terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O meio, a mensagem e... Tom Cruise - Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018)

 


Fim em si mesmo

por Alexandre César
(Originalmente publicado em 31/ 07/ 2018)

Nova aventura de Ethan Hunt é eficiente mas previsível



Como havia sido comentado anteriormente em outra crítica, certas franquias são a perfeita materialização da frase do Filósofo canadense Marshall McLuhan: “o meio é a mensagem”. Portanto o público virá, independente de n fatores questionáveis. E, é claro, caso os produtores sejam sábios, saberão dosar “o mais do mesmo” que o público-alvo quer com doses estudadas de inteligência e valor autoral na condução da narrativa para garantir a sua constante reinvenção.

 

Os primórdios de "Missão Impossível" na TV: O louro Jim Phelps (Peter Graves) dividia a cena com os demais membros da equipe,(que já teve entre outros, Martin Landau, Barbara Bain e Leonard Nimoy) ao longo das várias temporadas e do remake dos anos 80


Missão: Impossível, uma série de TV criada pelo produtor Bruce Geller nos anos 60, retratava as aventuras de um grupo de espiões que realizavam operações que o governo americano negaria qualquer envolvimento, caso qualquer um deles fossem capturado, deixando-os à própria sorte - na realidade, seriam as infames black operations (black ops)
 
 

Crise de autoridade: O secretário Alan Hunley (Alec Baldwin) e o rebelde Ethan Hunt (Tom Cruise) representam a hierarquia e a intuição

 
 
Jim Phelps (Peter Graves), o personagem principal ao longo de suas sete temporadas e do remake dos anos 80, dividia o seu protagonismo com os demais membros da sua equipe. A essência da série era a celebração do trabalho em grupo, tal como ocorre nas diversas séries de Star Trek.
 
 
O "cão de guarda" e a mestre: August Walker (Henry Cavil) e a diretora da C.I.A. Erica Sloan (Angela Basset)
 
 
 
Recriada para a tela grande, Missão: Impossível (1996, de Brian De Palma) trouxe Tom Cruise como Ethan Hunt, membro de uma nova geração de agentes que assumia a liderança da equipe após descobrir que seu mentor, o próprio Jim Phelps (agora interpretado por Jon Voight) estava trabalhando para o inimigo (algo como descobrir que o Cap. James Tiberius Kirk trabalhava para os klingons...).
 
 
Etahn e Ilsa Faust (Rebecca Ferguson): Tensão no ar...
 
Desde então, o paradigma da série mudou, deixando a valorização do trabalho em equipe de lado para celebrar o herói individual, que faz tudo, pode tudo. Enfim, Ethan Hunt é “o cara”, mais James Bond do que o próprio James Bond (mas não melhor...), refletindo a egotrip de seu intérprete, bem como sublimando os seus sonhos de meninos de ser o Herói Ex Machina que faz tudo, pode tudo. E quem precisa "dar uma pausa para fumar um cigarrinho"? Por que não é saudável!

 

Benji Dunn (Simon Pegg) e Luther Stickell (Ving Rhames): Maior espaço para seus personagens, mas Cruise ainda é o Astro-Rei


O novo filme da franquia, Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018, de Christopher McQuarrie), dá continuidade a alguns arcos narrativos do filme anterior, que é do mesmo diretor - Missão: Impossível - Nação Secreta (2015). Nesta sexta missão no cinema, embalada pela trilha sonora mais intensa de toda franquia (Lorne Balfe, com o melhor arranjo já feito do tema clássico de Lalo Schifrin), vemos um domínio pleno de direção do espetáculo, fazendo bom uso de Tom Cruise em ótima forma. Ele não fica um momento parado e dividindo um pouco mais de espaço com a sua equipe do que nos filmes anteriores, permitindo-nos conhecê-los melhor, valorizando Luther Stickell (Ving Rhames), Benji Dunn (Simon Pegg) e até o secretário Alan Hunley (Alec Baldwin), o que já é um ganho considerável.

 

Walker e Hunt avaliando o resultado de uma briga à três e Ilsa analisando  como "garotos sempre fazem bagunça"

 
 
Com um ritmo frenético - mas sabendo quando pisar no acelerador e quando puxar o freio, para dar os momentos de respiro necessários para descansar o espectador e revelar dados da trama (parabéns à edição de Eddie Hamilton) - o filme reintroduz o vilão Solomon Lane (Sean Harris) e seu Sindicato, prestes a dizimar três cidades, e a bela Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), que continua a balançar as estruturas e o coração de Hunt.

 

Hunt em modo "Need for Speed", "Bike Mania", "Carmageddon", "Moto Hill Racer"... Escolha o seu game

 
 
Temos a adição de novos rostos a franquia, como a traficante de armas Viúva Branca (Vanessa Kirby), a diretora da C.I.A. Erica Sloan (Angela Basset) e o seu antipático agente August Walker (Henry Cavill, com o “bigode da discórdia” da pós-produção de Liga da Justiça), que, no tempo que tem, rouba a cena, trabalhando de forma precisa, mostrando que, caso um dia troque o collant do Homem de Aço pelo smoking de James Bond, fará um bom trabalho. Essa pedra já tinha sido cantada na versão para tela grande de O Agente da U. N.C.L.E. (2015, de Guy Ritche). 

 

Empoderamento: A Viúva Branca (Vanessa Kirby), a diretora da C.I.A. Erica Sloan (Angela Basset), a agente Isa Faust e, a ex-esposa de Hunt, Julia Meade (Michelle Monaghan)

 

O longa - que possui uma duração considerável, ultrapassando duas horas - é pleno de cenas de ação, destacando-se um plano-sequência em queda livre num céu cheio de trovões logo no começo, uma insólita luta a três dentro de um banheiro, um resgate nas ruas de Paris - com uma fuga frenética por suas ruas - e o confronto final à beira de um penhasco após uma perseguição de helicópteros digna de O longa - que possui uma duração considerável, ultrapassando duas horas - é pleno de cenas de ação, destacando-se um plano-sequência em queda livre num céu cheio de trovões logo no começo, uma insólita luta a três dentro de um banheiro, um resgate nas ruas de Paris - com uma fuga frenética por suas ruas - e o confronto final à beira de um penhasco após uma perseguição de helicópteros digna de Top Gun (Tom Cruise se reciclando...). As cenas mostram um senhor domínio de direção dos valores de produção (a fotografia de Rob Hardy usa magistralmente o 3D), mergulhando o espectador no meio da ação junto com o seu protagonista elétrico que, como um personagem de videogame, vai pulando, correndo, pilotando ou planando de uma fase a outra e nos carrega junto. O filme só pesa a mão ao insistir em humanizar o seu personagem, que se mostra sensível, preocupado com os seus parceiros, que são a sua família etc, etc. Mas isso não compromete o espetáculo, que prova a competente direção de McQuarrie, que assina o roteiro e provavelmente na hora certa soube dizer à Cruise: “menos Tom! Menos!” Isto é o trabalho de um diretor!

 

"Corre Tom! Corre!"

 
 
Ao final, no frigir dos ovos, voltando à frase de McLuhan (“o meio é a mensagem”), Tom Cruise na série Missão Impossível é a mensagem e o meio, um fim em si mesmo extremamente bem embalado para consumo, tal qual um bom sanduíche de fast-food com batatas fritas e milk shake

 

"Dispensar dublês ainda vai me matar, mas o vício em adrenalina não me deixa parar!!!"




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