quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Destino finalmente alcançado - Crítica - Séries: Perdidos no Espaço - 3ª Temporada


Conclusão de arco

por Alexandre César


Série da Netflix se conclui satisfatoriamente
 
 
No final da temporada anterior os jovens haviam descoberto a nave desaparecida "Fortuna"

A "Fortuna" se encontra entre um cinturão de asteroides e um planeta

Mais adiante, Judy Robinson (Taylor Russel) enconttra o seu pai biológico, o Capitão Grant Kelly (Russell Hornsby), comandante da "Fortuna" que estava em crio-hibernação 

Foi um caminho acidentado e divertido trilhado pelos showrunners Matt Sazama, Burk Sharpless (Deuses do Egito de 2016, Power Rangers de 2017) ao transpor para a geração atual as aventuras da Família Robinson, repaginando sua jornada da Terra para Alpha Centaury e, diferente da série original criada por Irwin Allen em 1965, que após três temporadas terminou inconclusa com a família exploradora irremediavelmente perdida, desta vez, os Robinsons, bem como os outros colonos de sua expedição, ao final desta terceira e conclusiva temporada, chegam a seu destino após vários trancos e barrancos, embora mesmo assim ainda tenham de lidar com seus antagonistas...


À alguns sistemas de distância, os pais estão reunindo as Naves Júpiters e criar um sistema de dobra...

... Maureen (Molly Parker) e John Robinson (Toby Stephens) têm de recorrer à situações de alto risco


Como uma boa quantidade de séries da Netflix, Perdidos no Espaço se conclui na sua terceira temporada, seu arco de maneira dinâmica, e se não é tão boa quanto foi a segunda temporada, ainda é superior a primeira (que já era legal) com um resultado bastante satisfatório, e ainda deixando possibilidades futuras.

 

Sempre exploradores: Diversas cenas ecoam aos clássicos juvenis de aventura, como...

..."Viagem ao Centro da Terra" (1959), "A Cidadela dos Robinsons" (1960), "As Grandes Aventuras do Capitão Grant" (1962)

 
Como anteriormente visto no final da temporada anterior, os colonos tiveram de se dividir em dois grupos, face ao ataque dos robôs, indo o grupo dos jovens e crianças ido parar num mundo cercado de asteroides e entre eles encontram (deserta) a Fortuna, nave desaparecida do pai biológico de Judy Robinson (Taylor Russel de Escape Room). O grupo acaba se estabelecendo no planeta, num oásis com atmosfera respirável e condições para cultivarem alimentos e se estabelecerem enquanto esperam que os adultos os encontrem. E assim um ano se passa*1...
 
 
Penny (Mina Sundwall) e Will Robinson (Maxwell Jenkins) evoluem o seu relacionamento de irmãos
 
“Dra.” Smith (Parker Posey) segue um ciclo de redenção, sempre à um passo de voltar às suas vilanias, agindo como uma questionadora das motivações de Will Robinson
 
São descobertas as ruínas dos criadores da raça dos robôs


 
Então, vemos Judy já como uma jovem mulher, ganhando segurança em si mesma, para liderar o grupo; Penny (Mina Sundwall de DC´s Legends of Tomorow) está desabrochando a sua formosura e feminilidade, balançando entre o introspectivo Vijay Dhar (Ajay Friese de Riverdale) e o exuberante Liam Tufeld (Charles Vandervaart de Holly Hobbie); e Will Robinson (Maxwell Jenkins de Good Joe Bell) já um adolescente formado, caminhando para ser um jovem adulto, sempre acompanhado do fiel amigo, o Robô (Brian Steele de Predadores, capaz de uma expressividade silenciosa maior do que a de muitos atores faladores). Os jovens Robinsons contam para estruturar seu acampamento com a ajuda da “Dra.” Smith (Parker Posey de Alta Fidelidade), que havia se escondido na nave, e acaba sendo a professora das crianças do acampamento, apesar de sempre estar à um passo de cometer vilanias, sempre justificadas por sua forma de “racionalizar” as coisas (sempre carregando escondida um pé-de-cabra).
 
