Encontro de gerações
por Alexandre César
Nova aventura é ok, mas prometia muito mais...
No agora longínquo ano de 1993 o mundo foi sacudido com a volta dos dinossauros à vida, pelas mão de Steven Spielberg, que com sua expertise, e a competência técnica das equipes de Stan Winston (nos animatrônicos) e da Industrial Light & Magic (no revolucionário uso do CGI) adaptou o best-seller de Michael Crichton O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park) num espetáculo veloz que cativou as plateias, resgatando o fascínio que essas criaturas sempre exerceram, e estabeleceu novos patamares de como retratá-los.
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Quando a realidade invade as telas: A disseminação dos dinossauros pelo planeta gera inúmeros problemas de convivência para a humanidade |
Desde então, apesar de continuarem fascinantes, esses animais titânicos tornaram-se figuras familiares, e até cotidianas, junto com os dragões e outros seres fantásticos que a tecnologia, à medida que foi se tornando mais acessível e barata, foi colocando no cinema, TV, games e no streaming, e a própria franquia, após quatro continuações, apesar de seus méritos, mostrava que o fascínio original agora era só memória afetiva e nostalgia. A solução então, parecia unir o antigo e o atual numa celebração dos quase trinta anos da franquia.
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Owen Grady (Chris Pratt) continua exercendo seus dons de "encantador de dinossauros", aqui, com um pacato parasaurolofo |
Dirigido por Colin Trevorrow (Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros) Jurassic World Domínio (2022) aposta justamente neste resgate nostálgico, unindo os elencos das duas trilogias, num filme charmoso, embora desigual, bastante desigual...
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Owen e Maisie Lockwood (Isabella Sermon de costas) recebem a visita de "Blue", que teve uma filhote: "Beta" |
O roteiro de Colin Trevorrow & Emily Carmichael (Círculo de Fogo: A Revolta) a partir da história de Colin Trevorrow e Derek Connolly (Pokémon – Detetive Pikachu) baseado nos personagens criados por Michael Chrichton, mescla espionagem industrial, ação nos moldes de James Bond, e doses cavalares de apelo à convivência entre os diferentes, beirando o simplório, mas tem lá o seu encanto apesar de tudo.
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Owen dá uma de 007 com um Atrociraptor na sua cola. O filme é um grande "qualquer gênero com dinossauros" |
Passados três anos desde os acontecimentos do filme anterior, os dinossauros se espalharam pelo planeta, gerando obviamente problemas de convivência com os seres humanos, cuja opinião pública se divide em coloca-los em reservas ou exterminá-los de vez. Some-se a isso uma misteriosa praga de gafanhotos turbinados que ameaça o estoque global de alimentos e o circo está armado para uma montanha-russa de perseguições e intrigas numa aventura que se propõe a ser espetacular, mas no final é apenas ok.
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Apenas "bons amigos": O Dr. Alan Grant (Sam Neill) e a botânica Dra. Ellie Sattler (Laura Dern) se unem par investigar as atividades da Biosyn,, que esconde segredos escusos |
Isolados numa cabana, Owen Grady (Chris Pratt de Vingadores: Ultimato) e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard de Rocketman) como um casal, criam Maisie Lockwood (Isabella Sermon de Jurassic World: Reino Ameaçado) procurando mantê-la “fora do radar”, devido às suas características genéticas (ela é um clone sem falhas). Logo eles descobrem que ‘Blue’, a velociraptor, teve um filhote (batizada de ‘Beta’), sendo pouco depois, tanto Maisie quanto ‘Beta’ raptadas por mercenários, levando o casal a percorrer meio mundo em busca das duas, indo de Malta aos alpes italianos, cruzando o caminho com os já clássicos Dr. Alan Grant (Sam Neill de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros) a botânica Dra. Ellie Sattler (Laura Dern de Adoráveis Mulheres) e o teórico do caos Ian Malcolm (Jeff Goldblum de Thor: Ragnarok) que investigam as atividades de Lewis Dodgson (Campbell Scott de Bilions) CEO da Biosyn (de look meio Steve Jobs), uma megacorporação interessada em usar o DNA de Maisie e de ‘Beta’ para armas biológicas.
