quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O caçador do espaço versus o “Esquadrão Classe A” - O Predador (2018)


Muito legal, mas...

 por Alexandre César

(originalmente publicado em 13/ 09/ 2018)


Nova abordagem promete, mas não cumpre
 

Obs: Alguns spoilers

"Predador" (1987): clássico oitentista


 

Há 31 anos atrás presenciamos a malfadada missão de resgate da unidade de comandos especiais comandada por “Dutch” Schaeffer (Arnold Schwarzenegger) nas selvas da América Central, quando misteriosamente o grupo altamente treinado começou a ser caçado. Seus integrantes foram massacrados um a um como coelhos numa caçada por um oponente misterioso e quase sobrenatural.

 

Quinn McKenna (Boyd Holbrook): o herói-soldado da vez


 

Predador (1987, de John Mc Tiernam) surpreendeu ao mesclar espertamente ação, terror e suspense numa tensão claustrofóbica, embalada com ótimos efeitos visuais e uma trilha sonora inspirada de Alan Silvestri. Com bons “personagens de quadrinhos” (bidimensionais de dar gosto, mas bem dirigidos), o filme tinha no personagem-título seu grande trunfo, com seu visual muito bem concebido pela equipe de Stan Winston, mesclando armaduras de alta tecnologia (com visão térmica e dispositivos de camuflagem) com tranças rastafári, o que o dava um estilo de aborígene high-tech misterioso. 

 

Cadeia alimentar: O predador que conhecemos encara o Predador Supremo, variante maior da espécie, que tem uma rixa de clã com o resto dos clãs da raça
 

Eeste filme gerou uma continuação - Predador 2 – A Caçada Continua (1987, de Stephen Hopkins) -, dois crossovers -Alien vs. Predador (2004, de Paul W.S. Anderson) e Alien vs. Predador 2 - Réquiem (2007, de Gregory e Colin Strause) - e um retcon - Predadores (2010, de Nimrod Antal). Tudo isso ampliou a mitologia criada em torno da raça de caçadores alienígenas, gerando perguntas e mais perguntas sobre a natureza de sua civilização. cujo visual mesclando armaduras de alta tecnologia (com visão térmica e dispositivos de camuflagem) com “tranças rastafari” parecendo um “aborígene high-tech” misterioso, gerando perguntas e mais perguntas sobre a natureza de sua civilização.

 

Agachado de boné o diretor e roteirista Shane Black ao lado do ator-mirim Jacob Tremblay e, de pé, o resto do elenco


O Predador (2018) é dirigido por Shane Black, que no filme original interpretou o sargento Richard Hawkins, e se propõe a ser a continuação dos eventos dos primeiros dois filmes. Não há referências os crossovers com o Alien ou ao reboot de 2010, apesar de não termos uma época bem definida. 

 

Quando será que os humanos aprenderão que se pode matar, mas nunca, nunca capturar um Predador?


Aqui temos Quinn McKenna (Boyd Holbrook), soldado de elite (e relutante pai ausente) fazendo seu primeiro contato com um Predador numa operação no México que dá muito errado. Ele consegue artefatos dos alienígenas e despacha para a sua caixa postal, mas, por um problema burocrático, eles acabam indo parar na casa deEmily, sua ex-esposa (Yvonne Strahowski, a eterna Sara da série Chuck) e de seu filho de 11 anos Rory (Jacob Tremblay, ótimo). O garoto possui transtorno do espectro autista, sendo extremamente inteligente e pouco sociável, e abre o pacote do pai, acionando inadvertidamente um sinalizador para os Predadores. Temos também a drª. Casey Brackett (Olivia Munn, mostrando o quão em forma são os acadêmicos em filmes de ação, não importa quantos PHDs tenham...), especialista convocada por Traeger (Sterling K. Brown, o FDP do governo) para analisar um alienígena capturado que é mantido cativo numa instalação à la Área 51, repleta de outros apetrechos de tecnologia alienígena. 

