terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Expandindo o universo - Crítica - Filmes: John Wick 3: Parabellum (2019)

Não mate o cachorro seu imbecil!!!

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 12/ 05/ 2019)


Terceiro capítulo da franquia segue adiante com fôlego para ir adiante

 

"-Sei quando não sou querido"...

Se vis pacem, parabellum” (“se você quer paz, prepare-se para a guerra” em tradução livre) Da palavra latina parabellum, que faz parte desta expressão termo bellum originou a palavra “bélico” e suas derivações, todas associadas à guerra ou conflitos armados. 
 
 
-"É COMIGO????"



John Wick (Keanu Reeves perfeito no papel) está em fuga à pé pelas ruas chuvosas de Nova York com seu fiel cachorro por duas razões: Ele está sendo caçado por um contrato global de US$14 milhões por sua vida, e por quebrar uma regra central: tirar uma vida no terreno do Continental Hotel. A vítima era Santino D'Antonio , o Senhor do Crime Italiano, membro da Alta Cúpula do Mundo do Crime, que ordenou o contrato aberto. John já deveria ter sido executado, exceto que o gerente do Continental, Winston (Ian McShane), concedeu a ele uma carência de uma hora antes de ser “Excomungado”. A sua associação foi cancelada, banida de todos os serviços e cortada de outros membros.
 
 
Amizade canina: John Wick (Keanu Reeves) e o seu fiel companheiro.
 
 
John usa a indústria de serviços para se manter vivo enquanto luta e mata para sair de Nova York. Após vários confrontos e reinvindicar junto à Diretora, sua antiga mentora da Máfia Bielorussa (Anjelica Huston) um direito de salvo conduto, parte para Casablanca, no Marrocos numa jornada de redenção em busca do líder de todos os Assassinos e recuperar o seu status, ou simplesmente, a sua vida. Tal qual as grandes epopeias heroicas tudo terminará onde começou, para novamente reiniciar um novo ciclo. 
 
 
A "Diretora" (Anjelica Huston) que se refere à Wick como a "Baba Yaga", o bicho-papão russo

 
Dirigido por Chad Stahelski, que havia dirigido os dois filmes anteriores (John Wick - De Volta Ao Jogo de 2014 em parceria com David Leitch e John Wick: Um Novo Dia Para Matar de 2017) John Wick 3: Parabellum (2019) começa logo em seguida aos eventos do filme anterior, expandindo ainda mais o universo ficcional da Sociedade dos Assassinos, lembrando um pouco a guilda de O Procurado (2008) de Timur Bekmambetov com Angelina Jole, James McAvoy e Morgan Freeman e inclusive, ao evocar o passado mítico desta irmandade ecoa a versão hollywoodiana mostrada em As Aventuras de Omar Khayyam (1957) de William Dieterle, com Cornel Wilde, Michael Rennie e Debra Paget. Se no primeiro filme da franquia a história se concentra num assassino aposentado que vai atrás de um filho de gangster que roubou o seu carro e matou o seu cachorro (vacilo fatal...) um presente de sua esposa recentemente falecida, resultando numa matança desenfreada, no filme seguinte, após quatro dias após estes acontecimentos, Wick rastreia seu carro roubado em uma loja de propriedade do irmão do mafioso, já percebemos este universo de um império do Crime invisível mas enraizado na sociedade, com desdobramentos em regras, promissórias, juramentos simbolizados em moedas e medalhões de juramentos de sangue, com um rígido código de conduta, onde cada ação gera uma reação , terminando por deixar o protagonista prestes a enfrentar as forças do Mundo do Crime, num gancho inevitável para esta sequência.
 
Wick cobra da "Diretora" e da Máfia Bielo-russa uma dívida para fugir, indo para fora de Nova York
 
Os valores de produção refletem bem a expansão deste mundo em ótimas coreografias de luta mesclando o kung fu e a luta de rua, onde tudo à mão pode ser usado como arma, com a edição esperta de Evan Schiff, a linda fotografia de Dan Laustsen (as sequências do balé do submundo são ótimas, bem como a sequência final na sala de vidro) fazendo uso de uma sanguinolência bem dosada, sem cair no Splatter, fora a bela direção de arte e o design de produção de Kevin Kavanaugh que criam ambientes elegantes e ricos visualmente, auxiliando na narrativa que mescla habilmente a ambientação noir com um apelo de anime, no melhor estilo Matrix, onde boa parte da equipe se conheceu, embalados pela trilha de Tyler Bates e Joel J. Richard que sublinham as situações mas não se torna memorável... 
 
