Diretor Ari Aster surpreende em filme de ritual pagão

"- Terá uma boa vida até aos 72 anos!!!" Só...
A vida está um inferno para Dani (Florence Pugh), estudante de
Psicologia que após uma tragédia pessoal deixá-la sem sem chão ao perder
toda a sua família, se agarra, em busca de apoio, no seu namorado
Christian (Jack Reymor), mas o relacionamento já se arrasta há muito
tempo no automático, pois ele já não via hora de terminar o
relacionamento, coisa que a tragédia o impediu por pena. Isso fica mais
claro entre os amigos de Christian Mark (Will Poulter, de Maze Runner: A Cura Mortal),
que acha que ele devia mandá-la “passear”e Josh (William Jackson
Harper), tal qual Christian um estudante de Antropologia, mais focado em
seu projeto acadêmico do que em Josh relacionamentos. Ela, sentindo-se
deslocada,vê no convite de Pelle (Vilhelm Dan), amigo sueco de
Christian, para que o casal e mais dois amigos o acompanhem para uma
tradicional celebração de verão na aldeia em que cresceu, como uma
oportunidade para espairecer e processar seu luto.

Christian (Jack Reymor) e Dani (Florence Pugh) o casal que se "empurra com a barriga" e o "choque de realidade..."
Chegando à bucólica e solar comunidade de Hårga, a
princípio temos uma visão do que parece ser o paraíso – cheio de música
suave, roupas brancas, colheita de flores e dança. Pelle estabelece o
ciclo de vida de Hårgans para
seus amigos logo depois que eles chegam à comuna: A vida de cada membro
da comunidade é dividida em quatro estações, com duração de 18 anos
cada. A infância (primavera) dura de 0 a 18 anos e, de 18 a 36 anos
(verão), os jovens partem em peregrinação, passando aqueles anos vivendo
em outros lugares do mundo. Eles retornam à comuna e trabalham dos 36
aos 54 anos (outono) e dos 54 aos 72 (inverno) lideram a comunidade como
anciãos. Após uma brutal morte ritualística, vai ficando gradativamente
claro que os convidados para a celebração do dia mais longo do verão em
90 anos (o Midsommar) desempenharão um papéis beem diversos do que o de meros espectadores...

Sol, comida, bebida e "estimulantes naturais" fazem parte da colorida comemoração...
Dirigido por Ari Aster (Hereditário de 2018 e o curta The Strange Thing About the Johnsons de 2011 entre outros) Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019)
caminha para o terror psicológico de forma elegante, seja pela força
visceral de seus pontos de virada, deixando explícita a transição entre o
drama mundano e o terror absoluto, seja pelas suas viradas,
essencialmente existenciais. Belo e perturbador, o novo terror, assim
como o seu primeiro filme, traz um suspense crescente, instigante e
excêntrico. Tal qual o seminal O Homem de Palha (1973) de Robin Hardy, com roteiro de Anthony Shaffer responde à aquela velha “- Quem disse que toda história de terror precisa acontecer no escuro?” Aster,
mostra que não é necessário, utilizando as paisagens bucólicas do país
europeu, com suas cores vibrantes e radiantes para criar o clima
caótico, visceral, perverso e claustrofóbico, dedicando grande carinho à
construção da atmosfera de terror pastoral (ou folk horror).

Christian,quer terminar com Dani, Josh (William Jackson Harper) quer fazer uma tese sobre os Hargans e Mark (Will Pouter) só quer "pegar geral a mulherada..."
Tal qual no clássico de 1973, ou em Spellbinder (1987) de Janet Greek, O Culto (2017) de Justin Benson e Aaron Moorhead bem como em outros “filmes de ritual” o
roteiro se estabelece daquela forma que os personagens acabam fazendo
papéis (mesmo que não o saibam, pois devem faze-lo de livre e espontânea
vontade para que o ritual seja válido...) e assim quem os convida já
tem em mente o perfil dos convidados e, assim, fatalmente acabarão se
comportando de uma determinada maneira (Mark é o típico turista sem
respeito por outras culturas, Josh quer pesquisar a aldeia para sua
graduação mesmo contra o desejo dos habitantes, Christian está
procurando uma forma de terminar com Dani,etc...) sendo eles
gradativamente ludibriados pelos excelentes e benevolentes anfitriões,
cujos sorrisos não deixam de lembrar os dos milhares de devotos que
comparecem à Marcha para Jesus ou à Jornada Mundial da Juventude. Fés diferentes, mas devoção igual.

