quinta-feira, 15 de julho de 2021

"Ariel" eslava - Crítica - Filmes: A Sereia - Lago dos Mortos (2018)

 

A Dama da Poça...

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 27/ 01/ 2019)


Terror russo (dublado em inglês) decepciona


Marina (Viktoriya Agalakova, possivelmente a Scream Queen russa), uma jovem residente em Moscou está prestes a se casar com Roma Kitaev (Efim Petrunin), um nadador cuja família guarda um segredo sombrio. Esse segredo vem à tona quando Roma participa de uma festa de despedida de solteiro numa velha casa herdada de seu pai, e tem contato com uma mulher misteriosa que parece ter saído de um lago próximo.


A boa cena inicial que promete um bom filme,
mas tal qual promessas de político...


A vida do casal passa a ser marcada por eventos sobrenaturais pois descobrimos que há vinte anos atrás a misteriosa criatura havia da mesma forma enfeitiçado o pai de Roma e assassinado a sua mãe. Caberá a Marina lutar para que seu noivo não seja seduzido pela presença maligna e termine morto no fundo do lago. 

 

Marina (Viktoriya Agalakova) a "noiva", de novo...

Roma Kitaev (Efim Petrunin) o noivo que entra numa roubada...


Esta é a sinopse de A Sereia - Lago dos Mortos (2018) o novo trabalho de Svyatoslav Podgaevskiy, que também assina o roteiro, diretor de A Noiva (2017), e como o anterior, as similarides saltam aos olhos. Ambos filmes russos, trazidos para o Brasil pela Paris Filmes, com os atores fazendo interpretações razoáveis, prejudicados por uma horrenda dublagem norte-americana (Ora bolas, se é para ser dublado, é melhor que fosse em português, pois a nossa dublagem é melhor, ou se é para ser legendado, que fosse no original russo mesmo!) e ambos produções genéricas, recheadas de jump scares mal planejados e com roteiros pífios, resultando num trabalho extremamente caricato, sendo ambos protagonizados por Agalakova, a musa do cineasta, que podemos dizer que se fosse ele Michael Bay, ela seria a sua Megan Fox, devido à sua boa forma. Aqui, o jovem diretor moscovita demonstra muita vontade de acertar (Há uma cena de abertura muito bem filmada mostrando o destino de uma vítima da ninfa do lago...), principalmente na parte técnica, entregando um visual competente, criando uma boa atmosfera e um clima verdadeiramente gélido para compor suas cenas, como o cenário do lago, realmente assustador. A maquiagem é boa, aos contrário dos efeitos digitais que fazem as transformações da criatura soarem artificiais, comprometendo a credibilidade. O trabalho sonoro varia do bom ao regular.


Maquiagem boa, efeitos digitais de transição nem tanto...


A história é baseada na lenda da Rusalka, uma ninfa da água da mitologia eslava. Os russos, ucranianos e bielo-russos muitas vezes se referem a ela como uma sereia, mas o público brasileiro a identificará simplesmente como um fantasma, pois o roteiro não faz força para desenvolver esta mitologia, até mesmo para podermos entender melhor este universo, não explorando sequer propriamente a lenda em volta da mulher. Nada de novo é minimamente tentado, e reeditando apenas os mais batidos clichês de filmes do gênero.


Numa despedida de solteiro, nunca aceite o beijo de uma estranha
ou diga que a ama...



Na primeira metade,a história vai se arrastando com o fantasma aparecendo de vez em quando para aterrorizar o casal, apenas para garantir a cota de Jump Scares obrigatórios, pois sabemos que eles não correm perigo ainda, sevindo para esticar a história, e alguns sustos até funcionam. Nos minutos finais o filme pisa no acelerador, dando-nos rituais (dignos daquela brincadeira com o compasso), gente com os olhos vermelhos, carros inundados por causa da chuva (qualquer poça d`água serve de veículo para a criatura...), mortos-vivos que puxam o pé de desavisados para dentro do lago. O roteiro, repleto de furos se esquece de estabelecer regras para os seus poderes, não lhe dando coerência, inclusive sendo a descoberta final de como miná-los algo digno de tirar um coelho da cartola tal a sua “originalidade”...



"Espelho, espelho meu, haverá na Rússia uma 'Scream Queen' mais bela do que eu"


 

Curiosamente por causa da recorrência de certos elementos, poderíamos dizer que estamos diante de um único universo narrativo, o Podgaevskiyverso, pois em 2017, Podgaevskiy nos entregou A Noiva, onde Viktoriya Agalakova interpretava uma noiva em apuros diante de uma força sobrenatural feminina maligna que amaldiçoa família de seu noivo, e em 2018 está de volta à direção com A Sereia: Lago dos Mortos, terror onde Viktoriya Agalakova interpreta...uma noiva em apuros diante de uma força sobrenatural feminina maligna que amaldiçoa família de seu noivo, e em ambos os casos temos uma comunidade quase que isolada no meio do mato, mas não tão distante de Moscou, podendo ir para lá de carro, como quem vai do Rio de Janeiro para Duque de Caxias ou de São Paulo para Santos (ou até uma distância menor...) com uma casa sinistra, fora a família desajustada do noivo... E neste universo, parece que findo o comunismo, se implantou na Rússia uma política de Escola-Sem-Partido que a todos emburreceu, pois sua personagem Marina é tão tapada (mas não a única...) quanto a de A Noiva, pois ao longo do filme Marina e seus amigos vão tomando decisões sem sentido, se separando sempre que possível, facilitando ao máximo o trabalho da criatura, cuja origem é decepcionante.



Apesar de tudo o elenco tem fôlego para encarar o filme...


   

Ao final temos a certeza de que é importante de vez enquanto ver filmes ruins, para nos lembrarmos do porque devemos apreciar os bons filmes, e torcer para que a Paris Filmes da próxima vez que trazer um filme russo, que traga um drama de época, ou um filme de guerra ou até uma comédia, pois a Rússia é maior do que uma nação que tenta imitar Hollywood.

Agora, alguém se atreve de conferir A Dama do Espelho: O Ritual das Trevas (2015), primeiro longa de Svyatoslav Podgaevskiy???  


"Você me ama???"

 

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