 

Lynch (Alfie Owen-Allen), Coyle (Keegan-Michael Key), Baxley (Thomas Jane), Nettles (Augusto Aguilera), Quinn McKenna (Boyd Holbrook) e Nebraska (Trevante Rhodes): "Esquadrão Classe A" disfuncional


 Ela convoca Quinn para esclarecer o ocorrido no México e fornecer dados sobre o alienígena, mas o soldado foi aprisionado, para abafar o caso. Estava encarcerado na mesma instalação que ela como vítima de trauma de combate com um bando de loucos formada por Nebraska (Trevante Rhodes), Coyle (Keegan-Michael Key), Baxley (Thomas Jane, de Hung e de e de The Expanse), Lynch (Alfie Owen-Allen, o Theon Greyjoy de Game of Thrones ) e Nettles (Augusto Aguilera). Juntos, eles fogem quando o Predador capturado escapa e começa matar e a tocar o terror na instalação. 

 

Esquadrão Classe A: referência


Tanto o caçador alienígena quanto o grupo vão no encalço do jovem Rory. Com isso, o grupo assume um perfil que parece uma versão perturbada do Esquadrão Classe A, uma referência oitentista como o próprio Predador (mas é claro que Hannibal, do verdadeiro Esquadrão, bolaria um plano melhor...). Aqui o filme encontra um dos seus trunfos, apegando-se a um tipo de humor que funcionou muito bem em Os Mercenários 2 (2012, de Simon West). Cada membro do bando toma atitudes condizentes com aquilo que se espera de cada um, estabelecendo diálogos bem ao estilo dos anos 80, com um humor agressivo que pode incomodar os fãs do politicamente correto. A presença da drª Brackett, uma personagem feminina forte, serve de elemento de quebra nesse ambiente de brodagem regada a testosterona. Aqui vemos a habilidade de Black (também um dos responsáveis pelo roteiro) em conduzir os diálogos, cheio de piadas rápidas que desviam a atenção das falhas da história.

 

Dra. Casey Brackett (Olivia Munn): a acadêmica xeno-biologista e heroína de ação


Os valores de produção estão bem representados, seja na música de Henry Jackman - que emula bem os acordes criados por Alan Silvestri - ou na fotografia de Larry Fong - apesar de em alguns momentos no terceiro ato em que as cenas ficam muito escuras, dificultando saber na hora da matança quem entrou na contagem de corpos. Os efeitos visuais são muito bons, inclusive dando boas explicações visuais de como funciona o campo de força da nave dos predadores. E vemos Alec Gillis e Tom Woodruff Jr. novamente cuidando da parte de animatrônicos, pois, desde a época em que eram assistentes de Stan Winston, eles cuidaram tanto do Predador, quanto dos Aliens.

 

O design dos apetrechos do Predador continuam com grande sofisticação e criatividade


 

O roteiro de Black, em parceria com Fred Dekker, reflete as típicas conversas nerds de fãs a respeito das motivações dos predadores, criando uma trama que destrincha o porquê desses caçadores alienígenas voltarem frequentemente ao nosso planeta... e é aí que começa o problema. 

 

A equipe de loucos se revela mais habilidosa do que o esperado.


Tanto quanto o filme original, quanto Predador 2 e Predadores, entendiam a vibe de seus caçadores alienígenas, enriquecendo o jogo de gato e rato sem grandes exageros ou pirações. Compreendíamos claramente as regras que moviam seus atos, vendo o seu prazer em caçar sem que qualquer diálogo explicativo fosse necessário. No filme de agora, ao final, temos revelações que soam forçadas ao fazer links com questões ambientais, além de parecer justificar a produção de novas sequências e bonecos. Talvez funcionasse melhor numa história em quadrinhos do que num filme, como no caso deveria ter sido o caso de Alien vs. Predador 2 – Réquiem.

 

Os efeitos visuais continuam puro "state of art"


O terceiro ato foi refilmado por conta da má reação das platéias-testes, resultando em soluções estranhas de roteiro, como o cão-predador que fica “lobotomizado”, ou Rory, que é muito sensível à ruídos agudos, mas parece não se incomodar em nada com as mortes e o tiroteio à sua volta no clímax da história (como se ver alguém levar um tiro ou ser decapitado fosse algo banal). Fora o gancho final para uma continuação - uma forçada de barra.

 

"-Chegou a hora de discutirmos a relação, humano...!"


Como boa aventura genérica o filme flui bem, mas se você já conhece mesmo as histórias desse caçador rastafári alienígena - seja no cinema, vídeo ou na TV (aberta ou à cabo) -, com certeza sairá pensando: “foi legal, mas poderia ser muuiiito melhor.”

 

Se você estiver sendo visto dessa forma, você está... ferrado!!!



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