de John Sturges, Missão: Marte (2000) de Briam de Palma e Interestelar (2014) de Christopher Nolan, no qual toda a parte astronáutica de caracterização dos planetas, naves e trajes se pauta escrupulosamente num embasamento científico que lhe dá plausibilidade, servindo de contraste para com a premissa principal que é a questão da paternidade a nível individual e a um patamar cósmico, enquanto espécie... Roy McBride, em suas constantes avaliações psicológicas carrega muito ressentimento e raiva com relação a seu pai, “A Lenda” comparado pela comunidade astronáutica a Neil Armstrong enquanto explorador, mas que na realidade o abandonou para dedicar-se obssessivamente a um projeto de pesquisa da vida extraterrestre, deixando-lhe uma série de bloqueios emocionais, e agora descobrindo através do veterano Thomas Pruit (Donald Sutherland de M.A.S.H. de 1970 e Invasores de Corpos de 1978) das coisas pouco louváveis que seu pai fêz em nome do projeto, mas que o Comando Espacial ocultou, recorrendo agora numa missão com escalas na Lua, Marte e no espaço profundo, na órbita de Urano por razões nebulosas...
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McBride vive em constante avaliação pela natureza do seu trabalho: Vivendo sem amar,. Só viver por viver...
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O roteiro de James Gray & Ethan Gross (do seriado Fringe e Clepto de
2003) embala esta caracterização realista refletindo um contexto
político profético: O início da exploração comercial do espaço,
mostrando bases que parecem shopping centers ( com anúncios em neon do
lado externo...), com cobrança automática no serviço de vôo de cada
ítem (U$ 170 no cartão por um cobertor...) tal expansão é similar às
das potências coloniais no séculos XV e XVIII com direito à piratas e
saqueadores apoiados entre essas potências de forma não-oficial para
atacar os seus rivais, e cada nação já fazendo uso das suas próprias
forças espaciais (Em 2018, o Congresso Americano aprovou a criação da
sua Força Espacial,
então nos próximos 20, 30 anos as potências deverão seguir esse caminho
de militarização do espaço, e futuramente deveremos ver surgir um
contexto similar ao do seriado The Expanse).
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Guerra Fria: Na Lua, batalhas ferozes são travadas entre as forças do Comando Espacial e "Piratas", apoiados por "Nações Rivais"... |
A fotografia de Hoyte Van Hoytema (Dunkirk de 2017 e Deixa Ela Entrar de
2008) destaca-se em momentos belos e incríveis como na incrível
sequência de perseguição na Lua, onde a beleza árida da paisagem
rapidamente dá lugar a uma brutal perseguição digna de Mad Max (ponto para a montagem de John Axelrad, de Krampus: O Terror do Natal de 2015 e 12 Horas de 2012, e de Lee Haugen, de Papillon de 2017 e Dope: Um Deslize Perigoso
de 2015). Após deixar a Lua num transporte para Marte, observamos a
coexistência do espírito explorador com a fé religiosa mística,
enfatizando o Lema a que o título do filme se referencia* e
contrastando, numa virada violenta (e um tanto mal explicada) ao
abordarem um laboratório de pesquisa, fazendo-nos indagar qual os reais
interesses que regem essa exploração comercial do espaço (pesquisas com
primatas em gravidade zero?!?).
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Thomas Pruit (Donald Sutherland) Informa McBride sobre detalhes secretos à respeito de seu pai
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Continuando até Marte, McBride é auxiliado a seguir em frente por Helen Lantos (Ruth Nega das séries Preacher e Marvel´s Agents of S.H.I.E.L.D.) a administradora da colônia, uma vez que, ao cumprir a sua parte o Comando Espacial quer
descartá-lo, e assim nosso herói ao longo de sua jornada até a órbita
de Urano, vai revelando uma capacidade para reações violentas similar às
creditadas ao seu pai, e neste processo a aceitação disso vai operando a
sua mudança interna, num desenlace curioso.
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Da Lua para mais uma escala: Marte.
