segunda-feira, 5 de julho de 2021

Pisando no acelerador - Crítica - Filmes: Velozes & Furiosos 9 (2021)

 

 

A Grande Família

por Alexandre César


Vin Diesel & Cia. seguem para o alto e avante! 
 
 
"Nada é mais forte do que a família..."
 
 
Desde que Velozes & Furiosos (dirigido por Rob Cohen) surgiu, no agora longínquo ano de 2001, a franquia foi gradativamente crescendo e se tornando cada vez mais superlativa, virando uma resposta modo hip-hop aos filmes de James Bond (notadamente a fase de Roger Moore) e sempre repousando nos carros tunados, lutas e a evocação mítica aos valores familiares num estilo novelesco de narrativa que permite aos adversários de um filme se regenerarem, retornando como aliados nos filmes seguintes e até personagens que morram ao longo da série reapareçam com explicações de que suas mortes foram encenadas (por alguma necessidade narrativa do filme da vez), quando não são introduzidos novos personagens nunca mencionados anteriormente mas, dos quais, todos lidam como se eles sempre estivessem estado lá, num retcom extremo.
 
 
"Eu quero uma casa no campo": Dominic Toretto (Vin Diesel) e Letty (Michelle Rodriguez) tentam levar uma vida pacata, mas, o dever sempre chama...

 
Inicialmente focado na dualidade entre os personagens Dominic Toretto (Vin Diesel de Bloodshot) o parrudo bad boy chefe de gangue especializado em veículos tunados, e Brian O´Conner (Paul Walker), o policial certinho infiltrado na gangue que se afeiçoa ao grupo; mas na sua continuação +Velozes + Furiosos de 2003 de John Singleton, contou apenas com Walker, pois Diesel estava comprometido com A Batalha de Ridick (2004), retornando na cena final de Velozes & Furiosos: Desafio em Tóquio (2006 de Justin Lin) pois precisava de maior visibilidade e à partir do quarto filme da franquia, Velozes & Furiosos 4 (2009), Velozes & Furiosos 5 (2011), Velozes & Furiosos 6 (2013), todos dirigidos por Justin Lin, contaram novamente com a dupla, que seguiu até Velozes & Furiosos 7 (2015) de James Wan, quando Walker faleceu num acidente de carro (sendo necessário mudar o final e usar CGI nas cenas adicionais). Durante este percurso, a adição ao elenco de Dwayne “The Rock” Johnson a partir do 5 foi levando a uma rota de colisão entre os dois astros, pois a franquia estava ficando pequena para os dois egos, saindo Johnson para o spin-off Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (2019) de David Leitch, e ficando Diesel com a franquia original a partir de Velozes & Furiosos 8 (2017) de F. Gary Gray e desse ponto retomamos a vida de nosso herói.
 
 
Roman (Tyrese Gibson) entre tiros e perseguições questiona a sua "indestrutibilidde"

 
Dirigido novamente por Justin Lin (Star Trek: Sem Fronteiras) e com roteiro de Daniel Casey (Drone) e Justin Lin, que assinam a história junto com Alfredo Botello (Hollywood Adventures) baseados nos personagens criados por Gary Scott Thompson (O Homem sem Sombra) Velozes & Furiosos 9 (2021) não renega suas origens novelescas, e se inicia com um imenso retcon, onde vemos, num flashback em 1989, cuja fotografia de Stephen F. Windon (os últimos 6 filmes da franquia) reproduz a saturação de cores e granulação das transmissões de eventos esportivos da época, e presenciamos a juventude da família Toretto com o jovem Dom (Vinnie Bennett de The Gulf) e seu irmão mais novo Jakob (Finn Cole de Animal Kingdon) participando da equipe de seu pai Jack Toretto (JD Pardo de Tacoma FD) corredor de Nascar, que morre num acidente na pista, o que marca à ferro e fogo a alma dos rapazes, trazendo consequências em suas vidas.
 
