quinta-feira, 15 de julho de 2021

O espaço... a fronteira final??? - Crítica - Séries: Space Force - 1ª Temporada

 


Para o Alto e... avante?

por Alexandre César
(Originalmente postada em 24/ 07/ 2020)


Steve Carell e o "rabo de foguete" de Donald Trump
 



O vácuo do espaço é um meio inóspito, onde qualquer passo mal dado pode ser o seu último, fazendo a diferença entre a vida e a morte, onde ninguém ouvirá o seu grito se propagar, coisa que levará um tempo para o General Mark R. Naird (Steve Carell de O Virgem de 40 Anos) entender, pois o piloto condecorado que enfrentou duras provações na Bósnia nos anos 90, sonha em comandar a Força Aérea mas, por essas artimanhas do destino, é surpreendido pela notícia de ser indicado para liderar a mais nova divisão das Forças Armadas dos EUA: a Força Espacial.

O General Mark R. Naird (Steve Carell) é promovido a chefe da Força Espacial. sua esposa Maggie (Lisa Kudrow) e o secretário John Blansmith (Dan Bakkedahl) o parabenizam...

 
Cético mas dedicado como todo bom soldado, Naird se muda com sua família para uma base remota no Colorado. É lá que ele e uma equipe de cientistas chefiados pelo Dr. Adrian Mallory (John Malkovich de Quero ser John Malkovich) e astronautas e... “astronautas”recebem da Casa Branca a missão urgente de pisar novamente na lua (e provar que o pouso da Eagle*1 não foi num estúdio...) e dominar totalmente o espaço, pois os chineses estão passando a frente dos EUA e, até a Índia está dando passos largos neste sentido.

Parceria: O Dr. Adrian Mallory (John Malkovich) é o melhor aliado de Naird, tendo os dois uma química no melhor estilo "Kirk & Spock"...

O combate simulado entre Força Espacial e Força Aérea, usando exoesqueletos, mostra a visão militar versus a visão científica


Marcando o reencontro entre Steve Carell e Greg Daniels, responsáveis a versão americana de The Office, uma das melhores comédias de todos os tempos, a produção da Netflix num formato de dez episódios com pouco mais de 25 minutos cada, Space Force ainda que fácil de maratonar, encara uma missão ingrata: O de competir com o cenário tragicômico atual que vivemos, onde aqui, caminhamos para a Idade Média, e nos EUA, o presidente Donald Trump que de fato, anunciou a criação de uma “Força Espacial” (com um logo que plagia o símbolo de Star Trek), que tal qual como a da ficção, objetiva “- Colocar coturnos na Lua!!!” e, superar a expectativa por uma série que não é forçada, daquelas que indica ao público o momento certo de dar risada. Ao contrário de um escritório, aqui é a Força Espacial. a imprensa especializada passou a massacrar a produção porque não entenderam a proposta. É preciso entender a piada para rir...
 

Erin Naird (Diana Silvers) é a filha adolescente e com tal, vocacionada para se meter em encrencas

O personagem de Carell é divertido até nos momentos mais tensos, afastando o personagem de uma figura militar totalmente descerebrada, mostrando-o como um homem repleto de valor e responsabilidades, apesar do caos de sua vida familiar, pois sua esposa Maggie (Lisa Kudrown de Friends) está presa (não sabemos por qual motivo...) que o aconselha a procurar companhia (pois as visitas íntimas são muito espaçadas...) e sua filha Erin (Diana Silvers de Vidro) é uma adolescente que se sente socialmente isolada no mundo, fora o pai senil Fred (Fred Willard de Modern Family) que sempre cai em golpes telefônicos.
 

O Relações Públicas F. Tony Scarapiducci (Ben Schwartz) só se preocupa com as redes sociais

Autoridade: Brad Gregory (Don Lake) o secretário de Laird é mestre em não ser respeitado por ninguém


Na base da força Espacial, a equipe é beem insólita, a começar pelo Relações -Públicas F. Tony Scarapiducci (Ben Schwartz de Sonic: O Filme) que só se preocupa com os Likes e os Twits que qualquer atividade possa render, independente de sua lógica ou importância real (a trama dos novos uniformes bolados pela Primeira-Dama é qualquer coisa...), o Dr. Chan Kaifang (Jimmy O. Yang de Podres de Ricos) que tem boas sacadas (de quem Laird suspeita por ser neto de chineses) e que tem um crush platônico com a Cap. Angela Ali (Tawny Newsome de Woman Up) uma militar treinando para ser astronauta, Yuri Telatovich (Alex Sparrow de UnREAL) o cosmonauta residente, interessado em Erin, que flerta com o segurança Duncan Tabner (Spencer House de Doentes de Amor), e ainda temos a arquiteta prestadora de serviços Kelly King (Jessica St. Clair de Avenue 5) interesse romântico de Naird.
 

O Dr.. Chan Kaifang (Jimmy O.Yang ) é um dos poucos que sabe realmente o que faz, entre os deslizes da chefia

A Capitã Angela Ali (Tawny Newsome) treina para ser astronauta, e até que faz bonito


A espinha dorsal de Space Force se encontra na química entre Carell e Malkovich, sendo a dualidade entre o pensamento militar histérico e negacionista (que tenta resolver tudo com bombas...) que não acredita na ciência e tem as ideias mais malucas possíveis, e o sarcasmo científico (sempre buscando os melhores caminhos para solucionar as crises) rende os melhores e mais engraçados momentos da série, como quando usam um cachorro e um macaco de nome Marcus (Pontes?) em uma missão para consertar um satélite, ou quando há um combate simulado (usando exoesqueletos) entre a Força Espacial e a Força Aérea, liderada pelo General Kick Grabaston da Força Aérea (Noah Emmerich de The Americans), o nêmesis de Naird. 
 

