por Carlos Vinícius Marins
Destaque para novidades da Mauricio de Sousa Produções e decepção da Warner Media
Após uma sexta-feira (04/12) cheia de painéis, mas com poucas novidades, a expectativa para o sábado e o domingo (05 e 06/12) da primeira edição virtual da CCXP era grande. O final de semana certamente teria maior público assistindo e deveria conter as grandes surpresas do evento, além de trailers novos de filmes e séries e cenas exclusivas divulgadas em primeira mão. Mas, diferente do ocorrido nas edições anteriores – todas presenciais – o CCXP World não teve uma repercussão significativa na grande mídia. Afinal ele “flopou” ou não?
É preciso levar vários fatos em conta para responder a esta pergunta. Entre elas até o que seria a própria definição de “flopar” – quando algo que teria grande repercussão acaba naufragando no processo, sem conseguir o seu intento. Algo que sempre chamou a atenção da mídia são as multidões de milhares de pessoas que se aglomeram em filas intermináveis nos corredores do pavilhão de exposição ou em auditórios superlotados – o que era lugar comum na CCXP dos anos anteriores. Isso facilmente demonstrava o sucesso de um evento, chamava a atenção do público que não participou ou não se interessa por esse tipo de programa. Ao transformá-lo em uma convenção virtual, deixamos de ter essas imagens impactantes.
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CCXP de 2019: multidões inconcebíveis para um ano de pandemia |
Para complicar estamos vivendo um ano atípico, com uma pandemia de escala mundial que interditou a ida aos cinemas durante meses e interrompeu por um bom tempo as produções de filmes e séries de TV e de serviços de streaming. Com isso os estúdios estavam sem grandes novidades para apresentar – boa parte dos projetos em desenvolvimento agora ainda são os mesmos apresentados na CCXP de 2019, o que certamente frustrou muitos espectadores. O grande exemplo disso foi o megapainel de seis horas de duração da Warner Midia que encerrou no domingo o evento no palco principal – o Thunder Arena. Reunindo os trabalhos desenvolvidos pela empresa para TV, cinema, quadrinhos e streaming, este era um dos momentos mais aguardados pelo público, mas que pouco apresentou de significativo. O grande destaque dele foi a apresentação na íntegra do primeiro episódio de “Primal”, o novo seriado de animação de Genndy Tartakovsky, o criador de “O Laboratório de Dexter” e “Samurai Jack”. Lançado nos EUA no ano passado, só agora a série chega ao Brasil.
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“Primal”, de Genndy Tartakovsky: impactante animação para adultos |
Ao contrário das outras produções do animador, verborrágicas e sem limite de faixa etária, “Primal” não possui uma única fala, com seus personagens emitindo apenas gritos e rosnados. E há muita violência com eventual sangue jorrando e mutilações. A série mostra de forma quase visceral as desventuras de um homem pré-histórico e uma fêmea de Tiranossauro marcados pela dor da perda e procurando, juntos, sobreviver em um mundo selvagem, anterior ao conceito da civilização. Com uma excelente animação em 2D, “Primal” já ganhou diversos prêmios e tem uma 2ª temporada garantida para o ano que vem. Começou a ser transmitido no dia seguinte na sessão “Adult Swin” do canal por assinatura Warner Channel.
Outro momento da Warner que despertou o interesse foi Zendaya, a premiada protagonista de “Euphoria”, da HBO, falando do especial de fim de ano do seriado, que sai dos padrões da produção devido às limitações para gravar por causa da pandemia. Tivemos também o vislumbre de como é e como funciona o uniforme do Sanguinário, personagem do novo filme do Esquadrão Suicida interpretado por ldris Elba (Falando nisso, Margot Robbie não deu as caras...). Foi apresentado um novo trailer de “Mulher Maravilha 1984”, mas que nada trouxe de novo para os que vão ver o filme - que estreia agora, 16 de dezembro. Em relação a DC Comics, o braço de quadrinhos da empresa, a Warner Midia limitou-se a apresentar uma versão editada de alguns painéis sobre “Future State”. O grande evento da editora para o ano que vem que havia sido transmitido no dia anterior em outro palco do CCXP World – o Artists’ Valley.
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DC Future State: Painéis apresentados no sábado foram requentados no domingo |
Aliás, o Artists’ Valley foi o palco mais interessante do festival na maior parte do tempo. Além do citado “Future State” da DC Comics (em que os artistas da DC debateram sobre o evento para os fãs pela primeira vez), vários artistas participaram de até 250 lives diárias e entusiasmadas, onde conversavam sobre suas vidas, suas obras e outros temas relevantes, como a diversidade na cultura pop. Muitos deles tiveram pela primeira vez contato com o público brasileiro, como Kevin Eastman, Gerry Conway, Jeff Smith e Esteban Maroto. Vários deles também deram oficinas e workshops no Masterclass, uma das poucas áreas do evento reservadas para pagantes.
