Um querendo "ferrar" o outro...
por Ronald Lima
Comédia de erros na Hollywood dos anos 1970
Após alguns minutos de exibição de Vigaristas em Hollywood (2020) fica a nítida sensação de que você estará vendo esse filme em uma tarde de sábado na TV. Calma, porque temos um filme divertido com três grandes atores que devem ter se reunido em um fim de semana para filmar as desventuras de um produtor de filmes B que vive entre dívidas e sonhos de grandeza. Um rápido filme sobre os bastidores das pequenas produções de cinema. Temos juntos na tela Robert de Niro (Táxi Driver, Coringa), Morgan Freeman (da trilogia Batman de Christopher Nolan) e Tommy Lee Jones (Homens de Preto) sob a direção de George Gallo (A Rosa Venenosa).
Reggie Fontaine (Morgan Freeman) o badidão nerd e Max Barber (Robert De Niro) o produtor de filmes "B". "B" de "Bomba"! |
Quando se menciona filmes de baixo orçamento logo vem a mente o burlesco charme dessas produções que se posicionam à margem dos holofotes e justamente por esse fator é o que abre possibilidades para criar sem muito compromisso e, quem sabe, criar uma vertente cinematográfica com milhares de fãs, entre esses fãs estarão alguns futuros diretores que terão mãos habilidosas para colocar nas telas um valentão ensandecido com uma longa faca fazendo duvidosa justiça com as próprias mãos, e essa loucura ser divertida, ou vampiros como improváveis donos de uma boate, toda essa sandice pode sim levar a uma carreira de sucesso em Hollywood.
Barber tem como seu fiel "sidekick" o seu sobrinho Walter Creason (Zach Braff) que realmente acredita no potencial do tio |
Produções
que falam sobre cinema já renderam grandes obras sob as direções de
Truffaut, (A Noite Americana) Godard (O Desprezo), Fellini (Roma de Fellini) e Vincente Minnelli (Assim Estava Escrito). Aqui é um filme com
jeitão "B" sobre "filmes B".
Não a toa nomes como Quentin Tarantino, os irmãos Cohen e Robert Rodriguez bebem direto dessa fonte, Vigaristas seria ótimo sob a direção e roteiro dos Cohen. Vigaristas em Hollywood funciona graças a presença e experiência desses 3 grandes atores e um elenco pequeno porém muito bem entrosado, há uma boa química na tela.
James Moore (Emile Hirsch) insiste em querer comprar um roteiro de Barber para dar a sua "versão pessoal" |
No roteiro, escrito por George Gallo e Josh Posner (The One Upper) baseado no filme The Comeback Trail de Harry Hurwitz (1982) se passa na década de 70 (em 1974 para ser mais exato) e todos ostentam um digno grande bigode no estilo Burt Reynolds (ou o pornstar John Holmes). Robert de Niro é o produtor Max Barber, e junto com seu sobrinho Walter Creason (Zach Braff, o Doutor J.D. Dorian de Scrubs) são donos de uma pequena produtora de cinema, a Miracle ("Se o filme é bom, é um Milagre!!!") - e fazem um lixo absoluto. Max está se apegando a um roteiro que acredita que vai lhe render um Oscar, que o produtor de sucesso (e ex-empregado de Barber) James Moore (Emile Hirsch de Speed Racer) deseja muito.
Atolado em dívidas com o gangster Reggie Fontaine (Morgan Freeman está claramente adorando interpretar um gangster) que se não for pago, o eliminará, Barber tem a idéia de fazer um filme mambembe como pretexto para usar um ator da velha guarda, com um seguro de vida que lhe pague um valor astronômico, caso ele morra durante as filmagens. O ator escolhido é Duke Montana (Tommy Lee Jones) que traz aquele rosto marcado em mais um papel cômico, sinceramente, é um de seus melhores personagens recentes.
Duke Montana (Tommy Lee Jones) o "John Wayne / Roy Rogers" que não deu certo |
A música de Aldo Shllaku (Cine Pesadelo)
só tem realmente um momento de destaque, quando marca bem o período
histórico da ambientação na cavalgada de Duke Montana rumo a sua amada cruzando as montanhas de Hollywood, ficando na maioria do tempo marcando e
sublinhando a ação de forma convencional.