Dani vai vendo que o "Sol" (simbolizado pela entrada na comunidade) a todos vai tragando...
Se o prólogo prende a atenção por ter exatamente o que se espera de um
filme de terror: ambientes escuros, trilha sonora potente, o suspense de
não saber o que pode ter acontecido e desespero das personagens, sendo
Dani a emanação da claustrofobia do início até o fim e, sob a sua
perspectiva, da sobriedade e dor contidas iniciais, o filme se
transforma de pesadelo a sonho, de trevas a luz, levada a um ambiente de
pura luminosidade e paz, neste dia que não vira noite, sentindo-se
acolhida (abraçada) por aquela comunidade enquanto conhece o modo de
vida daquelas pessoas incomuns e fervorosas diante de suas crenças, e
assim a escuridão parece se afastar aos poucos dela, embora fique claro
que de dentro de si ela nunca se foi...

Renovação de ciclo: Os devotos no solstício de verão festejam a renovação da vida da terra, "trocando uma vida por outra..."
Questões de cunho cultural são levantadas como na sequência do brutal
suicídio ritual de um casal de aldeões, que chegou à idade máxima de 72
anos, cuja violência gráfica choca, mas abre uma discussão perturbadora,
levantada por Christian: “- Nós colocamos nossos idosos em asilos, e isso deve ser perturbador a eles”. Fim de ciclo para uns, e loucura para outros...

Christopher Lee em "O Homem de Palha" (1973):
Clássico seminal e pai de todos os "Filmes de Ritual"...
Embora não dê um minuto de paz à sua protagonista, usando-a para mostrar
a indiferença e afastamento do próprio namorado, o roteiro dá uma
atenção maior sobre as relações humanas, explorando o relacionamento do
casal.

A "Capela Sixtina" de Hargan, onde várias dicas sobre os rituais são mostrados.
Agora se você convidado não presta atenção... só lamento.
Tanto Pugh quanto Reynor sutilmente retratam o desconforto mútuo entre
pessoas que já não se gostam mais, e a intensidade dos momentos de
loucura. mostrando uma relação em declínio em meio ao caos.Neste filme,
Aster trabalha muito bem a crueza no terror, mas essencialmente no
quanto é possível assustar até mesmo nas situações que se tornam cômicas
de tão absurdas sem tornar-se uma comédia de terror, pois o incômodo é
real e se une aos momentos "leves" de forma quase que automática,
como quando percebemos que para o homem moderno, não há maior antídoto
para os efeitos da alucinação por drogas do que a noção de uma futura
paternidade inesperada.

Dani vai sendo separada de seus amigos na mesma medida que vai sendo acolhida por aquela comunidade insólita
Chocar e confundir o público entre riso e repulsa parece ser o objetivo
que só um filme essencialmente confuso pode realizar, deixando um gosto
estranho mas também, único.

Josh sabe que não deve fotografar os textos sagrados, mas a tentação acadêmica é maior...
Esteticamente, o filme é uma homenagem à direção de arte presente nos filmes como El Topo (1970)
do cineasta, poeta, psicólogo e escritor chileno, Alejandro Jodorowski.
Seus efeitos visuais contorcidos, alucinógenos e psicodélicos remetem
às obras do pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh, trazendo as
distorções realísticas em algumas cenas que estão presentes em diversos
quadros do pintor, como os momentos em que elementos da paisagem se
distorcem refletindo o entorpecimento dos personagens da percepção da
realidade à sua volta.

Pelle (Vilhelm Blomgren) o "ombro amigo" de Dani...
A música de Haxan Cloak ( das séries The Enemy Within e O Atirador,
) enfatiza o tom obscuro, misterioso e assustador, trazendo todo terror
psicológico graças ao músico Bobby Krilc, que utiliza o clássico
instrumental com o estridente som eletrônico causando no espectador uma
sensação de repulsa, angustia e agonia, que dialoga com a Montagem de
Lucian Johnston (Hereditário, Noé de 2014) nas alternâncias de momentos tensos e outros leentos para depois intensificar o pique narrativo num crescendo.