 
A "Juíza" (Asia Kate Dllon) e Charon (Lance Rddick): A instituição e a fidelidade individual

 
Temos neste universo invisível e eficiente de telefonistas, secretárias, arquivistas cobertas de tatuagens e piercings (uma forma visualmente interessante de mostrar que as engrenagens da máquina do submundo funcionam do mesmo jeito que as do mundo oficial) a enigmática figura da “Juíza” (Asia Kate Dillon) que é a “face institucional” da Cúpula do Mundo do Crime, agindo como implacável interventora, aplicando sentenças e alterando o status de personagens para deixar claro a exigência de uma obediência e fidelidade canina à guilda de seus membros, ficando bem interessante o paralelo com Wick e sua predileção por cachorros (famosos por sua lealdade aos donos) que encontra um espelhamento em Sofia (Halle Berry) como o seu equivalente feminino. 
 
 
O "Rei Bowery" (Lawrence Fishburne): o "Rei dos miseráveis"...

 
Rostos familiares à franquia como o Rei Bowery (Lawrence Fishburne) e Charon (Lance Reddick, de Fringe) o braço direito de Winston, retornam, havendo a adição de Zero (Mark Dacascos) o adversário-ninja (que gosta de gatos) e de (Jerome Flynn, o Bronn de Game of Thrones) numa participação especial, além de Said Taghmaoui como “o mais velho”, o sheik líder da guilda. 
 
 
 
Sofia (Halle Berry) e seus cães: A "versão feminina de Wick"...
  
 
O roteiro, escrito por Derek Kolstad, desenvolve a trama de forma que aqueles que não conhecem a série não têm muita dificuldade de em poucos minutos entenderem o que se passa, alternando os blocos massivos de ação com momentos mais dialogados, para diluir dúvidas e dar um espaço para recuperar o fôlego ao longo de suas 2 horas e 10 minutos de exibição, permitindo a Wick lutar, sangrar, matar, respirar, planejar e retomar o ciclo (não necessariamente nesta mesma ordem...). 
 
 
Zero (Mark Dacascos) o assassino-ninja da vez e fã de Wick...

No computo final, se não é perfeito John Wick 3: Parabellum é um produto elegante, no fundo um B com orçamento de  A”  moderadamente emocionante e vertiginosamente cinético, que atinge o seu público-alvo de forma eficiente, preparando no final a deixa para mais uma continuação, confirmando o que por ocasião do lançamento do primeiro filme em 2014, Jon Feltheimer, o CEO da Lionsgate disse: 
 

A direção de arte impecável cria ambientes visualmente ricos e complementares ao desenrolar dinâmico da história

  -"Vemos John Wick como uma série de ação de vários capítulos".
 
 
A bela fotografia, aliada à ótima edição e coreografia de lutas rendem momentos memoráveis


Pois é, e que os meliantes não resolvam posar de machos matando o cachorro do cara se sabem o que é melhor para eles, pois ao contrário de Jon Snow*1, John Wick não abandona o seu fiel companheiro... 
 
 
Rei Bowery, Sofia, Winston (Ian McShane)a Juíza, Tick Tock Man 
(Jason Mantzoukas): As faces de um mundo invisível a nós, gente comum.

 
Notas:
 
*1: Personagem de Kit Harrington em Game of Thrones que em sua última temporada deixou o seu lobo gigante para trás (por cortes orçamentários no CGI) o que deixou a cena estranhíssima, pois depois de passarem sete temporadas de amargar, ele simplesmente diz que não pode levá-lo para o sul, que o lugar dele é no norte, mas não dá um afago no bicho de despedida, parecendo uma atitude fria e desalmada.

 

 

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