Não é um elenco muito grande, temos uma rápida e de certa foram muito significativa participação de Patrick Muldoon (Tropas Estelares) no papel de um ator hollywoodiano super famoso por realizar suas cenas de ação sem usar dublês chamado Frank Pierce, uma personalidade arrogante e convencida que nos sets de filmagem faz questão de demonstrar isso. Kate Katzman (Um Conto de Natal) é a diretora Megan
Albert, escolhida pelo próprio Montana, e que de forma surpreendente,
se revela talhada para a função de, tornar o que seria lixo em um
produto de qualidade. Completando os tipos, temos Bess Jones (Sheryl Lee Ralph de Ray Donovan) a amada de Duke Montana (que só aparece numa foto autografada) e Devon (Eddie Griffin de Woke) o capanga de Reggie Fontaine que encarna bem o tipo marginal dos filmes de Blacksploitation.
Barber aposta na diretora Megan Albert (Kate Katzman) esperando que tudo dê errado... |
Vigaristas em Hollywood tem um forte toque cartoon com explosões e tábuas sendo serradas em uma ponte de cordas suspensa lembrando demais um já desconhecido filme de 79 ou 80 chamado Cactus Jack, o Vilão (1979 - de Hal Needham) onde Kirk Douglas (com visual à lá Mau Mau) tal qual o Coiote ou Dick Vigarista arquiteta mil armadilhas contra o Herói Simpático Estranho (Um iniciante Arnold Schwarzeneeger), coisa que Barber faz, para atrapalhar as filmagens, tentando matar o astro decadente e embolsar o seguro, para pagar suas dívidas. Só que voltar às telas dá um novo ânimo a Duke Montana, que teima em escapar das armadilhas, para desespero de Barber, e fúria de Reggie Fontaine...
...só que para o seu desespero, tudo vai dando certo, e MUITO CERTO!!! |
O baixo orçamento se reflete nos valores de produção, como os simples efeitos visuais da Tunnel Post e no desenho de produção de Stephen J. Lineweaver (Ted) e Joe Lemmon (Fanático) que também assina a direção de arte e a decoração de sets de Adrian Segura (Desgrávida) que fazem o que podem com a produção barata do filme,aproveitando o que pode das locações filmadas em Albuquerque, Novo Mexico, coisa que os figurinos de Melissa Vargas (Lindo de Morrer) segue na mesma direção trabalhando com elementos de guarda-roupa alugados em sua maioria.
A fotografia de Lucas Bielan (Karbala) é básica, com enquadramentos convencionais, trabalhando com a edição de John M.Vitale (Unforgettable) que é apenas correta tecnicamente, lembrando bastante um filme ou um episódio de série de TV, ou realmente um filme "B".
E miraculosamente, a trupe consegue chegar na "Avant Premiere", com tapete vermelho e tudo o que têm direito |
Ao final, embora até que divertido, Vigaristas em Hollywood pesa o seu potencial não alcançado, que poderia ser de fato um Filme "B" com orçamento de Filme "B" falando como se faziam Filmes "B", mas ao final fica bem na promessa, sendo apenas um filme barato em que o maior esforço foi o de conseguir verba para pagar o cachê de suas estrelas, sendo absurdo o número na ficha técnica dos créditos de "produtores", "produtores-executivos" e "produtores associados" deixando claro, que a produção deve ter vendido muitas cotas, e para cada um que comprava, recebia um crédito de uma das categorias de "produtor" (de acordo com o tamanho da cota) podendo assim abrir a sua página no Internet Movie Data Base como produtor e, fazer a sua carreira no meio audio-visual.
Isto sim, algo digno de um "Filme B"...
Obs: Aguardem a cena pós-créditos, um ótimo exemplo de filmes.... B.
"- Sabe garoto, às vezes eu penso em largar tudo e vender carros usados..." “- Com que frequência tio? “- Sempre...” | |
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