(SEM SPOILERS)
#Oscar 2022
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Como vimos no filme anterior, Peter Parker (Tom Holland) e MJ (Zendaya) mal saíram da encrenca com Mysterio, para cair em outra
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O novo filme do Homem-Aranha veio com o hype em alturas estratosféricas e a certeza de muita gente de que servia uma grande frustração. A Marvel Studios e a Sony Pictures tinham anunciando a participação de muitos vilões, o filme iria remexer no passado nebuloso das produções do personagem antes dele ser incorporado pelo Universo Cinematográfico Marvel (MCU)… Mexer com tudo isso e ainda prosseguir o desenvolvimento do personagem e seu carismático elenco de coadjuvantes em um único filme parecia mesmo uma tarefa impossível de gerar uma produção que fosse satisfatória. E não é que eles conseguiram? Na realidade gerou um filme que consegue superar as expectativas do público e ir além.
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O irrascível J. Jonah Jameson (J.K. Simmons) expõe a identidade do Homem-Aranha...
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...acabando com toda e qualquer privacidade de Parker e dos que estão à sua volta
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Dirigido por John Watts (A Viatura) Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021) é um verdadeiro tributo aos quase vinte anos de trajetória cinematográfica de um dos mais populares heróis da Marvel. É um firme que atinge no coração daqueles que amam o personagem e estiveram ao seu lado elogiando e/ou criticando seu tortuoso caminho, com dois reboots, visões distintas de três diretores, interferências externas que teimavam em distorcer as histórias do herói, descaracterizando-o ou produzindo histórias que não funcionavam. É uma verdadeira surpresa ver a Marvel enaltecendo o que houve e bom e consertando falhas nos filmes do Homem-Aranha da Sony antes dela tomar as rédeas de suas histórias. Mais surpreendente ainda é a Marvel e o diretor Jon Watts - responsável por todos os filmes da atual fase do personagem - fazerem uma verdadeira autocrítica de seu próprio trabalho, apresentando inesperadas e muito bem-vindas correções na sua trajetória com o herói.
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Pajelança: Se não há nada que Parker possa fazer usando a realiade prática, ele recorre então ao amigo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) |
Com tanto hype e vazamento de informações da produção durante o seu desenvolvimento é quase impossível que você que lê este texto não saiba sobre o que se trata o filme, mas, mesmo assim, vale fazermos uma recapitulação: o novo filme continua exatamente do ponto que terminou o filme anterior (Homem-Aranha: Longe de Casa, aliás um filme desastroso em quase todos os sentidos). A identidade secreta do Homem-Aranha (Tom Holand, de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) é revelada ao mundo pelo vilão Mysterio (Jake Gyllenhaal) pouco antes de sua morte e o obcecado e mal humorado editor e apresentador do videocast noticioso Clarim Diário, J. Jonah Jameson (J.K. Simmons, de Liga da Justiça de Zack Snyder), finalmente entra no MCU perseguindo incansavelmente o herói. Peter Parker e todos os que estão a sua volta passam a ser foco de atenção da mídia e de todos que os conhecem, levando o caos às suas vidas. O herói vai então atrás do único que ele acredita que pode resolver seu problema: o Mestre das Artes Místicas, Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch, de Vingadores: Guerra Infinita).
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Como tudo na vida de Peter Parker dá errado, o encantamento falha, abrindo as portas para realidades alternativas e atraindo personagens como Dr. Octopus (Alfred Molina) |
É interessante notarmos aqui que, de certa forma, Dr. Estranho ocupa um espaço deixado nos filmes do Homem-Aranha na Marvel com a morte do Homem de Ferro (Robert Downey Jr). Mas a dinâmica aqui é outra. Enquanto Tony Stark era um mentor que Peter Parker admirava incondicionalmente, gerando uma clara relação de pai e filho, apresentando o milionário responsável por todo o equipamento do herói, deixando-o subserviente e tecnologicamente dependente dele, a relação com Stephen Strange é mais conturbada e, por isso mesmo, mais interessante. Desta vez o herói mantém o protagonismo da história desde o início, confrontando abertamente o Dr. Estranho quando os dois divergem de opinião, o que gera alguns dos momentos mais espetaculares do filme.
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E como desgraça pouca é bobagem, outros vilões de universos paralelos vão surgindo...
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Como Electro (Jamie Foxx), que aprende a apreciar os avanços tecnológicos desses universo
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No fim das contas o encantamento do Dr. Estranho para fazer com que todos esqueçam a identidade do Homem-Aranha dá errado e, como consequência, apresenta de verdade o multiverso nos filmes da Marvel, trazendo para aquela realidade diversos vilões que combateram a versão do herói em outras dimensões - no caso, os filmes anteriores do Aranha antes da chegada da Marvel no pacote. Com isso, o Cabeça de Teia bate seu recorde no cinema, precisando dar conta de cinco vilões de uma vez: Lagarto (Rhys Ifans, de Um Lugar Chamado Nothing Hill), Homem-Areia (Thomas Haden Church, de Divorce), Electro (Jamie Foxx, de Ray), Dr. Octopus (Alfred Molina, de Frida) e Duende Verde (Willem Dafoe, de O Farol). Todos ótimos, mas o destaque vai para Molina e Dafoe - este último está magistral, demonstrando que ele realmente poderia ir muito além do que vimos no primeiro filme do herói (Homem-Aranha, de Sam Raimi), lá em 2002. Quase tivemos desta vez uma versão do Sexteto Sinistro - nome dado nos quadrinhos a equipe que reúne seis vilões clássicos do Aranha pra tentar derrotá-lo ao mesmo tempo.