"- Dá uma cheiradinha meu filho que é melhor do que a 'azulzinha' eu garanto!"
A dedicação dos Hårgans à
sua comunidade se reflete na criação das vestes e na decoração de suas
casa sendo um ponto que os turistas acham bonito e semelhante a um
camping. Sendo os seus costumes representados em cenas de longo
silêncio, ou através das peculiares ilustrações que adornam as casas e
estábulos do vilarejo. O caprichado Desenho de Produção de Henrik
Svensson (O Círculo de 2015) e a Direção de Arte de Csaba Lodi (Caça às Bruxas de 2011) Richard T.Olson (Hereditário, Pânico na Neve de 2010) Nille Svensson (da série Alt faller) e Eszter Takács (da série Os Bórgia)
carrega as tintas em cores vivas, e em ilustrações ingênuas e
didáticas, semelhantes às do nosso cordel, que explicam muitos rituais
tal qual tiras de quadrinhos, coisa registrada pela Fotografia de Pawel
Pogorzelski (Hereditário, As Garotas da Tragédia de
2017) propositalmente superexposta, cria mais outro paradoxo com o
interior sombrio da personagem principal, que certas vezes se sobrepõe à
beleza externa (é estupendo o momento quando os carros seguem a estrada
rumo à Hårga a câmera vira de ponta a cabeça, ficando assim um bom tempo para demonstrar que eles estão indo a “um outro mundo”). Cor e branco se mesclam nos Figurinos de Andrea Flesch (Colette de 2018, O Duque de Burgundy de
2014) que utiliza tecidos naturais, palha e muitas flores nas
ornamentações e arranjos de cabeça, contrastando com a realidade
manufaturada das camisas de malha, jeans e tênis dos visitantes.