Em "Monteuinto" a equipe, fugindo do governo local, é interceptada por um novo oponente...

...tão cascudo quanto Dominic e com muito suporte, digno de James Bond

 
Agora, Dominic Toretto, tenta levar uma vida tranquila no campo, criando o seu filhinho, num relacionamento estável com Letty (Michelle Rodriguez de Alita: Anjo de Combate) mas logo são convocados pelos colegas Roman (Tyrese Gibson de Corrida Mortal), Tej Parker (Ludacris de Crash: No Limite) e a hacker Ramsey (Nathalie Emmanuel de Game of Thrones) para ajuda-los numa missão de resgate pois Sr. Ninguém (Kurt Russel de Fuga de Nova York) o seu contato no governo teve o seu avião interceptado enquanto levava aprisionada, a ciber-terrorista Cypher (Charlize Theron de O Escândalo) com quem Toretto tem sérias contas à ajustar.
 
 
Girl Power: A hacker Ramsey (Nathalie Emmanuel), Letty e Mia (Jordana Brewster) mostram que o time feminino nada deve aos rapazes

 
Chegando ao local onde o avião foi abatido, nas selvas de Montequinto, fictício país centro-americano (com um jeitão de Jurassic Park, pois se aparecessem velociraptors, pareceria a coisa mais natural do mundo...) a equipe, troca tiros e é perseguida por forças armadas locais, após descobrirem um artefato escondido pelo Sr. Ninguém, sendo interceptados por ninguém menos do que Jakob Toretto (John Cena de Bumblebee) que rouba o artefato numa sequência digna de um filme da Marvel Studios, trazendo à Dominic a lembrança do que causou a ruptura entre os dois irmãos.
 
 
"Uma vilã para chamar de sua": Cypher (Charlize Theron) se firma como a grande antagonista de Toretto e Cia.

 
Jacob, junto com seu financiador Otto (Thue Ersted Rasmussen de Sunday), filho de um mencionado mas não-visto mandatário do leste europeu, (devendo vir à ser o vilão de um dos próximos filmes da franquia) à lá Viktor Orbán Erdogan pretendem controlar o Projeto Ares, um sistema de controle global de armamentos via satélite, tendo capturado Cypher para usar suas habilidades tecnológicas no projeto. 
 
 
Casos de Família: Jackob Toretto (John Cena) o renegado irmão mais novo de Dominic está por trás de tudo, tendo muito rancor para colocar em dia...

...coisa que remete aos tempos de juventude


 
Dentre os rostos que retornam, temos Stasiak (Shea Wingham de Perry Mason) contato com o governo, que dá uma ajuda extra-oficial; Mia (Jordana Brewster de Violência Aleatória) a irmã caçula de Dominic, que revela ter sempre mantido contato com Jacob, o irmão desgarrado, por sentir-se inconformada com a ruptura dos dois (tendo aparecido para ajudar "enquanto Brian ficou cuidando dos filhos"); Han (Sung Kang de Power), que supostamente havia “morrido” no final do 6, reaparece, protegendo Elle (Anna Sawai de Giri/Haji) filha dos criadores do Projeto Ares, e de quebra recorda da sua falecida Gisele (Gal Gadot de Mulher-Maravilha 1984 num flashback); a cantora Cardi B numa ponta como Leysa, chefe de uma quadrilha de gostosonas disfarçadas e, para reforçar nas traquitanas, voltam Sean Boswell (Lucas Black de NCIS) e Twinkie (Shad Moss de CSI: Cyber) de Desafio em Tóquio que junto com Santos (o rapper Don Omar de Los Bandoleros) do 4, 5 e 8, fazem o trabalho de “tunar” carros, como quando fundem um Pontiac Viera com uma turbina de foguete, num momento em que Roman e Tej põem à prova seus questionamentos se eles são ou não como super-heróis ou se apenas tiveram muita sorte (se prestarmos atenção ao quanto eles e o resto da equipe não são afetados pelas leis da física, esta pergunta já está respondida...).
 