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O que uma mãe não faz: Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) em busca de Maisie encara "roubadas" perigosíssimas |
Temos ainda aparições pontuais de rostos conhecidos da trilogia clássica como o geneticista Dr. Henry Wu (B. D. Wong de Gothan) e da trilogia atual como Barry Sembene (Omar Sy de Lupin), Franklin Webb (Justice Smith de Pokémon – Detetive Pikachu), a Dra. Zia Rodriguez (Daniella Pineda de Cowboy Beebop) além de rostos novos como a aviadora Kayla Watts (DeWanda Wise de Vingança & Castigo em ótimo destaque), o técnico Ramsay Cole (Mamoudou Athie de Ameaça Profunda), e a vilanesca mercenária Soyona Santos (Dichen Lachman de Ruptura) todos devidamente caracterizados em seus tipos pelos figurinos de Joanna Johnston (Convenção das Bruxas).
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O Giganotossauro e o Tiranossauro dIscutem "diferenças criativas" |
A música de Michael Giacchino (O Batman) é inspirada, sabendo emular os temas de John Williams nos momentos de maior carga nostálgica.
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Owen faz uma boa dupla com a aviadora Kayla Watts (DeWanda Wise) |
A fotografia de John Schwartzman (Os Pequenos Vestígios) valoriza a beleza das locações ao ar livre, filmadas em Malta, Havaí, Geórgia, Colúmbia Britânica (Canadá), que contrasta com o aspecto asséptico dos cenários high tech na Inglaterra (nos Estúdios Pinewood), frutos do desenho de produção de Kevin Jenkins (Star Wars: A Ascenção Skywalker) e das equipes de direção de arte chefiadas por Jim Barr (Viúva Negra), Bem Collins (The Old Guard) Rhys Ifan (Pokémon – Detetive Pikachu) e Rod McLean (1917) que criaram as instalações da Biosyn, contrastantes com o ‘mercado negro dos dinossauros’ que a decoração de sets de Dorit Hurst (Single Parents), Carol Lavallee (Schmigadoon!) e Richard Roberts (Duna) souberam dar um toque meio ‘Indiana Jones’ ao ambiente. Aliás o filme inteiro tem um aspecto ‘genérico com dinossauros’ pois suas cenas emulam vários outros filmes, mas com o toque ‘com dinossauros’ fazendo com que os lagartões sejam mais um molho, do que o prato principal...
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" - VAMOS VER QUEM É QUE BERRA MAIS ALTO SEU MOT%3R FU*#3R!!!" |
A edição de Mark Sanger (Pokémon – Detetive Pikachu) dosa a ação e os momentos de respiro nas 2 horas e 26 minutos do filme mantendo um bom ritmo narrativo, mas nada excepcional.
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O teórico do caos Ian Malcolm (Jeff Goldblum) exibe sua "habilidade com malabares", além de ter as melhores piadas |
A cereja do bolo, e que consumiu boa parte dos custo (estimado) de 165 milhões de dólares do filme, obviamente são os efeitos visuais das empresas Industrial Light & Magic (ILM), Clear Angle Studios, Lidar Lounge, Double Negative (DNEG), Proof, Snow Business International (efeitos da neve) e Stereo D, supervisionados por David Vickery (Jurassic World: Reino Ameaçado), Dan Snape (Star Wars: A Ascenção Skywalker), Alex Wang (O Exteminador do Futuro: Destino Sombrio), Jeff Capogreco (O Mandaloriano) e dos efeitos físicos do veterano Michael Lantieri (do Jurassic Park original) que continuam caracterizando bem os dinossauros, tenham eles penas*1 ou não. Aliás fez falta diálogos expositivos com a explicação desta discrepância, pois é bom termos personagens cientistas, que falem como cientistas, o que não é o caso aqui, sendo uma oportunidade perdida.
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As duas equipes se encontram graças à habilidade do roteiro de ignorar certas lógicas da continuidade (e algumas leis da física) |
Ao final, Jurassic World Domínio diverte, faz reverência ao legado da franquia, mas ainda não é o filme marcante que deveria encerrar a franquia, mas sabe como é: Em Hollywood todo filme é o último... até fazerem o próximo. Talvez ainda vejamos em breve uma nova trilogia, um Jurassic Worlds, ou um Jurassic Universe...
*1: Na época do filme original, ainda se acreditava que os dinossauros tinham apenas escamas, mas gradualmente foram sendo descobertos outros fósseis que revelaram que a maioria das espécies bípedes devia ter penas. A explicação (dada no livro e que poderia ser dada para que os dinossauros do filme não terem penas), é que como eles tiveram as lacunas de seu DNA preenchido com o DNA de répteis ou de anfíbios, os dinossauros do Parque não eram 100% fiéis a sua matriz genética original.
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