"e a Rainha da Colheita é eleita e distribui as suas bençãos pelos campos, assegurando a fertilidade da terra"
Ao final, tal qual Hereditário, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite não
é um longa que agradará a todos. O seu horror é subjetivo, é profundo e
psicológico, cujo final acaba sendo sobre o abandonar um relacionamento
ruim e abrir-se para um relacionamento melhor – de uma maneira muuiiito distorcida,
obviamente, que quebra um clássico paradigma presente em vários filmes
de terror centrados em rituais, seitas ou cultos, que é o demonizar
crenças de matriz africana ( que diferente das de matriz nórdica, celta
ou greco-romana, não têm tradição de sacrifícios humanos),
surpreendendo ao trazer o terror através de uma religião européia. A
troca traz reflexões e desmistifica o preconceito criado contra o
continente africano, sendo nestes tempos de fundamentalismo
institucionalizado, o tipo de filme do qual o espectador sairá do cinema
perturbado, reflexivo e angustiado, mas no bom sentido.
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"- Terá uma boa vida até aos 72 anos!!!" Só...
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A vida está um inferno para Dani (Florence Pugh), estudante de Psicologia que após uma tragédia pessoal deixá-la sem sem chão ao perder toda a sua família, se agarra, em busca de apoio, no seu namorado Christian (Jack Reymor), mas o relacionamento já se arrasta há muito tempo no automático, pois ele já não via hora de terminar o relacionamento, coisa que a tragédia o impediu por pena. Isso fica mais claro entre os amigos de Christian Mark (Will Poulter, de Maze Runner: A Cura Mortal), que acha que ele devia mandá-la “passear”e Josh (William Jackson Harper), tal qual Christian um estudante de Antropologia, mais focado em seu projeto acadêmico do que em Josh relacionamentos. Ela, sentindo-se deslocada,vê no convite de Pelle (Vilhelm Dan), amigo sueco de Christian, para que o casal e mais dois amigos o acompanhem para uma tradicional celebração de verão na aldeia em que cresceu, como uma oportunidade para espairecer e processar seu luto.
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Christian (Jack Reymor) e Dani (Florence Pugh) o casal que se "empurra com a barriga" e o "choque de realidade..."
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Sol, comida, bebida e "estimulantes naturais" fazem parte da colorida comemoração...
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Dirigido por Ari Aster (Hereditário de 2018 e o curta The Strange Thing About the Johnsons de 2011 entre outros) Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019)
caminha para o terror psicológico de forma elegante, seja pela força
visceral de seus pontos de virada, deixando explícita a transição entre o
drama mundano e o terror absoluto, seja pelas suas viradas,
essencialmente existenciais. Belo e perturbador, o novo terror, assim
como o seu primeiro filme, traz um suspense crescente, instigante e
excêntrico. Tal qual o seminal O Homem de Palha (1973) de Robin Hardy, com roteiro de Anthony Shaffer responde à aquela velha “- Quem disse que toda história de terror precisa acontecer no escuro?” Aster,
mostra que não é necessário, utilizando as paisagens bucólicas do país
europeu, com suas cores vibrantes e radiantes para criar o clima
caótico, visceral, perverso e claustrofóbico, dedicando grande carinho à
construção da atmosfera de terror pastoral (ou folk horror).
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Christian,quer terminar com Dani, Josh (William Jackson Harper) quer fazer uma tese sobre os Hargans e Mark (Will Pouter) só quer "pegar geral a mulherada..."
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Tal qual no clássico de 1973, ou em Spellbinder (1987) de Janet Greek, O Culto (2017) de Justin Benson e Aaron Moorhead bem como em outros “filmes de ritual” o
roteiro se estabelece daquela forma que os personagens acabam fazendo
papéis (mesmo que não o saibam, pois devem faze-lo de livre e espontânea
vontade para que o ritual seja válido...) e assim quem os convida já
tem em mente o perfil dos convidados e, assim, fatalmente acabarão se
comportando de uma determinada maneira (Mark é o típico turista sem
respeito por outras culturas, Josh quer pesquisar a aldeia para sua
graduação mesmo contra o desejo dos habitantes, Christian está
procurando uma forma de terminar com Dani,etc...) sendo eles
gradativamente ludibriados pelos excelentes e benevolentes anfitriões,
cujos sorrisos não deixam de lembrar os dos milhares de devotos que
comparecem à Marcha para Jesus ou à Jornada Mundial da Juventude. Fés diferentes, mas devoção igual.
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Dani vai vendo que o "Sol" (simbolizado pela entrada na comunidade) a todos vai tragando...
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Renovação de ciclo: Os devotos no solstício de verão festejam a renovação da vida da terra, "trocando uma vida por outra..."
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Questões de cunho cultural são levantadas como na sequência do brutal
suicídio ritual de um casal de aldeões, que chegou à idade máxima de 72
anos, cuja violência gráfica choca, mas abre uma discussão perturbadora,
levantada por Christian: “- Nós colocamos nossos idosos em asilos, e isso deve ser perturbador a eles”. Fim de ciclo para uns, e loucura para outros...
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Christopher Lee em "O Homem de Palha" (1973):
Clássico seminal e pai de todos os "Filmes de Ritual"...
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Embora não dê um minuto de paz à sua protagonista, usando-a para mostrar