 
Após um resgate arriscado, tanto a Júpiter 2 quanto a Fortuna têm de fazer um pouso forçado



 
Do outro lado, os adultos, entre eles, o casal Maureen (Molly Parker de House of Cards) e John Robinson (Toby Stephens de Black Sails), Don West (Ignacio Serricchio de Good Girls), com a sua mascote Debbie, a galinha, e os demais adultos, estão em outro sistema, recuperando equipamento entre os destroços da Resolute para montar um propulsor que possibilite às demais naves Júpiter, acopladas em arco se lançarem em dobra espacial. Empreitada arriscada, pois eles trabalham em órbita do sol do sistema, para que sua radiação mascare seus sinais eletromagnéticos e os mantenha ocultos dos robôs, que ainda os caçam. Paralelo à isso, Judy reencontra o módulo da Fortuna, com seus tripulantes em crio-hibernação, entre eles o desaparecido Grant Kelly (Russell Hornsby de Black Mafia Family) se pai biológico, que não sabia da sua existência...

 

Don West (Ignacio Serricchio) e sua inseparável mascote "Debbie"

O Segundo Robô Alienígena prepara o seu exército para exterminar os humanos

 
 
Apostando num ritmo ágil, graças à edição de Mark Hartzell (Agente Carter da Marvel), Jack Colwell (Colony), e Emily Streetz (O Pior Trabalho do Mundo), vemos numa série de reviravoltas, o jogo-de-gato-e-rato entre os humanos e os robôs, liderados pelo Segundo Robô Alienígena (SRA), que está à caça deles, e de Will Robinson, em especial, que foi capaz de quebrar a programação do Robô, criando um link de empatia, que este encara como algo à ser combatido.
 
 
Finalmente chegando à Alpha Centauri, os Robinsons chegam ao Hospital da base...

...para cuidar de um ferido Will Robinson em estado grave, levando o robô a fazer uma jogada arriscada

No climax do conflito, Penny descobre como colocar parte dos Robôs ao seu lado, entre eles "Sally"
 
 
Vemos o retorno de rostos familiares como Victor Dhar (Raza Jaffrey de Homeland) pai de Vijay, o Capitão Radic (Shaun Parkes de Small Axe) da Resolute e até o vilanesco Hastings (Douglas Hodge de Operação Red Sparrow) que guarda segredo vitais para a sobrevivência da colônia de Alpha Cenaturi, além de vermos as lembranças de Maureen, quando criança, e quando mãe solteira na fazenda de sua infância, fazendo através da pequena Judy a conexão com sua mãe (Colleen Winton de Grandes Olhos) com quem sempre teve uma relação difícil, sendo este, um grande momento de sororidade, quando as duas mulheres se irmanam na maternidade, sendo valorizada pela música de Christopher Lennertz (The Boys) que resgata a variante mais dançante do tema de John Williams, além dos figurinos de Christine Thomson (O Regresso) que refletem seus perfis, fora a qualidade dos trajes espaciais, criados pela empresa de efeitos especiais FBFX .
 

O CGI de alta qualidade brilhou tanto nas cenas espaciais, quanto na criação de mundos de civilizações perdidas

Tem-se a impressão de que a ideia original, era desenvolver mais a história da raça que criou os robôs "à sua imagem e semelhança", mas por ser a temporada final da série, essa história foi resumida

O grande mérito da série, em sua conclusão, foi saber manter pontos de contato com a série clássica original, mas assumirem um perfil diferenciado nesta versão, dando aos colonos de Alpha Centauri uma interação entre si, semelhante à dos sobreviventes do vôo Oceanic 213 de Lost, num universo aparentemente deserto de seres sencientes (talvez os robôs tenham dizimado várias raças como fica sugerido...) e fugindo de personagens camp como os a matriz (que concorria no mesmo horário com o seriado Batman de Adam West), mas sem abrir mão da aventura escapista, e cair na armadilha de se levar demasiadamente à sério, ou de criar personagens apenas para levantar bandeiras. Aqui por mais engenhosos que os Robinsons sejam, todos têm espaço equilibrado em cena, e são os arquétipos assumidos que são, não sofrendo da “Síndrome de Michael Bhurman”*2.

