segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A Rainha Carpinteira - A Maldição da Casa Winchester (2018)

 

Terror X Susto
 
por Alexandre César
(Originalmente publicado em 28/02/2018)

Helen Mirren e Jason Clarke enfrentam a mesmice 

 

“ Uma construção sempre inacabada! Um pesadelo ciclópico de sete andares e centenas de quartos!” 

A excêntrica Sara Winchester (Helen Mirren)


São estas as palavras usadas pelo representante da fábrica Winchester de rifles de repetição (e patins de rodas...) ao contratar o psiquiatra Dr.Eric Price (Jason Clarke) para avaliar o estado mental da viúva Sarah Winchester (a eterna “Rainha” Helen Mirren), matriarca da família e principal acionista da empresa (51% das ações). O objetivo é buscar subsídios médicos para afastá-la da diretoria da fábrica. Dr. Price, apesar de sua persona cínica e incrédula, carrega um drama pessoal, que tenta afogar com sexo pago e seu vício em álcool e láudano. Este é o plot básico de A Maldição da Casa Winchester (2018), dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spiering (de O Predestinado, de 2016).

A carabina Winchester 44: "a arma que conquistou o Oeste"

O argumento se baseia na história real das obras da Mansão Winchester, iniciadas por Sarah após as repentinas mortes de seu marido (William Wirt Winchester, de tuberculose) e da filha (Anne Parde Winchester, de causas obscuras). A obra, porém, nunca foi completada, pois a viúva comandava um exército de empregados e operários que sempre estava de domingo à domingo, dia e noite, construindo novos cômodos na casa segundo as especificações dos espíritos que ela dizia psicografar. O intuito de obra era de abrigar os espíritos dos mortos pelos rifles criados pela fábrica de seu marido – na segunda metade do século XIX, época em que foi inventada e patenteada, a carabina Winchester 44 era imbatível e tornou-se um ícone, como podemos atestar pela história de Jeremias e João de Santo Cristo na música Faroeste Caboclo, da Legião Urbana. Era chamada de “a arma que conquistou o Oeste”. Cada cômodo construído era lacrado com 13 pregos nas portas, até que as pendências do espírito que lá habitasse se esgotassem. Então o cômodo era desmontado para dar lugar a um novo alojamento de outro espírito.

 

O cético Dr.Eric Price (Jason Clarke)


O médico usa inicialmente de sua “conversa de profissional”, tentando manipular a velha senhora. Mas esta o coloca no seu devido lugar levando-o a abordar o caso de forma mais consistente. Residem também na mansão a sobrinha de Sarah, Marion Marriott (Sarah Snook), também viúva, e o filho desta, o pequeno Henry (Finn Scicluna-O´ Prey), alvo constante de possessões por parte de um espírito particularmente perigoso. Inicialmente cético, Eric vai gradativamente aceitando o fato de que há algo rondando a casa e seus habitantes e que talvez a obsessão de Sarah não seja tão insana como apregoam os diretores da fábrica.

 

Dr.Eric Price é chamado para atestar a sanidade da dona da casa


O roteiro, da autoria dos Spiering com Tom Vaughn, parte de uma boa premissa. A definição da obra da mansão como “algo ciclópico” remete a alguma conotação lovecraftiana, mas, lamentavelmente, não é isso que vemos na tela. Como um todo, o filme é apenas correto, graças aos seus valores de produção (ele foi rodado na Austrália) e ao elenco competente. Sua longa duração e a falta de ousadia na direção, se apoiando em fórmulas do gênero, acabam tornado o filme cansativo em alguns momentos e previsível, com cenas em que sabemos de antemão que terão sustos. Estranhamente vemos no filme uma casa quase vazia. Um lugar que, em seu auge, abrigava quase mil pessoas, entre moradores, empregados e operários. 
 
A Sra. Winchester é uma reclusa obsecada com o mundo espiritual
 
Em mãos mais hábeis poderíamos ter tido um clássico do gênero, comparável aos da Em mãos mais hábeis poderíamos ter tido um clássico do gênero, comparável aos da Hammer Films, que imortalizaram nomes como Peter Cushing e Christopher Lee e assustaram várias gerações. Uma pena, pois as histórias que rondam a Mansão Winchester são bem ricas. Algumas inclusive mais interessantes do que a da história escolhida para o filme. A matriarca dos Winchester persistiu na construção, desmonte e reconstrução sem parar até a sua morte em 05 de setembro de 1922 aos 83 anos, só então cessando 36 anos de obras contínuas. Hoje a mansão é um grande ponto turístico e é uma das maiores construções mal-assombradas do mundo.
 

Cena de "Monstro do Pântano" (Swamp Thing) n° 45

 
A mansão serviu de inspiração para Allan Moore, que, em sua fase escrevendo as histórias do Monstro do Pântano (mais precisamente no n˚ 45 da revista, no arco de histórias chamado de “Gótico Americano”, com releitura de velhas lendas americanas), nos brinda com um roteiro inspirado na imensa e labiríntica habitação
 

O cético médico vai vendo coisas em sua estadia que o perturbam

 
 
Talvez, nesta época de acirramentos de tiroteios em colégios (marca registrada da América contemporânea) o mundo fosse um pouco melhor se existissem mais Madames Winchesters, que assumissem o fardo da responsabilidade de seu legado, mas investissem seus recursos em soluções mais práticas para os vivos, sem necessariamente torrar os tubos em construções que vão do nada para lugar nenhum.
 

A verdadeira Mansão Winchester: A maior construção mal-assombrada da América


 

"- Sra.Winchester, eu lhe receitaria trabalhar 8 horas por dia, 365 dias ao

 ano, e acredito que o seu problema de 'fastasmas' estaria logo resolvido!"




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