a indiferença e afastamento do próprio namorado, o roteiro dá uma
atenção maior sobre as relações humanas, explorando o relacionamento do
casal.
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A "Capela Sixtina" de Hargan, onde várias dicas sobre os rituais são mostrados.
Agora se você convidado não presta atenção... só lamento.
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Tanto Pugh quanto Reynor sutilmente retratam o desconforto mútuo entre
pessoas que já não se gostam mais, e a intensidade dos momentos de
loucura. mostrando uma relação em declínio em meio ao caos.Neste filme,
Aster trabalha muito bem a crueza no terror, mas essencialmente no
quanto é possível assustar até mesmo nas situações que se tornam cômicas
de tão absurdas sem tornar-se uma comédia de terror, pois o incômodo é
real e se une aos momentos "leves" de forma quase que automática,
como quando percebemos que para o homem moderno, não há maior antídoto
para os efeitos da alucinação por drogas do que a noção de uma futura
paternidade inesperada.
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Dani vai sendo separada de seus amigos na mesma medida que vai sendo acolhida por aquela comunidade insólita
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Chocar e confundir o público entre riso e repulsa parece ser o objetivo
que só um filme essencialmente confuso pode realizar, deixando um gosto
estranho mas também, único.
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Josh sabe que não deve fotografar os textos sagrados, mas a tentação acadêmica é maior...
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Esteticamente, o filme é uma homenagem à direção de arte presente nos filmes como El Topo (1970)
do cineasta, poeta, psicólogo e escritor chileno, Alejandro Jodorowski.
Seus efeitos visuais contorcidos, alucinógenos e psicodélicos remetem
às obras do pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh, trazendo as
distorções realísticas em algumas cenas que estão presentes em diversos
quadros do pintor, como os momentos em que elementos da paisagem se
distorcem refletindo o entorpecimento dos personagens da percepção da
realidade à sua volta.
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Pelle (Vilhelm Blomgren) o "ombro amigo" de Dani...
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A música de Haxan Cloak ( das séries The Enemy Within e O Atirador, ) enfatiza o tom obscuro, misterioso e assustador, trazendo todo terror psicológico graças ao músico Bobby Krilc, que utiliza o clássico instrumental com o estridente som eletrônico causando no espectador uma sensação de repulsa, angustia e agonia, que dialoga com a Montagem de Lucian Johnston (Hereditário, Noé de 2014) nas alternâncias de momentos tensos e outros leentos para depois intensificar o pique narrativo num crescendo.
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"- Dá uma cheiradinha meu filho que é melhor do que a 'azulzinha' eu garanto!"
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A dedicação dos Hårgans à sua comunidade se reflete na criação das vestes e na decoração de suas casa sendo um ponto que os turistas acham bonito e semelhante a um camping. Sendo os seus costumes representados em cenas de longo silêncio, ou através das peculiares ilustrações que adornam as casas e estábulos do vilarejo. O caprichado Desenho de Produção de Henrik Svensson (O Círculo de 2015) e a Direção de Arte de Csaba Lodi (Caça às Bruxas de 2011) Richard T.Olson (Hereditário, Pânico na Neve de 2010) Nille Svensson (da série Alt faller) e Eszter Takács (da série Os Bórgia) carrega as tintas em cores vivas, e em ilustrações ingênuas e didáticas, semelhantes às do nosso cordel, que explicam muitos rituais tal qual tiras de quadrinhos, coisa registrada pela Fotografia de Pawel Pogorzelski (Hereditário, As Garotas da Tragédia de 2017) propositalmente superexposta, cria mais outro paradoxo com o interior sombrio da personagem principal, que certas vezes se sobrepõe à beleza externa (é estupendo o momento quando os carros seguem a estrada rumo à Hårga a câmera vira de ponta a cabeça, ficando assim um bom tempo para demonstrar que eles estão indo a “um outro mundo”). Cor e branco se mesclam nos Figurinos de Andrea Flesch (Colette de 2018, O Duque de Burgundy de 2014) que utiliza tecidos naturais, palha e muitas flores nas ornamentações e arranjos de cabeça, contrastando com a realidade manufaturada das camisas de malha, jeans e tênis dos visitantes.
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"e a Rainha da Colheita é eleita e distribui as suas bençãos pelos campos, assegurando a fertilidade da terra"
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Ao final, tal qual Hereditário, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite não
é um longa que agradará a todos. O seu horror é subjetivo, é profundo e
psicológico, cujo final acaba sendo sobre o abandonar um relacionamento
ruim e abrir-se para um relacionamento melhor – de uma maneira muuiiito distorcida,
obviamente, que quebra um clássico paradigma presente em vários filmes
de terror centrados em rituais, seitas ou cultos, que é o demonizar
crenças de matriz africana ( que diferente das de matriz nórdica, celta
ou greco-romana, não têm tradição de sacrifícios humanos),
surpreendendo ao trazer o terror através de uma religião européia. A
troca traz reflexões e desmistifica o preconceito criado contra o
continente africano, sendo nestes tempos de fundamentalismo
institucionalizado, o tipo de filme do qual o espectador sairá do cinema
perturbado, reflexivo e angustiado, mas no bom sentido.
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