E não podemos deixar de falar no que foi o grande momento de todo o CCXP Worlds: o painel de sábado da Maurício de Sousa Produções no Thunder Arena. Ali sim, ocorreram surpresas e foram anunciadas novidades bombásticas sobre as quais os fãs vão debater e aguardar ansiosos por vê-las concretizadas. Houve a primeira exibição de uma cena de “Lições”, o novo filme da Turma da Mônica baseado no segundo álbum dos personagens criado pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi para o selo Graphic MSP, onde os personagens de Mauricio de Sousa ganham releituras feitas por grandes artistas nacionais. Aliás, ambos vão voltar a participar do selo, mas desta vez em obras separadas. No painel foram anunciados quais títulos serão lançados pelo selo no ano que vem e entre eles estão “Franjinha”, que será realizado pelo Vitor, e “Magali”, com Lu Cafaggi. Os outros dois títulos serão de outros autores que já passaram pelo selo, retornando aos mesmos personagens que trabalharam: Eduardo Ferigato, com “Piteco”, e Orlandeli, com “Chico Bento”. E a turminha vai se encontrar com outro personagem famoso dos quadrinhos e das animações: o gato Garfield, criação do cartunista Jim Davis.
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“Turma da Mônica: Lições”: Cena inédita apresentada no CCXP Worlds |
Falamos de fatores que obrigaram a realização da primeira edição digital do CCXP e que pesaram contra ela. Mas, afinal, ela flopou ou não? A grande mídia só deu destaque ao ineditismo no mundo de se fazer uma versão virtual tão complexa de um evento de cultura pop deste porte. Mas não deu muita bola para o que foi exibido nele. É preciso, porém, levar em conta outros fatores. Até então as edições do evento ocorreram apenas em São Paulo e no ano passado recebeu mais de 280 mil pessoas. De acordo com a administração da convenção, essa edição foi vista em 113 países, atingindo a soma de 1,5 milhão de pessoas navegando pelos palcos do festival e internacionalizando de fato o evento. Por não ser necessária a presença física dos participantes em um mesmo lugar na mesma época, foi possível reunir uma quantidade nunca vista de convidados para uma única edição. E o fato de ser virtual possibilitou ou facilitou a participação de espectadores e artistas muito idosos ou com dificuldade de locomoção. E esta foi a primeira edição do evento com possibilidade de acesso gratuito para boa parte das atividades. Não houve aquele “ambiente de festival”, com a chance de frequentadores assíduos conhecerem novas pessoas ou rever amigos enquanto circulavam pelos corredores do pavilhão esbarrando em cosplayers, mas, em compensação, muita gente de diversas partes do mundo pode participar pela primeira vez.
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Esteban Maroto: com 78 anos, artista espanhol não participaria da CCXP se não fosse virtualmente |
Além disso, espectadores que adquiriram qualquer modalidade de ingresso paga podem ver ou rever todos os painéis do evento até o dia 13 de dezembro. A “Escolha de Sofia” para muitos que precisavam decidir entre o que poderia ver dos painéis que ocorriam em horários simultâneos não foi necessária nessa edição para os espectadores pagantes. E os artistas que até então somente tinham os três dias do evento para venderem seus produtos e serviços, ganharam nesta edição uma semana a mais para seus negócios. Suas áreas no festival também continuam acessíveis para os interessados até o dia 13 – nesse caso, inclusive para os espectadores não-pagantes. Uma falha incontestável da organização estava no fato desse tempo extra não ter ficado claro no ato de se adquirir os ingressos. Muitos poderiam ter optado pelo ingresso pago se soubessem dessa possibilidade.
Segundo os organizadores, a versão virtual do evento veio para ficar. O CCXP presencial deve voltar assim que for possível (os responsáveis apostam que isso vai acontecer já em 2021), mas o CCXP Worlds vai prosseguir virtualmente nos próximos anos, devendo inclusive ter seu alcance ampliado. Isso demonstra que o festival pode não ter tido grande repercussão fora do seu nicho tradicional, ou mesmo entre boa parte de seu público, mas a ampliação de seu alcance, atingindo novos nichos ao redor do globo, garante que a experiência valeu à pena. Aguardemos as próximas edições para ver se as lições foram aprendidas.
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