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Entre as várias aparições, se destaca o Duende Verde (Willem Dafoe)
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Apesar de ter muitos vilões de uma única vez, o que seria um tormento para qualquer roteirista, esse filme tem uma vantagem em relação ao Homem-Aranha 3 (2007, de Sam Raimi), por exemplo, onde o herói tinha três antagonistas. A produção escolheu desta vez não apresentar nenhum deles, contando que o público já os conhece das produções em que eles apareceram antes, e, com isso, há mais espaço livre para o desenvolvimento do enredo. Sim, é necessário ter um conhecimento prévio de toda a trajetória do Aranha no cinema para que o filme faça sentido. Este não é um bom ponto de partida para novatos no MCU. E o filme procura preencher esse espaço trabalhando como nunca no desenvolvimento da personalidade de Peter Parker e na sua interação com sua namorada MJ (Zendaya, de Duna) e sua Tia May (Marisa Tomei, de O Lutador). Mesmo Ned Leeds (Jacob Batalon, de Todo Dia) e Happy Hogan (Jon Favreau, de Chef ) continuam tendo seu espaço para brilhar.
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Tia May Parker (Marisa Tomei) contínua carismática como sempre
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Este é outro ponto positivo do filme: ele fecha a trilogia mostrando um Peter Parker multifacetado, numa relação verdadeira com sua namorada e que vai além do humor e das tiradas de adolescência que dominava os filmes anteriores desta fase de Tom Holland como o herói: a tragédia, um fator importante para a definição e a motivação do personagem nos quadrinhos e nos filmes anteriores a participação ativa da Marvel na produção deles, agora está presente.
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Peter e MJ (Zendaya) não deixam dúvidas de que estão juntos para o que der e vier
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Diferente de Tony Stark, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) tem uma relação conflituosa com Peter Parker
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Com cerca de duas horas e meia de duração, você não sente o tempo passar devido ao equilíbrio do roteiro de Chris McKenna (Homem-Formiga e a Vespa) e Erik Sommers (Homem-Aranha: De Volta ao Lar), entre grandes sequências de ação - algumas das melhores da franquia -, momentos ternos e pitadas de bom humor num texto recheado de fan services para nenhum nerd botar defeito. A edição de Leigh Folsom Boyd (Viúva Negra) e Jeffrey Ford (Vingadores: Ultimato) equilibra perfeitamente os momentos de maior vigor com outros mais intimistas permitindo à trama recuperar o fôlego.
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Alfred Molina continua perfeito nas contradições do Dr. Octopus |
Holland alcança o equilíbrio em personagem, entre a jovialidade e a dor, demarcando perfeitamente sua transição do mundo juvenil para o mundo adulto. As ótimas escolhas da figurinista Sanja Milkovic Hays (Capitã Marvel) corrigiram falhas na apresentação visual que alguns dos vilões tinham nos filmes anteriores da Sony e a funcionalidade de cada um dos vários uniformes usados pelo Homem-Aranha no decorrer do longa foi bem demarcada.
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A tempestade de areia, ou melhor, o Homem-Areia (Thomas Haden Church) se mostra, como sempre, um cara simples, que apenas quer ir para casa
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Parabéns também a equipe de efeitos visuais das empresas Captured Dimensions, Cinesite, Digital Domain, Framestore. Luma Pictures, SSVFX, Scroggins Aviation, Sony Pictures Imageworks (SPI). Supervisionados de Kelly Port (Vingadores Ultimato), Ed Bruce (WandaVision) e Alexis Wajsbrot (Thor: Ragnarok), elas conseguram tornar ainda mais ousado os efeitos do Mundo Espelhado do Dr. Estranho, afastando-o de sua referência óbvia - o filme A Origem (2010, de Christopher Nolan) -, assumindo mais o surrealismo das imagens, dignas de Escher.
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Curt Conors, ou melhor, o Lagarto (Rhys Ifans), continua com seu look "Jurássico" |
Ao final, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa coroa os quase vinte anos de trajetória cinematográfica do amigão da vizinhança resgatando sua identidade trágica, que do sacrifício pessoal tira forças para salvar o dia e passar à todos uma atitude positiva frente à vida, como na cena final em que ele sai numa noite fria e nevada para ajudar um estranho (que provavelmente dá ouvidos à J. Jonah Jameson...). Assim nos damos conta do quanto ele é o mais "ferrado" e, por isso, o mais amado de todos os super-heróis.
Obs: Há uma cena pós-créditos divertida com um certo personagem, e um mini-trailer ao final nos dando uma pequena visão do que nos espera o futuro novo filme do Mago Supremo da Marvel.
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"Peter, Peter... Não me irrite, moleque...!!" |
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