Maggie está presa (não sabemos porque...) e aconselha Naird à encontrar companhia fora (já que ela encontrou dentro da prisão)...

Rivais: O General Kick Grabaston da Força Aérea (Noah Emmerich) hostiliza Naird, por estar de olho no controle da Força Espacial...


São nestes momentos que surgem os melhores comentários sociais e políticos propostos pelo roteiro apesar de ocasionais deslizes científicos*2 , ou quando Edison Jaymes (Kaitlin Olson de As Bem-Armadas) uma versão feminina de Steve Bezos/Elon Musk chega para ajudar no desenvolvimento de um projeto, mas é apenas um golpe midiático para ela não fazer nada e levar o crédito por tudo que for bem sucedido na missão, ou quando ao defender o orçamento no congresso (com direito a sessão ser invadida por ativistas feministas vestidas de O Conto da Aia...) Naird tem de contar com o apoio do Representante Bob White (Tommy Cook de Beter Things) um conservador terraplanista, fora o secretário de estado John Blandsmith (Dan Bakkedahl de Vice) que está sempre metendo bedelho com cobranças estapafúrdias, repassadas pelo “presidente”, que nunca é visto, e só se comunica através do Twiter...

A multimídia Edison Jaymes (Kaitlin Olson): Uma versão feminina de Elon Musk ou Steve Bezos,, com esse papo de que "A iniciativa privada faz melhor"...

A um passo do desastre: Ele vai apertar o botão vermelho...

Temos ainda participações pontuais, ironizando o militarismo, nas reuniões do Conselho de Estado, quando Naird, além de ter de aguentar as farpas de Grabaston, ainda encara as zoações da Chefe de Operações Navais (Jane Lynch de O Virgem de 40 Anos), do General Rongley (Dietrich Bader de Harley Quinn), do Comandante do Corpo de Fuzileiros (Patrick Warburton de Desventuras em Série), com exceção do Comandante da Guarda-Costeira (Larry Joe Campbell de The Orville) que é sempre zoado por todos...
 

A simulação de missões longa duração: Mesmo fiel à ciência, o design de produção e de figurino passam algo de galhofa...


Os valores de produção correspondem ao bom orçamento e cumprem corretamente o seu papel. O desenho de produção de Susie Mancini (Dollface) e a direção de arte de Gary Warshaw (Ad Astra: Rumo às Estrelas) criam espaços high tech críveis como as instalações da Força Espacial e da instalação para a simulação de missões de longo confinamento, mas ajudados pela decoração de sets de Rachel Ferrara (Barry) percebemos um toque de non sense, como se algo fugisse da proporção, coisa que os figurinos de Kathleen Felix-Hager (Vice) também refletem, como nos trajes de astronautas usados, ou nos “uniformes” propostos pela Primeira-Dama...
 

E aos trancos e barrancos (muitos) a equipe vai consertando os absurdos (vários) e avançando nas missões...

A fotografia de Simon Chapman (Upload) usa tons cleans nas instalações e mais quentes na residência de Laird, e algumas vezes, auxiliado pela edição de Rob Burnett (A.P. Bio), Julie Cohen (Project Runway), Susan Vaill (This Is Us), David Rogers (Upload) Timothy A. Kuper (Icarus) e Joshua Toomey (O crush errado) usa dos cortes similares aos de um reality show, sublinhados pela musica de Carter Burwell (Três Anúncios para um Crime) que muitas vezes assume um tom intimista mas farsesco.

Não faltam momentos non sense por conta do espírito paranóico de Naird...

Confronto: A China não facilita nesta nova corrida espacial...


Ao final, Space Force tem os seus méritos por se apoiar num humor sutil, o que deve talvez afastar o grande público inicialmente, mas que com o tempo deverá gerar o seu fandon, e esperemos apenas que isto não demore muito, pois embora confirmada uma segunda temporada, só podemos esperar que as peripécias de Naird & equipe não acabem perdidas no espaço...


Observação:
Para quem não entendeu o humor de Space Force ou quer entrar de cabeça na trama, sugerimos acompanhar os podcasts disponíveis em plataformas digitais, como Spotify, Podcasts da Apple, entre outros (somente em inglês). Num deles, o ator e apresentador Jimmy O. Yang recebe o elenco e o time de produção da série para explorar as histórias de bastidores num podcast de dez episódios, na época do lançamento, às segundas e quintas.


Notas:
 
*1: No caso aqui falamos daquela teoria conspiratória de que o pouso da Apolo11 foi uma simulação filmada em estúdio, e teria sido dirigida or Stanley Kubrick (2001: Uma Odisséia no Espaço) e que, por causa disso  ele não filmava mais nos EUA.
 
*2: No episódio em que o macaco faz uma atividade extra veicular, ele usa uma desparafusadeira convencional, gerando problemas pela inércia num ambiente sem gravidade. Na realidade as ferramentas usadas no espaço são construídas com um sistema adicional de enrenagens que compensam a ação da inércia, impedindo que o usuário rode como um parafuso, inclusive vemos a personagem e Sandra Bullock usar uma na sequência inicial de Gravidade (2013).








 

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