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A direção de Gray adota na narrativa um tom que remete à linha intimista
de Terrence Mallick, e pontua ao longo do filme referências a obras
como Cowboys do Espaço (2000) de Clint Eastwood (com Sutherland e Jones), Contato (1997) de Robert Zemeckis com Jodie Foster, na questão do relacionamento familiar, e A Caminho Do Desconhecido (2016)
de Mark Elijah Rosenberg com Mark Strong ao mostrar o quão solitária e
claustrofóbica pode ser a viagem espacial (imagine ficar meses
confinado num espaço super-reduzido em condições de perigo constante num
ambiente hostil e mortal...) auxiliado pela música de Max Richter (Ilha do Medo de 2010 e do seriado The Lefovers) que enfatiza pelo seu tom “atmosférico” a aridez do vácuo.
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Tanto Helen Lantos (Ruth Nega) quanto McBride carregam o peso dos erros dos pais
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Os efeitos Visuais da Weta Digital, MPC, Atomic Fiction, Halon, MrX e Vitality VFX dão
um show ao criar as ambientações como a da sequência inicial com um
incrível mergulho em alta atmosfera, enfatizando o lado de operário
qualificado do astronauta neste contexto. O desenho de produção de Kevin
Thompson (Os Agentes do Destino de 2011 e Conduta de Risco de
2007) caracteriza bem esse ambiente de alta tecnologia, com as naves e
estações com os inevitáveis módulos e corredores octogonais, e as
diferenças que os materiais de construção arquitetônica que cada mundo
(Terra, Lua, Marte) impõem em contraste, sendo as instalações lunares e
marcianas bem mais espartanas do que as terrestres. Em contraste, os
figurinos de Albert Wolsky (Birdman de 2014 e do cult de 1999 Galaxy Quest)
enfatiza esse universo que diversamente da sua grande amplidão
despersonaliza os indivíduos em suas fardas, e trajes de proteção, pois o
ser humano é algo muito frágil no vácuo estelar...
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Descartado,Mc Bride decide continuar a missão na marra...
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Ao final, se o saldo no total é desigual pois o ritmo às vezes se torna
mais arrastado, vemos no conceito central o paralelo da superação da
relação pai-e-filho, e em paralelo a busca pelo "numinoso",
(Deus, o Infinito, a vida fora da Terra, etc...) pois McBride vai
superando a raiva e o temor reverencial, resultando num momento em que
de “herói”, ele assume um papel semelhante ao de um cuidador para
com o seu genitor, permitindo-lhe superá-lo, resgatando o seu legado,
sem querer vencê-lo, ao assumir que a figura temida de sua infância, era
apenas um velho solitário preso com seus fantasmas e obsessões, cuja
ameaça à humanidade se resume à algo banal inerente à condição humana...
o paralelo à isto é o aceitar a possibilidade de que estejamos sós no
universo, não significa necessariamente algo ruim, pois se temos uns aos
outros e nos aceitarmos mutuamente, poderemos cada um dar, o tão
falado "sentido" a sua vida, e a partir daí poderemos início a popular o universo...
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Ao final, o temido pai (Tommy Lee Jones) é um velho senil...
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O que garante que daqui a milhões de anos, não seremos nós o povo
esquecido que difundiu a vida pela galáxia? Porque não podemos vir a ser
os ”Antigos”, citados em Star Trek ou os “Senhores de Cobol” de Battlestar Gallatica, ou os "Engenheiros" da cinesérie Alien?
Notas:
*1: Per ardua ad astra ("Através da adversidade para as Estrelas") é o lema da Força Aérea Real (RAF) e de outras Forças Aéreas do Commonwealth, como a Força Aérea Real Australiana - (RAAF), a Força Aérea Real da Nova Zelândia - (RNZAF), e a ex-Força Aérea Real Canadense - (RCAF).
Este lema foi criada em 1912 e foi usado pelo recém-formado Royal
Flying Corps. Também traduzido como: "Rumo às estrelas embora com
dificuldades." - lema do estado do Kansas. (mais frequentemente ("per aspera ad astra" )
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