Amizade acima de tudo
por Alexandre César
(Postado originalmente em 05/ 03/ 2020 )
Bruel e Luchini brilham em comédia adulta e inteligente
Ying & Yang, água & óleo. Dois amigos improváveis desde os tempos do internato. César Montesiho (Patrick Bruel de Os Meninos Que Enganavam Nazistas) é um bom-vivant que
se mete em mil e umas estrepolias, saindo de um relacionamento a outro
sem culpas como um adolescente de meia para terceira idade. Arthur
Dreyfus (Fabrice Luchini de Sem Palavras) é um médico pesquisador metódico e “certinho” que ainda é apaixonado pela ex-esposa, a também médica Virgínia (Patrice Arbilot de Estaremos Sempre Juntos) com quem tem uma filha, a adolescente Julie (Marie Narbonne de Play) e segue a sua vida solitário no seu trabalho onde o chefe incompetente (Phillipé Resimont de Mecânica das Sombras) leva toda a fama e se “borra” de ter de dispensar algum membro da equipe pois não dará conta do trabalho.

Arthur
Dreyfus (Fabrice Luchini) e César Montesiho (Patrick Bruel): Nunca dois
amigos tiveram tão pouco em comum, e por isso tanto se irmanaram...
Após uma jogada financeira que o arruinou, César sofre um pequeno
acidente e faz um exame com o cartão do plano de saúde de Arthur (e
óbviamente, os exames saem no nome deste) sendo depois chamado pelo Dr.
Cerceau (Thierry Godard de Atentado em Paris)
pois as radiografias revelaram um câncer agressivo e incurável. Arthur,
ao tentar explicar o acontecido ao amigo, se enrola, levando o amigo a
um enorme mal-entendido, acreditando que Arthur está condenado,
disponibilizando-se a cuidar do amigo de infância pelos meses de vida
que lhe resta. Arthur permite que a farsa se mantenha e ao final os
dois acabam cuidando um do outro e aprendem a deixar tudo para compensar
o tempo perdido.

César aproveita cada bom momento da vida como se não houvesse amanhã...

Arthur vive em meio a suas neuroses de caa para o trabalho e do trabalho para casa...
Roteirizado e dirigido por Matthieu Delaporte (De Volta Para o Passado) e Alexandre De La Patellière (22 Balas) O Melhor Está Por Vir (2019)
reedita a parceria de longa data da dupla apresentando uma comédia
dramática que se aprofunda na amizade entre o tímido Arthur e o
exuberante César, sendo o mal-entendido entre eles o artifício que
permeia toda a trama, virando suas vidas de cabeça para baixo por conta
do tabu do câncer, discutindo assuntos sérios e desconfortáveis como
doença e morte, mostrando leveza e descontração ao abordar a fragilidade
da vida em várias facetas como a cena em que César se aconselha com um
padre (André Marcon de O Oficial e o Espião) sobre como rezar pela alma de Arthur, ou quando ele faz contato com Randa Ameziane (Zineb Triki de O Melhor Professor da Minha Vida)
uma sobrevivente do câncer que dirige um grupo de aconselhamento de
doentes. A direção de atores faz os menores personagens se sobresairem
em olhares, tons de voz e sutilezas pequenas mas suficientes para
deixarmos de ver personagens e aí, percebermos pessoas reais como
Bernard (Jean-Marie Winling de Promessa ao Amanhecer),
o pai de César, com quem estava brigado há anos, mas em duas linhas de
diálogo sobre coisas banais vemos a reconciliação de pai e filho sem
pieguismos e chorumelas.

César faz contato com Randa Ameziane (Zineb Triki) visando apoiar o amigo "desenganado"...

Arthur é desafiado por César a mostrar como se paquera uma mulher, com resultados hilários...
A bela e sutil fotografia de Guillaume Schiffman (O Artista) auxiliada pela edição de Célia Lafitedupont (O Orgulho) e Sarah Ternat (Luna)
traz ótimos momentos como quando num restaurante César ensina a Arthur a
como paquerar uma mulher, sendo os dois confundidos com um casal gay ou
quando os dois estão descontraindo na discoteca, onde a trilha musical
de Jérôme Reboutier (Saara) inclui hits dos anos 70 e 80 do auge deste período clássico mas hoje em dia uma gostosa “coisa de velho”,
ou ainda quando mudando de ares, César consegue arrastar Arthur (que
tem medo de avião) para se consultar com o um médico (Rajat Kapoor) na
Índia.

Randa acaba se mostrando mais importante do que se aparenta...
O design de Produção de Marie Chemical (O Que Nos Liga)
define bem os espaços onde vivem os personagens como o espaçoso
apartamento do solar e energético César, cheio de obras de arte que ele
tem de vender para pagar as dívidas, mas ainda determinado a
compartilhar momentos mágicos com o apático Arthur (que ele acredita
estar condenado a morte) preso em suas neuroses vivendo num grande
apartamento amontoado de livros, coisa que se reflete nos figurinos de
Anne Schotte (A Família Bélier)
que mostra o estilo mais descolado do vaidoso e seguro César em
contraste com os trajes convencionais de aspecto meio largado do modesto
Arthur.Inicialmente caricatos, cada qual do seu lado, estreitam os
laços de amizade e amor que se estendem face a implacável realidade.