 
Quem é "morto" sempre aparece: Han (Sung Kang) retorna para dar uma força aos amigos

 
A edição de Greg DÁuria (Django Livre), Dylan Highsmith (Scorpion: Serviço Secreto) e Kelly Matsumoto (Megatubarão) consegue intercalar o ritmo narrativo ora nos momentos mais reflexivos de Dominic, ora quando a ação desenfreada das perseguições vai detonando carros, caminhões, drones, satélites e toda a sorte de aparato, graças aos efeitos visuais de Hammerhead Productions, Digiscope, Illusion Arts, e Industrial Light & Magic, num crescendo cartunesco que é impossível de não rir tal o absurdo, sendo adequadamente embalado pela música de Brian Tyler (Rambo: Até o Fim) que não deixa dúvidas de que a equipe de Toretto é a versão-classe-operária da Liga da Justiça ou dos Vingadores, característica realçada pelos figurinos de Sanja Milkovic Hays (Capitã Marvel) define seu heróis, vilões e anti-heróis com trajes essencialmente práticos e funcionais, com exceção de alguns detalhes, como os crucifixos dos Toretto (definindo seu apego à religiosidade dos valores familiares) ou a calça de couro vermelha de Cypher, enfatizando que ela é A VILÃ.
 
E no final, os heróis dão uma rasteira no "Carro-Mamute"

O desenho de produção de Jan Roelfs (A Vigilante do Amanhã) alterna ambientes high-tech como o gigantesco caminhão-comboio dos vilões (que lembra o Carro-Mamute do desenho Speed Racer) ou a base de Dominic num subterrâneo abandonado, contrastandoo  com o luxo do palácio da festa dada por Otto, no melhor estilo "Skol Beats", com muitos neons e belas modelos trajadas de branco. Esta diversidade de ambientes e composições, graças à direção de arte de Toby Britton (Tenet), Ashley Lamont (Rogue One: Uma História Star Wars), Andrew Palmer (Liga da Justiça de Zack Snyder), Erik Polczwartek (Vingadores: Ultimato) e equipe e a decoração de sets de Lucy Eyre (Guardiões da Galáxia) e Brana Rosenfeld (Kong: A Ilha da Caveira) cria o contraste entre o rico e impessoal como a joalheria onde Dominic encontra Queenie (Helen Mirren de Catarina a Grande) de Hobbs & Shaw, que lhe conduz ao palácio de Otto, que contrasta com o caseiro e aconchegante da casa dos Toretto, onde sempre ao final de cada filme Há um churrasco de confraternização, celebrando os valores familiares.

 

Sean Boswell (Lucas Black) retorna para garantir que os carros estejam em ponto de bala

Upgrade de tunagem: Óxido nitroso é coisa de maricas!!!

 
Ao final, entre trancos e barrancos, Velozes & Furiosos 9 se sustenta na química funcional entre Diesel, com seu ar melancólico e Cena, com sua cara fechada e mandíbula trincada, remetendo aos inimigos de luta-livre, num teatro farsesco, popular e divertido. Diesel tem em Dominic Toretto, o seu Rock Balboa, cujo olhar triste e sua voz de barítono, refletem a migração do personagem, do anti-herói do primeiro filme, que era um durão que podia ser bom quando as circunstâncias o permitissem, de maneira similar ao seu melhor personagem recorrente: O criminoso Riddick de Eclipse Mortal (2000); migrando ao papel de quase um patriarca de sua equipe, principalmente após a trágica morte do colega de cena Paul Walker, assumindo a franquia desde então, se não como um porto seguro no mundo competitivo de Hollywood, talvez como o seu legado pessoal no imaginário pop.

 

"- Tamos juntos e misturados para o que der e vier!!!"

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