 

As locações na Columbia Britânica, aliada ao uso dos efeitos visuais criaram ambientes fantásticos e ao mesmo tempo críveis

Ao final, a “Dra.” Smith encara de frente as responsabilidades por seus atos

 
Mantendo o alto padrão visual, a fotografia de Sam McCurdy (Abismo do Medo) e Simon Chapman (Upload) aproveitam bem a beleza natural das locações da Columbia Britânica, além de valorizar o desenho de produção de Alec Hammond (Donnie Darko) que junto com a direção de arte de Gregory Clarke (Debris) e Benoit Waller (Space Force) e a decoração de sets de Janessa Hitsman (Projeto Livro Azul) mantém o aspecto High Tech dos cenários das naves e os aspecto avançado e essencialmente funcional das ambientações das bases de Alpha Centauri, como a Usina Hidrelétrica e o Hospital que contrastam com as cabanas simples do acampamento dos colonos dos primeiros episódios, e a aconchegante casa dos Robinsons na cena da reunião final num banquete natalino. 
 
 
O arco de amadurecimento de Penny Robinson foi uma dos mais interessantes de se acompanhar na temporada...

...cabendo à ela o papel de cronista das aventuras da família em seu livro, ou o primeiro capítulo de uma saga...


Ajudando nessa construção de mundos, os efeitos visuais das empresas Buff, Big Hug FX, Image Engine Design, Important Looking Pirates (ILPvfx), International SPFX Group, SSVFX, Digital Domain e Trixter , supervisionados por Jabbar Raisani (Game of Thrones) fizeram valer cada centavo gasto, ampliando os espaços, e criando cenas memoráveis como as dos cinturões de asteroides onde está a Fortuna, a estrela dupla onde as naves Júpiter orbitam, as ruínas dos criadores dos robôs (e os próprios robôs), ou as belas paisagens do mundo de Alpha Centauri, e além, mas ainda sinto a falta de se recriar alguns dos monstros clássicos da série como o ciclope gigante, entre outros tantos. Esperemos que hajam filmes ou spin-offs...


Santa ceia de Natal: "- Família, Will Robinson..."

Ao final, Perdidos no Espaço consegue concluir os arcos de seus personagens satisfatoriamente, respeitando o legado de Irwin Allen, e dos roteiristas Shimon Wincelberg, Peter Packer, Barney Slater, Jackson Gillis, Carey Wilber, William Welch entre vários outros, mas trilhado caminhos próprios, e deixando claro os rumos que cada personagem deverá tomar, mas ainda sim, abrindo possibilidades para futuras abordagens desse universo ficcional, que poderíamos acompanhar através da próxima fase da vida de Will Robinson, o explorador, que na bela e instigante cena final diz: “- Isto aqui é estranho, mas é belo!”

 

Mas eu queria ter visto uma versão atualizada do cíclope-gigante!!!!


 

Notas:
 
*1: Na realidade, devido à pandemia da COVD-19, houveram vários atrasos e adiamentos, e a única justificativa para aceitarmos as mudanças físicas do crescimento dos atores (principalmente no caso de Wll Robinson) foi incorporar esse lapso de tempo à narrativa.
 
 


*2: Personagem central de Star Trek: Discovery. Que se ressente de tudo correr em torno dela.





"- Will Robinson gravando na primeira missão do Grupo Exploratório Humano-Robô."
"- Eu não sei aonde é isto aqui, mas é lindo!"


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