Ao final ambos exorcizam seus fantasmas face à inevitabilidade dos fatos...
O saldo final do filme é extremamente positivo ao saber dosar risos e
lágrimas, tendo a coragem de abrir a necessidade de encararmos o fato de
que talvez mais importante até do que o nascimento (quando todas as
apostas estão em aberto) a morte é que é o grande momento da vida,
quando na avaliação final vemos o quanto fizemos valer as nossas fichas
no jogo da existência e, o quanto os parceiros do carteado gostaram de
partilhar do jogo conosco.
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Arthur
Dreyfus (Fabrice Luchini) e César Montesiho (Patrick Bruel): Nunca dois
amigos tiveram tão pouco em comum, e por isso tanto se irmanaram... |
Após uma jogada financeira que o arruinou, César sofre um pequeno
acidente e faz um exame com o cartão do plano de saúde de Arthur (e
óbviamente, os exames saem no nome deste) sendo depois chamado pelo Dr.
Cerceau (Thierry Godard de Atentado em Paris)
pois as radiografias revelaram um câncer agressivo e incurável. Arthur,
ao tentar explicar o acontecido ao amigo, se enrola, levando o amigo a
um enorme mal-entendido, acreditando que Arthur está condenado,
disponibilizando-se a cuidar do amigo de infância pelos meses de vida
que lhe resta. Arthur permite que a farsa se mantenha e ao final os
dois acabam cuidando um do outro e aprendem a deixar tudo para compensar
o tempo perdido.
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César aproveita cada bom momento da vida como se não houvesse amanhã... |
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Arthur vive em meio a suas neuroses de caa para o trabalho e do trabalho para casa... |
Roteirizado e dirigido por Matthieu Delaporte (De Volta Para o Passado) e Alexandre De La Patellière (22 Balas) O Melhor Está Por Vir (2019)
reedita a parceria de longa data da dupla apresentando uma comédia
dramática que se aprofunda na amizade entre o tímido Arthur e o
exuberante César, sendo o mal-entendido entre eles o artifício que
permeia toda a trama, virando suas vidas de cabeça para baixo por conta
do tabu do câncer, discutindo assuntos sérios e desconfortáveis como
doença e morte, mostrando leveza e descontração ao abordar a fragilidade
da vida em várias facetas como a cena em que César se aconselha com um
padre (André Marcon de O Oficial e o Espião) sobre como rezar pela alma de Arthur, ou quando ele faz contato com Randa Ameziane (Zineb Triki de O Melhor Professor da Minha Vida)
uma sobrevivente do câncer que dirige um grupo de aconselhamento de
doentes. A direção de atores faz os menores personagens se sobresairem
em olhares, tons de voz e sutilezas pequenas mas suficientes para
deixarmos de ver personagens e aí, percebermos pessoas reais como
Bernard (Jean-Marie Winling de Promessa ao Amanhecer),
o pai de César, com quem estava brigado há anos, mas em duas linhas de
diálogo sobre coisas banais vemos a reconciliação de pai e filho sem
pieguismos e chorumelas.
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César faz contato com Randa Ameziane (Zineb Triki) visando apoiar o amigo "desenganado"... |
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Arthur é desafiado por César a mostrar como se paquera uma mulher, com resultados hilários... |
A bela e sutil fotografia de Guillaume Schiffman (O Artista) auxiliada pela edição de Célia Lafitedupont (O Orgulho) e Sarah Ternat (Luna)
traz ótimos momentos como quando num restaurante César ensina a Arthur a
como paquerar uma mulher, sendo os dois confundidos com um casal gay ou
quando os dois estão descontraindo na discoteca, onde a trilha musical
de Jérôme Reboutier (Saara) inclui hits dos anos 70 e 80 do auge deste período clássico mas hoje em dia uma gostosa “coisa de velho”,
ou ainda quando mudando de ares, César consegue arrastar Arthur (que
tem medo de avião) para se consultar com o um médico (Rajat Kapoor) na
Índia.
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Randa acaba se mostrando mais importante do que se aparenta... |
O design de Produção de Marie Chemical (O Que Nos Liga)
define bem os espaços onde vivem os personagens como o espaçoso
apartamento do solar e energético César, cheio de obras de arte que ele
tem de vender para pagar as dívidas, mas ainda determinado a
compartilhar momentos mágicos com o apático Arthur (que ele acredita
estar condenado a morte) preso em suas neuroses vivendo num grande
apartamento amontoado de livros, coisa que se reflete nos figurinos de
Anne Schotte (A Família Bélier)
que mostra o estilo mais descolado do vaidoso e seguro César em
contraste com os trajes convencionais de aspecto meio largado do modesto
Arthur.Inicialmente caricatos, cada qual do seu lado, estreitam os
laços de amizade e amor que se estendem face a implacável realidade.
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Ao final ambos exorcizam seus fantasmas face à inevitabilidade dos fatos... |
O saldo final do filme é extremamente positivo ao saber dosar risos e
lágrimas, tendo a coragem de abrir a necessidade de encararmos o fato de
que talvez mais importante até do que o nascimento (quando todas as
apostas estão em aberto) a morte é que é o grande momento da vida,
quando na avaliação final vemos o quanto fizemos valer as nossas fichas
no jogo da existência e, o quanto os parceiros do carteado gostaram de
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"- Ele era doido, mas eu adorava o cara! Que saudade!!!" |
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